Profissão de Fé
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho de 1943
Afastadas, por dimanantes (originário) todas da
generosidade de um coração bondoso, onde impera o sentimento da fraternidade
cristã, as referências pessoais contidas na carta que abaixo inserimos, muito
encerra a profissão de fé constante dela, como demonstração da relativa
facilidade com que a iluminação interior se produz para o espírito que busca
sinceramente a verdade, sem ideias preconcebidas, de pontos de vista isentos de
personalismos, cheio de boa vontade e cônscio de que somente a humanidade consegue
que o veio da inspiração superior, ou das intuições claras e sãs se abra para
fazer
que um raio de luz brilhe onde antes tudo era obscuridade.
Tal a razão única por que, agradecendo
sensibilizado as palavras do signatário, alusivas à Casa de Ismael,
transcrevemos a sua profissão de fé, espontaneamente feita. Pela característica
que lhe apontamos, ela, sem dúvida, será de proveito para muitos que procuram a
verdade por amor à verdade, certos de que jamais lograrão encontra-la, se se
fiarem tão só na força de suas inteligências, por mais pujantes que as
suponham.
Ilustre confrade, Dr. Guillon Ribeiro M. D. Presidente da "Federação Espírita
Brasileira".
Paz,
Cumpro o grato dever de vos testemunhar, por
este meio, sinceros agradecimentos pela transcrição do meu modesto artigo -
"Kardec e Roustaing", em o "Reformador", órgão que espelha
fielmente a orientação superior da "Casa de Ismael", de que sois
seguro e bem inspirado timoneiro. Agradeço-vos, igualmente, as benévolas referências
feitas ao meu humilde nome, assegurando-vos que tão generosa resolução constitui
valioso e confortador estímulo para o meu espírito, desejoso de poder juntar o
seu microscópico grão de areia à portentosa obra que estão realizando no Brasil
os "espíritas concienciosos", consoante o dizer de Allan Kardec.
Em outubro do ano passado, ao ouvir as vossas
instrutivas considerações evangélicas, tive a atenção atraída para um detalhe a
que, incidentemente aludistes, quanto ao corpo fluídico de Jesus. Interessou-me
o assunto a ponto de me animar a vos dirigir desalinhavada carta, a 2 do mesmo
mês, subscrita por - Um novo associado da
Federação, que aguarda as luzes do vosso esclarecido espírito. Não bati à
vossa porta em vão, nem vos pedi infrutiferamente. O modo pelo qual veio a
vossa resposta foi já uma réstea de luz que o meu espírito recebeu. Hoje,
reputo frívolas as razões daquela carta, mas é preciso recordar que, até então,
era completa a minha ignorância a respeito da teoria do corpo fluídico do
Divino Mestre, tanto que só de nome conhecia eu "Os Quatro
Evangelhos", não sabendo que esta prodigiosa obra continha revelações da
mais alta importância. Na Bíblia encontrara determinados trechos obscuros ou absurdos,
porque envoltos no negro véu da letra, mas perfeitamente explanados, através da
teoria do corpo fluídico, na obra mediúnica divulgada por J. B. Roustaing.
Longe estava de supor que "Os Quatro Evangelhos" fossem a mesma Bíblia
explicada em espírito e verdade. Seguindo
vosso conselho, dediquei-me logo ao estudo desse alentado trabalho, confiante
na solidez dos "meus" pontos de vista. Não tardou, entretanto, que a
verdade triunfasse, não só desfazendo a relutância que eu demonstrara,
inicialmente, em aceitar tão cristalina exposição, como levando-me à certeza de
que, efetivamente, Jesus não poderia ter vindo à Terra senão com um corpo
fluídico, adaptado às condições de vida deste planeta; nunca, porém, com uma
vestidura carnal de natureza idêntica à nossa. Admirei-me muito de que tão simples
e racional teoria houvesse encontrado resistência da parte do meu espírito. Muitas
vezes reli as páginas que o meu entendimento não assimilara prestemente, mas,
ao cabo de persistente estudo, todas as minhas dúvidas acerca do corpo fluídico
se dissiparam e experimentei a mesma agradável sensação de quem, fugindo
ao ambiente sufocante dum ergástulo, pode, enfim, livremente, respirar o ar
puro da aromatizados vergéis.
Conforme tão bem ensinais em "Jesus, nem
Deus, nem homem", o meigo Rabbi da Galileia,
"sendo um puro Espírito, um Espírito de pureza perfeita e imaculada, o
fundador, o protetor, o governador do
planeta terreno, não podia e não estava adstrito, de acordo com as leis imutáveis
da natureza, a tomar o corpo material do homem terrestre, corpo de lama, incompatível
com a sua natureza espiritual. A encarnação
humana é expiação, prova, meio, portanto, de efetivação de progresso moral. A
ela, pois, não podia estar sujeito, e não estava, aquele que, antes de
constituir-se a Terra, já alcançara, moralmente, a perfeição absoluta. No entanto,
cumprindo-lhe, para aparecer entre os homens e desempenhar na Terra a sua missão
superior, revestir um corpo, tinha Ele que, de conformidade com as leis imutáveis
da natureza, mediante aplicações e apropriações dessa lei, pois que a vontade
inalterável de Deus jamais as derroga, tomar um corpo compatível com a sua
natureza espiritual e em relativa harmonia com o globo terráqueo, tal que aos
homens desse a ilusão de ser um corpo humano".
O misoneísmo (hostilidade para com o novo) é mimético (disfarce). Toma as formas que
parecem convenientes para ludibriar-nos o raciocínio, levando-nos a sustentar
preconceituosas tradições, engendradas nas sombras do apriorismo impenitente.
Assim tem sucedido relativamente a errôneas interpretações dos Evangelhos. Dia
virá, no entanto, em que a luz se espalhará por sobre todos os espíritos,
apagando as nódoas do obscurantismo traiçoeiro.
Posso dizer-vos agora: graças a Deus! Sim, Dr.
Guillon, graças a Deus, porque estou compenetrado da realidade do corpo
fluídico de Jesus e é a vós que devo o início da elucidação que, a esse propósito,
recebeu o meu espírito. Hoje sei que, pretender-se a possibilidade dum Espirito
como Jesus, de pureza absoluta, isto é, que jamais fraquejou, ter mergulhado na
podridão dum corpo carnal como o nosso, será ofender-lhe a majestade. Não!
Jesus não sofreu o ultraje da encarnação a que estamos sujeitos, nós, espíritos
falidos, imperfeitos, impuros. Se muitos se apegam ao argumento de ser a teoria
do corpo fluídico derrogatória das leis naturais, é porque - vistas curtas -
supõem conhecer todas as leis da Natureza... Graças a Deus, comecei a
despertar, ilustrando o meu ignorante espírito com outras obras de idoneidade incontestável,
como "Elucidações
Evangelicas", "A Personalidade de Jesus", "Jesus - nem
Deus, nem homem", "Jesus perante a Cristandade", todas de
irrefragável autoridade exegética.
Concluindo, caro irmão, renovo meus agradecimentos
à cristã acolhida que recebi. Que o Pai que está nos céus vos devolva em bênçãos
os benefícios que me propiciastes.
Está finda esta profissão de fé.
Do mais humilde dos vossos condiscípulos
Indalício H. Mendes
Nenhum comentário:
Postar um comentário