Edgard Cayce
A Cereja e a Lesma
Hermínio Miranda
Reformador
(FEB) Out 1976
Muita gente, com maior ou menor penetração,
tem examinado a obra de Edgar Cayce, o notável sensitivo americano, desencarnado
em 1945. Poucos têm sido tão felizes nessa análise, tão compreensivos e universalistas
como Gina Cerminara, doutora em Psicologia
pela Universidade de Wisconsin. O livro em que reúne suas observações e conclusões
apoiadas na metódica e minuciosa pesquisa que realizou pessoalmente nos arquivos
da documentação deixada pelo médium, é trabalho sério e que impões respeito e
obriga a pensar. Chama-se “Many Mansions” (Muitas Moradas) título inspirado no Evangelho
de João (14:2) que Cayce, em transe, interpretava
de maneira diferente da usual.
A primeira edição da obra de Gina Cerminara
apareceu em 1950, e a que está diante de mim, agora, é de 1967. Embora eu a
tenha estudado aí por volta de 1968, por uma razão ou por outra não escrevi na
época o comentário habitual para o “Reformador”. O livro, no entanto,
causou certo impacto no espírito de uma amiga e confreira a quem o emprestei recentemente,
e é sob o amável impulso de sua sugestão que me entreguei à releitura do trabalho para
dar uma notícia dele àquele que ainda não tiveram acesso ao seu texto.
***
Há nos arquivos de Cayce uma riqueza
muito grande de precioso material de estudo. Muitos
caminhos se abrem ali, muitas perspectivas se projetam, muitas ideias se
fecundam e se desdobram à meditação e à pesquisa. Quem dispuser de tempo e
paciência encontrará em Cayce todos os grandes temas da vida: religião, dieta, indicações
clínicas, profecia, Interpretação
racional de sonhos, informações sobre História antiga (Atlântida, Lemúria, Egito e, por
toda parte, omo um fio de ouro puro que costura os episódios, o respeito e o amor pelo
Mestre de todos nós, a quem Cayce chama repetidamente, e com muito carinho, o
Príncipe da paz. Gina Cerminara escolheu o tema da reencarnação, mas fugindo à
tentação de escrever obra cansativamente filosófica que, provavelmente,
interessaria apenas a uma elite pensante afeita a essas especulações, realizou
um trabalho vivo, em que a filosofia básica da reencarnação, suas motivações,
suas oportunidades, sua lógica, decorrem dos exemplos que recortou da própria vida,
tão pungentes e dramáticos quanto a vida mesma, sem retoques, sem artifícios,
demonstrando a cada passo a impossibilidade da fuga, o conceito firme da responsabilidade
individual, a lenta evolução do ser humano através dos tempos.
Seu livro é, pois, obra de ciência,
mas é também produto da sensibilidade, da visão ampla das
coisas, do conhecimento profundo dos seres, que ela soube identificar nos ensinamentos
que fluem das palavras do “profeta adormecido”. É um livro que traz respostas.
As perguntas, a autora as resumiu no primeiro capítulo ao qual deu o nome de “A
Magnífica Possibilidade". Relacionemos aqui algumas das suas perguntas: Por
que os homens sofrem? Que podem fazer para se libertarem da dor? Qual o sentido
e a finalidade da vida? Quem sou eu? Por que estou aqui? Para onde vou? Qual o
relacionamento entre mim e as demais criaturas e entre elas e eu? E com o vasto
jogo de forças acima de nós e a nossa volta?
A essas perguntas vital ao
entendimento de si mesmo e das forças cósmicas que o envolvem o homem tem respostas,
mais confusas hoje do que julgava ter nos séculos precedentes. No passado ele
confiou na fé e esperou, mas quando a ciência chegou, no tempo mais recente, em
vez de lhe trazer as explicações que ele esperava, trouxe mais perguntas e
muitas dúvidas. Quanto mais as descobertas se acumulavam, mais diáfanas
pareciam as crenças antigas. Ninguém fora capaz de ver o espírito. A alma não
foi encontrada pelo bisturi na glândula pineal, segundo pensava Descartes. A
imortalidade, uma balela, dado que ninguém voltara da "morte" para
dar o seu testemunho. O céu, outra ingenuidade de teólogos sonhadores, porque
os nossos telescópios, cada vez mais poderosos, só descobriam galáxias e mais
galáxias. O próprio Deus, afirmou taxativamente a Psicologia clássica; não
passa de simples projeção da mente que precisava de um substituto para a ideia
do pai carnal. O universo era, pois, um mecanismo imenso, mas não mais do
que isso. Nessa máquina grande, o homem era uma pequena máquina que um dia se
desarranjava e morria, decompondo seus elementos químicos e devolvendo-os à máquina
maior. A vida não tinha sentido e o sofrimento era uma incógnita. insolúvel, incompreensível
e inexplicável. Fora dos cinco sentidos tradicionais, nada mais; fora da
matéria bruta, o sopro frio do nada.
O problema, no entanto lembra a Dra
Gina, é que o testemunho da ciência está construído sobre os alicerces dos
cinco sentidos que nos põem em contato com o mundo que nos cerca.
Para nós, limitados a essas janelas
sobre o Universo, nada mais existe além do que podemos ver, cheirar, provar,
ouvir ou apalpar.
Não obstante, as faixas de percepção
podem ser consideravelmente ampliadas. “Por inferência, escreve Gina, é
razoável acreditar que essa ampliação seja possível; historicamente, uma grande
acumulação de episódios demonstra que em muitos casos isso tem ocorrido;
cientificamente há um crescente acervo de verificações de laboratório que
atestam, por meio de experimentações reproduzíveis, que o homem é capaz de
atingir percepções além do alcance normal dos sentidos.” Na verdade, ninguém que
disponha de algum conhecimento do assunto negará hoje a realidade da percepção
extra-sensorial, admitida mesmo pelos pesquisadores da ala materialista da
Parapsicologia. O testemunho dos cinco sentidos deixou, portanto, de ser a
palavra final a respeito das realidades que nos cercam. Mas, nem isso seria
necessário. Bastaria estender um pouco mais a nossa audição, como a dos
caninos, para que ouvíssemos sons que nossos ouvidos normalmente não percebem. É
conhecido o fenômeno dos cegos que desenvolvem a limites extremos o sentido do
tato. Se ampliarmos o alcance da visão por algum processo ainda não revelado, tomaremos
conhecimento de vibrações luminosas que nos são inteiramente desconhecidas. Por
conseguinte, o fato de não estar o espírito ao alcance das estreitas janelas
dos nossos cinco sentidos não prova que ele não exista. E se ele existe além
dos sentidos e independe da matéria, nada impede que sobreviva, que preexista,
que se comunique, depois da liberação, com os que continuam presos à came.
Mesmo à época em que a Dra Gina
Cerminara escreveu sua obra. (1950), a despeito das
limitações que os pesquisadores impunham aos seus "achados" no campo
da mente, já era
possível afirmar que, na faixa de percepção além dos cinco sentidos habituais,
o homem dispõe
de um tremendo potencial de recursos para obter conhecimento acerca de si mesmo
e do universo em que se encontra.
Concluía a autora o primeiro capítulo
de seu livro com uma nota de otimismo e esperança, dizendo que após penetrar a
intimidade do átomo (a primeira bomba atômica caíra sobra Hiroshima e Nagasaki cinco
anos antes), o homem estava agora, graças às novas descobertas da Parapsicologia,
a penetrar na intimidade do seu próprio ser.
- “Talvez - escreveu ela - ele possa,
afinal, depois de tantos séculos tateantes, encontrar respostas científicas satisfatórias
para os grandes enigmas básicos da sua existência: as razões do seu nascimento
e o porquê da dor.”
É certo isso. Convém lembrar, no
entanto, que, para milhões de seres, o problema da vida, do destino e da dor já
está perfeitamente equacionado, racionalizado e resolvido no contexto da
Doutrina Espírita, há mais de um século. O testemunho da Parapsicologia é
desejável e ansiosamente esperado por muitos milhões mais; estejamos certos,
porém, de que não irá modificar a conceituação e a concepção fundamental da
Doutrina dos Espíritos, que estes, antes de muitos dos enfatuados parapsicólogos
do nosso tempo, já conheciam perfeitamente a ciência da alma. Um amigo meu
muito querido costuma dizer que ainda não se escreveu melhor tratado de Parapsicologia
do que o nosso conhecido "O Livro dos Médiuns".
Cabe ainda outra observação acerca
das palavras de Gins Cerminara: é que, decorrido um quarto de
século desde que ela as escreveu com as tintas suaves da esperança, a
Parapsicologia continuou andando em círculo, estonteada e confusa como o pobre
cão que procura morder a própria cauda. Fendeu-se em dois ramos que se espiam
com mútua desconfiança, um, essencialmente materialista, que busca explicar
tudo em termos biofísicos; outro, algo espiritualizado, que vê no homem um
pouco mais do que um mero mecanismo cibernético e arrisca tímidas conclusões
acerca da sobrevivência dos seus, componentes não físicos. Seja como for, um
quarto de século se perdeu em discussões estéreis, teorias, suposições
acadêmicas e, especialmente, num esforço sobre-humano no sentido de
"provar" que o homem não passa daquela “máquina menor” de que nos
fala a esclarecida Ceminara.
Voltemos, porém, ao seu livro.
***
Depois
de escrever no capítulo segundo, um breve resumo da vida e obra de Cayce, invocando
o suporte impressionante da documentação que deixou sobre cerca de 30000 casos
atendidos, a autora entra no exame específico do seu assunto.
Com a finalidade de poupar espaço,
deixamos de reproduzir aqui a história de Cayce, já
razoavelmente conhecida dos leitores (*). Aqueles que desejarem mais amplas informações
poderão recorrer aos vários livros publicados sobre ele (There is a River) de
Thomas Sugrue ou o mais recente (“The Sleeping Prophet” de Jess Stearn).
Interessante observar, porém, que
somente depois de vários anos de exercício constante e desinteressado de sua extraordinária
faculdade de diagnosticar doenças e receitar métodos de cura é que Edgard Cayce
tropeçou – esta é a palavra - na ideia da reencarnação. A notícia causou-lhe
certo impacto no espírito algo aturdido pois, à primeira vista, parecia àquele
meticuloso leitor da Bíblia que a ideia da reencarnação feria frontalmente o pensamento
cristão.
(*) V. o artigo “Reencarnação – Instrumento para o Progresso
Espiritual, em “Reformador” de Setembro de 1971.
Convém contar o episódio para que se
observe a espontaneidade da dramática revelação.
Um certo Arthur Lemmers, de Dayton,
no Estado de Ohio, ouviu falar de Cayce, e pediu-lhe
uma consulta sobre Astrologia, na qual tinha grande interesse. Cayce concordou
e, lá pelas tantas, ao responder às purguntas de seu consulente, deixou cair
uma frase curta que iria ecoar como uma bomba:
- "He was once a monk."
(Ele foi um monge.)
Ao despertar da inconsciência em que
mergulhava no transe, Cayce encontrou Lemmers excitadíssimo ante a perspectiva
inesperada de pesquisar a reencarnação. Cayce relutantemente concordou, e
outras sessões se seguiram àquela que fora a primeira; e muitas outras viriam
no futuro - cerca de 2.500. Surgiram assim os chamados “life readings” em paralelo
com os "physical readings” ou seja, as revelações ou instruções sobre as
vidas pregressas dos consulentes, ao lado daquelas que apenas cuidavam de aspectos
físicos especialmente de doenças. Com. o
correr do tempo, notou-se que inúmeras doenças, senão quase todas tinham algo a
ver com o problema cármico e, portanto, com as encarnações anteriores.
Além do mais, uma riqueza-
inesperada de informações começou a empilhar-se a medida que Cayce falava, em
transe, das esquecidas vidas de milhares de consulentes. Muitos tinham vivido na
Atlântida, na Lemúria, no antigo Egito, na Pérsia, na Palestina, tanto quanto
no século anterior, na Revolução Francesa ou na Guerra de Secessão americana.
Cayce conservou-se por muito tempo cético e reservado a respeito de suas
próprias revelações. Depois, começou a encontrar na Bíblia – tanto no Antigo
como no Novo Testamento - indícios mais veementes
de que a crença na reencarnação também lá está para quem desejar ver.
Por outro lado, a evidência era óbvia
por si mesma, pois os conhecimentos que Cayce revelava mergulhado na
inconsciência do transe eram incomparavelmente superiores ao seu grau de
cultura na vida de vigília. Certa ocasião, logo no princípio, fez uma referência
explícita, razoavelmente detalhada, sobre Molière, desconhecido do médium. No
estado de transe, não obstante, Cayce não apenas sabia que o nome famoso co o
qual passou à História o grande
dramaturgo era um pseudônimo de quem realmente se chamava Jean-Baptiste Poquelin;
informou também que a mãe do poeta morrera muito jovem. A outro consulente, Cayce
disse que, numa vida anterior, ele trabalhara com Robert Fulton, o inventor da
máquina a vapor, na França. Ora, Cayce sabia da existência de Fulton, mas
ignorava totalmente que O cientista tivesse vivido na França por algum tempo, o
que foi confirmado ao consultar uma enciclopédia biográfica.
Fatos como esses foram consolidando no
espírito de Cayce a certeza de que, afinal de contas, acreditasse ou não, a
reencarnação era uma realidade irrecusável. Daí em diante, o profeta adormecido
não teve mais reservas, e revelou até mesmo encarnações suas e de seus filhos.
Acresce ainda que Cayce podia verificar, em inúmeros casos, a justeza das observações
feitas' e o benefício que produziam em seus consulentes. Mais importante para
ele, no entanto, como cristão rigoroso que sempre foi, era o fato de que a ideia
da reencarnação se harmonizava perfeitamente com os ensinamentos daquele que
ele chamava carinhosamente de "o Príncipe da paz".
- Vós colheis aquilo que semeais.
- Fazei aos outros aquilo que desejais
que os outros vos façam.
Passadas, assim, as excitações da
novidade, a informação foi se tornando mais séria e objetiva, e algumas
características puderam, mais tarde, ser observadas. Muitas vidas, por exemplo,
seguiam certos roteiros aparentemente programadas: Atlântida, Egito, Roma, o
período das Cruzadas e o período colonial americano. Outro roteiro indicava: Atlântida,
Egito, Roma,
França (Luiz XlV, XV ou XVI) e o período da Guerra Civil Americana. Havia variações,
certamente, que incluíam China, Índia, Cambodja, Peru, Noruega, África, América
Central), Sicília, Espanha, Japão e muitos outros pontos geográficos, mas eram
numerosos os que seguiam os roteiros mencionados.
Cayce, em transe, explicou que isso
se devia, ao fato de que os Espíritos de determinada época se encarnam
geralmente, juntos, em época posterior. Nos séculos intermediários, outros
grupos de Espíritos ocupam a Terra, por assim dizer, em turnos. Há nisso tudo
ordem e ritmo semelhantes aos que se observam nos turnos de operários numa
usina. Em consequência, muitos dos Espíritos hoje na Terra estiveram juntos anteriormente
na História, e aqueles que vinham unidos
por laços de parentesco usualmente foram também relacionados nos tempos idos e mais
de uma vez, embora não necessariamente na mesma posição.
A autora especula, de passagem, sobre
o mecanismo da faculdade de Cayce. Diz ela que, sob a hipnose, o sensitivo era
posto em contato com o inconsciente do seu consulente, mesmo que este não estivesse
ali sentado ao seu lado. Podemos arriscar uma explicação doutrinária: seria isto
uma mediunidade psicométrica? Se assim fosse, em lugar de ter conhecimento dos
fatos relacionados com objetos materiais, o sensitivo os receberia diretamente
do contato de seu perispírito desdobrado com o perispírito do consulente.
A ligação da sensibilidade de Cayce
com o inconsciente de outrem, segundo Gina, “não seria difícil de aceitar-se
pois coincidia, pelo menos em parte, com a descobertas da psicanálise sobre a existência
e o conteúdo da mente inconsciente.”
A explicação de Cayce, no entanto,
era mais sofisticada. Ele se referia em ‘transe' aos registros akásicos (1),
que seriam, segundo o profeta adormecido, os arquivos indeléveis e eternos de
todos os sons, imagens, movimentos ou pensamentos "desde o começo do Universo
manifestado”. De outras vezes, ele chamava tais registros de “A memória
universal da Natureza" ou "O livro da Vida”.
(1) O próprio Cayce ditou as palavras em sânscrito, letra por
letra: Akasha, o substantivo. Akásico, o adjetivo.
Seja como for, e não temos como especular
aqui sobre isso, ele tinha acesso a um inesgotável, minucioso e preciso arquivo
de informações colocado fora do tempo e do espaço onde, fantástica mas
realisticamente, tempo e espaço estavam aprisionados para sempre, intactos; sem
falha de um simples ai, de um sorriso, de uma única lágrima que choramos milênios
atrás.
O que mais impressiona a Dra. Cerminara,
porém, são as consequências e implicações de tudo isso. Seu lúcido espírito está
bem alertado para tais aspectos e ela escreve, no final do capítulo terceiro,
um comentário que seria injusto deixar de reproduzir tal como está, na sua
linguagem elegante e sóbria:
- Acima de tudo, não obstante, os “readings”
de Cayce realizam uma síntese de ciência e religião. Fazem-no demonstrando que
o mundo moral está sujeito a leis de causa e efeito tão precisas quanto aquelas
que governam o mundo físico. O sofrimento humano - está claro
nos “readings” - resulta não simplesmente do infortúnio materialista, mas antes,
de erros de conduta e de pensamento; a. desigualdades de nascimento e de
capacidade não decorrem de caprichos do Criador ou do cego mecanismo da
hereditariedade, e sim de méritos e deméritos do procedimento em vidas
anteriores. Toda» as dores e todas as limitações têm finalidade educativa; as
deformidades e aflições são de origem moral e todas e todas as agonias do homem
são lições numa escola a longo prazo, destinada a ensinar sabedoria e perfeição.
Algum comentário, quando as coisas
estão ditas de maneira tão feliz?
***
Do capítulo quarto em diante, a
autora estuda os diferentes tipos de carma, numa tentativa de classificação
imaginada e proposta por ela mesma, ao cabo de prolongados e minuciosos estudos
da volumosa documentação de Cayce, ainda hoje disponível nos arquivos da “Association
for Research and Enlightment", em Virginia Beach, na Florida, Estados
Unidos.
O primeiro tipo de carma proposto
pela autora seria o "boomerang karma", ou seja, aquele que volta
infalivelmente sobre nós, depois que o atiramos sobre os outros com intenção de
ferir. A imagem escolhida pela Dra. Cerminara é perfeita, mas poderíamos dizer
que todos os carmas resultam da reação a uma ação nossa anterior. Isso, porém,
não invalida a classificação proposta pela autora, como veremos. Em consonância
com os ensinamentos dos Espíritos, ela afirma a lógica do conceito de que a dor
é consequência do erro, a despeito do que possa pensar em contrário a
mentalidade moderna que considera isto uma tola superstição. Mesmo antes de
recorrer ao Evangelho, no qual aparecem várias vezes as referências do Cristo à
ligação entre o sofrimento e o pecado, Gina lembra o pensamento de Jô, cuja
aflição não obscureceu a razão, ao perguntar ao Senhor, em prece: - Ensina-me
e eu me calarei; faze-me compreender em que errei!
São muitos os casos de “boomerang
Karma”. Alguns exemplos: - Um professor
universitário, cego de nascença, apelou para Cayce. Sua ideia era obter
orientação acerca da saúde, e Cayce recomendou um tratamento que o fez
recuperar 10 % da visão, em três meses. Quanto às suas encarnações - e Cayce
usualmente selecionava apenas aquelas que tivessem qualquer relação com os
problemas presentes -, ele vivera antes na América, durante a Guerra Civil; na
França, no período das Cruzadas; na Pérsia, aí por volta do ano 1000 antes do
Cristo, e na Atlântida, pouco antes da submersão do lendário continente. Foi na
Pérsia, no entanto, que ele “pôs em movimento a lei espiritual que resultou na
sua atual cegueira” Aquele tempo, o professor era membro de uma tribo bárbara
que tinha por hábito cegar os inimigos aprisionados, com ferro em brasa; cabia
a ele executar essa tarefa.
- Outro caso: uma jovem manicura
teve paralisia infantil com um ano de idade. O dano foi tão grave às suas pernas
e seus pés que ela só caminhava de muletas. Numa antiga encarnação na Atlântida
- por métodos que Cayce não revela: drogas?.. hipnose?.. telepatia?.. " - ela reduziu muita gente
a tal estado de atrofia dos membros, que os tornava "incapazes de fazer outra
coisa senão depender dos semelhantes".
- Um terceiro caso citado é o de uma
senhora de 40 anos que sofria de alergia alimentar desde criança, especialmente
pelo pão e cereais, que lhe causavam espirros e febre. Em contacto com certos
materiais, como couro curtido e plásticos, sentia penosas dores do lado
esquerdo. Experimentou tudo em matéria de medicina. Um tratamento hipnótico
produziu consideráveis melhoras que duraram seis anos, mas os sintomas
voltaram.
Recorreu a Cayce para tentar a cura,
mas a orientação dada veio apoiada em informações mais profundas, No passado, a
senhora alérgica tivera considerável conhecimento de Química e usara-o para
afligir os outros em várias experiências, provocando coceiras e envenenando a respiração
alheia. Quando o couro fosse curtido com estrato de carvalho, não lhe causava
nenhum dano, mas se o curtume tivesse usado as substâncias que ela usou no
passado para envenenar os outros ela imediatamente sentia as dores e as
alergias.
***
Um segundo tipo de carma seria orgânico.
Na verdade, ela emprega a palavra “organismic”, que não teria correspondente em
português, senão forçando para organismico”. Este carma, segundo a autora, seria
resultante do mau uso do organismo no passado. O exemplo dado é o de um jovem de
!5 anos que sofria de extrema sensibilidade do aparelho digestivo. Vivia em
regime de estrita dieta, limitado a poucos alimentos e a algumas combinações
rigidamente determinadas. Em existência
anterior, ao tempo de. Luiz XIII, na França, ele foi uma espécie de
guarda-costas do rei, encarregado de protegê-lo e de cuidar do guarda roupa
real, o que fazia com grande dedicação. Seu pecado, porém, era uma gula desenfreada.
Já na Pérsia, em outra existência, também se entregara aos desregramentos a
mesa. A lei ditava-lhe agora o reequilíbrio.
***
Outro carma seria o "simbólico":
um menino sofria de uma forma incurável de anemia, a despeito dos esforços e
dedicação do pai, que era médico. Cayce informou que cinco existências atrás, no
Peru, aquele Espírito, então encarnado, tinha tomado o poder pela força, a
custa de "muito sangue derramado; daí a anemia de hoje".
Gina diferencia este carma do
orgânico, ao lembrar que, neste caso, a entidade (como dizia Cayce) não usou indevidamente
o corpo por meio de alguma intemperança, mas é claro que seu próprio corpo,
numa vida subsequente, teria de tornar-se “o altar sacrificial sobre o qual seu
crime seria expiado".
Há outro exemplo deste tipo de carma.
Um menino começou sistematicamente a urinar na cama todas as noites, depois que
nasceu um irmãozinho. Todos os tratamentos foram tentados até os onze anos de
idade. Por duas vezes, com intervalos, ele esteve sob cuidados de psiquiatras,
durante longo tempo: um ano da primeira vez e dois anos da segunda. Consultado
a respeito, Cayce informou que, na encarnação anterior, aquele Espirito tinha
sido um rígido ministro puritano ao tempo do famoso episódio das
"feiticeiras de Salém", quando pobres médiuns desarvoradas foram
duramente perseguidas e punidas. O sacerdote gostava então de mergulhar as
moças numa poça d’água. A lembrança consciente de seus atos certamente se
apagou na vigília de uma nova existência, mas o arrependimento lá estava, mais
vivo do que nunca e ele se punia todas as noites lembrando o antigo crime,
durante nove anos. Cayce recomendou um tratamento de sugestões positivas que a
mãe deveria fazer diariamente, durante os momentos que precedem o sono. Nessa
ocasião, ela dizia ao filho que ele era bom, que faria ainda muita gente feliz,
que ajudaria os outros e coisas desse tipo. Já na primeira noite do tratamento,
o menino, com 11 anos, pela primeira vez em 9 anos, deixou de molhar a cama.
Com o tempo, as sugestões foram se espaçando para uma semana e, finalmente,
foram abandonadas. O menino estava curado.
***
Depois essa exposição que resumi, tanto
quanto possível sem sacrificar o conteúdo, a Dra. Cerminara propõe uma generalização
que redige da seguinte maneira:
- O carma é uma lei psicológica que
atua primeiramente no campo psicológico, sendo que as circunstâncias físicas são
apenas o meio pelo qual a finalidade psicológica é alcançada. Dessa maneira, a reversão
ou reação no plano físico objetivo não é exata mas apenas aproximada; no plano
psicológico a reversão é mais exata.
Como se vê, portanto, e voltando à nossa
observação anterior, as inúmeras manifestações de carma ou de causa e efeito, podem
ser classificadas para fins didáticos, e é isso que a Dra. Cerminara tenta
fazer com bastante êxito; mas é inegável que dificilmente se encontraria a
reação da dor desligada por completo da ação do erro ou, em termos teológicos,
do pecado, cuja conceituação sofreu profundas revisões na Doutrina Espírita.
Ressalta também dessa minuciosa e inteligente
análise a irrevogabilidade da lei tanto quanto a paciência da Sabedoria Divina,
que provocou o resgate somente quando o Espírito se encontra
em condições de enfrentar a dor, e por isso tem, às vezes, de esperar séculos, milênios
até. Isto não quer dizer que o Espírito não possa falhar, inúmeras vezes, mesmo
predisposto ao resgate que aceitou livremente ao reencarnar ele verga ao peso
da dor e fracassa novamente, fugindo pelas portas da revolta e até do suicídio
que abre alçapões traiçoeiros que lhe multiplicam os débitos e, por
conseguinte, as dores também.
Cayce encontrou, com frequência,
carmas que se reportavam à Atlântida e esperaram, portanto, 1O ou 15 milênios.
Alguns erros foram cometidos com recursos, instrumentos e as sofisticações de
uma sociedade que somente agora se repetem. Outros se reportam a períodos
relativamente mais recentes, como aqueles que Gina chama de “carma da zombaria".
Nesta classificação ela menciona sete
casos de severa incapacidade física, seis dos quais,
curiosamente, se prendem aos tempos do Império Romano. Citemos apenas o mais dramático
e penoso.
Uma mulher de 34 anos fora atingida
aos seis meses de idade pela paralisia infantil que resultou numa curvatura da
coluna e em manqueira ao caminhar. Seu pai, um rude fazendeiro, encarava a
condição da filha com indiferença e ainda se apropriava do pouco dinheiro que
ela conseguia ganhar com sua modesta criação de galinhas. Essa jovem teve dois casos
de amor. Um morreu em combate na primeira guerra mundial. O segundo adoeceu
gravemente e, ao terminar o tratamento desfez o noivado para casar-se com uma enfermeira.
Junte-se a esse quadro de aflições físicas
e emocionais - lembra a Dra. Gina - a presença dos pais sempre em atrito, a solidão
da vida na fazenda e, afinal uma queda sobre uma laje de cimento que obrigou a
jovem a recolher-se com mais uma lesão espinhal, à cama. É um quadro de miséria
dificilmente superável.
Qual seria a razão de tanto sofrimento?
Cayce esclareceu que esta moça tivera
duas vidas na Roma dos Césares:
- A entidade era, então, membro residente
do Palácio e com frequência sentava-se nos camarotes para assistir as lutas de homens
com homens e de homens com feras. No presente, muito das suas lutas físicas resultam
das suas desdenhosas gargalhadas de então ante a fraqueza daqueles que lutavam
por uma causa. (Refere-se aos cristãos sacrificados na arena.)
Em outra ocasião tratando do caso de
um jovem atormentado por marcante tendência para o homossexualismo, Cayce revelou
uma existência anterior na corte francesa, quando a "entidade" satirizou
e intrigou à vontade, sentindo especial satisfação em expor ao ridículo os escândalos
homossexuais, com suas habilidades de caricaturista exímio. O pronunciamento de
Cayce é severo e realista:
- Não condenes para não seres
condenado. Porque, em verdade, com a medida com a qual medirdes,
com esta mesma serás medido. E aquilo que condenas em outros é exatamente o que
serás tu mesmo.
E cabe aqui uma observação da Dra. Cerminara,
que aparece no capítulo seguinte da sua obra:
- A importância vital da conduta na
salvação pessoal torna-se dramaticamente evidente no estudo das leis do carma e
da reencarnação; por isso, a sabedoria antiga oferece um vigoroso corretivo à anêmica
lassidão, na qual tantas seitas cristãs recaíram. Nosso triste relato feito neste
livro, dos aspectos disciplinares da lei do carma, segundo Cayce, não deve ser
indevidamente deprimente àqueles que se dispuserem a aceitar a validade da lei
da reencarnação; ao contrário, deve levar a um estado de esperança, otimismo e
de renovação da fé religiosa, embasada na confiança da justiça cósmica,
presente em todos os afazeres humanos.
Nada a acrescentar a esses
inteligentes comentários, que extraem dos fatos as implicações filosóficas neles
contidas. E, afinal de contas, como dizia Voltaire - citado por Gina – “não é
mais surpreendente nascer duas vezes do que nascer uma”. Em outras palavras:
quem nasce uma vez, por que não pode nascer outras”
O capítulo VII trata de “carma suspenso”.
Já nos referimos ligeiramente ao problema, quando comentamos igualmente a implacabilidade
da lei, tanto quanto a sua paciência e flexibilidade. Muitas faltas gravíssimas,
lembra a autora, foram cometidas na antiga Atlântida, em conexão com a eletricidade,
a eletrônica, a ciência psíquica e especialmente, certa forma de hipnose que
era empregada para reduzir o semelhante ao trabalho escravo ou a objeto de lamentáveis
práticas sexuais. A oportunidade para resgatar esses carmas tenebrosos somente agora
estão ocorrendo. Estaremos prontos para pagar a conta ou a nossa incúria nos levará
a aumentar o débito documentado nos livros incorruptíveis da contabilidade
divina?
Muitas vezes nos julgamos em
condições de enfrentar a provação ou resgate, mas nossa vontade vacila na hora
da dor. A um desses, Cayce foi duma rudeza e severidade desusadas. Condoídos do
carma doloroso e incompreensível de um homem, cujo nome não é mencionado – mas
que consta dos arquivos da A.R.E.- seus amigos pediram um “reading" a Cayce.
Dado este, verificou-se a melhora mas, ao que se apurou, o homem aplicou-se mais
ao lado material dos conselhos de Cayce - tratamentos físicos e remédios – do que
ao aspecto espiritual, que implicava num esforço para se purificar
interiormente e abrandar seu áspero caráter. Ao sentir que recaía no problema, o
homem novamente recorreu a Cayce. E
este respondeu firme: havia melhorias sim, mas...
- Enquanto a entidade se mantiver
tão ciosa de si e egoísta a ponto de recusar as coisas espirituais; enquanto
houver ódio, malícia, injustiça, ciúme; enquanto houver algo dentro dele
contrário à paciência, à conformação diante do sofrimento, ao amor fraterno, à
bondade, à gentileza, este corpo não poderá ser curado. Para que a entidade
deseja ser curada? Para que possa satisfazer seus apetites físicos?' Para que possa
fazer crescer seu egoísmo? Se assim é, é melhor ficar como está.
Por isso, Cayce sempre recomenda nos
seus “readings” o emprego de afirmações positivas, a meditação e a prece, como
também o estudo das escrituras, a prática das virtudes e o serviço ao semelhante,
como instrumentos de trabalho que levam a uma melhoria da consciência. Sem isso,
acrescenta Gina. o coração será como na preciosa expressão de Paulo, igual ao
bronze que soa; sem a caridade autêntica, tudo aquilo é essencialmente inútil.”
E mais adiante:
- No entanto, multidões de almas
estão ainda no estágio do jardim de infância espiritualmente falando: não podem
passar imediatamente para a faculdade. Nem todos estão suficientemente
evoluídos do ponto de vista espiritual, a ponto de serem capazes de conseguir
numa só existência aquele amor que tudo consome e tudo abraça, essência da verdadeira
consciência crística e, assim, alcançar a liberação do débito cármico.
Ademais, às vezes, colocamos mal as
nossas prioridades e fazemos erradamente nossas opções. Ficamos, por exemplo,
muitas vidas em exercícios espirituais não de todo inúteis ao nosso aprendizado,
mas egoísticos, porque não aproveitam aos nossos semelhantes a quem devemos solidariedade,
afeição e compreensão. A propósito, Gina conta a história de um mestre de ioga
que deu as instruções básicas ao seu discípulo que se retirou para a solidão a
fim de desenvolver suas faculdades. Dez anos depois, o jovem retornou ao
mestre, que lhe perguntou:
- Que esteve você fazendo durante todos
esses anos, meu filho?
- Aprendi a governar minha mente de
tal forma - respondeu o rapaz com entusiasmo e certo orgulho – que sou capaz de
caminhar sobre a água.
- Meu querido filho - diz com
tristeza o Mestre - você desperdiçou o seu tempo.
Não sabe que
o barqueiro pode transportar você de uma margem para outra por apenas Uns poucos
centavos?
***
Estas observações e os inumeráveis aspectos
do carma oferecem à Dra. Gina Cerminara vasto e fascinante campo de especulação.
Quantas implicações, quantas avenidas sobre o futuro, quantos ensinamentos
preciosos! Por isso, intitula o capítulo nono de seu livro "Uma Nova
Dimensão em Psicologia" e, depois de examinar diferentes tipos humanos no capítulo
seguinte, volta a apreciar exemplos típicos dos “readings”, dos quais vai
destilando a segura filosofia da responsabilidade pessoal de cada um na
construção de seu destino.
Não podemos, infelizmente, alongar
demais o artigo que pretendia ser apenas uma notícia sobre o livro. Tomemos
alguns ensinamentos esparsos e observações de oportunidade.
- As glândulas - Cayce sempre lembrava
- são pontos focais de expressão cármica.
- A epilepsia é frequentemente
associada ao mau uso dos poderes psíquicos. Os centros de força conhecidos pelo
nome de chacras, têm aqui papel relevante, pois, segundo Cayce, são
os chacras os pontos de contato entre o corpo físico e o espírito - melhor diríamos,
perispírito.
- ...o amor é a finalidade última e
o único solvente da lei do carma, pela qual a evolução pessoal é regulada.
- ... o inconsciente é muito mais
profundo do que se pensava, mesmo em termos da moderna
psicanálise.
- Esta objeção à reencarnação (o
esquecimento das vidas anteriores), em primeiro lugar é facilmente contestada
pelo fato de que o esquecimento e a repressão das lembranças são fenômenos
muito naturais e comuns e, em segundo, a natureza da memória é tal que os pormenores
nos escapam mas os princípios permanecem.
Quem poderia, com precisão, dizer o
que estava fazendo às 10 horas e 15 minutos da manhã do dia 23 de maio de 1970?
E por isso deixamos de existir? Deixa de existir em nosso passado aquilo que
fizemos naquele momento por mais insignificante que seja?
- Doenças mentais sérias foram, em muitos
casos, atribuídas pelos "readings" a causas puramente físicas.
- Em muitos casos, porém, doenças
mentais foram atribuídas à possessão de entidades desencarnadas.
- O homem goza do livre-arbítrio
como um cão preso à sua corrente; ou seja: o cão é
completamente livre para agir como quiser dentro do raio da corrente. O carma
fixa o comprimento da corrente de cada um; dentro daquele raio, ele é livre.
A comparação pode não ser muito
romântica, mas é precisa.
O grande problema humano, segundo Cayce,
é o egoísmo. Sua cura, o amor. Com estes conceitos em mente, diz Gina, podemos abandonar
montanhas de jargão psicológico e emergir com uma límpida hierarquia de valores
humanos e uma transparente filosofia terapêutica.
- O amor não é possessivo! diz Cayce
num dos "readings". - O amor é.
As vezes, a filosofia Inferida das
observações de Cayce é pura Doutrina Espírita:
- Saiba
disto: - observou ele a alguém - Seja qual for a situação em que você se
encontre, é a que convém ao seu desenvolvimento.
- Seja moderado em tudo, - diz a
outro. Não pratique excessos em nada e terá 98 anos de expectativa nesta vida -
se você viver para merecê-lo. Mas, que pode você dar aos outros? A não ser que
você tenha algo para dar que direito tem de se pôr no caminho dos outros? Tenha
algo para dar que você viverá tanto quanto seja digno de viver.
- Como posso dominar o temor da velhice
e da solidão? - perguntou alguém.
- Saindo e fazendo algo para os
outros; ou seja, para aqueles que não têm condições de fazê-lo
por si mesmos; tornando os outros felizes, esquecendo-se de si próprio inteiramente.
Ao ajudar os outros, você se liberta de seus temores.
- Que "hobby" você me
sugere? - pediu outro.
- O "hobby" de ajudar
alguém.
Um conceito que também emerge com frequência
dos ensinamentos decorrentes dos "readíngs" é o de que nosso processo
evolutivo é usualmente muito lento. Não vamos aos saltos e sim vagarosamente,
vencendo penosamente as nossas insuficiências e mais do que seria de desejar,
tendo verdadeiras "recaídas".
A respeito disso, Gina conta uma
estória: uma lesma foi vista, em pleno rigor do inverno, subindo o tronco de
uma cerejeira. Ao passar por uma cavidade na casca, um besouro pôs a cabeça de
fora e lhe disse:
- Ei, companheiro, você está
perdendo seu tempo. Não há uma cereja lá em cima. A lesma
continuou tranquilamente a arrastar-se e respondeu:
- Haverá quando eu chegar lá.
Assim, a evolução. Lenta, penosa,
sacrificial, porque temos que vencer a nós mesmos, num esforço continuo e que
não produz resultados imediatos. Nada, porém, se perde ao longo da caminhada.
Toda experiência se registra e se acumula, para servir mais tarde.
Para encerrar, tentemos fazer um
resumo do resumo que a Dra. Gina Cerminara preparou para o capítulo 24. Concluí
ela que das inúmeras observações e ensinamentos de Cayce emerge certa regularidade
de princípios que podem ser assim resumidos:
- Deus existe. Todo Espírito é uma
parcela de Deus (você é uma alma; você habita um corpo). A
vida tem uma finalidade. A vida é contínua. Toda a vida humana funciona segundo
a lei (carma, reencarnação). O amor é a realização da lei. A vontade do homem
cria seu destino. A mente humana dispõe de poder formativo. A resposta a todos
os problemas está no próprio. ser.
Em consequência, eis um plano de
ação:
- Torne-se consciente, em primeiro
lugar, do seu relacionamento com as Forças do Universo ou
Deus. Formule seus ideais e objetivos na vida. Esforce-se por alcançar esses ideais. Seja
ativo, paciente, alegre. Deixe os resultados com Deus. Não tente fugir de nenhum
problema. Seja um instrumento do bem para os outros.
E assim, a despeito do frio hiberna!
a que nossas paixões às vezes nos reduzem, do nosso lento e penoso caminhar, do
comentário irônico dos besouros que se escondem nas cavidades da casca, sigamos
em frente, equilibrados, serenos, seguros de que chegaremos lá em cima exatamente
quando a Sol brilhar e a cereja estiver madurinha.
Deus vela por nós e nós vivemos
nEle.
Que mais nos faltaria?
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