As Superstições
por José Monteiro Lima
Reformador (FEB) Maio 1947
As superstições e
as crendices são, em geral, antiquíssimos complexos mentais radicados na psiquê,
herança de um passado que se perde pelos labirintos da História. Sob o impulso
da fé, da convicção, as superstições, em determinadas circunstâncias põem em
ação sutilíssimas energias espirituais, dando lugar a estranhos fatos, inexplicáveis
para a ciência materialista, tais fatos têm, contudo, alimentado crendices mais
ou menos absurdas. Seja como for, porém, as superstições devem ser combatidas,
porque são sempre resultado de uma educação deficiente.
No Brasil, como em
toda parte, as superstições pululam com as mais variadas finalidades, e, segundo
a sua natureza, tanto pode produzir benefícios como malefícios, até mesmo ao
próprio supersticioso. A borboleta negra, por exemplo, é, regra geral, sinal de
morte de alguém da casa. A aranha é sinal de bonança e prosperidade nos
negócios.
Há casas comerciais
cheias de teias de aranha porque os seus proprietários acreditam que matar aranhas
e destruir as suas teias faz desandar os negócios. O gato preto é tido como
bicho azarento em alguns Estados do Brasil, enquanto que em outros é de boa
sorte. Matar um gato traz sete anos de atraso, dizem. Lagartixa na parede é de
bom agouro. Bode preto, assim como o cão e o gato são, para certas pessoas,
êmulos de Satanás, Há pessoas que têm em casa animais pretos para "receberem"
os "maus olhados" (fluidos perniciosos) e os "despachos"
dirigidos às pessoas da casa. É crença também que cão danado não ataca quem estiver
com a roupa vestida pelo avesso. Vassoura colocada atrás da porta, com o cabo
para baixo, enxota as visitas indesejáveis. Sal no fogo produz o mesmo efeito.
Varrer a casa de noite atrasa a vida. Espelho quebrado, más notícias. A figa
(amuleto representando u'a mão fechada) afasta o mau olhado. Ferradura achada
na rua e colocada atrás da porta, protege a casa dos maus Espíritos
e traz felicidade aos seus moradores. Sentar à mesa 13 pessoas é de mau agouro
e morte de uma delas. Passar por baixo de escada, atrasa os negócios. E muitas
outras superstições que seria desnecessário mencioná-Ias aqui.
Não negamos os seus
efeitos nem afirmamos que tudo se resume em coincidência ou auto sugestão,
porque o valor teórico de cada uma delas não está certamente nos objetos ou nos
animais, que apenas servem como ponto de apoio, mas na convicção, na certeza do
supersticioso, onde a crendice criou profundas raízes. Eis porque para o supersticioso
a superstição sempre se realiza.
O Dr. Irajá conta (Feitiços e Crendices, página 44) que
certa vez, em viagem pelo interior de Minas, pernoitou num rancho pobre. Noite
estrelada, um cão começou a uivar, Não era possível adormecer. - "Esse
cachorro não deixa a gente sossegar!" disse o doutor à dona da casa. -
"Ele já vai parar o uivo; verá o senhor", Num instante tudo sossegou; o cão emudecera como por encanto.
Na manhã seguinte, tendo o doutor perguntado à dona da casa o que fizera para
calar o cão, ela respondeu: - "Ué! não sabe não? Virei os meus
chinelos". Aí está: virar os chinelos faz parar uivo de cão.
Os pedidos de
"milagres" às "imagens" e aos "santos" para obter
favores, curar doenças, etc., podem ser incluídos no rol das superstições de
origem religiosa. Os jornais de vez em quando anunciam retumbantes milagres e
assombrosas curas de santos de determinados lugares, mas ninguém
de sã consciência (exceto o supersticioso) admitirá que a imagem esculpida pela
mão do homem tenha tais poderes. Independente mesmo das influências
espirituais que possam intervir em cada caso, a convicção, a certeza, a fé,
ainda que mal dirigida, é a força realizadora, que, no dizer de Jesus,
transporta montanhas.
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