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Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que
haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande
número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares.” (Allan Kardec -
Introdução de "O Evangelho segundo o Espiritismo", 66ª ed. FEB
(especial), 1976, pág. 31)
Quem tem o hábito, ou o interesse,
de consultar "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, para as
próprias instruções doutrinárias, certamente já encontrou a relação dos nomes
daqueles eminentes Espíritos que, em nome de Jesus, ditaram os ensinos
constantes nos importantes livros da Codificação do Espiritismo, os quais
transformaram as nossas vidas, encaminhando-nos para Deus. Dentre aqueles
ilustres habitantes do Mundo Espiritual
superior encontraremos um, justamente o último da relação inscrita nos
Prolegômenos daquele livro, que poderia causar espanto porque absolutamente
inesperado, e este é Swedenborg, nome por muitos desconhecido no Brasil. Os
demais missionários que nos revelaram o tesouro celeste, que é a Doutrina
Espírita, são de todos conhecidos
e bem-amados; São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São
Luís (Luís IX de Poissy) , Rei da França (de 1226 a 1270) (1), o Espírito da Verdade, Sócrates,
Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc.
(1) São Luís assumiu o poder aos 11 anos de
Idade.
Ora, Swedenborg era sueco e viveu no
século XVIII, tendo sido, segundo os seus biógrafos, o homem mais culto do seu
tempo. Dele diz o ilustre pesquisador espírita Arthur Conan Doyle, em seu
importante livro "História do Espiritismo" (Editora "O
Pensamento", tradução de Júlio Abreu Filho, São Paulo - SP):
"Nunca se viu tamanho amontoado de conhecimentos. Ele era, antes de mais
nada, um grande engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o
engenheiro militar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos XII,
da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e Astronomia, autor de
importantes trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Era
zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se às conclusões de
Adam Smith. Finalmente era um profundo estudioso da Bíblia, que se alimentara
de teologia com o leite materno e viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de vida. Seu
desenvolvimento psíquico, ocorrido aos vinte e cinco anos, não influiu sobre a
sua atividade mental e muitos de seus trabalhos científicos foram publicados
após essa data."
(Capítulo I, pág. 34) (2).
(2) A "Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira" (Editorial Enciclopédia, Ltda., Lisboa-
Rio de Janeiro), volume XXX, págs. 454 a 456, dedica longo verbete a Swedenborg
(n. em Estocolmo a 29-1-1688 e m. em Londres a 29-3-1772) e ao Swedenborgismo.
Relacionou-se com inúmeras notabilidades do seu tempo, como Halley, Flamsleed e
Woodward, e com vários membros da Royal Society e diversos sábios da época. Diz
a obra aqui citada: "Analisado à luz de uma rigorosa investigação psíquica,
Swedenborg seria apenas um médium
(destaque da ob. cit.) muito fora do vulgar, porque as comunicações que
asseverava estabelecer com os anjos e os espíritos eram precedidas de violentas
tremuras, suores, transe, prostração e desmaios que duravam dez e treze horas,
os sinais característicos de todos os médiuns do seu gênero (Cf. ‘Swedenborg -
Life and Teaching’, Londres, 1935)". "( ... ) mas só em 1745 admitiu
francamente as relações com os anjos e os espíritos, não por um processo
análogo ao que se chama vulgarmente Espiritismo, mas falando com os seres
superiores sem perder a consciência de tudo o que o rodeava no mundo.
Estava Swedenborg ciente de que todos receberiam com o maior ceticismo a
explicação do seu estado anímico, o que revelou ao publicar a sua Arcana
Coelestia' (1749). Era também lido como um grande vidente".
"Recusando todas as homenagens e grandezas, era todavia um simples, cuja
bondade e fiIantropia ficou tradicional entre os habitantes do seu bairro,
durante os últimos anos de sua vida, na sua modesta residência em
Londres." Contam-se em muitas dezenas as obras que publicou sobre assuntos
filosóficos, científicos, filosóficos, religiosos, etc.
No livro "Sobrevivência e
Comunicabilidade dos Espíritos", um - dos próximos lançamentos febianos,
Hermínio C. Miranda dedica um capítulo ao grande médium do século XVIII,
intitulado "Uma revisão dos ensinos
de Swedenborg".
Quanto à referência ao
Espiritismo, no verbete parcialmente transcrito, é curioso que o seu responsável
não tenha procurado Informar-se a respeito da existência de médiuns conscientes,
recorrendo a "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec. Oe qualquer
maneira, a "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”, em assuntos
ligados ao Espiritismo, é das que menos reparos exige.
Esse homem dotado de tanta cultura
era também médium, vidente, clarividente; presenciava acontecimentos a enormes
distâncias, como o incêndio que, da mesa de um jantar de que participava com
dezesseis convidados, em Gotemburg, assistiu em Estocolmo.
Parece que foi em 1744, em Londres,
que suas forças mediúnicas entraram em atividade. Desde o advento da sua
primeira visão esteve ele permanentemente em contato com o outro mundo.
"Na mesma noite - diz ele - o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno,
abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu
conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os
olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no
outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e
Espíritos." (Ob. cit., págs. 36 e 37).
Ele fala ainda de "uma espécie
de vapor que se exalava dos poros de seu corpo. Era um vapor aquoso muito
visível e caía no chão, sobre o tapete". E nós hoje conhecemos esse
"vapor aquoso" como o ectoplasma, mais tarde identificado pelos
pesquisadores psiquistas e espíritas do século passado como aquilo mesmo que o
simpático Swedenborg via e assistia em si mesmo no século XVIII. E não é de
admirar que ele o visse, pois se trata de um fato, uma propriedade natural do
ser humano desde todas as épocas o que esse vidente foi
o primeiro a identificar, nos tempos modernos. Mas, nem só ao ectoplasma ele se
referia. Havia mais...
Ainda hoje, mesmo entre adeptos da
Doutrina dos Espíritos, existe quem descreia das narrativas do Espírito André
Luiz e de outras obras congêneres às desta Entidade espiritual. Creem tratar-se
de "fantasias de médiuns ignorantes e mistificados", como dizem
alguns; ou que André Luiz foi o primeiro habitante do mundo espiritual que nos
trouxe as novidades descritas em suas magníficas obras, e que portanto estas
não têm base nos códigos doutrinários. No entanto, sabemos que as narrativas de
André Luiz se alicerçam em "O Livro dos Médiuns" e que vários outros
livros mediúnicos dizem a mesma coisa, o que podemos verificar em "A Crise
da Morte", de Ernesto Bozzano; "A Vida além do Véu", do Rev. G.
Vale Owen; "Raymond", de Sir Ollver Lodge, os quais igualmente se
expressaram sobre o assunto em época anterior, ao passo que Swedenborg dizia o
seguinte, no século
XVIII,
e Conan Doyle, citando seus livros, o repete:
"Verificou
que o outro mundo, para onde vamos depois da morte, consiste de várias esferas,
representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada um de
nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados
automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é
determinado pelo resultado global da
nossa vida, de modo que a absolvição ou arrependimento no leito de morte têm
pouco proveito. Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste
mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos
onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios
onde deviam morar os chefes. (Pág. 3-8.) E na página seguinte, 39,
prossegue Conan Doyle, sempre citando o mestre sueco:
"A morte era suave, dada a
presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova
existência (a espiritual). Esses recém-vindos passavam imediatamente por um
absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa
contagem.
"Havia anjos e demônios, mas
não eram de ordem diversa da nossa: eram seres humanos, que tinham vivido na
Terra e que ou eram almas retardatárias, como demônios, ou altamente
desenvolvidas, como anjos.
"De modo algum mudamos com a
morte. O homem nada perde com a morte: sob todos os pontos de vista é ainda um
homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Levou consigo não só
as suas forças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, os seus
preconceitos."
Seria impossível transcrever os
demais pontos onde vemos anunciadas particularidades da Doutrina Espírita, mais
tarde revelada a Kardec por aquela falange brilhante cuja relação assenta em Prolegômenos
de "O Livro dos Espíritos", da qual
Swedenborg
comparticipa. Note-se, porém, que ele tudo isso afirmava quando ainda homem,
como médium, o mesmo que muitos médiuns atuais têm presenciado durante transes
de desdobramento em corpo astral. Foi acusado de dizer fantasias e tomar como
realidade o que era pura imaginação. Também os médiuns de hoje, descrevendo as
mesmas coisas, que veem e verificam durante seus "passeios" pelo
Invisível, são acusados de "ignorância" e de
"mistificação".
Emmanuel Swedenborg, portanto, foi
um dos mestres que nos deram a Codificação do Espiritismo, formando ao lado de
São Luís, de São João Evangelista, de Santo Agostinho, Sócrates, Platão, etc.,
para entregar o Consolador ao mundo, assim consolando nossas dores e auxiliando
nossa redenção. Não devemos, portanto, repelir o que nos vem do Alto por
intermédio daqueles médiuns abnegados que realmente se integram na tarefa de
intermediários entre os dois mundos - espiritual e material -, mas, sim,
observar a recomendação inserta em "O Evangelho segundo o
Espiritismo", isto é, "a concordância que haja entre as revelações
que eles façam espontaneamente (os Espíritos instrutores), servindo-se de
grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares”. Nosso
dever é estudar, pesquisar, examinar, e não negar gratuitamente. Os livros
estão aí, ao nosso dispor, excelentes, brilhantes, trazidos até nós pelos
“anjos do Senhor”. Há carência de conhecimentos, insuficiência de estudos entre
a grande massa dos adeptos do
Espiritismo, até mesmo entre os médiuns. Mas só não aprendem as lições que o
Senhor nos manda aqueles que não querem aprender...
Emmanuel
Swedenborg
por Frederico Francisco (Yvonne
Pereira)
Reformador (FEB) Novembro 1977
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