Volta Bocage
I. G. B. (Ismael Gomes
Braga)
Reformador
(FEB) Maio 1947
Há livros muito
grandes que nada nos ensinam, porque não nos conquistam para sua leitura atenta,
ou nos enfadam. Outros, igualmente volumosos, nada encerram que aproveite ao
leitor e apenas o divertem um pouco para morrerem depois numa estante.
O livro ideal é o
que nos prende pela beleza artística e nos leva ao máximo de conhecimento no
mínimo de espaço. Tal livro não nos pertence, porque, ao contrário, somos nós
que lhe pertencemos: não podemos deixá-lo antes do fim e sentimos necessidade de volver muitas vezes ao
começo para gozar-lhe de novo a beleza e a sabedoria. Quem sabe fazer um livro
assim ideal, possui o segredo da vitória, cumpre grande missão.
O Sermão da
Montanha, reunindo toda a Doutrina cristã, em poucas páginas imortais, é uma dessas
obras ideais; outra, é o livrinho de Preces de Allan Kardec, no qual expõe ele
toda a Doutrina Espírita.
Ocorrem-nos estes
pensamentos ao lermos, pela segunda vez, o livro Volta Bocage ... que acaba de sair
das oficinas gráficas da FEB... São 55 páginas apenas, mas encerram tanta coisa
e tanta beleza!
No frontispício,
como Autor responsável, aparece o nome de Francisco Cândido Xavier, mas poderia
igualmente escrever-se: Francisco Cândido Xavier e Porto Carreiro Neto, porque
o trabalho de Porto Carreiro no volume é grande e profundo: 1.° - uma longa "Apreciação", com
crítica eruditíssima, apresentando-nos Bocage e sua obra em vida; 2.° - um
"Esclarecimento", relatando como foi recebida a majestosa obra
mediúnica em 12 sessões, em Pedro Leopoldo; 3.° - uma explicação, em prosa, de
cada um dos sonetos; 4.° - um "Glossário" de termos mitológicos,
geográficos, históricos de difícil compreensão para o leitor comum que não possua
uma enciclopédia. Toda essa colaboração do Prof. Porto Carreiro e por ele
subscrita está vazada em linguagem irrepreensível e digna de penetrar nos futuros
milênios com o texto de Bocage, escrito pela mão de Francisco Cândido Xavier.
Depois do estudo e
das explicações de Porto Carreiro, vemos que Manuel Maria Barbosa du Bocage é
um grande Espirito e legou à posteridade um curso de Espiritismo que jamais
desaparecerá, por isso que possui imenso valor artístico. Referimo-nos à
posteridade do médium e não à de Bocage, porque os seus versos imortais do
século 18 continuam sendo reimpressos com fervor em nossos dias, a cento e cinquenta anos do tempo em que
foram escritos.
O texto recebido
pelo médium Francisco Cândido Xavier consiste em 168 versos divididos em 12 sonetos
que uma pessoa de boa memória poderá decorar em uma semana, e aqui fica a
sugestão aos de boa memória, aos jovens confrades de língua portuguesa, para
que os decorem.
Apenas doze
sonetos, somente 168 pés, mas em cada verso há alguma coisa preciosa a
aprendermos e incorporarmos à vida do nosso Espírito para a
eternidade. Tentemos catalogar em poucas
palavras essas doze lições em versos: 1º - Esclarece a situação do Espírito
encarnado sobre a Terra, em expiações e provas. 2º - Trata das comunicações dos
Espíritos com os homens e sua finalidade. 3.º Refere-se às ilusões sensoriais
do Espírito encarnado. 4.º - Condena a sede de glória. 5.º - Ensina a orar. 6.º
- Trata do materialismo a que conduz a sensualidade. 7.º - Descreve as belezas do
mundo espiritual superior. 8.º - A morte, ou desencarnação. 9.º - Felicidade ou
desventura que a morte inicia, para o Espírito, conforme seja este bom ou mau. 10.º - Trata da
responsabilidade que encerra o consumo do tempo de uma encarnação. 11.º - Expõe
a aspiração do Espirito à vida superior. 12.º - Hino de louvores a Deus.
Quem escreve estas
linhas esteve presente a todas as sessões em que foram recebidos os sonetos e
notou que sempre o soneto foi a chave de ouro da sessão. Por vezes os trabalhos
mediúnicos estenderam-se ininterruptamente por mais de três horas e a última
comunicação, escrita com a mesma rapidez das outras, foi sempre o soneto de
Bocage. Pareceu-nos oportuno registrar este pormenor, porque justamente quando
o médium se achava - ou nos parecia assim - exausto de cansaço, é que recebia
Bocage. Parece-nos que este fato demonstre a inteira independência do Espírito,
que aproveitaria, talvez, a máxima passividade do aparelho, passividade esta
sempre aumentada pelo cansaço físico.
Registamos apenas o
fato, mas o que interessa ao leitor não é a técnica do fenômeno, é a grandiosidade
da obra a estudar, da doutrina a aplicar, e esta grandiosidade seria a mesma,
ainda que os versos houvessem procedido de um gênio encarnado em missão, como
no caso de Dante Alighiere e do mesmo Bocage em vida.
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