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terça-feira, 26 de março de 2019

A oferta de uma viúva



A Oferta de uma Viúva

Mc 12,41  Jesus sentou-se defronte da caixa de esmolas e observava como o povo colocava dinheiro nela; muitos ricos depositavam grandes quantias...
12,42  chegando um pobre viúva, lançou duas pequenas moedas de valor e pequeno. 12,43  E  Ele  chamou  seus  discípulos  e disse-lhes:  “ -Em verdade vos digo, esta pobre viúva ofertou mais do que todos os que depositaram na caixa; 
12,44  porque todos colocaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs da sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento.”
        
         Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de A. Kardec, lemos, em seu cap. XIII, o trecho que segue, para Mc (12,41-44):
                  
            “Muitas pessoas lamentam não poderem fazer tanto bem quanto o gostariam, por falta de recursos suficientes, e se desejam a fortuna é, dizem elas, para dela fazerem um bom uso. A intenção é louvável sem dúvida, e pode ser muito sincera em alguns; mas é certo que seja em todos completamente desinteressada? Não há aqueles que, desejando mesmo fazer o bem aos outros, estariam bem contentes em começar a fazê-lo a si mesmos, de se darem algumas alegrias a mais, de se proporcionarem um pouco um pouco do supérfluo que lhes falta, sob a condição de darem o resto aos pobres? Essa segunda intenção, dissimulada, mas que encontrariam no fundo do coração se quisessem nele rebuscar, anula o mérito da intenção, porque... a verdadeira caridade pensa nos outros antes de pensar em si.”

            Para Mc (12,43) - A Oferta de uma Viúva - leiamos “Livro da Esperança” de Emmanuel por Chico Xavier:

            Abracemos, felizes, as atividades obscuras que a vida nos reserve. Grande é o sol que sustenta os mundos e grande é a semente que nutre os homens.

            Engenheiros planificam a estrada, consultando livros preciosos no gabinete e, a breve tempo, larga avenida pode surgir da selva. Entretanto, para que a realização apareça, tarefeiros abnegados removem estorvos do solo e transpiram no calçamento.

            Urbanistas esboçam a planta de enorme edifício, alinhando traços nobres, ante a mesa tranquila e é possível que arranha-céu se levante, pressuroso, acolhendo com segurança numerosas pessoas. Todavia, afim de que a obra se erga, esfalfam-se lidadores suarentos, na garantia dos alicerces.

            Técnicos avançados estruturam as máquinas que exaltam a industria e, com elas, é provável se eleve o índice da evolução de povos inteiros. No entanto, para que isso aconteça, é indispensável que operários valorosos exponham as próprias vidas, junto de fornos candentes de ferro e aço.

            Negociantes de prol arregimentam os produtos da terra e por eles, conseguem formar a economia e o sustento de grandes comunidades. Mas semelhante vitória comercial exige que anônimos semeadores chafurdem as mãos no limo da gleba.

            Não perguntes “quem sou eu?”, nem digas “-nada valho!”.

            Honremos o serviço que invariavelmente nos honra, guardando-lhe fidelidade e ofertando-lhe as nossas melhores forças, ainda mesmo quando se expresse, através de ocupação, supostamente esquecida na retaguarda.

            Nos princípios que regem o Universo, todo trabalho construtivo é respeitável. Repara esse dispositivo da Lei Divina funcionando em ti próprio.

            Caminha e pensas de cabeça içada à glória do firmamento, contudo, por ti mesmo, não avançarás para a frente, sem a humildade dos pés.”

segunda-feira, 25 de março de 2019

Jesus e o demônio


Artigo (parte): "O Rei dos Reis"
por Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Junho 1962

                     "...Cena bem filmada, de extraordinária e excelente montagem, formando belíssimo panorama, é a que mostra Jesus sendo tentado pelo demônio, no deserto. Pena o fato não seja verdadeiro, pois Jesus jamais foi tentado por ninguém, muito menos por uma personagem que não existe. O demônio, entre os próprios homens, já está tão desmoralizado que custa a crer possa alguém ainda aceitar ao pé da letra a linguagem bíblica. Só quem pretenda apoucar a figura gigântea do Mestre se arrisca a concebê-lo sujeito a tentações daquele que, se existisse, significaria um ente aberrativo da Criação, indigno da onipotência, da unicidade, da bondade e da perfeição infinita de Deus."

Senhor, por que me abandonaste?



Artigo (trecho): "Rei dos Reis"
por Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Junho 1962 

"Senhor! porque me desamparaste?!" Jamais ele pronunciou essa frase de desespero. Primeiro, porque, se Deus não desampara sequer o mais reles criminoso, muito menos o faria ao Seu enviado a Terra em tão excelsa missão; segundo, porque Jesus não se sentiria desamparado nunca, pois seria dar testemunho de apoucada fé em Deus, negando assim seus próprios ensinamentos anteriores. O Espiritismo explica, com abundosa lógica e carradas de bom-senso, que tal frase, dita talvez por um dos ladrões ao Cristo, no meio da confusão e da algaravia que então se generalizou no Gólgota, não pode ser identificada pelos apóstolos que a ouviram."

sábado, 23 de março de 2019

Maravilhas do Evangelho



Maravilhas do Evangelho
por Sílvio Brito Soares
Reformador (FEB) Junho 1962

            Em suas peregrinações pela Galileia, era hábito de Jesus pregar nas sinagogas e curar, com a força magnética de seus fluidos, muitos dos chamados endemoninhados, isto é, criaturas sujeitas à vontade de Espíritos maléficos.

            Certo dia, um jovem, então empolgado com a pregação do Mestre e com os prodígios que operava, não mais pode sopitar os anseios de sua alma e, por isso, dirigiu-se a Jesus, dizendo-lhe resumidamente: - Seguir-te-ei, Senhor!

            A verdade, porém, é que os homens, mesmo nos momentos de arrebatamento, têm sempre na vida um "mas", uma restrição, e isto porque ainda se conservam escravizados às coisas do mundo!

            Esse mancebo, após prometer ao Divino Mestre que o acompanharia em sua jornada de amor e luz, acrescentou, apressado, um "mas", isto é, que Jesus lhe permitisse ir antes despedir-se dos que se encontravam em casa:  A resposta de Jesus há de causar surpresa aos espíritos pouco afeitos às sutilezas das palavras, que bem representam um símile perfeito das criaturas. Quem vê um homem finamente vestido, de maneiras delicadas, não acredita que seu coração seja uma usina de ódios, intemperanças e imoralidades. E quantas vezes nos enganamos nós, presumindo que este ou aquele maltrapilho é um vagabundo, um malfeitor vulgar, quando, em verdade, em sua alma rebrilha a luz encantadora do amor e da honestidade!

            Muita gente tem lido e relido as palavras constitutivas da resposta de Jesus, sem atinar com o seu conteúdo espiritual, com a beleza de seus ensinamentos.

            Mas qual foi a resposta do Messias a que estamos aludindo? Apenas esta: - Quem empunha o arado e torna a olhar para trás, não é apto para o reino de Deus.

            É bem certo que escritores mal avisados, levianos em suas apreciações apressadas, têm feito reparos a essa resposta, porque, dizem eles, Jesus, assim falando, está implicitamente pregando a secura de coração, despedaçando os ternos laços da família.

            Ora, não é crível, absolutamente, que o Divino Enviado tivesse o propósito de aconselhar tamanho absurdo. O espírito dessas suas palavras é outro bem diverso. Faz-nos sentir ser necessário não olhar para trás quando nos encontremos na estrada do bem, evitando, destarte, que algo nos possa despertar desejos menos dignos, retendo-nos em suas malhas traiçoeiras.

            Quem põe a mão no arado para remover as suas inferioridades, não pode dele retirá-la, sob pena de perder o esforço até então despendido. Amparado, disse culto irmão da Espiritualidade, promete serviço, disciplina, aflição e cansaço, “no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, cheguem as semeaduras e colheitas, pão no prato e celeiros guarnecidos.”

            Portanto, meu irmão ou minha irmã, se te não só atende de pronto, como ainda o elogia, dizendo: “Em verdade vos afirmo que não encontrei tão grande fé, nem mesmo em Israel.”

            Em colóquio com uma samaritana de má vida, junto ao poço de Jacó, revela, pela vez primeira, ser o Messias prometido.

            Aos apóstolos, ainda demasiadamente intolerantes, que lhe fazem esta queixa: “Mestre, encontramos um homem que expulsava demônios em teu nome, mas não é do número dos nossos; e nós lho proibimos”, responde: “Não lho proibais; quem expulsa demônios em meu nome não é meu inimigo”, provando, uma vez mais, que o seu espírito universalista aceita, de bom grado, as manifestações de fé e de bondade, venham elas de onde vierem!

            Nem foi outra a razão por que Pedro, sob a inspiração do Alto, houve por bem proclamar: “Tenho na verdade alcançado que DEUS NÃO FAZ DISTINÇÃO DE PESSOAS; EM TODA NAÇÃO, AQUELE QUE O TEME E OBRA O QUE É JUSTO, ESSE LHE É ACEITO.” Vem de longe, em dano para a cristandade, a funestíssima ideia de que o reino de Deus seja uma espécie de sociedade eclesiástica, organizada segundo os padrões hierárquicos do império romano, e que, para ingressar nesse reino, o que se tem a fazer é ser batizado, mesmo inconsciente, aceitar meia dúzia de dogmas teológicos e participar, vez por outra, de determinadas cerimônias e rituais. Quem satisfaça essas formalidades burocráticas, pode considerar-se perfeitamente quite com seus deveres religiosos, e, quando lhe chegue a morte, terá a alegria de ver o Senhor vir pegá-lo pela mão, para introduzi-lo, com as honras de estilo, na mansão celestial.

            Não é isso, todavia, o que o Cristo nos ensina em seu Evangelho.

            Declara ele, claramente, que o reino de Deus não tem aparência exterior, não é um lugar no espaço que alguém possa apontar e dizer: ei-lo aqui ou ei-lo acolá. E acrescenta: “O reino de Deus está dentro de vós”, deixando bem claro que é um estado íntimo, de justiça (retidão de caráter), paz e alegria espiritual, como o interpretou o Apóstolo dos gentios.

            Esse estado de felicidade se acha latente em todos os homens e se vai desenvolvendo, crescendo, integrando-se, à medida que aprendam a cumprir a vontade de Deus, aplicando suas melhores forças morais, intelectuais e afetivas na produção do Bem, na prática do Amor Universal.

            Ora, sendo as almas humanas “imagem e semelhança” do Criador, ao influxo da lei do progresso e por via do processo reencarnatório, todas hão de alcançar um dia a perfeição, e esse ascenso universal, que é absolutamente certo, significa, em última análise, a derrota final de Satanás (egoísmo personalista) diante do Supremo Bem, que é DEUS!

Rita Maria


Rita Maria
por José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Junho 1962

            Rita Maria era assim mesmo. Não adiantava brigar com ela, porque, o que entrava por um ouvido, saía pelo outro. Às vezes "seu" José Guimarães exclamava, irritado:

            - Pau que nasce torto!..

            Ela gostava muito de fumar e só fumava cachimbo. Tinha o temperamento folgazão, essa alegria barulhenta e sem peias, que não escolhe lugar para se expandir. Rita Maria cantava, dançava e mexia com todos, sem faltar ao respeito a ninguém. Era gênio dela. Desde moça que era assim. Agora, já velha, não tinha muita firmeza no que fazia. Se cozinhava, deixava o feijão queimar e não poucas vezes o patrão reclamara o arroz "bispado". Tinha, porém, um coração muito sensível e não fazia mal a quem quer que seja.
           
            "Seu" Guimarães, no entanto, explodia, intolerante:

            - Parece que esse diabo bebe!.. Ó Eponina! Eponina! Você já provou este ensopado? Está sem sal! ...

            Mas a tempestade passava logo e a Rita Maria ia continuando naquele mesmo programa, ouvindo os ralhos de "seu" Guimarães, por causa dos seus descuidos na cozinha.

            Diversas vezes o patrão comentou com a mulher o "miolo mole" de Rita Maria, como ele dizia: - Olhe, Eponina: a Rita Maria parece que anda bebendo às escondidas. Acho que não endireita mais. Está ficando velha e amalucada. Não sei onde põe o dinheiro que ganha aqui. Talvez compre fumo e cachaça... É melhor você dar um jeitinho nela, enquanto é tempo... Um dia, Eponina, ela ainda nos dará um aborrecimento muito sério...

            D. Eponina gostava muito de Rita Maria e encontrava sempre uma saída para desculpá-la:

            - Não acredito que ela beba, não. Fumar, fuma, mas isso não é de hoje, José. Você acha justo que se mande a Rita embora? Enquanto ela era moça e forte, não nos deixou por ninguém. E não lhe faltaram boas propostas. Envelheceu e continua fiel à nossa família, trabalhando com boa vontade, fazendo o melhor que pode. Seríamos ingratos se não a quiséssemos agora... Tem lá suas maluquices, mas ninguém é perfeito neste mundo, José. Depois, não é todo o dia que ela nos estraga o paladar.  Vamos ter mais um pouco de paciência, sim!

            E "seu" Guimarães, embora contrariado, ia cedendo.

*

            Passaram-se meses, até que, certa noite, Rita Maria saiu e não voltou. Somente deram por sua falta na manhã seguinte, à hora do café. Procura daqui, procura dali, levaram assim horas e horas, até que um barqueiro chegou com a notícia de que o corpo da velha fora encontrado no rio... Naturalmente, perdera o equilíbrio ao atravessar a pinguela e se afogara. Todos ficaram tristes, porque, afinal, Rita Maria era "boa coisa", apesar de “meio pancada”. D. Eponina chorou muito, inconsolável, pois a velha a acompanhava desde a meninice. "Seu" Guimarães, todavia, não se mostrou muito penalizado, ao considerar: - Que é isso, Eponina! Deixe de bobagem. A Rita Maria já estava precisando "ir" ... A bebida acabou com ela, pode estar certa. Vai ver, caiu no rio quando se encontrava embriagada... Tinha que terminar na “água”, minha filha... Foi melhor assim. Deus sabe o que faz...

*

            Tempos mais tarde, ninguém mais se lembrava daquela velha bulhenta da casa de D. Eponina. "Seu" Guimarães teve necessidade urgente de ir a um vilarejo próximo, à noite. Chovia muito. Tudo estava tão escuro que, apesar da lanterna que ele levava, mal enxergava o caminho. Lá adiante, esperava-o a pinguela que dava acesso à outra margem do rio. Ele se dirigiu cautelosamente para ela, segurando-se com firmeza e olhando com muita atenção onde pisava. Em dado momento, porém, escorregou e caiu no rio, então caudaloso. Lutou desesperadamente e estava prestes a afogar-se quando percebeu que alguém lhe dava a mão e o ajudava a sair. "Seu" Guimarães não compreendera o que se passara, pois as margens estavam distantes do lugar em que se achava. Como poderia receber ajuda, ali, daquela maneira? Ainda meio atordoado, sentou-se no chão lamacento. Não estranhou sequer que, sem a lanterna, que se perdera no rio, estivesse aquele lugar satisfatoriamente iluminado. Dispunha-se a agradecer ao seu salvador, quando viu, com espanto, no seu lado, alegre como sempre, "pitando" o mesmíssimo cachimbo, a velha Rita Maria! No momento, não se recordou de que ela já havia morrido. A satisfação, por haver escapado de morte horrível, dominava todo o seu ser. Assim, exclamou: - Quase que eu "fui", hein, Rita? Até que enfim você fez alguma coisa com perfeição... Rita Maria riu alto e, como se tivesse asas, sobrepairou o rio, a cabeça velha emoldurada por um halo prateado, e desapareceu, dizendo-lhe: - Graças a Deus, patrãozinho!..

*

            Só então "seu" Guimarães caiu em si. Fora salvo por um fantasma! Não suportou o choque e desmaiou. Foram encontrá-lo no mesmo lugar, no dia imediato, ainda desacordado. Por coincidência, quem o encontrou foi um ex-fazendeiro que morava do outro lado da pinguela. Ao ouvir a narrativa de "seu" Guimarães, retrucou: Maravilhoso! Só quem conheceu intimamente a Rita Maria pode compreender a beleza do seu Espírito. Não se assuste, Guimarães. Foi ela mesma quem o salvou. Na noite em que morreu, dirigia-se para a minha casa, onde realizávamos um serviço de caridade por motivo do Natal do Cristo. Tudo quanto ganhava ela nos dava com alegria para ajudar-nos na obra de assistência aos necessitados. Não bebia cachaça, Guimarães. Apenas fumava do fumo que eu lhe dava. Se gostava de fumar, cantar e dançar, gostava ainda mais de auxiliar os que precisavam mais do que ela... Um nobre Espírito, Guimarães...

            O marido de D. Eponina estava derrotado. Compreendera, muito tarde, que Rita Maria valia muito mais do que ele supunha. Caíra no rio da mesma maneira que ele, e não porque estivesse embriagada. Guimarães sentiu os olhos arderem e chorou de vergonha e arrependimento. Aquela frase terna que dissera timpanava em seus ouvidos:
-
             ... tinha que terminar na “água”, minha filha...

            E soluçando, concluiu:

            - ... e foi da água que ela me salvou...

A Doutrina é tudo




A Doutrina é tudo
Percival Antunes (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Junho 1962

            O  Espiritismo, tal como o definem os Espíritos na codificação kardequiana, não será jamais uma religião sacerdotal e muito menos profissional, dotada de templos suntuosos e subordinada a encenações litúrgicas, incompatíveis com a humildade evangélica encontrável nos princípios do primitivo Cristianismo.

            Desse modo, o Espiritismo é o refúgio de todos os que se sentem desamparados de justiça, de todos os que sofrem, de todos os que percebem a necessidade de orientar a vida terrena com as luzes da Espiritualidade. Os sofredores, os humildes, os injustiçados, os preteridos, os esquecidos, encontram no Espiritismo o lenitivo de que precisam para vencer as suas dificuldades morais e os seus problemas espirituais.

            Todavia, aqueles que concorrem para o desequilíbrio social, os maus ricos e os poderosos que subestimam os fracos, também costumam buscar no Espiritismo, quando atingidos pela lei correcional do Carma, a paz que deles se afasta.

            Então podem aprender que não são melhores que os seus semelhantes. Se aproveitam as lições e procuram reparar os males causados por seu comportamento terreno, conseguem salvar parte da experiência encarnacionista.

            Em suma, o Espiritismo mostra a nova forma do verdadeiro Cristianismo, do Cristianismo do Cristo, e pode continuar cumprindo sua missão educativa e corretiva no seio da Humanidade, levando luz onde houver treva, água onde houver sede, pão onde a fome predominar, e paz onde a dissidência estiver em ação.

            Para que o Espiritismo possa cumprir, como até hoje, sua alta missão, seus adeptos terão que repelir tudo quanto seja capaz de deturpar ou comprometer a Doutrina dos Espíritos, a fim de que ele não venha a sofrer no futuro o que sofreu o Cristianismo do Cristo, cujos princípios foram falseados e não chegaram a influir positivamente na formação moral dos homens.

            Há na criatura humana a tendência natural para inovar ou para acomodar-se a conveniências, ainda que à custa da desnaturação de ideais, doutrinas e programas. Alguns querem correr demais, outros não querem correr mais.

            Numa doutrina, como a espírita, não há necessidade de inovações nem de estagnação. Tudo está perfeitamente determinado e previsto. Basta que a doutrina seja exemplificada como é preciso, para que tudo corra bem.

            A Doutrina Espírita não é obra humana.

            Diz o Codificador na "Introdução" de “O Livro dos Espíritos”: “A Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas próprias Inteligências que se manifestaram, quando ninguém disso cogitava, quando até a opinião geral a repelia.”

            O Espiritismo expande-se pelo mundo e, para alegria nossa, o Brasil constitui o bastião do movimento espírita mundial. É que a Doutrina dos Espíritos não necessita de adaptações, pois a Humanidade é uma só, em qualquer parte da Terra. Além disso, é da própria natureza da Doutrina o possuir enorme elasticidade e capacidade de adaptação, sem perigo de serem constringidos ou feridos os princípios essenciais em que ela está erigida.

            Importa, porém, que todos os espíritas compreendam, aceitem e prestigiem essa maravilhosa maleabilidade que assegura a eternidade dinâmica da nossa Doutrina.

            Nosso dever é pensar e agir de modo a evitar se instalem no Espiritismo os preconceitos sectários, o fanatismo, o farisaísmo, o misticismo mórbido, a passividade suicida, a aquisição de hábitos e práticas trazidos de outros credos, o intelectualismo fofo e estéril, além do personalismo e da presunção de onisciência. Precisamos ser cada vez mais humildes, cada vez mais convencidos de que nada somos, nada sabemos e nada poderemos alcançar sem que estejamos sendo fiéis, assim na teoria que na prática, às determinações da Doutrina.

            O espírita só o é mesmo quando conhece e exemplifica a Doutrina, mantendo-se humilde, fraterno, prestativo, sereno, tolerante, ativo e trabalhador, mais apto a perdoar do que a punir.

quinta-feira, 21 de março de 2019

A Soberania do Amor



A soberania do amor
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Setembro 1925

            Buscais a razão, a lógica e o raciocínio do amor? O verdadeiro amor não tem lógica,  nem raciocínio. Sua ação se opera à revelia da razão.

            O amor é soberano. Sempre que este sentimento se manifesta sob o controle da razão, acha-se constrangido e desnaturado. O amor puro não se reduz às restrições da lógica, nem tampouco à do raciocínio; é incoercível, sobrepuja demais atributos do Espírito.

            O amor humano não é ainda a expressão do verdadeiro amor, justamente porque age através da razão, porque obedece a motivos determinados. O amor divino paira acima da razão, desconhece motivos. Desconhece raciocínios de qualquer espécie.

            Jesus ensinou e exemplificou o amor divino. Eis o padrão de amor que Ele nos apresenta: “Tendes ouvido o que dizem os homens: Amarás ao teu próximo e aborreceras ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelo que vos maldizem e perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre bons e maus e vir chuvas sob justos e iníquos. Pois se saudardes e amardes somente aos vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem os gentios também o mesmo? Sede, pois, vós perfeitos, como vossos Pai celestial é perfeito.”     

            Tais mandamentos não se curvam à lógica, nem à razão, porque são mandamentos do amor e o amor sobrepuja a todo o entendimento.

            A doutrina do Crucificado importa mais numa questão de sentimento que de entendimento. O Cristianismo é a revelação do amor. Jesus, o Verbo Encarnado, revelando-nos a Divindade nos faz sentir que, como disse João, Deus é amor.

Roma e o Evangelho




“Quando o gorjeio dos pássaros rompe o silêncio da noite e desperta a natureza adormecida é que uma nova aurora rompe o manto das noturnas trevas e espalha pela terra sua face risonha e sua habitual alegria. Quando os Espíritos fazem ouvir suas misteriosas harmonias e a humanidade se agita como que sacudida com violência, é que um novo raio de luz lhe lhe vem mostrar a abandonada senda do dever e do progresso.” (Fonte:  “Roma e o Evangelho” Ed. FEB)


Allan Kardec



AIIan Kardec
Editorial
Reformador (FEB) Setembro 1925

            Muito se há escrito a propósito da personalidade do Mestre a quem rendemos vivas homenagens de gratidão e respeito, toda vez que se comemora o aniversário da humanização de seu alevantado Espírito. Já não há mister, quando celebramos o transcurso de cento e vinte anos de sua reencarnação, realçar de novo os dotes do ínclito missionário, que de todos nós são conhecidos, mas reputamos da maior necessidade evocarmos, nesta quadra difícil da nossa vida de propugnadores da doutrina que nos ele legou; a regra a que se cingiu, no labor árduo da implantação da doutrina espírita no mundo, malgrado a veemência da pirronice (desconfiança permanente) e à intolerância dos espíritos fortes e árbitros do progresso.

            Queremos, ainda uma vez, relembrar a fórmula vitalizadora do seu esforço: trabalho, solidariedade e tolerância.
             
            Também nossa deve ser essa regra de ação. Se temos a missão de vulgarizar o Espiritismo nos rincões de Santa Cruz, jamais o faremos sem a solidariedade dos nossos Espíritos sem o trabalho perseverante, que desconhece fadiga e desânimo sem a tolerância, que é o apanágio dos Espíritos esclarecidos.

            Não, de certo, a implantação do Espiritismo no seio das grandes coletividades, exige que os seus obreiros se unam em vasta cadeia, onde todos operem para um mesmo fim, de tal sorte, porém, que a atividade seja impessoal e uniforme.

            É contra o Insulamento que devemos reagir sempre, porque no próprio instante em que da cadeia romper-se um só elo, a confusão se estabelecerá e com ela a divisão. Todo o reino dividido não subsistirá, diz Jesus; não poderá, pois, a operosidade divergente dos que propagam o Espiritismo contribuir para a sua generalização, vencendo a barreiras dos que o combatem.

            O exemplo da união é eloquente mesmo entre os adversários das nossas crenças. Ninguém contestará a supremacia do fraco contra os fortes, quando arrimados uns nos outros, unidos pelos sentimentos heroicos. Dificilmente desbaratam, porque o espirito de  solidariedade sabe despertar-lhes em a natureza profunda a energia vitoriosa.
             
            E, quando a luta é em prol da verdade, quando se busca servir a Jesus Cristo, esclarecendo a Cristandade, restaurando o Evangelho, os coxos e esfarrapados a quem foi assignada tamanha tarefa, deverão permanecer unidos como o foram outrora os apóstolos e primeiros cristãos. Unidos pois, solidários, coesos c firmes, a coberto dos assaltos do homem velho, devemos nós nos encontrar, colocando a doutrina acima dos interesses, servindo-a como o nosso Mestre desejava dos espíritas do seu tempo.

            Essa a forma expressiva de comemorarmos dignamente e a data da reencarnação desse gênio benfazejo: é inspirando-nos nos exemplos de abnegação de que deu sobejas provas.

            E, se difícil foi a revelação da doutrina ao mundo, pelo que se abroquelou (resguardou) no lema que deixou á posteridade, ele o Espírito de escol, quão mais difícil não o será para nós outros o cumprimento do dever que temos de propaga-la, sentindo-nos, como nos sentimos, ainda tão presos a um passado de paixões! Acolhamo-nos à sombra do estandarte: trabalho, solidariedade e tolerância, e teremos feito, na hora presente, o que de nós pode e deve ele esperar e com ele Jesus, seu e nosso Mestre.

A Solução Justa



A solução justa
 A Redação 
Reformador (FEB) Outubro 1925
 
            Aprouve ao Senhor, cujo misericordioso olhar pousa de contínuo sobre este abençoado rincão do planeta – a Terra de Santa Cruz - fecundando-a para o reflorescimento e a nova frutificação da árvore bendita do Evangelho, por suas mãos para a ali transplantada, que, em momento de clara inspiração, um punhado numeroso dos nossos legisladores políticos evitasse a luta inglória que já se esboçava funesta no seio da grande família brasileira, negando aprovação à medida, tentada no correr da revisão constitucional que se está elaborando, de oficialização de uma determinada seita religiosa.

            Graças lhe rendamos a Ele, o Mestre divino, pelo haver afastado assim do caminho dos Espíritos que se aprestam, reencarnando neste recanto da Terra, para dar impulso decisivo á obra de cristianização do mundo, a grande pedra de tropeço que se ocultava por de trás da singeleza e aparente inocência de dispositivo a ser encartado na nova Constituição.

            Celebremos jubilosos o acontecimento, como uma vitória de Seu amor, buscando aprender em toda a sua extensão o significado dessa vitória, para correspondermos ao objetivo que ela encerra, nós os que temos tomado feito discípulos do Evangelho e que temos tomado o encargo, difícil e prenhe de responsabilidades, de o pregoarmos nos tempos novos que se iniciam, anunciadores da era próxima em que o Espírito da Verdade abrirá o seu reinado na Terra, pela conversão das almas à palavra de salvação que à Terra trouxeram os mensageiros do Cordeiro de Deus.

            Vitória de Jesus, ela significa bondade, caridade, misericórdia e não comporta a existência de vencidos, nem de vencedores, que só Ele o é, e exprime um novo apelo do seu coração à fraternidade pois era sobretudo a fraternidade que se achava entre nós ameaçada pelo golpe que o fanatismo e a intolerância religiosa, sempre destrutivos e geradores de ódios, premedita contra a mais preciosa das liberdades: a de pensar, de sentir, de crer.

            Saibamos, portanto, corresponder a esse apelo, afim de que os inimigos da luz não consigam tramar nas trevas outros golpes semelhantes, ou piores, que não possam ser aparados, por nos havermos tornado merecedor deles, em consequência do nosso descaso para com o carinhoso desvelo do Senhor, agora mais uma vez manifestado pelo torrão brasílico donde a árvore que Ele outrora plantou na Palestina tem que estender a fronde por todo o orbe terráqueo, a toda parte levando os saborosos frutos pendentes da sua exuberante ramagem.
           
            Para acudirmos expressivamente ao amoroso apelo a que aludimos comecemos por demonstrar, nós, os espíritas, que de fato nos consideramos ovelhas do rebanho de que Ele é o único pastor, unindo-nos em seu derredor; relegando para plano inferior donde jamais deveram sair, todas as questiúnculas sobre que divirjamos; despreocupando-nos de personalidades quaisquer e de em torno dela nos agitarmos, absorta a visão do nosso espírito inteiramente pelas claridades imensas de que o Seu fulgurante olhar inunda os horizontes do nosso amanhã - guerreando sem tréguas em nós o homem velho, a fim de estarmos prontos sempre a avançar para o combate ao erro e à mentira, com um coração pacifico e fraterno, sob a armadura da fé viva e esclarecida do verdadeiro cristão.

            A Federação, que confia sempre na desvelada ação espiritual dos que do plano invisível dirigem a marcha progressiva da verdade na nossa pátria, plena e seguramente confiante estava em que eles, sob a chefia de Ismael, cumprindo os santos desígnios do divino Mestre saberiam, no momento oportuno, afastar o óbice que se pretendia opor aquela marcha.

            Cheia dessa confiança, antes de se dirigir aos homens, de lhes falar, num apelo á razão, à consciência, propugnando a paz sobre que, dentro da coletividade brasileira, pesava a ameaça das emendas chamadas religiosas; rogando-lhes não desunissem a obra de fraternidade que os constituintes de 1891 alicerçaram; exortando-os a que não patrocinassem a empresa nefanda de lançar entre os Brasileiros a mais venenosa de todas as sementes da discórdia, da separatividade, do desamor e das lutas estéreis, ela se voltou, em súplicas continuas, que a fé fazia fervorosas, para Aquele que, do trono de sua glória provê incessantemente ao bem do armento (rebanho) que o Pai lhe confiou, tudo facultando aos obreiros sinceros e verazes da sua Seara para prosseguirem na obra, sem que os inimigos do Semeador logrem destruí-la ou, sequer, paralisa-la.

            Legitimamente satisfeita, pois, ela se sente, por haver confiado assim e assim haver procedido, deixando-se guiar pela inspiração dos que a assistem caridosamente do Além, e  congratula consigo mesma e com os que formam as fileiras espíritas, onde também decerto todos o corações se abriram em preces ardentes ao Senhor do mundo, pela obtida demonstração do poder da fé ao serviço do Bem, que é justiça, que é paz, que é harmonia e fraternidade.         

            E, uma vez que lhe é dado externar esse júbilo e exprimir essas congratulações na data mesma em que se comemora a última encarnação do grande Espírito do codificador da doutrina a cujos altos ideais desejamos todos servir, permitido lhe seja associar o assinalamento do  fato de que tratamos às homenagens de gratidão, de respeito e de amor a que a obriga, para com ele, o imenso bem que lhe devemos, pela intensa luz que a sua obra projetou nas almas de quanto hoje se abeberam na límpida fonte do Evangelhos.
           
            Como síntese dessas homenagens e por sabiamente colhermos o fruto da vitória que acaba de alcançar Aquele que o enviou ao mundo com a missão de coordenar os ensinos de seus celestes mensageiros, recordemos apenas, para o executarmos melhor do que o temo feito até aqui, o lema por ele inscrito no lábaro que desfraldou, como marco assinalador do advento da era espírita: Trabalho, solidariedade, tolerância.

            Solidários pelas grandiosas aspirações que nos alimentam as almas, trabalhemos com afinco e renúncia na semeadura da Verdade, amando-a cada vez mais e combatendo serenamente o erro e a mentira, mas tolerantes para com os que se comprazem na mentira e no erro e por eles orando sem cessar.

quarta-feira, 20 de março de 2019

O Pão da Vida


O Pão da Vida                                

6,30 Perguntaram-Lhe: -Que sinal fazes Tu, para que o vejamos e creiamos em Ti? Qual é a Tua obra?
6,31  Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: “Deu-lhes a comer o pão vindo do céu (Salmo 77,24)”
6,32  Jesus respondeu-lhes: “ -Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o Meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu. 
6,33   Porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo”
6,34  Disseram-lhe: -Senhor, dá-nos sempre deste pão!
6,35  Jesus replicou: “ -Eu sou o pão da vida: Aquele que vem a mim não terá fome e aquele que crê em mim jamais terá sede.
6,36   mas, já vos disse: Vós me vedes e não me credes...
6,37  todo aquele que o Pai me dá virá a mim: e o que vem a mim, não lançarei fora 6,38  pois, desci do céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou
6,39 ora, essa é a vontade Daquele que me enviou: Que Eu não deixe perecer nenhum daquele que Me deu, mas que os ressuscite no último dia
6,40 Esta é a vontade de Meu Pai; que todo aquele que vê o Filho e Nele crê, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia.”


         Para Jo (6,30), -Demonstrações do Céu -  tomemos  “Fonte Viva”(Ed. FEB), de Emmanuel por Chico Xavier:
                       
            “Em todos os tempos, quando alguém na Terra se refere às coisas do Céu, verdadeira multidão de indagadores se adianta pedindo demonstrações objetivas das verdades anunciadas.

            Assim é que os médiuns modernos são constantemente assediados pelas exigências de quantos se colocam à procura da vida espiritual.

            Esse é vidente e deve dar provas daquilo que identifica. Aquele escreve em condições supranormais e é constrangido a fornecer testemunho das fontes de sua inspiração. Aquele outro materializa os desencarnados e, por isso, é convocado ao teste público.

            Todavia, muita gente se esquece de que todas as criaturas do Senhor exteriorizam os sinais que lhes dizem respeito.

            O mineral é reconhecido pela utilidade. A árvore é selecionada pelos frutos. O firmamento espalha mensagens de luz. A água dá notícias do seu trabalho incessante. O ar asparge informações, sem palavras, do seu poder na manutenção da vida.

            E, entre os homens,  prevalecem os mesmos imperativos. Cada irmão de luta é examinado pelas suas características. O tolo dá-se a conhecer pelas puerilidades. O entendido revela mostras de prudência. O melhor demonstra as virtudes que lhe são peculiares.

            Desse modo, o aprendiz do Evangelho, ao solicitar revelações do céu para a jornada da Terra, não deve olvidar as necessidades de revelar-se firmemente disposto a caminhar para o Céu. Houve dia em que a turba vulgar dirigiu-se ao próprio Salvador que a beneficiava, perguntando:

            -Que sinal fazes Tu para que o vejamos, e creiamos em Ti?

            Imagina, pois, que se ao Senhor da Vida foi dirigida semelhante interrogativa, que indagação não se fará do Alto a nós outros, toda vez que rogarmos sinais do Céu, a fim de atendermos ao nosso simples dever?


            Para  Jo (6,32) -Meu Pai vos dá o verdadeiro pão do Céu... - leiamos a Emmanuel por Chico Xavier, em “Vinha de Luz” (Ed. FEB):

            “Toda arregimentação religiosa na Terra não tem escopo maior que o de preparar as almas, ante a grandeza da vida espiritual.

            Templos de pedra arruínam-se. Princípios dogmáticos desaparecem. Cultos externos modificam-se. Revelações ampliam-se. Sacerdotes passam.

            Todos os serviços da fé viva representam, de algum modo, aquele pão que Moisés dispensou aos Hebreus, alimento valioso sem dúvida, mas que sustentava o corpo apenas por um dia, e cuja finalidade primordial é a de manter a sublime oportunidade da alma em busca do verdadeiro pão do Céu.

            O Espiritismo Evangélico, nos dias que correm, é abençoado celeiro desse pão. Em suas linhas de trabalho, há mais certeza e esperança, mais entendimento e alegria.

            Esteja, porém, cada companheiro convencido de que o esforço pessoal no pão divino para a renovação, purificação e engrandecimento da alma há de ser culto dominante no aprendiz ou prosseguiremos nas mesmas obscuridades mentais e emocionais de ontem. Observações de ordem fenomênica destinam-se ao olvido. Afirmativas doutrinárias elevam-se para o bem. Horizontes do conhecimento dilatam-se ao infinito. Processos de comunicação com o invisível progridem sempre.

            Médiuns sucedem-se uns aos outros.

            Se procuras, pois, a própria felicidade, aplica-te com todas as energias ao aproveitamento do pão divino que desce do Céu para o teu coração, através da palavra dos benfeitores espirituais, e aprende a subir, com  a  mente  inflamada   de   amor e luz, aos inesgotáveis celeiros do pão celestial.                   
             
O Pão da Vida                                
                                

6,41 Murmuravam então Dele os judeus, porque dissera: “-Eu sou o pão que desci do céu.”
6,42 E perguntaram: Porventura não é Ele, Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos?  Como, pois, diz  Ele, “ -Desci do céu!”
6,43 Respondeu-lhes Jesus: “ -Não murmureis entre vós!
6,44  Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que Me enviou, não o atrair, e Eu hei de ressuscitá-lo no último dia
6,45 Está escrito nos profetas:  “Todos serão ensinados por Deus” (Is.54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai   e  foi  por  Ele  instruído,  vem  a  mim; 
6,46  Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai;
6,47  Em verdade, em verdade vos digo:  Quem crê em mim tem a vida eterna;
6,48  Eu sou o pão da vida;
6,49 Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram;
6,50  Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer.”



          Para Jo (6,48), -Eu sou o pão da vida -  tomemos  “Palavras de Vida Eterna” (Ed. FEB),  de Emmanuel por Chico Xavier:
                       
            “Importante considerar a afirmativa de Jesus, comparando-o ao pão.

            Todos os povos, em todos os tempos, se ufanam dos pratos nacionais. As mesas festivas, em todas as épocas, banqueteiam-se com viandas exóticas. Condimentação excitante, misturas complicadas, confeitos extravagantes, grande cópia de animais sacrificados. Às vezes, depois das iguarias tóxicas, as libações de entontecer.

            O pão, no entanto, é o alimento popular. Ainda mesmo quando varie nos ingredientes que o compõem e nos métodos de confecção em que se configura, é constituído de farinha amassada e vulgarmente fermentada e que, depois de submetida ao calor do forno, se transforma em fator do sustento mundial. Sempre o mesmo, na avenida ou na favela, na escola ou no hospital. Se lhe adicionam outra espécie de quitute, entre duas fatias, deixa de ser pão. É sanduíche. Se lançado à formação de acepipe que o absorva, naturalmente desaparece.

            O pão é invariavelmente pão.

            Quando alguém te envolva no confete da lisonja, insuflando-te vaidade, não te dês à superestimação dos próprios valores. Não te acredites em condições excepcionais e nem te situes acima dos outros.

            Abraça nos deveres diários o caminho da ascensão, recordando que Jesus - o Enviado Divino e Governador Espiritual da Terra - não achou para si mesmo outra imagem mais nobre e mais alta que a do pão puro e simples.”