O Perispírito
José
Monteiro Lima
Reformador (FEB) Julho 1970
“Há
corpo animal e há corpo espiritual.” diz São Paulo (I Cor. 15 :44). Com
efeito, esse
corpo
espiritual de São Paulo é o perispírito dos espíritas de hoje. O perispírito,
aliás, não
é
coisa nova. No Antigo Egito os sacerdotes ensinavam que além do “ka”, o Espírito, emanação divina, havia
uma forma imaterial “sahu”, o
fantasma propriamente, que reproduzia exatamente os traços do corpo físico e
que se manifestava aos encarnados.
Na Grécia antiga, a doutrina
inspirada pelos hinos órficos ensinava: “Amai
a luz e não as trevas.
Lembrai-vos da finalidade da vossa viagem. Quando as almas voltam ao mundo espiritual
trazem marcadas sobre os seus corpos etéreos, em manchas horrendas, todas as
faltas da sua vida e, para as apagar, é necessário voltar à Terra. Mas os puros
e os fortes se vão para o sol de Dionísio.”
Na Índia se fala também desse corpo
espiritual, porque ele próprio se impõe como uma realidade incontestável.
Mas não desejamos deter-nos em
detalhes nem em considerações dos antigos filósofos. Preferimos abordar rapidamente
as importantes funções do perispírito no plano material, assim como as suas
consequências no plano espiritual.
O corpo espiritual, isto é, o
perispírito está em cada um de nós intimamente ligado ao corpo físico e é tanto
mais sutil quanto mais elevado se acha o ser na escala da perfectibilidade.
Vaporoso para nós encarnados é, no
entanto, bem grosseiro ainda para os desencarnados; contudo, os Espíritos
purificados podem elevar-se com ele na atmosfera e transportar-se aonde
queiram.
As suas funções no corpo físico são
múltiplas e preside a todos os fenômenos fisiológicos da respiração, da
alimentação e assimilação dos alimentos, extraindo toda a matéria aproveitável,
afeiçoando-a a cada órgão e eliminando do corpo todos os elementos que lhe
sejam inúteis ou nocivos. Com efeito, o nosso organismo é uma complicada máquina
que funciona à nossa revelia, sem que, nem de leve, suspeitemos da sua
complexidade.
Um elevado Espírito, respondendo
numa sessão a um jornalista inglês que lhe perguntara sobre o perispírito,
disse: “Tenho um corpo que é uma
reprodução do que tive na Terra: as mesmas mãos, pernas e pés, que se movem
como o fazem os vossos. Na Terra eu tinha o corpo físico interpenetrado do
corpo etéreo que ora tenho. O etéreo é o corpo real e é cópia perfeita do corpo
terreno. Por ocasião da morte, emergimos de nossa cobertura de carne e
continuamos a nossa vida no mundo etéreo, funcionando aqui por meio do corpo
etéreo, exatamente como funcionávamos na Terra, metidos no corpo físico. O
corpo etéreo é aqui tão substancial para nós como o era o corpo físico quando
vivíamos na Terra. Temos as mesmas sensações. Sentimos e vemos como na Terra.
Embora não sejam materiais, conforme entendeis esta palavra, os nossos corpos
têm forma, aspecto e expressão.”
É ainda no perispírito que ficam registradas as
nossas ações e os nossos atos, bons ou maus. De fato, todos os acontecimentos
da nossa vida são maravilhosamente registados em nosso perispírito, nos seus
mínimos detalhes; nada se perde.
Segundo recente declaração do Dr.
Wilder Penfield, diretor do Instituto de Neurologia de Montreal, Canadá, o
nosso perispírito grava, como num filme, todos os acontecimentos da nossa vida.
A recordação é de tal modo viva que é como se o indivíduo voltasse a reviver as
mesmas cenas, os mesmos fatos.
Pelos fatos registados nas obras espíritas
já sabíamos que em momentos críticos, como nos acidentes graves, nas quedas
perigosas, na asfixia por afogamento, etc., o indivíduo pode rever, com
incrível nitidez, a sua vida até aquele momento, como se assistisse a um filme
no qual ele próprio tomasse parte.
Naturalmente os seus atos bons são
motivos de satisfação para o seu Espírito, enquanto os atos maus são motivo de
tristeza e arrependimento. Por aí se pode avaliar a situação dolorosa de certos
Espíritos libertos da carne, tendo diante de si, permanentemente, os
acontecimentos deploráveis que desejariam esquecer.
Eis um fato significativo que
comprova as afirmações do Dr. Penfield. O almirante Beaufort, quando ainda
jovem, caiu de um navio à água do porto de Portsmouth. Antes que fosse possível
ir em seu socorro, desapareceu; ia morrer afogado.
Depois de algumas considerações
sobre a angústia do primeiro momento, diz ele: “Com o enfraquecimento dos sentidos coincidiu uma super excitação
extraordinária da atividade intelectual; as ideias sucediam-se com rapidez
prodigiosa. O acidente que acabara de dar-se, o descuido que o motivara, o
tumulto que se lhe deveria ter seguido, a dor que iria alcançar meu pai e
outras circunstâncias intimamente ligadas ao lar doméstico, foram o objeto das
minhas primeiras reflexões. Depois, veio-me à memória o último cruzeiro, viagem
acidentada por um naufrágio; a seguir, a escola, os progressos que nela fizera
e também o tempo perdido, finalmente, as minhas ocupações e aventuras de
criança. Em suma, a subida de todo o rio da vida, e quão pormenorizada e
precisa!”
E acrescenta: “Cada incidente da minha vida atravessava-me sucessivamente a memória,
não como simples esboço, mas com as particularidades e acessórios de um quadro
completo! Por outras palavras, toda a minha existência desfilava diante de mim
numa espécie de vista panorâmica, cada fato com a sua apreciação moral ou
reflexões sobre suas causas e efeitos. Pequenos acontecimentos sem
consequências, há muito tempo esquecidos, se acumulavam em minha imaginação
como se tivessem passado na véspera. E tudo
isso sucedeu em dois minutos” (Léon Denis, “O Problema do Ser”, pág.
173).
Com efeito, todos os atos da nossa
vida são maravilhosamente registados em nosso perispírito. Os menores detalhes
são cuidadosamente guardados para, no momento preciso, aflorarem nítidos,
inconfundíveis. Eis porque Jesus, estabelecendo a nossa responsabilidade diante
da vida, diz: “Até os cabelos da vossa
cabeça estão contados.”
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