domingo, 24 de fevereiro de 2019

O subconsciente do materialismo e do Espiritismo



O subconsciente
do materialismo e do Espiritismo
por Leopoldo Machado
Reformador (FEB) Janeiro 1940



            No vão esforço de explicar fenômenos espíritas, inteligentes; vemos alguns sábios materialistas, lançar mão de coisas bonitas, incompreensíveis e xaroposas, a que dão os nomes de consciente, inconsciente, subconsciente...  

            Que é o que vale e significa tudo isto? Procuremos onde estão aí a lógica, o bom senso.

            Segundo eles, o consciente se manifesta na criatura em estado normal. Nem por isso deíxa de ser mais obtuso, nem menos inteligente do que o inconsciente, ou o subconsciente, que só se manifesta no indivíduo em estado de êxtase ou transe. Temos, então, um inconsciente que, a julgar pelo número de fatos assombrosos dele oriundos,  seria até de molde a merecer a láurea de SUPERCONCIENTE!

            É, entretanto, à subconsciência e à inconsciência que sábios e cientistas da matéria se agarrem, aflitos, sem saber o que isso é, explicaram fatos psíquicos que fora das concepções espirituais confirmadoras da existência do Espírito, da sobrevivência, ficam sem explicação. Dado mesmo, existam, existem o inconsciente e o subconsciente do materialismo, estamos, com Ernesto Bozzano, em que “bastariam para provar a sobrevivência do espírito humano, sem que haja necessidade de recorrer-se às manifestações mediúnicas”. E damos razão a Alberto Seabra, quando afirma, através de substanciosa análise, que, “o inconsciente fisiológico é uma região cheia de trevas em que se debate a fisiologia moderna, sem uma fresta de interpretação racional”. Pois é, dessas trevas espessas que a ciência materialista pensa retirar explicações lógicas para os fatos mediúnicos, para os fatos concretos e científicos do Espiritismo! Assim pensado, ei-la pespegando, sem provas, concepções e teorias em que, nem ela própria – a ciência materialista – e seus sábios, tomam pé! Limitam-se – continua dizendo Alberto Seabra – a registrar os fatos “em grande número e impossibilitados de os compreender, nada mais fazem do que batizá-los com alguns nomes gregos. E, como lhes dão tais nomes, fica-me a ilusão de os ter compreendido”.

            É bem isto, não há negar, o que se verifica por aí afora.

            Vejamos, porém, em que base assenta o subconsciente materialista, criação de filósofos, a que se agarraram, posteriormente, cientistas da matéria, gente que, era de presumir-se mais objetiva. Sua origem moderna deve-se a Robert Hartmann, filósofo alemão, que o contrapõe à vontade, de Schopenhauer. Leva Hartmann tão alto o seu inconsciente, que lhe atribui a origem do mundo! Coube, porém, a Fred Myers estuda-lo, ajustando-o às ciências psíquicas denominando-o de consciência subliminal, e os estudos desse sábio abriram caminho à Metapsíquica. Caiu, porém, o subconsciente, no gozo dos psicólogos, dos fisiologistas, e foi uma beleza! Hesnard, no seu L’Inconscient, escreve, definindo-o: “O inconsciente não é uma divindade, nem mistério: não explica nem a síntese, nem o surto vital.” Contudo, tenta-se com ele explicar coisas ainda mais complicadas! Prossegue, todavia, o escritor: “Não é uma consciência degradada ou aberrante, nem o que existe fora da consciência. É a argamassa psíquica que tende para o consciente, a qualidade primitiva de uma multidão de fatos psíquicos reunidos pelos métodos objetivos”.      

            Compreendeste, leitor amigo? Parece-nos que não, pois não se compreende o incompreensível. Vamos, porém, adiante. A psicologia patológica apresenta o inconsciente como detentor de maiores possibilidades para a espiritualidade humana. Aqui está uma coisa que se aproxima suavemente do Espiritualismo puro. É o inconsciente que o Sr. Freud e a sua psicanálise dão como repositório do caráter são e doente. Lógico, dizemos a nosso turno, de vez que tudo se grava no períspirito, que se nos afigura a verdadeira inconsciência ou subconsciência, como por aí a vemos.  Coué atribui à imaginação a responsabilidade da inconsciência. Assim, os poetas e os romancistas, os músicos e os fantasistas, os grandes artistas, em suma, são obra do Inconsciente.  Daí, talvez, porque se deva – segundo aconselham Freud, Charcot, Bernheim, Breuler, Liebault e tantos outros – cultivar mais o inconsciente do que o consciente. Se esta cultura implica, a par da formação de artistas e gênios, a elevação do Espírito e do Coração, de acordo. Grasset divide as funções psíquicas em duas ordens: a superior, consciente, é voluntária; a inferior, inconsciente, é automática, subordinada àquela. Mas o que se vê por aí são fatos do subconsciente se apresentarem mais extraordinários do que os do consciente. Superiores, consequentemente, à consciência! A auto-sugestão de Coué estabelece a existência em nós de dois indivíduos distintos um do outro, ambos inteligentes: um consciente, o outro inconsciente. Pois não existem em nós Espírito e Perispírito? Não será, no fundo, a mesma coisa, com diferentes nomes? Vai mais longe o criador da "Escola de Nancy": diz que "o inconciente possui uma memória maravilhosa e impecável, capaz de registrar, à nossa revelia, os mínimos acontecimentos". De que não é capaz, na verdade, o poder retentivo do Perispírito, em que se gravam, como numa placa fotográfica, as impressões todas de nossa vida? No fundo, como se vê, a mesma coisa!

            O Dr. Austregésilo declara que “a alma, em sua formação, conserva, pelas condições hereditárias, sobretudo atávicas, o grande acervo ou registro que resume, habitualmente, o inconsciente”. Não é esta a função do Perispírito, através das reencarnações do Espírito? Substituam-se os termos hereditariedade e atavismo por existências já vividas pelo Espírito e dá certo. Dando, ainda, o psiquiatra patrício “o consciente e o inconsciente como sendo as forças espirituais por excelência” do Espírito, conclui que a saúde do Espírito se estabelece pela educação do subconsciente, etc. Nenhuma educação se consegue, é claro, às pressas. Pensamos que, desde que o nosso esforço se oriente para a nossa perfeição espiritual, estamos pagando velhas contas do passado, conseguintemente, “educando o nosso subconsciente". É tão verdade isto, que dois doentes da mesma doença, assistidos pelo mesmo médico, tratados pela mesma terapêutica e medicamentos, um pode ficar bom e o outro não. Porque? Apenas porque um se livrou da moléstia, por já haver pago alguns ceitis de sua dívida passada, senão, a dívida toda, e o outro, não...

            Gustavo Geley, que foi quem mais se preocupou, depois de Myers, com o problema do Inconsciente e do subconsciente, tanto que escreveu uma bela obra, De “L'!nconscient au Conscient”, após demonstrar que os fatos da psicologia clássica são incapazes de explicar as transformações bruscas das criaturas e seus sentidos e instintos subconscientes, chega à compreensão da impossibilidade de um paralelismo entre as capacidades orgânicas e o Inconsciente Supranormal, que é, por assim dizer, o subconsciente de Myers. Não encontra, o notável diretor do "Instituto de Metapsíquíca Internacional", nenhuma correspondência, em lei fisiológica alguma, para o Consciente e o Subconsciente dos materialistas. Donde se vê que a Subconsciência não provém, é lógico, de neurônios, de células nervosas, mas de alguma coisa que escapa à análise dos laboratórios químicos e físicos, ao escalpelo dos cirurgiões. 

            A despeito desses consciente e subconsciente impressionarem, de época recente a esta parte, observadores e cientistas, sua existência se vem manifestando de mais longe. Sócrates dispunha de um inconsciente de fôlego: a sua alma racional, afirmação de Plutarco, o OrácuIo de Trofonius dizía que era uma alma assim, diferente das almas comuns, a que acompanhava Sócrates. Porfiro, da escola de Platão, estudando os transes subconscientes dos pitões e profetas (médiuns, para nós) expõe uma teoria que parece da autoria dos Grasset, dos Charcot, dos Austregésilo: "a causa que produz o êxtase poderia ser muito bem uma afecção mental ou uma loucura patológica produzidas por uma super excitação psíquica semelhante à das vigílias prolongadas ou dos excitantes farmacêuticos. Quanto ao Espírito de que se fala, suponho se trate apenas duma parte da alma humana. Ainda aqui, o Perispírito, que é parte da alma humana, porque é o seu corpo espiritual! De contrapeso, temos a certeza de que as drogas farmacêuticas podem gerar loucuras patológicas!

            Coisas que ignoramos, em estado normal, maravilhas do subconsciente podem  manifestar-se à revelia de nossa consciência, de vez que se nos gravam no Perispírito, conhecidas e apreendidas pelo Espírito em vidas pretéritas; senão inspiradas ou transmitidas por seres invisíveis que nos circundam a cada passo e de que, segundo Zoroastro, anda cheio o ambiente em que vivemos; que compõem, para Flammarion, o verdadeiro mundo, visto como o mundo das coisas visíveis é o mundo das aparências. São essas coisas que, para nós, constituem as maravilhas do Inconsciente e do Subconsciente, subconsciente e inconsciente para os quais se criam nomes bonitos, como Consciência Subliminar, Criptopsíquica, Criptomnésia (Richet), Telestesia (Myers), Metagnomia (Osty). Tudo isso são, mais ou menos, variantes da mesma coisa, coisa que, para nós, só se explica bem dentro da lei reencarnacionista, aceitando-se, consequentemente, a existência do Espírito e do Perispírito; concebendo-se o Espírito como a verdadeira entidade a agitar, no homem somático, os nervos, que lhe sacodem os sentidos, vibrando-lhe no instinto e na Consciência, que, em suma, lhe constitui a essência da Vida. Aliás, é o que os maiores cultores do psiquismo científico e experimental, com Crookes, Wallace, Flammarion, Lombroso, Bozzano e tantos mais, vêm demonstrando por ‘a’ mais ‘b’, através de provas inconcussas. É o que verificará e aprenderá qualquer inteligência capaz de indagar, raciocinando, através de estudos e experiências.

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