O
subconsciente
do
materialismo e do Espiritismo
por Leopoldo Machado
Reformador
(FEB) Janeiro 1940
No vão esforço de explicar fenômenos
espíritas, inteligentes; vemos alguns sábios materialistas, lançar mão de coisas
bonitas, incompreensíveis e xaroposas, a que dão os nomes de consciente, inconsciente, subconsciente...
Que é o que vale e significa tudo
isto? Procuremos onde estão aí a lógica, o bom senso.
Segundo eles, o consciente se
manifesta na criatura em estado normal. Nem por isso deíxa de ser mais obtuso,
nem menos inteligente do que o inconsciente,
ou o subconsciente, que só se manifesta
no indivíduo em estado de êxtase ou transe. Temos, então, um inconsciente que, a julgar pelo número
de fatos assombrosos dele oriundos, seria até de molde a merecer a láurea de
SUPERCONCIENTE!
É, entretanto, à subconsciência e à inconsciência que sábios e cientistas da matéria se agarrem, aflitos,
sem saber o que isso é, explicaram fatos psíquicos que fora das concepções espirituais
confirmadoras da existência do Espírito, da sobrevivência, ficam sem
explicação. Dado mesmo, existam, existem o inconsciente
e o subconsciente do materialismo,
estamos, com Ernesto Bozzano, em que “bastariam para provar a sobrevivência do espírito
humano, sem que haja necessidade de recorrer-se às manifestações mediúnicas”. E
damos razão a Alberto Seabra, quando afirma, através de substanciosa análise,
que, “o inconsciente fisiológico é uma região cheia de trevas em que se debate
a fisiologia moderna, sem uma fresta de interpretação racional”. Pois é, dessas
trevas espessas que a ciência materialista pensa retirar explicações lógicas
para os fatos mediúnicos, para os fatos concretos e científicos do Espiritismo!
Assim pensado, ei-la pespegando, sem provas, concepções e teorias em que, nem
ela própria – a ciência materialista – e seus sábios, tomam pé! Limitam-se –
continua dizendo Alberto Seabra – a registrar os fatos “em grande número e
impossibilitados de os compreender, nada mais fazem do que batizá-los com
alguns nomes gregos. E, como lhes dão tais nomes, fica-me a ilusão de os ter
compreendido”.
É bem isto, não há negar, o que se
verifica por aí afora.
Vejamos, porém, em que base assenta
o subconsciente materialista, criação
de filósofos, a que se agarraram, posteriormente, cientistas da matéria, gente
que, era de presumir-se mais objetiva. Sua origem moderna deve-se a Robert
Hartmann, filósofo alemão, que o contrapõe à vontade, de Schopenhauer. Leva
Hartmann tão alto o seu inconsciente, que lhe atribui a origem do mundo! Coube,
porém, a Fred Myers estuda-lo, ajustando-o às ciências psíquicas denominando-o
de consciência subliminal, e os estudos desse sábio abriram caminho à
Metapsíquica. Caiu, porém, o subconsciente, no gozo dos psicólogos, dos
fisiologistas, e foi uma beleza! Hesnard, no seu L’Inconscient, escreve,
definindo-o: “O inconsciente não é uma divindade, nem mistério: não explica nem
a síntese, nem o surto vital.” Contudo, tenta-se com ele explicar coisas ainda mais
complicadas! Prossegue, todavia, o escritor: “Não é uma consciência degradada
ou aberrante, nem o que existe fora da consciência. É a argamassa psíquica que
tende para o consciente, a qualidade
primitiva de uma multidão de fatos psíquicos reunidos pelos métodos
objetivos”.
Compreendeste, leitor amigo? Parece-nos
que não, pois não se compreende o incompreensível. Vamos, porém, adiante. A
psicologia patológica apresenta o inconsciente como detentor de maiores
possibilidades para a espiritualidade humana. Aqui está uma coisa que se
aproxima suavemente do Espiritualismo puro. É o inconsciente que o Sr. Freud e a
sua psicanálise dão como repositório do caráter são e doente. Lógico, dizemos a
nosso turno, de vez que tudo se grava no períspirito, que se nos afigura a
verdadeira inconsciência ou subconsciência, como por aí a vemos. Coué atribui à imaginação a responsabilidade
da inconsciência. Assim, os poetas e
os romancistas, os músicos e os fantasistas, os grandes artistas, em suma, são
obra do Inconsciente. Daí, talvez, porque se deva – segundo
aconselham Freud, Charcot, Bernheim, Breuler, Liebault e tantos outros –
cultivar mais o inconsciente do que o
consciente. Se esta cultura implica,
a par da formação de artistas e gênios, a elevação do Espírito e do Coração, de
acordo. Grasset divide as funções psíquicas em duas ordens: a superior, consciente, é voluntária; a inferior, inconsciente, é automática, subordinada
àquela. Mas o que se vê por aí são fatos do subconsciente
se apresentarem mais extraordinários do que os do consciente. Superiores, consequentemente, à consciência! A auto-sugestão de Coué estabelece a existência em nós
de dois indivíduos distintos um do outro, ambos inteligentes: um consciente, o outro inconsciente. Pois não existem em nós Espírito e Perispírito? Não
será, no fundo, a mesma coisa, com diferentes nomes? Vai mais longe o criador
da "Escola de Nancy": diz que "o inconciente possui uma memória maravilhosa e impecável, capaz de
registrar, à nossa revelia, os mínimos acontecimentos". De que não é
capaz, na verdade, o poder retentivo do Perispírito, em que se gravam, como
numa placa fotográfica, as impressões todas de nossa vida? No fundo, como se
vê, a mesma coisa!
O Dr. Austregésilo declara que “a alma, em sua formação, conserva, pelas
condições hereditárias, sobretudo atávicas, o grande acervo ou registro que
resume, habitualmente, o inconsciente”. Não é esta a função do Perispírito,
através das reencarnações do Espírito? Substituam-se os termos hereditariedade e atavismo por existências já vividas pelo Espírito e dá certo.
Dando, ainda, o psiquiatra patrício “o
consciente e o inconsciente como sendo as forças espirituais por excelência”
do Espírito, conclui que a saúde do Espírito se estabelece pela educação do
subconsciente, etc. Nenhuma educação se consegue, é claro, às pressas. Pensamos
que, desde que o nosso esforço se oriente para a nossa perfeição espiritual,
estamos pagando velhas contas do passado, conseguintemente, “educando o nosso
subconsciente". É tão verdade isto, que dois doentes da mesma doença,
assistidos pelo mesmo médico, tratados pela mesma terapêutica e medicamentos,
um pode ficar bom e o outro não. Porque? Apenas porque um se livrou da moléstia,
por já haver pago alguns ceitis de sua dívida passada, senão, a dívida toda, e
o outro, não...
Gustavo Geley, que foi quem mais se
preocupou, depois de Myers, com o problema do Inconsciente e do subconsciente,
tanto que escreveu uma bela obra, De “L'!nconscient au Conscient”, após
demonstrar que os fatos da psicologia clássica são incapazes de explicar as
transformações bruscas das criaturas e seus sentidos e instintos subconscientes,
chega à compreensão da impossibilidade de um paralelismo entre as capacidades
orgânicas e o Inconsciente Supranormal, que é, por assim dizer, o subconsciente
de Myers. Não encontra, o notável diretor do "Instituto de Metapsíquíca
Internacional", nenhuma correspondência, em lei fisiológica alguma, para o
Consciente e o Subconsciente dos materialistas. Donde se vê que a Subconsciência
não provém, é lógico, de neurônios, de células nervosas, mas de alguma coisa
que escapa à análise dos laboratórios químicos e físicos, ao escalpelo dos
cirurgiões.
A despeito desses consciente e subconsciente
impressionarem, de época recente a esta parte, observadores e cientistas, sua
existência se vem manifestando de mais longe. Sócrates dispunha de um inconsciente
de fôlego: a sua alma racional, afirmação de Plutarco, o OrácuIo de Trofonius
dizía que era uma alma assim, diferente das almas comuns, a que acompanhava Sócrates.
Porfiro, da escola de Platão, estudando os transes subconscientes dos pitões e
profetas (médiuns, para nós) expõe uma teoria que parece da autoria dos Grasset,
dos Charcot, dos Austregésilo: "a causa que produz o êxtase poderia ser
muito bem uma afecção mental ou uma loucura patológica produzidas por uma super
excitação psíquica semelhante à das vigílias prolongadas ou dos excitantes farmacêuticos.
Quanto ao Espírito de que se fala, suponho se trate apenas duma parte da alma
humana. Ainda aqui, o Perispírito, que é parte da alma humana, porque é o seu
corpo espiritual! De contrapeso, temos a certeza de que as drogas farmacêuticas
podem gerar loucuras patológicas!
Coisas que ignoramos, em estado
normal, maravilhas do subconsciente podem manifestar-se à revelia de nossa consciência,
de vez que se nos gravam no Perispírito, conhecidas e apreendidas pelo Espírito
em vidas pretéritas; senão inspiradas ou transmitidas por seres invisíveis que
nos circundam a cada passo e de que, segundo Zoroastro, anda cheio o ambiente
em que vivemos; que compõem, para Flammarion, o verdadeiro mundo, visto como o
mundo das coisas visíveis é o mundo das aparências. São essas coisas que, para
nós, constituem as maravilhas do Inconsciente
e do Subconsciente, subconsciente e inconsciente para os quais se criam nomes bonitos, como Consciência
Subliminar, Criptopsíquica, Criptomnésia (Richet), Telestesia (Myers), Metagnomia
(Osty). Tudo isso são, mais ou menos, variantes da mesma coisa, coisa que, para
nós, só se explica bem dentro da lei reencarnacionista, aceitando-se,
consequentemente, a existência do Espírito e do Perispírito; concebendo-se o
Espírito como a verdadeira entidade a agitar, no homem somático, os nervos, que
lhe sacodem os sentidos, vibrando-lhe no instinto e na Consciência, que, em
suma, lhe constitui a essência da Vida. Aliás, é o que os maiores cultores do
psiquismo científico e experimental, com Crookes, Wallace, Flammarion,
Lombroso, Bozzano e tantos mais, vêm demonstrando por ‘a’ mais ‘b’, através de
provas inconcussas. É o que verificará e aprenderá qualquer inteligência capaz
de indagar, raciocinando, através de estudos e experiências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário