A Influência do Mundo Espiritual
por Luiz Gomes da Silva
Reformador
(FEB) Abril 1944
“Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas e não omitir aquelas. - Condutores de cegos! Coais o mosquito e engolis o camelo". - Mateus (cap. 23 e vs. 23 e 24).
Allan Kardec, no
"Livro dos Médiuns", página 292, narra nos o seguinte fato bastante
interessante: “um homem, nem moço, nem bonito, sob o império de uma obsessão
era constrangido por força irresistível a pôr-se de joelhos diante de uma moça
por quem ele não tinha nenhuma inclinação, e pedi-la em casamento. Outras vezes,
sentia nos ombros e nas pernas uma pressão enérgica que o obrigava, apesar de
todos as forças, a pôr-se de joelhos e a beijar o chão nos lugares públicos e à
vista da multidão. Tinha plena consciência do ridículo que praticava contra
vontade e sofria horrivelmente com isso.”
Foi sob essa má
influência que Pedro negou Jesus. O mesmo se passou com Judas, que não pode
resistir à tentação dos espíritos das trevas, traindo o Mestre, depois do que
caiu em si e, ao refletir sobre o ato abominável que havia praticado, dominado
pelo remorso, enforcou-se.
Quantos médiuns
lamentam não ter atendido aos nossos conselhos e aos rogos dos espíritos
superiores que, a exemplo de Jesus, não cessam de recomendar o “orai e vigiai
para não cairdes em tentação.”
Quem não está
sujeito à tentação dos maus espíritos?
Quem pode
vangloriar-se de lhes resistir se eles veem em nós as partes mais fracas sobre
as quais podem agir seguros de alcançar êxito?
Num mundo como o
nosso, em que campeia desenfreadamente o orgulho, o egoísmo, o sexualismo e a
vaidade; em que predomina a hipocrisia e onde a lisonja se personifica em
elogios, invadindo os nossos meios espíritas, com poderá dizer que não cairá na
armadilha que os espíritas das trevas nos armam? Trabalhamos durante muitos
anos com uma senhora médium, por intermédio da qual se manifestavam espíritos
que haviam sido padres. Estes deram-nos provas de que no espaço estavam formados
em grupos para atacar os adeptos da Terceira Revelação, movendo-lhes uma guerra
sem tréguas.
O
chefe de um grupo procurou por todos os meios lançar a discórdia em nosso meio;
não fosse o auxílio dos espíritos superiores e do médium vidente, que
desmascaravam as artimanhas do espírito ao mistificar-nos, nós o tomaríamos por
um santo, tal era a sua astúcia. Depois de nove meses de luta, esse espírito,
com muitos do seu grupo, rendeu-se perante a grandeza de Deus e tornou-se um
dos nossos amigos.
A luta foi árdua.
Ainda estávamos no meio da tormenta, quando perguntamos ao espírito porque os
irmãos do espaço nos moviam aquela guerra. Porque não iam combater o chamado
baixo Espiritismo, ou sejam as sessões de macumba, que tanto mal causam a
humanidade? Respondeu-nos o espírito, numa gargalhada sarcástica: “és bem trouxa,
pois, não sabes que eles nos ajudam em nosso trabalho, fazendo que seja lançado
o descrédito sobre o Espiritismo? Eles trabalham a nosso favor. A nossa missão
é outra, é a de lançar a discórdia entre os espíritas. Conhecemos os seus
pontos fracos e isto nos basta.” – A médium era analfabeta e não podia
improvisar tal resposta. A rapidez com que o espírito se expressava não dava
tempo de o médium ajuizar uma resposta repentina e com tanta lógica. Quais
serão os nossos pontos fracos a que o espírito se referia, senão esses que dão
margem a discórdias entre nós? Todos nós somos médiuns. Uns de incorporação e
outros inspirados.
Às manifestações recebidas
pelos primeiros são atribuídas aos espíritos, porém com os inspirados já não
sucede o mesmo, pois assumem a responsabilidade de tudo quanto dizem em suas
conferências e palestras. Se erram, ninguém lhes perdoa. Em outubro do ano
passado, no Centro Espírita Santa Isabel, comemorava-se a data natalícia de
Allan Kardec, quando o orador oficial, que então tantos aplausos havia recebido,
foi infeliz ao referir-se ao codificador de nossa doutrina. – Note-se que ele
não conhecia as obras de Roustaing.
Em
vista do ocorrido, o presidente do Centro chamou-o em particular e fez-lhe ver
que havia errado. A influência dos espíritos patenteia-se perante os que
estudam o Espiritismo, se que, entretanto, tudo o que nos sucede lhes deve ser
atribuído, Um dos nossos confrades, criatura bastante inteligente, é inimigo
número um de Roustaing, sem que tenha lido suas obras, porém, em uma festa
realizada no Centro Espírita de que é presidente, fez uma palestra e no decorrer
desta percebia-se que mudava de opinião, sustentando ser fluídico o corpo de Jesus.
Até hoje persiste ele na ideia de que o corpo do Mestre era de carne e osso. Felizmente,
todos os espíritas presentes eram tolerantes e sabiam que os ataques contra as
obras de Kardec ou de Roustaing, quer partam dos espíritos desencarnados ou
encarnados, nada valem contra o valor das mesmas, por serem elas fruto dos
superiores do além e não dos homens. Os que estudam o Espiritismo sabem que os
bons ou maus pensamentos dos assistentes exercem grande influência sobre os
oradores, de tal forma que, se estes perderem o fio da conferência, podem dar
margem à interferência dos espíritos das trevas e daí dizermos que o
conferencista não foi feliz nos pontos que abordou. Oremos pelos que erram e em
segredo façamos lhes ver a verdade.
Sejamos
tolerantes e não imitemos os que se regozijam com os que não se cansam de ridicularizar
Roustaing e exasperam-se quando alguém, inconscientemente, desmerece a
grandiosa missão de Allan Kardec. Já é tempo de darmos provas da nossa
compreensão.
Deixemos
os grandes vultos do Espiritismo, no além, em paz, para deles só nos
lembrarmos, do que tenham feito de bom e, assim, nos ocuparmos com coisas mais
nobres do que menosprezar Kardec e Roustaing, só porque não podemos compreender
nem assimilar os ensinos belíssimos contidos em suas obras. Saibamos resistir à
tentação dos espíritos das trevas, que insuflam nosso orgulho com o objetivo de
nos arrastar para polêmicas desagregadoras da família espírita e, desse modo,
verem a sua obra destruidora coroada de êxito. É nosso dever trabalhar pela união
de todos os espíritas. Jamais consintamos que, sob falso pretexto de pontos de
vista secundários, nos separem do Amor Fraterno.
É nosso dever trabalhar pela união de todos os espíritas.
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