Pesquisar este blog

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Religião Pura

 

Religião Pura

Emmanuel por Chico Xavier

in “Palavras de Vida Eterna” (9ª Ed. CEC - 1986)

                 “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.” (TIAGO, 1:27)

             Religião, diante das criaturas humanas, pode envolver atitudes diversas:

           Polemicar em torno dos atributos de Deus...

            Aditar interpretações individuais às revelações sublimes...

            Centralizar a mente na exegese...

            Consumir a exigência em casuísmo...

            Reexaminar princípios veneráveis em horas certas...

            Atender a ritualismo...

            Enriquecer a simbologia...

            Adotar posturas convencionais...

            Cultivar penitências vazias...

            Levantar monumentos de pedra...

            Ninguém nega que essas manifestações deixam de ser atestados de religião e religiosidade entre nós outros, as criaturas encarnadas e desencarnadas na Terra; e ninguém recusa o valor relativo que apresentem para determinadas pessoas, em certos estágios da evolução.

            Entretanto, o Evangelho nos ensina que a religião pura, diante de Deus, é outra coisa.

            Tiago traça a definição correta, afirmando: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.”

            Em suma, a religião irrepreensível da alma, perante a Divina Providência, segundo no-lo confirma a Doutrina Espírita em seus postulados, repousa, acima de tudo, no serviço ao próximo e no caráter ilibado, ou melhor, na caridade incessante e na tranquilidade da consciência.

 


sábado, 22 de maio de 2021

O Espiritismo sem o Evangelho


 O Espiritismo sem o Evangelho

Pedro Richard (Espírito)    Reformador (FEB) Março 1924

(Mensagem recebida mecanicamente no ‘Grupo Ismael’)


             Meus amigos e companheiros, paz em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,

            A pedra fundamental do grande edifício que há de abrigar toda a humanidade terrena está lançada. Sucessivas levas de obreiros hão de trabalhar para erguer esse imenso Templo, a fim de que nele possa vir a ter morada o Cordeiro Imaculado, que é o Mestre dos mestres e o Senhor de todo gênero humano.

            Em cada posto está colocada uma sentinela a vigiar os obreiros e a encaminhar o trabalho, de acordo com as aptidões dos que se acham sob a sua direção. A Ismael coube dirigir, neste rincão do planeta, os obreiros na execução da parte que lhes cabe no conjunto da obra.

            Nada preciso dizer aos soldados que vem servindo nestas fileiras acerca do modo como esse guia orientou a sua tarefa. A história da doutrina espírita nas terras de Santa Cruz é conhecida de todos vós. O que preciso dizer-vos é que, fora do Evangelho, nada se fará de proveitoso e duradouro nesta parte do planeta.

            Meus caros companheiros, será para vos mostrarem as maravilhas do Infinito que o Senhor vos manda seus mensageiros? Não, não e não. Para isso tendes os órgãos visuais: podeis observar a obra da Criação e ver quão grandiosa é a ação do Sumo Artífice do Universo. Bem outra é a tarefa de seus servos invisíveis. Eles sondam as almas enfermas, para lhes ministrar o único remédio que as tornará sãs: a reforma moral. Cuidam da reforma dos homens, para em seguida atacarem a da sociedade. Tudo mais é deslumbramento, é fogo de artifício, que não toca o sentimento de quem o observa.

            Fiquemos, pois, na retaguarda, tratando de fazer o nosso Espiritismo atrasado, como por aí além se diz, mas procurado edificar-nos a nós mesmos e bendizendo do Senhor pela esmola que nos concede de podermos reconhecer que para alguma coisa nos serviu a consoladora doutrina que professamos, verificando que somos hoje melhores do que ontem.

            Meus queridos amigos, a confusão aí está. Guardemo-nos dela e sigamos a risca a palavra do Cristo, quando nos adverte do surto dos falsos obreiros e falsos profetas.

            Estudai em paz, sob a bênçãos de Maria. Richard




quinta-feira, 20 de maio de 2021

Sobre o perispírito

 

Sobre o perispírito

por Pedro Richard    Reformador (FEB) Agosto 1917

                  Alocução proferida perante a Comissão de Assistência aos Necessitados, pelo seu Diretor, Pedro Richard:


                 Nesta cadeira, onde a vossa bondade me colocou, procedo com o máximo cuidado para que eu seja apenas um fiel expositor da doutrina que, por misericórdia, nos foi revelada pelos espíritos a serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo.

                Como sabeis, a primeira fase da revelação, que trata da parte filosófica e doutrinária, os espíritos deram a Kardec por diversos médiuns, sendo que o seu complemento que diz com a parte científica e evangélica, foi confiada a Roustaing, que a recebeu pelo médium Mme. Collignon.

                Tratando-se, pois, do perispírito, que é o agente intermediário entre o espírito e o corpo material, isto é, o veículo pelo qual o espírito pode agir sobre a matéria, dizem-nos os espíritos que esse agente participa das duas naturezas: do espírito e da matéria. Assim, somos levados a procurar -  o quanto estiver ao nosso alcance - compreender a natureza do espírito e da matéria.

                Por isso aconselhei, na sessão passada, o estudo dos pontos da nossa doutrina, que tratam dessa transcendental questão.

                Como vistes, a revelação dada no “Livro dos Espíritos” e no ‘Gênese” está de acordo com a ampla revelação dada a Roustaing, no volume 1, págs. 258 a 315.

                Na monumental revelação da origem da criação, os espíritos, por ordem de Jesus, nos deram o máximo que podemos comportar.

                Vamos procurar fazer a sua síntese, e para desempenhar-me de tão alto encargo, ergo os olhos para Jesus, pedindo-lhe que supra as minhas deficiências, permitindo que a minha exposição seja clara e compreendida por vós outros.

                Diz a Revelação (Roustaing): Tudo na criação tem uma origem comum: tudo procede do infinitamente pequeno para o infinitamente grande, até Deus, que é o ponto de partida e reunião. Tudo vem de Deus e volta para Deus” (1)

                 (1) As citações de Roustaing são, algumas textuais e outras em resumo.

                 O fluido universal, que parte de Deus e que é dirigido pela sua inteligência e vontade suprema, é o elemento produtor de todas as criações, quer espirituais quer e fluídicas, quer materiais, enfim de tudo quanto se move, vive e existe.

                A vontade do Senhor Deus Onipotente, que a tudo preside, anima esse fluido em todas as suas variedades e com ele produz as mais sutis combinações, até as essências espirituais, os princípios primitivos de espíritos em gérmen. 

                Nos mundos primitivos, o Criador coloca os princípios constitutivos, na ordem espiritual, fluídica e material, dos diversos reinos que os séculos hão de elaborar.

                Ao mesmo tempo, o principio inteligente desenvolve-se com a matéria que com ele progride, passando destarte de essência à vida e cujo progresso se faz sob a vigilância de espíritos prepostos. 

                E assim ele passa. “sucessivamente pelos reinos mineral, vegetal e animal e pelas formas e espécies intermediárias desses três reinos.”

                Nas primeiras fases a essência espiritual, absolutamente sem consciência do seu ser, se manifesta pela essência da vida.

                Percorrendo todos os degraus da escala e chegando ao desenvolvimento máximo nesses reinos, das suas formas intermediárias, o espírito em estado de formação e continuamente sob a vigilância dos espíritos propostos, é conduzido para mundos ad hoc, isto é, mundos apropriados ao fim colimado, para dele ser expurgada toda a materialidade que o contato da matéria grosseira lhe imprimiu.

                Aí, ele se prepara para entrar propriamente na vida espiritual, chegando por tal processo ao verdadeiro estado de espírito formado, consciente e responsável. 

                E, então, quando ele se apossa do livre arbítrio, isto é, da faculdade de pensar e de agir por sua vontade.

                De posse dose dom (o livre arbítrio) ele opera, preparando a constituição fluídica que se chama períspiríto, a fim de poder agir sobre a matéria.

                Donde se vê que o espírito não pode agir sobre a matéria, a qual não é possível ligar-se sem esse agente intermediário. O perispírito, pois, é bem o veículo pelo qual o espírito se pode ligar e agir na matéria.

                Do que temos dito se conclui que o espírito em formação, durante todo esse tempo em que esteve ligado intimamente à matéria, faz o seu progresso relativo e proporcional. Indo para o mundo ad hoc, sofre todo o expurgo da materialidade que lhe imprimiu o contato íntimo da matéria. É então quando ele tem entrando na vida de livre pensador. Nessa estação de chegada, o espírito fica plenamente constituído com todas as suas faculdades, tornando-se, por isso, incompatível com a ligação direta à matéria; daí a necessidade de um agente intermediário, de um veículo que lhe permita entrar com relações e ter contato, mais ou menos íntimo, com a matéria grosseira.

                Peço, com muito empenho, a vossa atenção para este ponto primordial.

                Tudo está ligado por atos contínuos e indestrutíveis, no universo.

                Não há solução de continuidade.

                Essa mesma cadeia, que de Deus parte e que a Ele volta contém em si tudo quanto é necessário para a execução do Seu plano divino: a Criação.

                Os seus elos estão ligados pelos reinos intermediários (permitam a expressão) e participam das espécies relativas.

                Assim sendo, o elo final não podia dispensar essa ligação, e, daí, a formação natural e lógica do perispírito, que, necessariamente, tem de participar das duas naturezas, a espiritual e a material. 

                Vede como é profunda e grandiosa essa cadeia infinita, que liga todas as coisas e tudo na ordem universal e que conduz o amor do homem ao amor infinito e puríssimo do seu Criador, do seu Deus!

                O espírito depois de plenamente constituído, de posse do livre arbítrio, consciente, dotado do inteligência e vontade com todos os seus predicados, forma, como vimos, o seu perispírito, para poder movimentar esses dotes e ser com eles o próprio artífice do seu progresso.

                Agora vejamos como o próprio espírito colabora na confecção do seu perispírito.

                Constituído o espírito do modo como vimos ele expor, ele, com o concurso e direção de espíritos propostos e por intermédio do magnetismo, atrai da atmosfera do mundo ad hoc, onde ele então se acha, o fluido necessário que, combinado com os elementos do seu próprio ser espiritual, forma em torno de si o envoltório que se denomina perispírito.  Dizemos e empregamos o termo elementos, porque nos falta um termo apropriado que defina coisas que não estão sujeitas à análise dos nossos sentidos de homens.

                Pois que o espírito é alguma coisa de real, é óbvio que tem uma origem preparada.

                Tudo na natureza é sabiamente preparado e previsto. 

                Tomai de uma semente e analisai-a. Os nossos instrumentos, imperfeitos que são, pouco nos dizem da sua essência. 

                E, no entanto, lá está a vida, o espírito em formação; o tipo da espécie, o gérmen da procriação, enfim, tudo quanto se faz necessário ao fim para que foi criado.

                Da pequenina semente iremos até aos mundos em formação. Sempre a mesma ordem presidindo a tudo. Tudo está, maravilhosamente, atendido e organizado.

                Prossigamos: 

                O Espírito combina esses dois elementos, um tirado do seu próprio ser, o outro extraído da atmosfera em que ele se acha envolvido, e forma o seu envoltório, no princípio tão sutil que dificilmente é percebido pelos próprios espíritos prepostos, segundo eles mesmos nos dizem.

                À proporção que o espírito vai agindo, mais visível se vai tornando o seu envoltório.

                A- parte espiritual do perispírito é o receptáculo das impressões do espírito.

                Ela participa das suas condições morais. A material participa das condições do elemento atmosférico.

                Assim sendo, é claro que é o espírito quem modifica as condições do períspirito, tornando-o mais ou menos grosseiro, pesado e materializado, de acordo com os seus sentimentos.

                Quando o espírito muda de planeta, reforma o seu perispírito quanto à parte material, deixando-a na atmosfera do planeta de onde saiu, porque agora essa parte tem de ser tirada da atmosfera do novo planeta em que vai o espírito habitar.

                A parte espiritual conserva-se até que se modifiquem as condições morais do espírito.

                Como vedes, o assunto é complexo e profundo e o expositor é baldo de recursos.

                Perdoai-me se não satisfiz às vossas exigências.

                Uma coisa vos pede o vosso companheiro, é que estudeis a Revelação da Revelação dada a Roustaing e muito melhor do que eu compreendereis o ponto em questão.


Máximas de Epiteto

 

Máximas de Epiteto

Reformador (FEB) Agosto 1917

        

A alma é o melhor bem que possuis.

Mostra-me pois o cuidado que dela tens,

porque não é presumível que tu, homem sensato,

deixes inconsideradamente e por descuido

que o teu maior bem seja desprezado e pereça.

*

O sol não espera que supliquem para dar a luz e o calor.

Faze também todo o bem que de ti depender, 

sem esperar que te o peçam.

terça-feira, 18 de maio de 2021

Victrix causa

 

Victrix causa (tradução: a causa vitoriosa)

A Redação         Reformador (FEB) 16 de Maio de 1916


             Os tempos são chegados.

            A frase posta em circulação e vulgarizada por ALLAN KARDEC, repetida à saciedade, tornou-se banal.

            Ela exprime, elipticamente, uma grande verdade – a execução atual do plano da Providência, revelado pelo Espiritismo, contra o qual será inútil o esforço humano, quando não for contraproducente.

            É um símbolo bem significativo o auto de fé de Barcelona, em 1861, (1) e onde se reuniram os espíritas, em Congresso internacional, no ano de 1888 (2).

             (1) “Aos 9 de Outubro de 1861, às 10 horas da manhã, sobre a colina da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os condenados à pena última, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: “O Livro dos Espíritos”, por Allan Kardec, etc.”

                Extrato do auto, publicado nas “Obras Póstumas”, de ALLAN KARDEC, trad. de MAX.

                Vede Revue Spirite de 1861, pág. 321 e de 1862, pág. 232.

             (2) No congresso de Barcelona estiveram representados 74 grupos espíritas nacionais, mais de 60 estrangeiros e 27 jornais. Vide o Resumo dos trabalhos, publicado sob a direção do presidente da Comissão permanente, edição francesa (Librarie des Sciences Psychologiques – Paris, 1889)

             Quem tiver acompanhado o movimento intelectual dos últimos tempos, verificará que a doutrina espírita invadiu os meios ou os centros que lhe eram refratários, convencendo e impondo-se.

            Há alguns anos, um nosso adversário, demonista brasileiro, assim se exprimia:

           “Coisa admirável!

            Ao encontro da negação categórica do sobrenatural por parte do racionalismo vem o Espiritismo opondo-lhe o mais enérgico e solene protesto e afirmando de modo claro a existência deste mesmo sobrenatural, e, o que é mais, envolvendo nesta afirmação a capitulação dos mais orgulhosos e contumazes corifeus (pessoa de maior destaque ou influência em um grupo (esp. em movimentos políticos, religiosos etc.), da incredulidade e do materialismo, que publicamente se tem confessado vencidos e convencidos por uma evidência que eles dizem irrecusável.” (1) 

                 (1) Monsenhor VICENTE LUSTOSA – ‘O Espiritismo em julgamento’, pág. 8.

                 Exige retificação o trecho transcrito, na parte em que o ilustre demonólogo alude ao sobrenatural. Todos os fenômenos espíritas são naturais e regidos por leis da natureza. Patenteando-os, provando que eles se tornam até visíveis e palpáveis, podendo ser verificados por instrumentos e aparelhos, como em experiências de química e de física, o Espiritismo levou à convicção dos sectários da incredibilidade e da escola materialista, não a existência do sobre naturalismo, que negamos, mas a existência do plano espiritual, do mundo dos espíritos que, antes da nova era, só lhes tinham sido apresentados através de dogmas, ritos e superstições inadmissíveis.

            Capitularam.

            Não obstante, a igreja persiste em afirmar que a vitória não foi de verdade, que os espíritos revelam, mas de Satã, cuja existência suposta está ligada ao predomínio e aos interesses mundanos do alto e baixo clero.

            Fazendo a mesma retificação concernente ao sobre naturalismo, que invocam os defensores de dogmas moribundos ou mortos, podemos reproduzir ainda, com vênia do leitor, algumas palavras de outro demonologista:

            “Santo Agostinho escreveu algures esta frase simples e profunda; - Secretum Dei intentos debet facere, non adversos. O segredo divino deve despertar-nos a atenção e não a desconfiança.

            “Até aos últimos tempos, os nossos intelectuais tinham grande prevenção contra tudo que apresentasse um caráter sobrenatural, ou o repeliam em absoluto. Excluíam a priori o exame de qualquer fato que não entrasse nos quadros da ciência oficial. Esta, graças a Deus, vai, atualmente, abandonando a rotina...

            “Em presença de fenômenos estranhos, devidamente verificados, todo homem de boa-fé; a despeito dos preconceitos, será levado a refletir sobre a potência misteriosa que neles se revela, e que lhe fará entrever, como se fosse através de uma sombra o segredo divino – secretum Dei. (1)

                 (1) R. P. Lescoeur, de l’Oratoire – ‘La Science et les faits surnaturels contemporains’. Avant-propos, pag. IX, X.

             Não dispomos de espaço para outras transcrições do notável oratoriano. (oratoriano: clérigo da Congregação do Oratório, instituição católica fundada, em 1564, por são Filipe Néri 1515-1595).

             Foram os espíritas, ridicularizados, perseguidos, excomungados, foram os espíritos reveladores que obrigaram a ciência, em face dos fenômenos, a dar para a frente o passo decisivo, a que se refere o autor.

            Foram eles que, incorrendo embora nos anátemas da igreja, conquistaram prosélitos para a verdade e rasgaram novos horizontes luminosos para tantas almas transviadas. Qui facit veritatem venit ad lucem. (aquele que pratica a verdade vem para a luz.)

 *

            Segundo S. João (XVIII, 22 e 23) Jesus, ao receber a bofetada de um quadrilheiro, disse: “Se eu falei mal, dá tu testemunho do mal; mas se falei bem, porque me feres? Quid me coedis? (Por que me feres?)

            Poderia também o Espiritismo, encarando os perseguidores, repetir e generalizar a pergunta do Senhor: Porque me feris?

            Dá o Espiritismo testemunho da verdade. Leva a convicção à céticos e incrédulos, a materialistas e ateus, que se penitenciam e podem exclamar, como um dos mais eminentes representantes da ciência moderna: Domine, peccavi! (Senhor, eu pequei!)

                Remova os estudos de psicologia, dando ao grande problema da alma humana solução que a antiga escola espiritualista e as religiões não haviam encontrado.

            Quem não conhece o conflito, que já tem os seus historiadores, entre o dogma e a razão, entre a fé e a ciência, entre esta e a teologia?

            Não há antagonismo entre a ciência e o Espiritismo, como não há entre este e a religião, porque a nossa doutrina é científica e religiosa.

            Resolvendo o problema do destino humano, dando a verdadeira interpretação da vida e explicando a nossa posição no planeta, o Espiritismo é a doutrina moralizadora por excelência, do indivíduo, da família e da sociedade.

            São indestrutíveis os fundamentos de sua moral.

            Encontramos, entretanto, a cada passo, quadrilheiros, vindos de várias procedências, que procuram ferir-nos.

            As perseguições contra espíritas, ao contrário do que supõem os promotores – infelizes, dignos de piedade – são como o óleo, que aviva a chama.

            Vitoriosa é a nossa causa.

            A verdade, que o Espiritismo proclama, há de seguir a marcha triunfal.

            A seara está madura. É chegado o momento da colheita.

 


domingo, 16 de maio de 2021

Caminho da Perfeição

 

Caminho de Perfeição

por Angel Aquarod

Reformador (FEB) 16 Abril 1919

             Não são as boas intenções que determinam o progresso alcançado pelos seres humanos, nem são eles a prova concludente do dever cumprido. Progresso e dever cumprido só se confirmam na obra viva. As elocubrações podem assinalar um caminho magnífico a percorrer, mas servem de pouco se o Espírito não passa do terreno especulativo ao da ação. Uma peça oratória pode ser uma eloquente e artística manifestação de energia mental, do extraordinário desenvolvimento imaginativo do autor, mas é letra morta, folha seca que o vendaval arrasta, sem deixar mais que uma fugaz impressão de voo, se as ideias vertidas não se cristalizam em fatos.

            Não são as razões, são as obras que edificam. Entendemo-lo.

            Já sei que alguém dirá que tal verbiagem, de tão sabida, já a depositou no ‘panteon’ do esquecimento. Quem isso disser terá acertado e, longe de ser uma censura, por mais que tal ideia esteja no pensamento, essa observação, constitui a justificativa da lembrança. E como abrigo a absoluta convicção de fazer um bem a meus irmãos da Terra, falando-lhes a linguagem da verdade, por mais amarga que esta seja e por mais sabida que a tenham, não me detenho ante qualquer consideração humana e cumpro fielmente meu dever.

            Quando nos falam de vários caminhos de perfeição, meditemos bem sobre as palavras com que se exprimem os mestres da sabedoria; pois se assim não o fazemos, corremos risco de cair em lamentáveis erros; porque – saibamo-lo – nenhum caminho, por si só, conduz à perfeição; há várias bifurcações e necessidade de com êxito percorre-las todas para a gente alcançar a perfeição; e se um só caminho conduzisse à cúspide (cume) do progresso humano, tenhamos por certo que o privilegiado seria o da ação; porque, para realizar qualquer obra que seja, é precisa a ação, que dá forma à ideia plasmando-a no respectivo plano. 

             A devoção é muito boa, aproxima de Deus a criatura, mas com a condição de cumprir a lei divina, causa impossível sem o estímulo da ação. A sabedoria não pode ser objetivada e responder ao motivo de sua existência, sem o veículo da ação.

            Pelo bem que quero aos meus irmãos de cativeiro, não me cansarei de aconselhar-lhes que cifrem principalmente na ação o seu progresso. Tinha razão Aquele que disse nada ser a fé sem as obras, ou antes uma condenação do crente. Porque ao que não crê, ou não sabe, pouco se lhe pode exigir; mas ao que crê, ou sabe, é justo se lhe exija o fruto de sua crença ou de sua sabedoria, e não há fruto sem ação. Não esqueçamos que a árvore que não dá frutos será arrancada pela raiz e lançada ao fogo. Recordemos também: Aquele que veio ensinar aos humanos o caminho da Redenção disse que não pelas palavras mas pelo fruto, isto é, a ação, se reconhecerão os verdadeiros ou falsos discípulos.

            O mundo, amigos meus, sofre uma enorme pletora (abundância) de palavras mas está anêmico de obras; e o que é necessário é falar menos e trabalhar mais. As palavras, leva-as o vento, mas as obras permanecem. Estudai muito, meus irmãos, se assim vos apraz; o estudo sempre é bom; não serei eu, portanto, quem aconselhe o contrário; mas pensai que de pouco servirão vossos estudos, se deles, por meio da ação, não fazeis obra duradoura, que responda às necessidades do progresso humano.    


sexta-feira, 14 de maio de 2021

O falso cristianismo

 


O falso cristianismo – parte 1

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Agosto 1919

             É uma tarefa que se impõe àqueles em cujo pensamento ainda se não extinguiu o amor santo da verdade, - amor tão imprescindível quanto necessário ao estudo consciencioso dos fatos, o que MigueI Unamuno sintetizou nesta frase singela, porém profundo, e decisiva: cumpre recristianizar a humanidade.

            Com efeito, o dogmatismo católico, enxameado de preconceitos litúrgicos e de ritos, até agora nada mais fez do que desvirtuar por completo, deturpando-os, truncando-os, invertendo-os mesmo, os sublimes ensinamentos do Evangelho.

            Basta um pequeno confronto entre a doutrina que o meigo e bondoso galileu, - raio de sol descido, entre as indecisões e as trevas macabras de uma era de dissolutismo, à miséria terrena, pregou aos homens de seu tempo e às gerações vindouras, cheio de humildade e de fé, e o rol de abstrusos (ocultos) teoremas dogmáticos com que o paganismo vem, há quase dois mil anos, burlando a ingenuidade humana, para que, de pronto, se verifique a sinceridade da nossa afirmativa.

            A infalibilidade do papa e dos concílios, acumulando erros sobre erros e, sob a capa falsa dum simbolismo puramente material, engendrando interpretações exóticas, tem sido o grande cancro que, há dezenove séculos, corrompe, destrói e putrefaz o organismo cristão.

            De origem divina considera a Igreja aquilo que, sponte sua, (espontaneamente) os seus missionários criam e invertem com uma fertilidade inegavelmente pasmosa.

            Os sacramentos, por exemplo. Já Tertuliano, célebre orador sagrado, assim definia o que ele julgava santas virtudes dessas exterioridades inúteis e meramente materiais: “O corpo é lavado para que a alma fique limpa de suas nódoas. O corpo é ungido para que a alma seja consagrada. O corpo é marcado com um sinal para que a alma adquira fortaleza. O corpo recebe a imposição das mãos para que a alma seja iluminada pelo espírito santo. O corpo alimenta-se com a carne e o sangue de Jesus Cristo para que a alma se nutra com a substância de Deus.”

             Os sacramentos: - Estudemo-los, um por um.

            O batismo, sacramentum regenerations per aqua in verbo, (o batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra) não nos traz a lembrança a fantasia, perversamente inquinada (contaminada) de verdades do pecado original, que em si não é senão um argumento a favor dos ateus, nas suas investidas iconoclásticas (destruidoras de imagens) contra a vontade divina?

            Que os padres o respondam.

 Nota do Blog:

Extraímos do site ‘Canção nova’:

“O santo batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito, que abre o acesso aos demais sacramentos. Por meio dele, somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: Baptismus est sacramentum regenerationis per aquam in verbo (o batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra). Quando recebemos o sacramento do batismo, transformamo-nos de criaturas para filhos amados de Deus. Muitos pensam que os sacramentos, em geral, são obras eclesiásticas, ou seja, “invenções” da Igreja. Isso não é verdade, pois os sacramentos são, sem sombra de dúvidas, criados por Jesus Cristo, o próprio Deus Encarnado.”  !!!

             Retomamos o texto original de Fernando Coelho...

             Nada mais inverossímil do que um homem, pseudo enviado de Deus sobre a Terra, com meia dúzia de palavras ditas em mal latim poder expurgar de uma culpa outro homem que, reverente, se ajoelha a seus pés. Um centigrama de cloreto de sódio é o bastante (risum teneatis (risos)) para delir (desfazer) um grande pecado!

            O homem resgatará as suas faltes, manda a Santa Igreja, ante um cubículo de madeira, batendo hipocritamente sobre o peito. Ora, ela própria ordena que os seus crentes rezem, no momento da absolvição: “eu pecador me confesso a Deus...” Mas essa confissão não é feita diretamente a Deus. E a conclusão é lógica: a vaidade de um simples e miserável mortal querendo arrogar-se a prerrogativas divinas!

            A eterna fábula do sapo e da estrela...

            Cristo perdoou os pecados a Madalena; replicarão os reverendos, esquecidos de que “a graça não estava no que a igreja humana a fez consistir. Havia remorso sincero, profundo. Devia seguir-se a reparação, não infligida e dura como para os culpados incorrigíveis, mas feita com felicidade, com alegria, com vontade de reconquistar o progresso descurado e tornar ao entrar no amor do Senhor.” (*)

                 (*) “Quatro Evangelhos” de Roustaing.  

             Mais ridículo, entretanto; é o sacramento da comunhão. Combatido tenazmente dentro da própria igreja, absurdo, imoral, de uma infantilidade a toda prova, aos nossos olhos, ele é bem uma firme característica desse dogmatismo que combatemos.

            “O corpo alimenta-se com a carne e o sangue de Cristo para que a alma se nutra com a substância de Deus” disse o teólogo. Nenhum comentário nos sugere a leitura dessa proposição extravagante e grosseira.

            O orgulho da riqueza, esse mesmo orgulho que Kardec e Roustaing tão tenaz e lucidamente combateram, apontando-o como causa de grandes males, levou-a a invadir, abruptamente, o terreno da lei civil, copiando dos códigos puramente humanos e sem outra presunção que a de contrabalançar as prerrogativas dos cidadãos, dentro da esfera do Direito, prevenir o excesso, punir os abusos, equilibrar em suma a vida social dos povos, em contrato que nada mais é o casamento.

            Essa invasão da igreja, que também em outros terrenos se há feito notar, é um dos frutos da sua egoística sede de predomínio e expansão, cujos efeitos perniciosos o mundo começa, em boa hora, a repelir.

            Pelo sacramento da ordem as três palavras - accipite spiritum sanctum (recebei o Espírito Santo), proferidas por um bispo, são suficientes para investir o aspirante ao sacerdócio de poderes extraordinários, cujo intuito, embora disfarçado, é manter a hegemonia e a influência da Casta Jesuítica, outra prova evidente do orgulho clerical...

            Com uma simples unção do óleo está o enfermo aparelhado para gozar, per omnia secula (através de todos os séculos), as delicias incomparáveis da bem aventurança eterna...

            Resumindo, o que são, pois, esses sacramentos senão um verdadeiro fetichismo religioso? Di-lo a razão. Di-lo a verdade.

 O falso cristianismo – parte 2

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Novembro 1919

             O comércio de indulgências - O aparato com que se reveste o culto destoa violentamente da humilde simplicidade com que o praticavam os cristãos da era apostólica.

            Longe já vai o tempo em que os soldados de Diocleciano, ao demolirem um templo da Bitínia, apenas encontraram no interior da igreja os fiéis discípulos do Cristo um volume da Sagrada Escritura.

            Hoje, os templos estão abarrotados de altares, imagens, esculturas bizarras, pinturas de um paganismo excessivo, em que o nu das alegorias é um contraste sarcástico à cruz tosca e modesta.

            Nas sacristias, vende-se escapulápios, terços, fitas que curam moléstias, medalhas que dão indulgências, velas e palmas que, à moda dos talismãs, endireitam a vida dos que a têm torta...

            Há, porventura, alguma diferença entre a portaria de um convento e o gabinete de consulta de uma quiromante?

            O papa manda distribuir às incautas ovelhas do seu ingênuo rebanho pequenas figuras de cera, cuja fabricação é privilégio dos monges de Citeaux.

            São os agnus dei. Acresce que esses fetiches não custam aos fiéis apenas a vontade de possui-los... E é esse comercialismo indigno e revoltante que faz com que a igreja católica pareça mais um balcão em que os favores do Céu se regateiam a todo preço, do que uma religião destinada ao culto sincero do Altíssimo.

            A infalibilidade papal - Outro erro profundo que o falso cristianismo perpetrou, para a firmeza do seu poderio, é a medida violenta que o concílio do Vaticano, realizado aos treze de julho de 1870, sancionou contra o voto de quatrocentos e cinquenta e um dos seus membros.

            Roma sentia n necessidade imprescindível dessa inovação. Tinha ainda na lembrança o grito de revolta de Lutero, Zwinglo e de Calvino.  

            Amedrontaram-na as dissenções manifestas e frequentes que abalavam o seu trono.

            “Conhece-se os frutos pela árvore”, diz o Evangelho.

            Que frutos, perguntamos, a árvore desse método falso de interpretações poderia dar?

            A discórdia com seu cortejo de dúvidas e de heresias. Para o sossego, portanto, de Roma, a infalibilidade papal era coisa de absoluta necessidade, inadiável e urgente.

            Perigava a sua doutrina enferma. O próprio clero se recusava cumprir as ukases (decretos) do Santo Padre, não reconhecendo em Sua Eminência poderes maiores que o de simples apascentador de um grande rebanho.

            Daí o pavor de Roma trazendo como funesta consequência mais esse erro inominável, com desembaraço rotulado de divino.

            Melhor do que todos os nossos argumentos diz a cifra eloquente dos cardiais que recusaram o seu apoio à exigência orgulhosa da Sé Apostólica.  

            A luz da verdade, felizmente, já começou a brilhar, pura, aos nossos olhos.

            Ai de vós, escribas e fariseus!

 O falso cristianismo – parte 3

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Dezembro  1919

             O poder temporal do Papa - Como não deve doer na consciência dos que estudam, serenamente, desapaixonadamente, como nós, o dogmatismo católico, apenas impulsionados pelo amor da verdade e guiados pela norma do bom senso, o contraste amargo e triste entre a vida humilde do Cristo e o luxo nababesco com que se rodeia, aparatosamente, aquele que se inculca o príncipe da sua igreja na Terra!

            Não se compreende, com efeito, que uma religião puramente espiritual, de origem divina, subscreva com o aplauso do silêncio criminoso dos seus crentes o que se nos afigura como à qualquer pessoa, tão deprimente quanto ilógico e injustificável: o poder temporal do Papa.

            Será que Sua Eminência Reverendíssima não possa, do alto do seu régio trono pontifício, vestido de ouro e púrpura, cercado de baionetas pagas pelos óbolos dos incautos, apostolar as sublimes práticas de Jesus, senão com a sólida garantia de um governo e a consequente renda fabulosa do tesouro de um Estado?

            O Vaticano é um monumento que a soberba e o orgulho católicos ergueram, num delírio megalomaníaco de grandeza, a pomposa exterioridade material dos seus ritos.

            A perniciosa influência desse poder temporal, através das idades, é fato que os historiadores registram e os sociólogos documentam.

             A intervenção direta do papa em todas as questões meramente políticas que têm convulsionado o mundo, maximé na era negra dos tempos medievais, bem demonstra que Sua Eminência mais se preocupa com as pendengas das chancelarias do que com a salvação das almas do seu descuidado aprisco.

            As lutas entre Roma e os Imperadores da Alemanha, o modo porque o papa se imiscuía nas sucessões de tronos e negócios outros dos Estados europeus, a maneira porque fazia valer o seu prestígio na escolha dos governantes e na decisão dos intrincados casos da incipiente diplomacia de outrora, tudo isso vem provar que aos falsos apóstolos do Cristo mais convém os enredos dos gabinetes e dos paços reais que o exercício, modesto embora, porém mais glorioso e digno, missão que se lhe impunha o dever.

            Jesus pregou a bondade, a tolerância, o ensino pela palavra convincente e sincera. Mas no arquivo da histeria católica apenas datas rubras sobressaem.

            Contemplemos o passado.

            Na França, a matança de S. Bartolomeu, a perseguição bárbara e impiedosa àqueles que não rezavam pela cartilha de Roma, a luta contra os huguenotes, o sangue, a opressão, a tirania.

            Na Suiça, João Huss queimado vivo, sob o apupo da turba, que o apedrejava, e a inconsciência das multidões desvairadas.

            Na Itália, os Gibelinos perseguidos, acossados, expatriados.

            Dante, vítima das suas convicções políticas, sofrendo as agruras e o infortúnio de um exílio forçado.

            Na Áustria e na Alemanha, o mesmo horror.

            Na Espanha, a atmosfera é mais sombria, o quadro mais rígido, a impressão maia dolorosa e lancinante.

            É a Inquisição com seu cortejo de crimes abomináveis. Vítimas inocentes, mulheres e crianças indefesas morrendo entre suplícios que a imaginação infernal dos improvisados juízes de batina porfiava em tornar cada vez mais terríveis, num furor bestial de carnificina e de sangue.

            O luto nos lares, o pranto, a orfandade, a viuvez, a tristeza.

            Em Portugal, homens ilustres, sucumbindo, à sanha feroz dos inquisidores.

            Por toda a parte, enfim, um rastro vermelho de opressão e barbaria.  

            O quadro, porém, não está completo.

            Há alguma cousa ainda, a observar e a descrever.

            Olhemo-lo um minuto a mais.

            Aqui, Galileu obrigado a retratar-se, sob o peso da intolerância estúpida e da ignorância ameaçadora dos frades.

            Ali, Bartolomeu de Gusmão, jazendo numa masmorra de Toledo.

            Acolá, as obras de Kardec queimadas publicamente em Barcelona.

            A ciência premida.

            Os sábios injuriados, chacoteados, vilipendiados.

            Roma não quer a inteligência.

            Despreza-a, persegue-a, oprime-a.

            Nela vê uma arma terrível contra sua mentira.

            Daí, pois, o seu ódio sem limites.

            À voz de Pedro, o Eremita, e à palavra austera e grave de Urbano VI, toda a cristandade se levanta e se precipita, como uma avalanche feroz e brutal, contra o Oriente Muçulmano.

 O falso cristianismo – parte 4

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Dezembro 1919

             Vem a noite negra das cruzadas.  

            A fina flor da nobreza morre e fenece, longe das pátrias, nos campos inóspitos das terras maometanas.

            Burguesia e plebe pagam também ao Deus Moloch da intolerância papal o tributo de sua vida e do seu sangue. E, até agora, tantos séculos decorridos, nenhum sociólogo católico houve que demonstrasse as vantagens de ordem social e até mesmo comercial que essa tremenda campanha produziu.

            Conhecimentos dos costumes, hábitos e modos dos países do outro lado do Mediterrâneo, que tanto alegam os historiadores de sotaina?

            Nada valeu no progresso da época, pois a sua influência, se não foi nula, pelo menos foi pelo menos insignificante e banalíssima.  

            O papel da igreja, portanto, tem se limitado a propagar entre os homens o gérmen das dissenções, da discórdia, da intolerância, tão em desacordo com a fraternidade pregada pela doutrina do Cristo.  

            É o sistema do “crê ou morre”.

            Perniciosa, ao nosso ver, é a influência do papismo na marcha evolutiva da humanidade.

            Cumpre lembrar que Roma foi o baluarte mais poderoso do absolutismo e o esteio mais forte da prepotência tirânica das monarquias da Europa.

            As ideias libertárias, os sãos princípios democráticos tudo enfim que é hoje a base  

da organização civil e política dos povos cultos encontrou sempre pontífices romanos a  barreira mais difícil de transpor.

            Tão antipática era a atitude que a Santa Sé mantinha em face das justas reclamações dos povos, ansiosos de liberdade, que a revanche contra os padres atingiu ao auge da violência, como na Revolução Francesa e, ainda há pouco, na Revolução Portuguesa, excessos aliás condenáveis.  

            A arte moderna, a literatura profana, os grandes mestres, o teatro, as próprias invenções do engenho humano, as próprias leis, como as do matrimônio civil e da administração dos bens da igreja pelo Estado, tem contra si o ódio de Roma e os ataques furibundos dos oradores clericais. Mas a verdade é una e indivisível.  

            Apontamos fatos, e, estudando-os serenamente, sem paixão, despidos ou qualquer interesse baixo ou intuito inconfessável, tiramos conclusões que nos ditaram o raciocínio e a lógica.

            Mostramos o que é o papismo em si, com seus absurdos.

            Provamos a má influência da igreja sobre o movimento social do mundo em dezenove séculos.

            Dissemos, apoiados em fatos e documentos incontestes, quo tudo que há produzido a humanidade de benéfico e de útil encontrou sempre na igreja o seu mais feroz antagonista.  

            A época mais sombria e atrasada da história, a idade média, foi exatamente aquela em que mais poderosa se fez sentir a ação de Roma e dos papas.

            A humanidade como que parou, ou melhor, retrocedeu.

            E somente depois que se iniciou, nos gabinetes dos filósofos e nas velhas salas das universidades, a reação contra o clericalismo, foi que um impulso de progresso e de adiantamento observou-se no mundo.

 O falso cristianismo – parte 5

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Janeiro 1920

             O dogmatismo católico conduziu ao materialismo. A árvore maléfica de Roma não podia dar outro fruto que não o materialismo, desolador e triste. Verdade inconteste é essa que vimos de afirmar. Foi do conflito entre a ciência dos enciclopedistas, fátua e pedante, e o dogmatismo incoerente dos papas, orgulhoso e arrogante, que nasceram, com os primeiros sintomas da dúvida, o negativismo e a descrença. Roma levou a humanidade ao desconforto de um ceticismo funesto, como levou os sábios ao materialismo.

            A letra mata, o espírito vivifica”, exclamou Paulo na sua segunda epístola aos coríntios.  

            Foi dessa luta entre a razão ainda vacilante e a intolerância clerical que surgiram as hipóteses, às vezes infantis, as vezes ridículas, da ciência materialista.

            Roma coibindo os seus fiéis da leitura e discussão do texto das escrituras sagradas e, sobretudo das suas leis e bulas, exacerbou os homens.

            E como já tinha, séculos antes, produzido a Reforma, a dissenção no seio do seu próprio apostolado, não era de admirar que também produzisse o mais puro e desbragado materialismo.

            O homem deve raciocinar, estudar, fazer ideia de todas as coisas”, disse Lucas.            

            A Santa Sé, entretanto, não o entende assim. Prefere a letra ao espírito.

            Razão de sobra, pois, tinha Savage, na sua “Religião estudada à luz da doutrina darwinista, quando discorria: “se uma das acusações da igreja à ciência, é a que esta é materialista, ouso notar que a concepção eclesiástica da vida futura foi sempre e é ainda  materialismo puro.

            O corpo material deve ressuscitar e habitar um céu material.”

            A culpa, a grande culpa dessa dolorosa enfermidade, que é falta de Fé, cabe, pois

inteira a Roma.

            Mas a verdade começa de brilhar.

            A nova era se inicia radiante de consolação e de promessas.

            Cristo ressurge. O espiritismo é um fato que os sábios já atestam e confirmam.

            Seu ideal é nobre: a perfeição humana, por meio do amor, do estudo e da caridade.

 O falso cristianismo – parte 6

por Fernando Coelho

Reformador (FEB) Fevereiro 1920

             “O espiritismo é uma verdade” atestam milhares de sábios. Como toda a verdade, - luz cujo brilho imaculado os subterfúgios da treva em vão tentam obscurecer e empanar. - O espiritismo foi, é será por muito tempo – porfiosa (teimosa) e tenazmente combatido.

            Aos seus crentes, porém, pouco importa a zombaria dos céticos.

            Obra luminosa, é daquelas que, muito longe de envergonharem, enobrecem e estimulam.

            A verdade, objetivo dos que sinceramente analisam e estudam a Natureza, não é privilégio de nenhuma seita.

            Está franqueado a todos o seu caminho. Que os cientistas, pois, observem-na, examinem-na, escalpelem-na cuidadosamente, sem precipitação, e terão realizado, para benefício e consolo da humanidade, a mais nobre e útil das tarefas.

            Mas, zombar, sem provas nem documentos de valia, daquilo que se não conhece, pelo simples gozo de épater (chocar), é coisa intolerável.

            O espiritismo é uma verdade, dissemos. Surgiu no triste momento em que a ciência e religião, materialismo negativista e desolador e dogmatismo esdrúxulo e apavorante, se digladiavam a mão armada, no campo estreito de um duelo improdutivo.

            Na hora em que Schiller, desesperado, exclamava:

             “La guerre soit entre vous. L'union viendra trop tôt encore! C'est á la seule condition que vous restiez désunis dans la recherche, que la vérite se fera connaître!”

             A guerra esteja entre vós. A união virá muito cedo ainda. É a única condição de que permaneçais desunidos na pesquisa que a verdade se torne conhecida!”  (aceitamos sugestões para revisar esta tradução!).

             Na noite sem luar da descrença projetou, desde logo, um raio vívido de fulgor, iluminando as consciências e esclarecendo as almas. Pregando a humildade, a fraternidade, a caridade, levou aos lares pobres o alívio, a esperança, e o conforto.

            Aboliu o fanatismo, induzindo os homens à análise meticulosa dos fatos.

            Cortou pela raiz à árvore daninha da superstição, desfazendo a velha blague (pilhéria) do milagre, com a prova insofismável de que tudo que à imaginação se afigura estranho, obedece tão simplesmente a leis naturais, até há pouco apenas desconhecidas.

            Religião e ciência, da igualdade, do amor e do perdão, o espiritismo veio reformar o homem, rasgando lhe novos horizontes, abrindo-lhe os olhos à Verdade.

            O tempo dos dogmas passou. Passou a época pessimista das hipóteses A era que surge é a da realidade.  

            Não basta crer. É preciso estudar, inquerir, perscrutar os íntimos segredos do mundo visível e invisível que nos rodeia, para que a alma não resvale para o falso terreno da fantasia e da quimera. Aos sábios oferecemos o exemplo sadio, confortante, pleno de sinceridade, de Crookes, Lombroso, Richet, Wallace e tantos outros, que, para firmarem a respeito dos fenômenos espíritas uma opinião abalizada e segura, conscienciosamente os estudaram, tirando conclusões, anotando factos, guiados sempre pelo raciocínio e pelo critério o mais escrupuloso.

            Que melhores documentos para o espiritismo do que essas opiniões?