Paulo
majora canamus (*)
Editorial
Reformador
(FEB) Nov 1919
(*) Significa
literalmente "Cantemos coisas mais altas".
Significa
deixar as coisas pequenas e passar às mais elevadas.
Já deve ter cessado, oficialmente ao
menos, o período de hostilidades que o clero patrício pela voz autorizada e grave
de S. E. o Cardeal Arcoverde abriu contra nó: e os nossos irmãos
protestantes.
Diante da insólita arremetida, serenos
e confiantes na misericórdia divina, em vez de nos preocuparmos com os doestos,
perfídias e baldões que, de certo seriam e foram bolsados contra nós outros do
alto de vistosos púlpitos, com mais retórica que sinceridade,
traçamos a
nossa conduta como cumpria, em face da consciência cristã à luz dos ensinamentos
vivos que a Doutrina nos faculta.
Procuramos, em vez da rebatida consonante,
ouvir a voz autorizada dos nossos Guias, a palavra desapaixonada dos nossos
amigos do espaço, emancipados de preconceito e sobranceiros sempre ao fermento
das paixões mundanas.
E quanto folgamos em registar que, da
mansão beatifica da verdade, nem uma palavra de cólera, nem um gesto de enfado
nos chegou de permeio às lições analíticas da lamentável ocorrência!
Lamentável, importa dize-lo, em
relação aos seus provocadores e jamais em relação a família espírita segura do
seu mandato, e que -com prazer o proclamamos - teve uma feliz oportunidade de
aferir a elevação dos próprios sentimentos de benevolência e tolerância, além
de uma implícita coesão de ideias que muito a recomenda aos pósteros, quando
estes acontecimentos houverem de ser apreciados como pródromos verdadeiros da
renovação moral do planeta.
Falando para o seu consuetudinário
auditório, o clero poderia ter a presunção de aconchegar mais ao seu desfalcado
aprisco quaisquer ovelhas tímidas e recalcitrantes.
Ele é, porém, bastante arguto para
não supor que nos fosse converter a nós outros com a sua atoarda de imprecações
e blasfêmias, que outra coisa não é, perante o senso comum, esse delírio de
monopolizar à força a consciência humana.
E o resultado de tudo isso foi que,
fora das rodas de sacristia e talvez dos serões duvidosos de um duvidoso beatério,
essa campanha inócua, pueril e ridícula, não teve repercussão
em nosso meio social.
Destarte se verifica que a medida
mais que anti política só nos trouxe benefícios e novos estímulos,
considerando-nos a nós, pobres mentecaptos de ontem, desclassificados e réprobos,
uma força coletiva capaz de alarmar e mover o exército clerical.
Demos graças a Deus!
Há vinte anos, se tanto, não
mereceríamos mais que um solene desprezo.
Daqui há outros vinte anos, Deus
sabe o que poderemos valer, como fator moral no cômputo da evolução que se acelera,
máxime se, desprezando rivalidades e mesquinhas competições pessoais, nos colocamos
dentro do Evangelho de N. S. Jesus Cristo.
Esse é, não o esqueçamos nunca, o baluarte
inexpugnável que o ultramontanismo impenitente em nome de privilégios e regalos
seculares, e através de uma política de fogo e sangue, manteve em sequestro até
a Reforma de Lutero, e, na impossibilidade de iludir ainda, tenta arrasar a
golpes truculentos como se estivéssemos na idade média e num país segregado de cultura filosófica e de evolução
política normal.
Porque a verdade é que o movimento
espiritualista tendente a emancipação do dogmatismo romano é hoje universal, e
não nos consta que algures os representantes da Tiara houvessem recorrido a tais
extremos de um exotismo já agora digno de piedade.
Se nós acreditássemos no demônio tal
como o inculca pro domo sua a igreja católica diríamos que ele a empolgara em
toda a sua potestade.
Acreditamos, entretanto, no espírito
rebelde, de todos os tempos, à lei do progresso e sabemos que é esse mesmo espírito
farisaico que manobra a fraqueza, a ambição, o orgulho dos nossos irmãos católicos,
a ponto de não verem que o terreno lhes foge de sob o pés, não por força de
humanas vontades, mas de vontades divinas, que se concretizam em fatos, fatos
que são da essência mesmo da sua primitiva igreja apostólica e que suscitam à
consciência humana energias nova para a definitiva consagração do reino de
Jesus.
A força do nosso proselitismo está
justamente nessa espontaneidade incoercível que a igreja católica lida por não
ver e que é altamente significativa.
Cada um de nós representa um
voluntário da Fé, sem outro constrangimento ou ficção convencional, impulsado
da própria consciência.
Os que não buscaram a teoria para
conhecer do fato, asfixiados pelas nebulosidades da Teologia católica,
contramarcharam do facto para a teoria em homenagem a própria razão.
É um fenômeno natural, esse, que
depõe a favor da evolução progressiva do espírito e ao qual a igreja católica,
ou qualquer outra, não tem poder nem força de invalidar.
Dia virá, disse O Cristo à
Samaritana, em que não adorareis o Pai nem em Jerusalém nem neste monte, mas em
que os verdadeiros adoradores o adorarão em espirito e verdade. (1) (1) João Cap. IV. Vv. 21 a 23.
Esse dia se aproxima, conclamam e
provam-no os mensageiros do mesmo O Cristo, eletrizando corações, vivificando
inteligências.
Pois bem: a igreja que se diz cristã,
porque não interpreta os Evangelhos, porque não os prega ao povo em espírito e
verdade, em sua tocante singeleza e sobretudo com aquela convicção que, mais
que todas as pompas litúrgicas, toca os corações, sensibiliza as almas e faz
das pedras filhos de Deus?
Pois isso, ao menos em parte e honra
lhes seja, procuram fazer com sinceridade os nossos irmãos protestantes, e com
o mérito que de tal sacerdócio lhes advém, incorrem como nós, nas iras do romanismo.
Mas é positivamente extraordinário!
Os homens que raciocinam, os que não
procuram iludir a consciência em acomodações efêmeras de uma vida falaz, esses
diante de atitudes como essa do clero Romano, hão
de forçosamente convir que não somos na liça os suspeitos, quando reivindicamos
apenas a liberdade de crer em Deus e servir ao próximo como podemos.
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