A grande
tarefa dos médiuns
Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Agosto 1959
O problema dos médiuns e da mediunidade
- um problema com duas facetas - deve exigir sempre a maior atenção daqueles que
têm a responsabilidade de dirigir grandes e pequenas organizações espíritas. É preciso
muito tato, quer em relação aos médiuns, quer acerca dos que recorrem ao mediunismo
para alivio de suas aflições físicas ou morais. O médium não é um santo, não deve
ser olhado como taumaturgo ou semideus. O Espiritismo não é uma religião de santos nem de milagres. Não violenta
o livre arbítrio de ninguém e em vez de fazer a criatura humana embrenhar-se em
labirintos misteriosos, falando-lhes em linguagem incompreensível, parte do principio
sadio· de que “fé inabalável só o é a que
pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”, segundo
as sábias palavras do sábio Allan Kardec.
Nos livros espíritas apresentados pelo
codificador, não há alegorias nem fábulas. Tudo é claro, porque tudo é simples.
Tudo é simples, porque tudo é racional. Veja-se, por exemplo, “0 Evangelho
segundo o Espiritismo”, onde a interpretação de textos evangélicos flui naturalmente,
permitindo a qualquer pessoa rápida compreensão e assimilação de seus ensinamentos.
“Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e
dos autores sacros em geral só são ininteligíveis, parecendo alguns até
irracionais, por falta da chave que faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está completa
no Espiritismo, como já o puderam reconhecer os que o têm estudado seriamente e
como todos, mais tarde, ainda melhor o reconhecerão. O Espiritismo se nos depara
por toda a parte na antiguidade e nas diferentes épocas da Humanidade. Por toda
a parte se lhe descobrem os vestígios, nos escritos, nas crenças e nos monumentos.
Essa a razão por que, ao mesmo tempo que rasga horizontes novos para o futuro, projeta
luz não menos viva sobre os mistérios do passado.” (Introdução – “O Evangelho segundo
o Espiritismo”.)
O médium bem orientado procura amparar-se
nas lições evangélicas, buscando segui-las com respeitoso cuidado, sem jamais resvalar
para o misticismo. Não nos preocupa
que religiões superadas, que se desespiritualizaram ao contato com o mundo
profano, que as atraiu e corrompeu, combatam o Espiritismo. A nossa preocupação
deve ser sempre a de dar o melhor cumprimento possível aos deveres espiríticos,
evitando que a Doutrina codificada por Allan Kardec seja desnaturada, que
indivíduos aparentemente espíritas, mas na realidade contra o Espiritismo, porque
fazem o jogo dos adversários da Terceira Revelação, possam encontrar elementos reais
para desenvolverem sua ação maléfica.
Não são positivamente espíritas aqueles
que, metidos no movimento espirítico, demonstram, por atos e palavras, que se
acham completamente divorciados do pensamento kardequiano. Tanto assim, que
vivem a fazer campanhas de descrédito, atacam, usam de expressões descaridosas,
reafirmando um personalismo nefasto, não só a si mesmos, como ao Espiritismo, de que se dizem adeptos. Ao clero, semelhante
procedimento agrada e talvez parta dele mesmo o estímulo a divergências e
dissensões, que, felizmente, não chegam a atingir seriamente o Espiritismo, porque
a nossa Doutrina é suficientemente forte para resistir a esses e outros processos
de desagregação. Todos sabemos que nos cabe adotar uma atitude de expectativa esclarecida tolerância, embora não percamos de vista os adversários embuçados, que
são lobos metidos na pele de cordeiros. Um espírita, verdadeiramente integrado na
Doutrina não luta contra espíritas, não procura dificultar o trabalho espírita,
não se torna aliado implícito dos inimigos do Espiritismo. Pode e deve usar a crítica
construtiva, tomando-se um colaborador prestimoso da Causa. Afinal, estamos empenhados
no movimento espírita não por causa de homens, mas por causa da Ideia. Nós todos
passamos, retornaremos um dia à vida espiritual. Voltaremos à carne e continuaremos
nessa troca de posições no mundo visível e no mundo invisível. A Doutrina, porém,
não passará jamais.
Se é exato que a mentalidade liberal
dos constituintes de 1891 vem sendo substituída por uma mentalidade semiclerical,
facilmente verificável em muitos setores da vida brasileira, também é certo que
o povo está ampliando, cada vez mais o seu poder de analisar e julgar, principalmente
nas grandes cidades. Por aí se pode avaliar a importância do trabalho que desenvolvem no interior do Brasil os nossos valorosos confrades, verdadeiros desbravadores, que levam a luz forte do Espiritismo
a recuados rincões sertanejos, arrostando os perigos decorrentes do fanatismo,
do obscurantismo feroz, do politiquismo aliado à treva.
Devemos ter sempre a maior simpatia com
esses bravos semeadores do Espiritismo que são, na realidade, os emissários do Cristo
na grande campanha de recristianização do Cristianismo, conspurcado desde a concordata
com Constantino. Os médiuns, por sua vez, constituem uma força poderosa na
propagação do Espiritismo, pelo muito que fazem e poderão fazer no seío do
povo, a fim de mitigar as dores da alma e as dores do corpo, transmitindo as mensagens de Mais Alto, destinadas a fazer
de cada criatura um cristão com Cristo, fiel ao Evangelho e capaz de todos os
sacrifícios para o bem da Humanidade. O mundo continua sofrendo porque os
homens se divorciaram de Jesus, trocando a fé esclarecida por conveniências mundanas.
Todas as religiões que precederam o Espiritismo já provaram o seu completo fracasso
na obra de redenção dos homens. E o Espiritismo, que não é outra religião, porque
é a Religião, vai, a pouco e pouco, apesar da guerra que lhe movem, apesar das
falsidades de que lançam mão os seus desesperados de tratores, vai-se espalhando pela Terra,
levando consolação, paz e amor aos corações, explicando a razão da vida, a
causa dos sofrimentos e a maneira, sem milagres nem santos, de cada qual alcançar
a felicidade, que não está no dinheiro nem nas vaidades, mas dentro de cada um
de nós. Se procurarmos dia a dia o nosso comportamento no lar e fora do lar, educando
o nosso “eu”, estaremos trabalhando pelo bem geral da Humanidade, porque, concomitantemente, estaremos disciplinando a nossa
vontade e extinguindo o egoísmo feroz, que tem sido o maior mal da Humanidade. Amparemos os
médiuns e compreendamos que, no exercício de seu dom, eles poderão realizar
notável obra para a felicidade das criaturas humanas, desde que se mantenham fiéis
à Doutrina Espírita e a respeitem religiosamente, estejam onde estiverem.
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