Casos
e Coisas
M.
Quintão
Reformador
(FEB) Novembro 1942
O caroável Emmanuel já o disse em memorável
e recente mensagem, que o V da vitória também se poderia estimar por V da
vigilância.
A advertência, em hora de tão graves
preocupações para a humanidade planetária, tem alto significado, maxime, para
os que assomam a ribalta, como expoentes do Espiritismo.
Porque a verdade é que a maioria dos
confrades se deixa embalar em miragens de superfície, com desperdício de
energias apreciáveis e mais que apreciáveis, aproveitáveis, se orientadas em
plano construtivo, superior.
Em afã de propaganda, releva assinalar que
poucos se atém ao regime austero dos princípios insofismáveis, decorrentes de
uma ética genuinamente cristã, para desbordarem-se em atitudes de verdadeiros
energúmenos, foliculários da palavra e
da
pena. Haverá quem presuma que reponta nessa anomalia uma premissa de alto
galardão, pretendendo identificá-la no estatuto fundamental da liberdade de
consciência e de opinião.
Nós, porém, em que pese o alto apreço ao
instituto, ou talvez por isso mesmo, insistimos em filiar essa anomalia à
inciência de causa e finalidade doutrinária.
Com desconhecimento de causa, sem
disciplina mental e não raro moral, no tatear o mundo espiritual a
surpreender-lhe as maravilhas, o homem larvar se esquece da relatividade
absoluta de todas as coisas, descura de si mesmo e de que não há liberdade sem
responsabilidade equivalente.
Esquece que a Doutrina, em ser una e única,
não pode padronar-se a uma exegética singular, exclusivista, convencional e
rígida, dogmática em suma, sob pena de incorrer nos mesmos vícios que tem
inquinado de atrofia e nulidade a todos os sistemas religiosos, em desgaste de
espúrio mundanismo.
E note-se que a prevalência do conceito não
se adstringe, em boa tese, ao plano terreal, sabido que o espiritual é reflexo
deste, tanto quanto se interpenetram e compactuam ambos.
Ninguém, portanto, será assistido e
esclarecido extra limites do seu próprio esforço e capacidade intelectual e
moral.
Quando, pois, um encarnado ou um
desencarnado nos vem explanar um ponto de fé controvertido, ainda mais
abjurando convicções solidamente estruturadas e mantidas aqui na Terra, não há
que o dispensar de uma retratação a altura da tese repudiada.
Eximir-se a este critério é, não apenas
fraudar o bom senso comum, mas abrir a porta às maiores surpresas, inclusive a
de vermos um qualquer "Kardec", por um médium também qualquer, vir
renegar as ideias e princípios que esposou e defendeu na Terra, sem tirte nem
guarte, ou talvez para satisfazer a caprichos de um misoneismo sectário,
incompatível com a índole da própria doutrina.
Estas considerações nos embicam a pena, ao
recebermos agora, a título anônimo, um prospecto colorido, - desses que lembram
reclame de circo equestre em arraial da roça - no qual, de mistura a citas
evangélicas mal deglutidas, se estampa uma comunicação velha de quatro lustros,
tomada no grupo Vinha do Senhor, desta cidade, e inculcada como de J. B.
Roustaing - nihil admirari! -
penitenciando-se de haver aceitado a teoria do corpo fluídico.
Interessante o ardor, a pertinácia com que
os nossos irmãos combatem essa teoria, ao mesmo passo que averbam de
intolerantes os que a esposam de boa fé. Não lhes queiramos mal por isso. A
lágica espiritista também tem o seu nariz de cera, talhado pelos homens. Coisa
que não surpreende, igualmente, se considerarmos que eles, os homens, também
chegaram a imaginar um Deus à sua imagem
e semelhança. Três coisas,
entretanto, queremos aqui ressalvar, data vênia dos conspícuos irmãos,
catequistas
inconsequentes não da última nem da primeira hora, porque de todas as horas, a
saber:
1º. - que eles ignoram, certo; o fim que
teve esse Grupo, isto é que o médium, seu oráculo e diretor, sucumbiu presa de
lamentável obsessão ao mesmo passo que os companheiros acabaram dos sem
exceção, dispersos em circunstâncias deploráveis.
2º. - que o anonimato é recurso indigno do
verdadeiro espírita, salvo na prática do bem.
3º. - que essa obra, editada em 1913,
jamais teve acolhida nos meios espíritas qualificados ao tempo e ninguém soube,
jamais, quem foi o seu prolíco e
sibilino autor -Pedro de Lacio.
Mas... basta.
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