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domingo, 27 de outubro de 2019

Como morrem as religiões


Como morrem as religiões
por Theophilo Siqueira
Reformador (FEB) Maio 1937

Conta Renan que, na igreja de sua terra natal, reunia-se o povo, a meia noite, no dia de S. lvo e o Santo estendia os braços para abençoa-lo. Mas, se houvesse ali alguém que duvidasse, erguendo os olhos para verificar o milagre, o Santo se ofendia do ato e não se movia, perdendo-se por esta causa a benção. (Recordações da lnfância.)

O catolicismo romano plantou, na subconsciência dos povos a que serve, infelizmente, a crendice, a superstição religiosa. Criou o materialismo-religioso, pior, talvez, que o materialismo puro, pois este nega, mas aquele desfigura, deturpa e conspurca.

A crença cega, sem raciocínio, estratificou-se. Da ortodoxia impenitente, os bons espíritos se afastaram; mirrou-se a delicada flor da pura intuição, que vai brotar algures. Surge o profetismo fora da Igreja, por isso que igreja não é templo, não é casa de pedra e argila, mas o próprio profetismo. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre Ela”. Isto é, sobre este teu profetismo, Pedro, esta tua intuição, esta tua mediunidade, em suma, a minha igreja será edificada e nada, nenhum erro interesse inferior a destruirá. Eis fundada, desde este momento, a verdadeira igreja do divino Salvador.

            Não importam as falsas “igrejas”, os falsos profetas ou médiuns, os novos alicerces sobre os quais repousará o espírito santo são aquelas declarações peremptórias do Apóstolo Simão cujo nome foi mudado para o de Pedro – pedra, pelo Senhor Jesus.

 Como morrem as religiõesparte 2
por Theophilo Siqueira
Reformador (FEB) Outubro 1937

A implacável lima do tempo gasta toda obra humana. “Toda planta que o Pai não plantou secará”. As “Religiões” são arranjos do interesse inferior do homem. Às revelações descidas do Alto se mesclam impurezas da contingência humana, pois que Deus, na sua onisciência, respeita os sentimentos predominantes através dos quais os profetas e médiuns, apesar dos pesares, inoculam ensino autentico, que conduz à salvação. Deus, contemporizando com humanas fraquezas, semeia verdades eternas, que germinam paulatinamente: escreve direito por linhas tortas...

Mas, a tendência das doutrinas é a de aglutinarem-se em “igrejas” e, assim, entram na reta do fanatismo. Vem a intolerância. A doutrina, de perseguida, passa a perseguidora. Eis o cicio fatal das “Religiões”.

Previna-se o Espiritismo... Fuja da aridez do escolasticismo. No dia em que se assentar sobre a sua verdade, passará à História. Viverá, então, uma vida artificiosa, cheia de sutilezas teológicas... Viva o Espiritismo como tem sido até agora, utilizando-se dos recursos das modernas ciências, da metafísica, servida por escrupuloso experimentalismo, despido de interesses sectários.

A metafísica já não se limita às puras abstrações, mas desce ao terreno firme dos fatos.

O experimentalismo, em pleno domínio da psicologia, já não se canaliza exclusivamente ao campo da ciência material. Infelizmente, o exagero leva o homem a estratificar o pensamento humano, criando o dogma. A Escolástica, exagerando os princípios aristotélico, solidificou uma “Teologia” rígida:  imutabilizou a sua verdade. O racionalismo, combatendo a Escolástica, exagerou, igualmente, o seu negativismo. O materialismo impera dogmaticamente, se bem vá cedendo o passo a um intuitismo temperado de sadio raciocínio, onde o espiritualismo, sem ritos nem “sacerdote”, ganha terreno dia a dia, Espiritualismo, sem aquele privilegiado esoterismo hierárquico... Um espiritualismo eclético, equidistante das “Escolas”: um pouco de escola ponica (?), um pouco da eleástica (escola filosófica pré-socrática); uma dose de Sócrates, com PIatão, com uma mistura de Aristoteles; adicionou-se mesmo um pouco de S. Tomás, sem se desprezar F. Bacon...

O Espiritismo, estabelecendo o conceito de verdade, dentro da concepção evolucionista, reporá o homem no caminho que o torna verdadeiramente digno em face de seu Criador. O Cristianismo primitivo, posto entre o panteísmo e o politeísmo, demonstrou, pelo Verbo encarnado, a transcendência divina: Deus criando livremente, pela sua vontade onipotente, a espiritualidade da alma e a sua liberdade. A Terceira Revelação, na pista da Verdade, vai ampliando o ensino do Cristo. Religião e ciência já não se repelem, mas, ao contrário, completam-se. Aí estão a geologia a biologia, a física, a química fornecendo ao homem elementos de inestimável valor.

Ao Espiritismo estava reservado o papel decisivo do critério experimental, para prova de uma religião revelada... E vai avassalando fariseus e publicanos, gregos e romanos. À força material das velhas “Religiões”, ele antepõe a sua força moral, provando o fato. Convencer, eis o melhor meio de vencer.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A questão do luto



A questão do luto
Gabriel Gobron
Reformador (FEB) Junho 1937

São estritamente pessoais as linhas que se seguem e que não visam ofender a ninguém, nem constranger pessoa alguma. Quem as escreve pensa que muitos ainda não puderam - hereditariedade? ambiência? - libertar-se inteiramente de uma longa tradição de culto de cadáveres, antes que de religião das almas. A esses deixa ele completa liberdade de pensar e de fazer o que lhes pareça mais conforme às suas opiniões e convicções do momento.

Quanto a mim, no curso de uma séria crise cardíaca, redigi assim o meu testamento moral:

PARA 0 CASO EM QUE EU VENHA A MORRER.

Coche dos pobres, caixão de madeira branca.

Enterramento civil, fossa comum.

Discursos junto ã minha sepultura (se possível, por um delegado da Revue Spirite de Paris, para afirmar as minhas crenças no Além e na Reencarnação), a fim de que fique atestado que sou espiritualista adogmático e que não morro como um cão.

Nada de coroas. Algumas flores naturais dos campos, se a estação o permitir. Nada de ornamentação fúnebre na casa.

Nada de luto por parte dos meus, nem de choros, nem de tristezas! Mas, bons pensamentos dirigidos à minha alma, que a possam reconfortar e vivificar em seu novo estado.

Sejam instados o Diretor da Escola Primária superior e o Inspetor primário a que se abstenham de participar, de qualquer maneira, do meu enterro. Insisto expressamente neste ponto, porque não quero momices administrativas sobre a minha sepultura, em virtude das chufas (zombarias) e perseguições que durante anos e anos terei suportado, na qualidade de professor livre e independente, apesar de tudo e de todos.

Tais são as minhas últimas e únicas vontades, formuladas neste 19 de novembro de 1934, achando-me em estado de perfeito equilíbrio mental e depois de madura reflexão. - GABRIEL GOBRON. - 19-11-1934.

Meses e meses se passaram após esse testamento sempre em vigor. As minhas convicções filosóficas e religiosas fortaleceram ainda mais as minhas resoluções.

A decoração funerária, o luto das vestes, a arquitetura dos cemitérios são, a meu ver, grandes aberrações do espírito, alimentadas pelo propagandismo e pelo materialismo das religiões dogmáticas. Essa cor negra, que simboliza o luto católico, é monstruoso erro. O branco (dos primeiros cristãos), o vermelho (que se nos deparou na Hungria), o verde (de uso entre alguns espíritas) são muito preferíveis ao preto da angústia e do nada.

As orações tarifadas, os serviços pagos, as reuniões de conversadores que acompanham o féretro (estopada (conversa enfadonha) que se suporta praguejando), a discutir sobre negócios; as visitas ruidosas aos cemitérios nos dias de finados, tudo isso desaparecerá no futuro melhor esclarecido.

Os choros, os soluços e, até, gritos retêm as almas nos lugares onde foram sepultados seus corpos, ao passo que preces espontâneas, confiantes, repetidas muitas vezes ajudam os Espíritos obscurecidos a “recobrar-se” no Além e a libertar-se, peja ascensão a esferas cada vez mais luminosas.

Ainda sobre este ponto, creio firmemente que a melhor maneira de se testemunhar amor a um ente caro que se foi não consiste em chorar sobre os seus despojos mortais (sobre hábitos contrariados, sobre interesses lesados, convém dizê-lo corajosamente), mas, em orar pela sua alma libertada dos laços da matéria, do fardo da carne, tão exigente e tão fraca. Causei escândalo na minha aldeia, por não haver chorado sobre o cadáver de meu pai. Entretanto, posso fazer a mim mesmo justiça, declarando que desde 1920 (ano de sua morte), tenho orado quase todos os dias para que sua alma encontre a Verdade e a Luz no mundo espiritual!

Como GabrieJ Delanne, tenho os meus mortos, pelos quais faço as minhas encomendações quase todas as noites. E a lista deles estende-se, estende-se, à medida que os anos fogem. Essa prece que faço por todos os meus mortos - parentes, amigos e conhecidos - me parece infinitamente mais útil, do que todas as lágrimas que pudesse derramar e que prenderiam esses trespassados à lama atmosférica e à ganga terrena de que já felizmente se livraram. Creio vivamente que se pode, pela prece pessoal e espontânea, ajudar os “mortos” e facilitar-lhes o acesso à Luz e à Verdade.

Também concito calorosamente os que me queiram dispensar algum crédito a fazer com frequência este pequeno exercício:

Realizar o que sucede após a morte: Visitação dos “mortos” que acorrem a festejar o nosso regresso ao plano espiritual; desencarnação; Além trevoso; sono, torpor, peso; perambulação, em torno de nós dos nossos entes sem substância, como nalguns dos nossos sonhos, etc., a fim de adquirirmos rapidamente consciência do nosso novo estado e de não prolongarmos em demasia essa vida crepuscular, em que tantos Espíritos não conseguem inteirar-se do que com eles se está dando.

Com efeito, alguns Espíritos procuram o Paraíso, o Purgatório, etc. e não logram
encontrá-los, transviados que foram pelos dogmas das igrejas materialistas. É, todavia, exato que, dentro de certos limites, essas seitas se reconstituem, nas esferas mais próximas da Terra, e se esforçam por atormentar os que se tornaram presas suas, apresentando-lhes como tendo existência real as miragens de que lhes falavam na Terra. Assim, graças ao poder criador do pensamento, acontece que Espíritos crédulos, já uma vez enganados neste mundo, o são segunda vez no Além, pelos mesmos sectários e os mesmos fanáticos de sempre, e se deixam engodar com os seus cantos de sereia.

Enfim, criar para si um apadrinhamento espiritual, dirigindo um pensamento caloroso aos verdadeiros Grandes Homens (eles são tão poucos!), que serviram à humanidade, porém não por meio de massacres e carnificinas. Quase todas as noites, evoco assim os meus “Deuses”, esses seres superiores aos quais, em minha fraqueza e miséria, eu tanto e tanto desejara assemelhar-me, já neste mundo.

Creio demais no Além, para deixar de condenar o luto que tortura os vivos e os
“mortos”.

domingo, 20 de outubro de 2019

Jesus e Caifás



Jesus e Caifás
                  
 26,57  Os que prenderam Jesus, levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
26,58  E Pedro o seguiu, de longe, até o pátio do sumo-sacerdote e, entrando, assentou-se enter os criados para ver o fim.  
26,59  O sumo sacerdote e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de condená-lo a morte. 
26,60  mas não encontravam nenhum, embora se tivessem apresentado muitas falsas testemunhas. Por fim, apresentaram-se duas 
26,61  que afirmaram: Este homem disse: “ -Posso destruir o templo e reconstruí-lo em três dias!” 
26,62  Levantando-se então, perguntou-Lhe o sumo sacerdote:
-Nada respondes ao que eles depõem contra Ti? 
26,63  Jesus, porém, continuava calado. Então o sumo sacerdote lhe disse: -Eu Te conjuro pelo Deus vivo, que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus.
26,64  Jesus respondeu: “-Isso mesmo. E digo mais: De agora em diante, vocês verão o Filho sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu.” 
26,65 O sumo sacerdote então  rasgou as vestes, exclamando: - Blasfemou! Para que precisamos de mais testemunhas  Vocês acabaram de ouvir neste instante a blasfêmia! 
26,66  Qual a  opinião? Eles responderam: Merece a morte! 
26,67  Começaram a cuspir-lhe no rosto e a dar-lhe socos e tapas, dizendo:
26,68 Mostra que és profeta, ó Messias! Quem Te bateu?   

         Para  Mt (26,57-68) -A Dignidade de Um Filho de Deus -, leiamos Luiz Sérgio por Irene Pacheco Machado, em “Dois Mundos Tão Meus”:

            “...Dalí, dirigi-me até a Universidade, onde a turma já se encontrava.

            Acomodei-me na minha cadeira e com emoção assisti Jesus a caminhar ao lado dos discípulos, em direção a Getsemani. Jesus conversava, orientando os discípulos, porém ao chegar em Getsemani o Seu semblante turvou-Se de preocupação.

             Próximo à entrada do Horto das Oliveiras, Jesus deixou Seus discípulos, com exceção de três, levando consigo Pedro, Tiago e João, penetrando pelos lugares mais retirados do jardim. Jesus sempre pedia a presença desses três apóstolos e, naquele dia, Ele precisava deles para passar a noite em oração. Jesus desejava que o povo mudasse o comportamento egoísta e mau.

            Naquela noite, Ele orava pela Humanidade, pedindo por ela. Mas Cristo não pode contar com aqueles apóstolos, pois, sonolentos, deixaram-se levar pelo sono, ficando Cristo a orar sozinho.

            Eles julgavam que o Mestre nunca sofreria nem seria aprisionado. E, com surpresa, viram-nO preso.
            Os três, apavorados, não sabiam o que estava acontecendo: O Cristo de Deus sendo levado pelos guardas. Já passava da meia noite e os gritos de vaia da turba que O seguia faziam-se ouvir.

            Jesus foi conduzido ao palácio de Anás. Anás era o cabeça da família sacerdotal em exercício e, em deferência à sua idade, reconhecido pelo povo como sumo sacerdote. Buscava-se e se cumpria seu conselho como sendo a voz de Deus.

            Tão poucos, entre os sacerdotes e príncipes, ficaram convencidos dos ensinamentos do Cristo; unicamente pelo temor, não o confessavam. Eles bem lembravam da pergunta de Nicodemos: Porventura condena  a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que fêz? (João 7,51).

            Pacientemente, escutava Jesus os contraditórios testemunhos. Uma palavra sequer proferia em defesa própria. Os adversários viram-se num emaranhado, ao mesmo tempo confusos e enfurecidos, mas mesmo assim acusavam-nO e esperavam o momento para condená-lO. 

            Embora oprimido, permaneceu calado. A dignidade de um filho de Deus estampava-se no semblante de Jesus. Seus acusadores eram terríveis, mas com que nobreza Ele enfrentou aquela turba enfurecida! Foi-Lhe jogado à cabeça um pano velho e seus perseguidores batiam-Lhe no rosto, dizendo: “profetiza-nos, Cristo, quem te bateu?” Ao ser retirado o pano, um pobre infeliz cuspiu-Lhe no rosto.

            Neste momento foi encerrada a aula. Fui um dos últimos a sair...”                               

  
         Para Mt (25,58) -O Fracasso de Pedro - , encontramos em “Caminho, Verdade e Vida” de Emmanuel por Chico Xavier, o que se segue:

            “O fracasso, como qualquer êxito, tem suas causas positivas.

            A negação de Pedro sempre constitui assunto de palpitante interesse nas comunidades do Cristianismo. Enquadrar-se-ia a queda moral do generoso amigo do Mestre num plano de fatalidade? Por que se negaria Simão a cooperar com o Senhor em minutos tão difíceis?

            Útil, nesse particular, é o exame de sua invigilância.

            O fracasso do amoroso pescador reside aí dentro, na desatenção para com as advertências recebidas. Grande número de discípulos modernos participam das mesmas negações, em razão de continuarem desatendendo.

            Informa o Evangelho que, naquela hora de trabalhos supremos, Simão Pedro seguia o Mestre “de longe,” ficou no “pátio do sumo-sacerdote”, e “assentou-se entre os criados” deste, para “ver o fim.”
          
         Leitura cuidadosa do texto esclarece-nos o entendimento e reconhecemos que, ainda hoje, muitos amigos do Evangelho prosseguem caindo em suas aspirações e esperanças, por acompanharem o Cristo à distância, receosos de perderem gratificações imediatistas; quando chamados a testemunho importante, demoram-se nas vizinhanças da arena de lutas redentoras, entre os servos das convenções utilitaristas, assestando binóculos de exame, a fim de observarem como será o fim dos serviços alheios.

            Todos os aprendizes, nessas condições, naturalmente fracassarão e chorarão amargamente.”   
                                   
O Testemunho de Caifás

            O Reformador de 16 de julho de 1920 refere-se a comunicações recebidas em sessões públicas em 4 de maio e em 1º de junho do mesmo ano que registramos seja pelo seu conteúdo doutrinário seja pela originalidade. Reproduzimos, a seguir, a de Caifás. Reafirma-se, pelo Espiritismo, a redenção inexorável de todas as almas.

            “ Paz em nome do Manso Cordeiro de Deus. A terra nos tempos idos em que ali vivi com o nome de Caifás era uma amontoado de trevas: - Trevas nas consciências, trevas nos templos, trevas por toda a parte, na própria atmosfera que a envolvia.

            Educado na lei de Moisés, onde aprendi a saldar contas pelo - olho por olho, dente por dente - dominado pelo orgulho e pelo egoísmo, entendi que, como Sumo Sacerdote, empunhando o cetro do verdadeiro representante de Deus na Terra, Aquele Homem que pregava uma doutrina de amor e de perdão, portanto de fraternidade, vinha despojar-me de minhas prerrogativas de Sumo Pontífice, arrebatar de minhas mãos o domínio das consciências, que eu manejava de acordo com os meus interesses de ocasião.Fui assim o principal culpado daquela horrenda tragédia, supondo que, com o fazer baquear o Homem , ficasse ipso-facto extinta a doutrina que Ele personificava.

            Não contava eu com a potência superior que tudo governa e que O tinha enviado. Estive perto da luz do mundo e deixei que em trevas permanecesse a minha consciência impura e, por instigação minha, foi levado ao Gólgota o Enviado de Deus.

            Ah!, Meus amigos, ao abandonar o ergástulo da carne e ao ver-me envolto na mais espessa escuridão, quando pensava que, devido ao lugar que ocupava, um outro especial me estivesse destinado, desfizeram-se as minhas ilusões e, ao começar a sofrer as conseqüências dolorosas de minha falta, irrompeu no meu íntimo o arrependimento sincero produzido pela dor e pela vez primeira reconheci ser o culpado principal do sacrifício do Justo.

            Várias vezes voltei à terra onde expiei os meus crimes e, graças a Jesus, o Seu perdão me aureolou à Fronte, o que reconheço pela paz que me cerca e pela luz que do meu espírito se irradia
            
             Muitos de vós, ao ouvirem pronunciar o meu nome o maldizem, não relembrando de que o espírito pode regenerar-se e conquistar o direito ao perdão de seu Deus.

            A misericórdia do Senhor é tão grande que hoje me escolheu para falar-vos e dar-vos os conselhos que, com a experiência do sofrimento, adquiri, redimindo o meu espírito. Alerta, espíritas, compenetrai-vos da gravidade do momento que o planeta atravessa; não deponhais a vossa cruz a margem do caminho e, haja o que houver, suceda o que suceder, proclamai bem alto o nome sacrossanto de Jesus.

            Irmanai-vos pelo sentimento de caridade e fazei com que essa flor desabroche em vossos corações desprendendo odores de afetos que, atingindo o vosso semelhante, irão recair em bênçãos sobre as vossas cabeças. Fazei germinar em vossos espíritos a humildade que os exaltará perante o Senhor e na fonte bendita que jorra de seu seio beber a largos tragos a linfa pura de seu amor, que vos fará ressurgir para a verdadeira vida. É este o melhor presente que vos pode hoje oferecer o vosso irmão em N. S. Jesus Cristo. Caifás

A palavra, agora, é para Herodes:

            “A paz do Senhor seja convosco. Chegados são os tempos, irmãos meus, em que todos aqueles que compartilharam da grande tragédia desenrolada na Judeia, venham confessar publicamente os seus erros e os seus crimes. Os tempos chegaram em que os comparsas dessa trama hedionda devem baixar as máscaras e, esmagando o orgulho que os avilta, tornar-se humildes para que exaltados sejam no conceito do Senhor.

            Naquela época tenebrosa, sendo eu delegado, como Pilatos, de Tibério César, aquele que me enviou, por deferência, embora meu inimigo fosse até então, o Amor dos amores, para mim nesse tempo desconhecido. Uma vez na minha presença, fiz-lhe diversas perguntas a que não respondeu. Resolvi mandar vestir-lhe uma túnica branca, por escárnio, e devolvi-o a Pilatos, que se encarregou de o entregar para ser crucificado.

            O meu crime, porém, não foi menor do que daquele, pois uma palavra minha o teria desviado desse ato.

            Mas, a compaixão não encontrava guarida em meu coração. Coração de fera, sentia mesmo um grande prazer em ver pagar com a vida aquele que nenhuma importância me ligava, sabendo a posição que eu ocupava.

            Dominado pelo orgulho, tripudiei sobre a inocência e deixei que se consumasse o negregando crime. Assim havia de ser, porque o escândalo tinha de dar-se. Mas ai daqueles por quem veio o escândalo. Continuei minha vida desregrada e morri no pecado, repelindo a luz que o anjo me oferecia para iluminar o meu espírito.

            Em uma série de sete encarnações, cada qual mais cruciante, tive de saldar essa e outras dívidas do passado e, na grande hecatombe de Paris, em que o povo exaltado para a reivindicação dos seus direitos calcados aos pés, trucidou os nobres aos milhares, tombou a minha cabeça também para que o sangue de meu corpo concorresse a estrumar o solo, servindo à futura regeneração da humanidade.

            Neste momento em que vos falo, descem em aluvião espíritos de alta categoria ao vosso planeta, prepostos do Senhor à obra grandiosa de sua transformação. E agora que alguma luz me envolve, agora que algo mais conheço do que outrora, venho dizer-vos: Espíritas, filhos da Terra de Santa Cruz, rendei graças ao Senhor dos mundos que permitiu fosse, pelo seu bendito Filho Jesus, posto em vossas mãos o seu Evangelho, fonte da vida eterna, manancial de água viva que saciará a vossa sede de amor e de justiça.

         Bebei em largos haustos nesse Jordão sublime e reparti com vossos irmãos, que ainda o desconhecem, para que sejam salvos.

            Lembrai-vos que uma chave existe para abrir as portas do céu - a caridade - e procurai erigir em vosso corações um templo em que sacrifiqueis constantemente ao amor de nosso Deus sobre todas as coisas e ao vosso próximo como a vós mesmos.

            Assim tereis vencido a morte, num surto luminoso para a vida eterna que é o seio amoroso de Jesus. Deus vos ilumine e dê paz.”                                                                                                        Herodes

           
                                              


sexta-feira, 18 de outubro de 2019

O administrador infiel \ Nenhum servo pode servir a dois senhores



O Administrador Infiel - Parábola  /
        Nenhum Servo Pode Servir a dois Senhores                  

16,10 “ -Aquele que é fiel nas coisas pequenas, será também fiel nas coisas grandes. E, quem é injusto nas coisas pequenas, ser-lo-á também nas grandes;       
16,11 Se, pois, não tiverdes sido fiéis nas riquezas ilusórias, quem vos confiará as verdadeiras? 
16,12 E, se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? 
16,13 Nenhum servo pode servir a dois senhores: Ou há que odiar a um e amar o       outro ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.” 16,14 Ora, ouviam tudo isso os fariseus, que eram avarentos e zombavam dele. 
16,15 Jesus disse-lhes: “ -Vós procurais parecer justos aos olhos dos homens, mas, Deus  vos conhece os corações, pois o que é elevado aos olhos dos homens é abominável aos olhos de Deus.” 
16,16 A lei e os profetas duraram até João. Desde então é anunciado o Reino de Deus e cada um faz esforços para aí entrar 
16,17 mais facilmente, porém, é mais fácil passar o céu e a terra, do que se perder uma só letra da lei. 
16,18  Todo o que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem casar com a mulher rejeitada comete adultério também.”  

         Para Lc (16,13) -Nenhum Servo Pode Servir a Dois Senhores -,  “Caminho, Verdade e  Vida”, de Emmanuel por Chico Xavier, nos fornece a orientação: 

            “Se os cristãos de todos os tempos encontraram dolorosas situações de perplexidade nas estradas do mundo é que, depois dos apóstolos e dos mártires, a maioria tem cooperado na divulgação de falsos sentimentos, com respeito ao Senhor a que devem servir.

            Como o Reino do Cristo ainda não é da Terra, não se pode satisfazer a Jesus e ao mundo, a um só tempo. O vício e o dever não se aliam na marcha diária. Que dizer de um homem que pretenda dirigir dois centros de atividade antagônica, em simultâneo esforço?

            Cristo é a linha central de nossas cogitações.

            Ele é o Senhor único, depois de Deus, para os filhos da Terra, com direitos inalienáveis, porquanto é a nossa luz do primeiro dia evolutivo e adquiriu-nos para a redenção com os sacrifícios de seu amor.

            Somos servos d’Ele. Precisamos atender-lhe aos interesses sublimes, com humildade. E, para isso, é necessário não fugir do mundo, nem das responsabilidades que nos cercam, mas, sim, transformar a parte de serviço confiada ao nosso esforço, nos círculos de luta, em cédula de trabalho do Cristo.

            A tarefa primordial do discípulo é, portanto, compreender o caráter transitório da existência carnal, consagrar-se ao Mestre como centro da vida e oferecer aos semelhantes os seus divinos benefícios.”

            Ainda para Lc (16,13) -Nenhum Servo Pode Servir a Dois Senhores  - cabe, agora, aprender com a palavra de André Luiz por Waldo Vieira, em “Conduta Espírita”:

“Conduta Espírita nos Embates políticos...

            -Situar em posição clara e definida as aspirações sociais e os ideais espíritas cristãos, sem confundir os interesses de César com os deveres para com o Senhor. Só o Espírito possui eternidade.

            -Distanciar-se do partidarismo extremado. Paixão em campo, sombra em torno.

            -Em nenhuma oportunidade, transformar a tribuna espírita em palanque de propaganda política, nem mesmo com sutilezas comovedoras em nome da caridade. O despistamento favorece a dominação do mal.

            -Cumprir os deveres de cidadão e eleitor, escolhendo os candidatos aos postos eletivos, segundo os ditames da própria consciência, sem, contudo, enlear-se nas malhas do fanatismo de grei. O discernimento é caminho para o acerto.

            -Repelir acordos políticos que, com o empenho da consciência individual, pretextem defender os princípios doutrinários ou aliciar votos ou solidariedade a partidos e candidatos. O Espiritismo não pactua com interesses puramente terrenos.

            -Não comerciar com o voto dos companheiros de ideal, sobre quem a palavra ou cooperação possam exercer alguma influência. A fé nunca será produto para mercado humano.

            -Por nenhum pretexto, condenar aqueles que se acham investidos com responsabilidades administrativas de interesse público, mas sim orar em favor deles, a fim de que se desincumbam satisfatoriamente dos compromissos assumidos. Para que o bem se faça, é preciso que o auxílio da prece se contraponha ao látego da crítica.

            Impedir palestra e discussões de ordem política nas sedes das instituições doutrinárias, não olvidando que o serviço de evangelização é tarefa essencial. A rigor, não há representantes oficiais do Espiritismo em setor algum da política humana.”

            Para  Lc (16,18)  -Casamento e divórcio - leiamos um pequeno trecho de autoria de Antônio Luiz Sayão em “Elucidações Evangélicas”(Ed. FEB):

            “Relativamente ao divórcio, o objetivo imediato do ensino de Jesus foi impedir se multiplicasse o número de mulheres repudiadas sob os mais fúteis pretextos, como era de costume entre os judeus, mediante a carta de divórcio que Moisés permitira.

             Nem foi com objetivo diverso que, doutra feita, apoiando-se na letra da Gênese, se referiu figuradamente, à criação inicial de um homem e de uma mulher, para origem da Humanidade, a fim de concluir recomendando não se separasse o que Deus unira.

             De fato, o homem não deve equiparar-se ao bruto, tendo a mulher apenas como meio de satisfazer aos seus apetites materiais, ao instinto da procriação. Cumpre-lhe, ao contrário, considerá-la    o que ela realmente é - um Espírito criado como o dele, a este em tudo semelhante e posto na Terra, pela encarnação, para também expiar e resgatar faltas, depurar-se, progredir, suportando, do mesmo modo que ele, os trabalhos e, como ele, gozando das alegrias que lhe proporcione a vida humana.”     
        

terça-feira, 15 de outubro de 2019

A Mulher Adúltera


           A Mulher Adúltera                          
8,1 Dirigiu-se Jesus para o Monte das Oliveiras. 
8,2 Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a Ele. Assentou-Se e começou a ensinar; 
8,3 Os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 
8,4  Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: -Mestre, agora mesmo essa mulher foi apanhada em adultério; 
8,5 Moisés mandou-nos, na lei, que apedrejássemos tais mulheres. Tu  pois, que dizes? 8,6 Perguntavam-Lhe isso, a fim de pô-Lo à prova e poderem acusá-Lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra... 
8,7  Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes:“ -Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” 
8,8 Inclinando-se, novamente, escrevia na terra... 
8,9  À estas palavras, sentindo-se acusados pelas suas próprias consciências, eles se foram, retirando-se, um por um, até o último. 
8,10  Então, Ele se ergueu e, vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe:“ -Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” 
8,11 Respondeu ela: -Ninguém, Senhor. Disse-lhe, então, Jesus: “ -Nem Eu te condeno. Vai, e não peques mais.”   
        
Tomemos “O Evangelho...”, de Kardec, em seu Cap.X:

            “...Aquele que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra,”. disse Jesus. Esta máxima nos faz da indulgência um dever, porque não há ninguém que dela não tenha necessidade para si mesmo.”

            Para Jo (8,5) -Tu, pois que dizes? - tomemos  “Caminho, Verdade e Vida”, de nossos irmãos maiores Emmanuel e Chico Xavier, onde encontramos a mensagem que se segue:

            “Várias vezes o espírito de má fé cercou o Mestre, com interrogações, aguardando determinadas respostas pelas quais o ridicularizasse. A palavra D’Ele, porém, era sempre firme, incontestável, cheia de sabor divino.

            Referimo-nos ao fato para considerar que semelhantes anotações convidam o discípulo a consultar sempre a sabedoria, o gesto e o exemplo do Mestre.      Os ensinamentos e atos de Jesus constituem lições espontâneas para todas as questões da vida. O homem costuma gastar grandes patrimônios financeiros nos inquéritos da inteligência. O parecer dos profissionais do direito custa, por vezes, o preço de angustioso sacrifício. Jesus, porém, fornece opiniões decisivas e profundas, gratuitamente. Basta que a alma procure a oração,  o equilíbrio e a quietude. O Mestre falar-lhe-á na Boa Nova da Redenção.

            Frequentemente, surgem casos inesperados, problemas de solução difícil. Não ignora o homem o que os costumes e as tradições mandam resolver, de certo modo; no entanto, é indispensável que o aprendiz do Evangelho pergunte, no santuário do coração:

            Tu, porém, Mestre, que me dizes a isto? E a resposta não se fará esperar como divina luz no grande silêncio.”

            Para  Jo (8,11) -Não peques mais! - do livro “Segue-me!”, de Emmanuel por Chico Xavier, reproduzimos:

            “A semente valiosa que não ajudas, pode perder-se.

            A árvore tenra que não proteges, permanece exposta à destruição. A fonte que não amparas, costuma secar-se. A água que não distribuis, forma pântanos. O fruto não aproveitado, apodrece. A terra boa que não defendes, é asfixiada pela erva inútil. As  flores que não cultivas, nem sempre se repetem. O amigo que não conservas, foge do teu caminho. A medicação que não respeitas, na dosagem e na oportunidade de que lhe dizem respeito, não te beneficia o campo orgânico. Assim também é a graça divina.

            Se não guardas o favor do alto, respeitando-o em ti mesmo, se não usas os conhecimentos em ti mesmo, se não usas os conhecimentos elevados que recebes em benefício da própria felicidade, se não prezas a contribuição que te vem de cima, não te vale a dedicação dos mensageiros espirituais.

             Debalde improvisarão eles milagres de amor e paciência, na solução de teus problemas, porque sem a adesão de tua vontade ao programa regenerativo todas as medidas salvadoras resultarão imprestáveis.

            “Vai e não peques mais!”

            O ensinamento de Jesus é suficiente expressivo O médico Divino proporciona a cura, mas se não a conservarmos, dentro de nós, ninguém poderá prever a extensão e as conseqüências de novos desequilíbrios que nos aviltarão a invigilância.”

            Pedimos sua reflexão para este pequeno escrito de Vinícius, conforme publicado no Reformador de 16.07.1935. Título:A Primeira Pedra”: 

            Alguns escribas e fariseus trouxeram com grande alarde e escândalo uma certa mulher apanhada em adultério e, colocando-a no meio do povo a quem Jesus ensinava, disseram: “Mestre, esta mulher foi encontrada em flagrante adultério. Moisés ordena na Lei que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, porém, que dizes?

            Jesus, depois de fitar por algum tempo seus interlocutores, voltando as costas, curvou-se e foi escrevendo na areia as seguintes considerações:

            “Curioso e digno de nota é o critério dos homens em semelhante assunto. Julgam que só as mulheres devem ser responsabilizadas pelo crime de adultério, como se tal delito fosse privativo delas! Estes mesmos que acabam de acusar esta pobre pecadora são, todos eles, réus da mesma culpa. Sendo necessário, poderei apontar a cada um as vezes que infringiu o nono mandamento da Lei.”

            Enquanto Jesus escrevia, um dos escribas, movido de grande curiosidade, aproximou-se e leu tudo o que o Mestre grafara com o dedo no pátio da igreja; e, em seguida, foi relatar aos seus confrades, os quais continuavam insistindo pelo parecer de Jesus acerca do caso em apreço.

            O Senhor, então, ergueu-se e disse pausada e solenemente:

            “Aquele, dentre vós, que se julgar isento dessa culpa atire a primeira pedra.”

            Estas palavras caíram como brasas vivas sobre as consciências depravadas dos escribas e fariseus, os quais, cientes já do que o Taumaturgo de Nazaré, profundo conhecedor dos recônditos da alma humana, escrevera no chão, foram retirando-se, a começar pelos velhos - que mais tempo tiveram para prevaricar - seguindo-se os menos idosos, até o derradeiro.

            Diante dessa atitude dos seus impertinentes perseguidores, Jesus interpelou a culpada que, humilde e confusa, aguardava seu veredicto.

            -Onde estão os teus perseguidores? Ninguém te condenou?

            -Ninguém, Senhor.

            -Nem eu tampouco te condeno. Vai, e não peques mais.

                                   ***

            A pedra, de que os embusteiros da fé quiseram servir-se para lapidar a delinquente, foi a primeira lançada pelo divino intérprete da Soberana Justiça, na obra da emancipação feminina, estabelecendo a igualdade de direitos entre o homem e a mulher.