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sábado, 24 de outubro de 2015

O Perispírito



O Perispírito
José Monteiro Lima
Reformador (FEB) Julho 1970

            “Há corpo animal e há corpo espiritual.” diz São Paulo (I Cor. 15 :44). Com efeito, esse
corpo espiritual de São Paulo é o perispírito dos espíritas de hoje. O perispírito, aliás, não
é coisa nova. No Antigo Egito os sacerdotes ensinavam que além do “ka”, o Espírito, emanação divina, havia uma forma imaterial “sahu”, o fantasma propriamente, que reproduzia exatamente os traços do corpo físico e que se manifestava aos encarnados.

            Na Grécia antiga, a doutrina inspirada pelos hinos órficos ensinava: “Amai a luz e não as trevas. Lembrai-vos da finalidade da vossa viagem. Quando as almas voltam ao mundo espiritual trazem marcadas sobre os seus corpos etéreos, em manchas horrendas, todas as faltas da sua vida e, para as apagar, é necessário voltar à Terra. Mas os puros e os fortes se vão para o sol de Dionísio.

            Na Índia se fala também desse corpo espiritual, porque ele próprio se impõe como uma realidade incontestável.

            Mas não desejamos deter-nos em detalhes nem em considerações dos antigos filósofos. Preferimos abordar rapidamente as importantes funções do perispírito no plano material, assim como as suas consequências no plano espiritual.

            O corpo espiritual, isto é, o perispírito está em cada um de nós intimamente ligado ao corpo físico e é tanto mais sutil quanto mais elevado se acha o ser na escala da perfectibilidade.

            Vaporoso para nós encarnados é, no entanto, bem grosseiro ainda para os desencarnados; contudo, os Espíritos purificados podem elevar-se com ele na atmosfera e transportar-se aonde queiram.

            As suas funções no corpo físico são múltiplas e preside a todos os fenômenos fisiológicos da respiração, da alimentação e assimilação dos alimentos, extraindo toda a matéria aproveitável, afeiçoando-a a cada órgão e eliminando do corpo todos os elementos que lhe sejam inúteis ou nocivos. Com efeito, o nosso organismo é uma complicada máquina que funciona à nossa revelia, sem que, nem de leve, suspeitemos da sua complexidade.

            Um elevado Espírito, respondendo numa sessão a um jornalista inglês que lhe perguntara sobre o perispírito, disse: “Tenho um corpo que é uma reprodução do que tive na Terra: as mesmas mãos, pernas e pés, que se movem como o fazem os vossos. Na Terra eu tinha o corpo físico interpenetrado do corpo etéreo que ora tenho. O etéreo é o corpo real e é cópia perfeita do corpo terreno. Por ocasião da morte, emergimos de nossa cobertura de carne e continuamos a nossa vida no mundo etéreo, funcionando aqui por meio do corpo etéreo, exatamente como funcionávamos na Terra, metidos no corpo físico. O corpo etéreo é aqui tão substancial para nós como o era o corpo físico quando vivíamos na Terra. Temos as mesmas sensações. Sentimos e vemos como na Terra. Embora não sejam materiais, conforme entendeis esta palavra, os nossos corpos têm forma, aspecto e expressão.”

            É  ainda no perispírito que ficam registradas as nossas ações e os nossos atos, bons ou maus. De fato, todos os acontecimentos da nossa vida são maravilhosamente registados em nosso perispírito, nos seus mínimos detalhes; nada se perde.

            Segundo recente declaração do Dr. Wilder Penfield, diretor do Instituto de Neurologia de Montreal, Canadá, o nosso perispírito grava, como num filme, todos os acontecimentos da nossa vida. A recordação é de tal modo viva que é como se o indivíduo voltasse a reviver as mesmas cenas, os mesmos fatos.

            Pelos fatos registados nas obras espíritas já sabíamos que em momentos críticos, como nos acidentes graves, nas quedas perigosas, na asfixia por afogamento, etc., o indivíduo pode rever, com incrível nitidez, a sua vida até aquele momento, como se assistisse a um filme no qual ele próprio tomasse parte.

            Naturalmente os seus atos bons são motivos de satisfação para o seu Espírito, enquanto os atos maus são motivo de tristeza e arrependimento. Por aí se pode avaliar a situação dolorosa de certos Espíritos libertos da carne, tendo diante de si, permanentemente, os acontecimentos deploráveis que desejariam esquecer.

            Eis um fato significativo que comprova as afirmações do Dr. Penfield. O almirante Beaufort, quando ainda jovem, caiu de um navio à água do porto de Portsmouth. Antes que fosse possível ir em seu socorro, desapareceu; ia morrer afogado.

            Depois de algumas considerações sobre a angústia do primeiro momento, diz ele: “Com o enfraquecimento dos sentidos coincidiu uma super excitação extraordinária da atividade intelectual; as ideias sucediam-se com rapidez prodigiosa. O acidente que acabara de dar-se, o descuido que o motivara, o tumulto que se lhe deveria ter seguido, a dor que iria alcançar meu pai e outras circunstâncias intimamente ligadas ao lar doméstico, foram o objeto das minhas primeiras reflexões. Depois, veio-me à memória o último cruzeiro, viagem acidentada por um naufrágio; a seguir, a escola, os progressos que nela fizera e também o tempo perdido, finalmente, as minhas ocupações e aventuras de criança. Em suma, a subida de todo o rio da vida, e quão pormenorizada e precisa!”

            E acrescenta: “Cada incidente da minha vida atravessava-me sucessivamente a memória, não como simples esboço, mas com as particularidades e acessórios de um quadro completo! Por outras palavras, toda a minha existência desfilava diante de mim numa espécie de vista panorâmica, cada fato com a sua apreciação moral ou reflexões sobre suas causas e efeitos. Pequenos acontecimentos sem consequências, há muito tempo esquecidos, se acumulavam em minha imaginação como se tivessem passado na véspera. E tudo isso sucedeu em dois minutos(Léon Denis, “O Problema do Ser”, pág. 173).


            Com efeito, todos os atos da nossa vida são maravilhosamente registados em nosso perispírito. Os menores detalhes são cuidadosamente guardados para, no momento preciso, aflorarem nítidos, inconfundíveis. Eis porque Jesus, estabelecendo a nossa responsabilidade diante da vida, diz: “Até os cabelos da vossa cabeça estão contados.”

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