Mediunidade e Luta
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (Agosto 1959)
Diz você que a mediunidade parece
não encontrar recanto entre os homens e, decerto, você argumenta com sobejas razões.
Basta que a criatura evidencie percepções
inabituais, entrando em contato com as Inteligências desencarnadas, para que sofra
policiamento constante. Examina-se-lhe a ficha social, pede-se-lhe o grau de instrução,
analisam-se-lhe os hábitos de leitura e emprestam-se-lhe qualidades imaginárias
para que se lhe cataloguem os serviços de intercâmbio no capítulo de fraude inconsciente.
E encontrada essa ou aquela brecha naturalmente humana, no conjunto da personalidade
medianímica, por mais convincentes hajam sido as demonstrações da vida espiritual
por seu intermédio, vê-se marcado o sensitivo à conta de embusteiro confesso.
Sabe-se que as irmãs Fox, pioneiras
do Espiritismo, quando em plenitude das forças psíquicas, foram ameaçadas de linchamento
num salão de Rochester, porque distinta comissão de pessoas insuspeitas se manifestou
favorável à legitimidade das comunicações de que se faziam intérpretes, e, mais
tarde, quando fatigadas de incompreensão e sofrimento se afizeram ao uso de
certos aperitivos, como acontece a algumas damas distintas e infelizes da
sociedade moderna, foram consideradas ébrias impenitentes, que fraudaram a vida
toda.
Convença-se, contudo, de que não é propriamente
o médium o objeto de injúria e sim a realidade da sobrevivência além-túmulo, que
a maioria dos homens, atolada no egoísmo, não quer aceitar.
Depois de soberbas e irrecusáveis
demonstrações da imortalidade da alma, com a chancela de sábios eminentes, nas
mais cultas nações do Globo, a ciência terrestre, manobrando inconcebível sutilezas
de raciocínio, procurou desterrar a Doutrina Espírita de seus areópagos e experimentos,
fundando a metapsíquica e a parapsicologia, com o intuito evidente de procrastinar
a verdade.
Há mais de um século, doutos pesquisadores,
dignos, aliás, do maior respeito, observam médiuns e fenômenos mediúnicos quais
cobaias e reações de laboratório, mas, com raras exceções, se inquiridos quanto
à existência da alma, esboçam clássico sorriso de superioridade e desprezo.
O que o homem, por enquanto, não deseja
absolutamente admitir é a responsabilidade de viver.
Entretanto, isso não é motivo para esmorecimento
de nossa parte.
A ideia da imortalidade foi apaixonadamente
perseguida em nosso Divino Mestre.
A Humanidade pressentiu que Ele
trazia a maior mensagem da Vida Eterna e, por todos os meios, hostilizou-lhe a presença.
Contemplado à distância, Jesus aparece
como alguém injustamente corrido de toda a parte.
Recusado pelas estalagens de Belém, é
constrangido a buscar as sombras da estrebaria para nascer. Mal descerra os
olhos, é transportado por Maria e José, em demanda do Egito, fugindo à espada
de inesperadas humilhações. Detém-se, de retomo, nas alegrias de Nazaré, fruindo à convivência dos familiares mais íntimos, no entanto, em pleno ministério de amor,
é escarnecido pelos seus. Qual mestre sem lar, jornadeia de vila em vila,
consagrando-se aos sofredores. Ele mesmo registra a dureza de Betsaida e
lastima os remoques e ultrajes que lhe são desfechados em Corazim e em Cafarnaum.
Em todos os lugares, há quem lhe ironize o trabalho. Encontra por refúgio a
casa da Natureza e mobiliza, por tribunas da Boa Nova, pobres barcos de alguns
amigos. Após inolvidáveis ações, em que positiva a perpetuidade do espírito, visita
Jerusalém, mais uma vez, para o testemunho de fé santificante; contudo, malquisto
no Templo, por dizer a verdade, é preso e conduzido ao Sinédrio. Os grandes sacerdotes,
tentando turvar-lhe o ânimo, enviam-no a Pilatos para julgamento sub-reptício,
O magistrado, entretanto, receando-lhe a força moral, remete-o ao exame de Herodes.
Mas este, irônico e matreiro, devolve-o ao juiz inseguro que o entrega, então, à
ira do populacho que, não sabendo onde mais o coloque, dependura-o no lenho da ignomínia
como vulgar malfeitor. Glorificado, volta Jesus, redivivo, à intimidade dos homens,
mas, ainda aí, os principais do templo subornaram soldados e guardiães com
dinheiro de contado para desmoralizarem a mensagem da ressurreição do Senhor.
E, no transcurso de quase três
séculos, todos os seguidores fiéis do Nazareno, por lhe guardarem o ensinamento
puro, foram batidos, vilipendiados, espoliados, caluniados, encarcerados ou
lançados às feras nos espetáculos públicos, até que a política e o profissionalismo
religioso escondessem a Divina Revelação na intrincada
vestimenta do culto externo.
vestimenta do culto externo.
Como vê, meu caro, a perseguição gratuita
a que se refere é de todos os tempos. Sirvamos, contudo, à realidade do espírito
com destemor e serenidade, porquanto a morte é o velho meirinho da grande
renovação que não poupa a ninguém.
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