Solilóquio
por Mó de Job
Reformador
(FEB) Dezembro 1919
Espíritos e companheiros de lutas,
que tendes, como o que na hora presente vem confabular
convosco, necessidade de paz e de progresso; encarcerados do mundo que, na
aspiração da Verdade, da Justiça e do Direito, evocais os Mensageiros de Jesus,
em nome deste suplicando a misericórdia do Pai Espiritual; almas que propendeis
para a Luz, vidas que desejais a Eterna Vida para lenitivo das dores que vos
experimentem; vinde ouvir a dolorosa história de uma vida que vos acompanha,
tendo o pensamento voltado para o Infinito num soluço de dor e na súplica de
uma esmola, para que, de ânimo forte, substituindo tendências que reprova por sentimentos
bons que a edifiquem e recomendem a
imortalidade, possa distribuir pelo exemplo de abnegação, de humildade, de fé,
elementos de perseverança que vos animem e sustentem a coragem, quando tiverdes
de atravessar os estreitos caminhos da maioria que punge, que a alma precipita
para o abismo das tremendas dores, em cujo fundo entanto, mister se faz que o
homem, a semelhança do Cristo,
saiba agradecer ao Pai a graça que assim lhe conceda para a sua evolução
espiritual.
Vinde ouvir os episódios da vida de
um companheiro vosso, que aplaudido ontem, quando os elementos materiais lhe sorriam
e desdenhado hoje pelos que já lhe não reconhecem prestígio, nem por isso deixa
de vos endereçar fraterno e festivo olhar, inda que este lhe possa ser levado à
conta de atrevimento ou de imbecilidade...
Vinde e meditai a tristonha história
do pobre que vos bate à porta. Ei-lo que se aproxima. Vede-o. É um mendigo que se
apresenta com o sorriso nos lábios. Não se revolta à indiferença dos que não o
queiram ouvir, nem se deixa arrastar pelo desânimo quando o estômago lhe exige
pão e as sociedades fartam gargalham... É um convencido da vida espiritual e, como
se não queira deixar conduzir pelas sugestões mundanas e sim para a vitória da
alma, ama e recebe compassivo e grato o que lhe dão de bom e o que lhe dão de mal...
Em tempos idos, quando melhores dias
lhe acenavam, distribuía com os que o cercaram o que era seu; e os que o
cercavam, engrandecendo-se com o que recebiam dele, em luz, animação e
conhecimento, progrediram e, aos assomos do orgulho, diante do mundo que os
aplaudia, abandonaram-no dizendo: “Vamos aniquilá-lo, para que amanhã não
tenhamos de confessar que a luz nos foi manifesta por ele: seria vexatório,
pois teríamos de permanecer na dependência dele, escravizados e sem merecimento,
o que, alem de
vergonhoso, nos ofenderia o amor próprio.”
Ele se apercebeu da conspiração dos
que o rodeavam e lhes disse: “Sou vosso irmão e companheiro. Nada vos tenho
dado e tudo tenho recebido de vós. Também, por isso, tendes prosperado e eu me sinto
feliz, porque o Pai me fez; portador da luz que vos transmiti quando éreis
pequenos: vós a tendes aumentado e nada me estais devendo, porém, sim, ao Pai.”
Os conspiradores ouviram-no e
disseram: “Impostor! -Fingindo-se de justo e bom, com um desprendimento que não
possui, ei-lo a evidenciar a presunção de nos haver guiado os primeiros passos!
Não tivéssemos Inteligência, capacidade para o trabalho, e nunca teríamos
conseguido a posição em que nos achamos. Que luz nos trouxe ele para se apregoar
intermediário do Pai? Conselhos? Presunção de nos haver instruído quando éramos
pequenos? É um louco!”
E, desde então, numa campanha surda,
a soberba, a ingratidão e a intolerância movem guerra de extermínio ao mendigo
que vos vem bater à porta!
Espíritas, sede unidos! Transformai
as vossas almas em templos de oração pela prática do Bem, da Caridade, do Amor,
do Bem que se não orgulha, da Caridade que se não proclama, do Amor que se não
envaidece!
Sede unidos e compassivos uns para com
os outros e todos para com a humanidade. Trabalhai para a organização de uma só
família e amparai-vos mutuamente! Sede filhos de Deus, que, pelos lábios de
Jesus, quando vos disse: “Amai-vos uns aos outros”, também quis significar que
só reconheceria como dignos de sua Graça os que se unissem e lhe acatassem a recomendação.
Uni-vos, pois, e sabei agora: o pobre que vos apresento, que vos vem bater à
porta, é o que se sente fraco para violar a Lei de Deus e da fraternidade exemplificada
pelo Cristo, e forte para sofrer resignadamente o desamor dos que se fazem grandes
para o mundo e, escravizados à matéria de que se hão de despojar, não veem que
se fazem pequenos perante a Eternidade!
Espíritas, atendei ao pobre que vos bate
à porta: dai-lhe amor, dai-lhe coragem, dai-lhe confiança em vossa fé pelo
exemplo de humildade.
Cristo, para que os humildes se não
envergonhassem e melhor compreendessem o amor fraterno, lavou os pés a seus
discípulos. Vós sois discípulos do Cristo e como discípulo se deve reconhecer
menor que o Mestre, se o pobre vos vem aos pés, colhei-o em vossos braços e assim,
não tereis de que vos envergonhar no dia da separação.
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