segunda-feira, 13 de março de 2017

Mediunidade e Luta


Mediunidade e Luta 
Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (Agosto 1959)



            Diz você que a mediunidade parece não encontrar recanto entre os homens e, decerto, você argumenta com sobejas razões.

            Basta que a criatura evidencie percepções inabituais, entrando em contato com as Inteligências desencarnadas, para que sofra policiamento constante. Examina-se-lhe a ficha social, pede-se-lhe o grau de instrução, analisam-se-lhe os hábitos de leitura e emprestam-se-lhe qualidades imaginárias para que se lhe cataloguem os serviços de intercâmbio no capítulo de fraude inconsciente. E encontrada essa ou aquela brecha naturalmente humana, no conjunto da personalidade medianímica, por mais convincentes hajam sido as demonstrações da vida espiritual por seu intermédio, vê-se marcado o sensitivo à conta de embusteiro confesso.

            Sabe-se que as irmãs Fox, pioneiras do Espiritismo, quando em plenitude das forças psíquicas, foram ameaçadas de linchamento num salão de Rochester, porque distinta comissão de pessoas insuspeitas se manifestou favorável à legitimidade das comunicações de que se faziam intérpretes, e, mais tarde, quando fatigadas de incompreensão e sofrimento se afizeram ao uso de certos aperitivos, como acontece a algumas damas distintas e infelizes da sociedade moderna, foram consideradas ébrias impenitentes, que fraudaram a vida toda.

            Convença-se, contudo, de que não é propriamente o médium o objeto de injúria e sim a realidade da sobrevivência além-túmulo, que a maioria dos homens, atolada no egoísmo, não quer aceitar.

            Depois de soberbas e irrecusáveis demonstrações da imortalidade da alma, com a chancela de sábios eminentes, nas mais cultas nações do Globo, a ciência terrestre, manobrando inconcebível sutilezas de raciocínio, procurou desterrar a Doutrina Espírita de seus areópagos e experimentos, fundando a metapsíquica e a parapsicologia, com o intuito evidente de procrastinar a verdade.

            Há mais de um século, doutos pesquisadores, dignos, aliás, do maior respeito, observam médiuns e fenômenos mediúnicos quais cobaias e reações de laboratório, mas, com raras exceções, se inquiridos quanto à existência da alma, esboçam clássico sorriso de superioridade e desprezo.

            O que o homem, por enquanto, não deseja absolutamente admitir é a responsabilidade de viver.

            Entretanto, isso não é motivo para esmorecimento de nossa parte.

            A ideia da imortalidade foi apaixonadamente perseguida em nosso Divino Mestre.

            A Humanidade pressentiu que Ele trazia a maior mensagem da Vida Eterna e, por todos os meios, hostilizou-lhe a presença.

            Contemplado à distância, Jesus aparece como alguém injustamente corrido de toda a parte.

            Recusado pelas estalagens de Belém, é constrangido a buscar as sombras da estrebaria para nascer. Mal descerra os olhos, é transportado por Maria e José, em demanda do Egito, fugindo à espada de inesperadas humilhações. Detém-se, de retomo, nas alegrias de Nazaré, fruindo à convivência dos familiares mais íntimos, no entanto, em pleno ministério de amor, é escarnecido pelos seus. Qual mestre sem lar, jornadeia de vila em vila, consagrando-se aos sofredores. Ele mesmo registra a dureza de Betsaida e lastima os remoques e ultrajes que lhe são desfechados em Corazim e em Cafarnaum. Em todos os lugares, há quem lhe ironize o trabalho. Encontra por refúgio a casa da Natureza e mobiliza, por tribunas da Boa Nova, pobres barcos de alguns amigos. Após inolvidáveis ações, em que positiva a perpetuidade do espírito, visita Jerusalém, mais uma vez, para o testemunho de fé santificante; contudo, malquisto no Templo, por dizer a verdade, é preso e conduzido ao Sinédrio. Os grandes sacerdotes, tentando turvar-lhe o ânimo, enviam-no a Pilatos para julgamento sub-reptício, O magistrado, entretanto, receando-lhe a força moral, remete-o ao exame de Herodes. Mas este, irônico e matreiro, devolve-o ao juiz inseguro que o entrega, então, à ira do populacho que, não sabendo onde mais o coloque, dependura-o no lenho da ignomínia como vulgar malfeitor. Glorificado, volta Jesus, redivivo, à intimidade dos homens, mas, ainda aí, os principais do templo subornaram soldados e guardiães com dinheiro de contado para desmoralizarem a mensagem da ressurreição do Senhor.

            E, no transcurso de quase três séculos, todos os seguidores fiéis do Nazareno, por lhe guardarem o ensinamento puro, foram batidos, vilipendiados, espoliados, caluniados, encarcerados ou lançados às feras nos espetáculos públicos, até que a política e o profissionalismo religioso escondessem a Divina Revelação na intrincada
vestimenta do culto externo.

            Como vê, meu caro, a perseguição gratuita a que se refere é de todos os tempos. Sirvamos, contudo, à realidade do espírito com destemor e serenidade, porquanto a morte é o velho meirinho da grande renovação que não poupa a ninguém.


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