CONCEITO.
- Distúrbio espiritual de longo curso, a obsessão procede dos painéis íntimos
do homem, exteriorizando-se de diversos modos, com graves consequências, em
forma de distonias mentais, emocionais e desequilíbrios fisiológicos.
Inerentes à individualidade que lhe
padece o constrangimento, suas causas se originam no passado culposo, em cuja
vivência o homem, desatrelado dos controles morais, arbitrariamente se permitiu
consumir por deslizes e abusos de toda ordem, com o comprometimento
das reservas de previdência e tirocínio racional.
Amores exacerbados, ódios
incoercíveis, dominação absolutista, fanatismo injustificável, avareza
incontrolável, morbidez ciumenta, abusos do direito como da força, má
distribuição de valores e recursos financeiros, aquisição indigna da posse
transitória, paixões políticas e guerreiras, ganância em relação aos bens
perecíveis, orgulho e presunção, egoísmo nas suas múltiplas facetas são as
fontes geratrizes desse funesto avassalador
de homens, que não cessa de atirá-los nos resvaladouros da loucura, das
enfermidades carregadas de síndromes desconhecidas e perturbadoras, do suicídio
direto ou indireto que traz novos agravamentos àquele que se lhe submete,
inerme, à ação destrutiva.
Parasita pertinaz, a obsessão se
constitui de toda ideia que se fixa de fora para dentro - como na hipnose, por
sugestão, consciente ou não, como pela incoercível persuasão de qualquer
natureza a que se deixa arrastar o indivíduo. Ou, de dentro para fora, pela
dominadora força psíquica que penetra e se espraia no anfitrião que a agasalha
e sustenta, vencendo lhe as débeis resistências.
Originárias, às vezes, da
consciência perturbada pelas faltas cometidas nas existências passadas e ainda
não expungidas - renascendo em forma de remorsos, recalques, complexos
negativos, frustrações, ansiedades -, impõe o auto supliciamento, capaz, de
certo modo, de dificultar novos deslizes, mas ensejando, infelizmente, quase
sempre, desequilíbrios mais sérios...
Possuindo o homem os fatores
predisponentes para o seu surgimento e fixação (os débitos exarados na mente
espiritual culpada), faculta uma simbiose entre as mentes, encarnadas ou
desencarnadas, mas de maior incidência na esfera entre o Espírito desatrelado
do carro somático e o viandante da névoa carnal, constituindo tormento de larga
expansão que, não atendido convenientemente, termina por atingir estados desespera
dores e fatais.
Sendo, todavia, a morte apenas um
corolário da vida, em que aquela confirma esta, compreensível é que o
Intercâmbio incessante prossiga, não obstante a ausência da forma física.
Viajando pelo perispírito, veículo condutor das sensações físicas na direção do Espírito
e, vice-versa, mensageiro das respostas ou impulsos deste no rumo do soma, esse
corpo semi material, depositário das forças impregnantes das células, constitui
excelente campo plástico de que se utiliza a Lei para os imprescindíveis
reajustes daqueles que, por distração ou falta de siso, desrespeito ou abuso,
ambição ou impiedade, se atrelaram às malhas da criminalidade.
O comércio mental funciona em regime
de amplas perspectivas, seja no plano físico, seja nas esferas espirituais; ou
reciprocamente.
Não sendo necessário o cérebro para
que a mente continue o seu ministério intelectual, constituindo o encéfalo
tão-somente o instrumento de exteriorização física, mentes e mentes ligam-se e
desligam-se em conúbios contínuos, incessantes, muito mais do que seria de
supor-se.
O que é normal entre os homens não
muda após o decesso corporal.
Há sempre alguém pensando noutrem. O
estabelecimento dos contatos como a continuidade deles é que podem dar curso
aos processos obsessivos ou plenificadores, consoante seja a fonte emissora.
Através da Física moderna, em
ligeiro exame, podemos constatar que, à medida que a matéria foi perquirida,
experimentou desagregação, até quase total extinção da ideia de estrutura.
Dos conceitos medievais aos
hodiernos, há abismos de conhecimento, viandando da constituição bruta à
quintessência. Em consequência, a Terra e tudo que nela se encontra ora se
convertem em ondas, raios, mentes, energias.
Da ideia simples, que insiste,
perseverante, à fascinação estonteante, contínua, até à subjugação vencedora, a
obsessão é, em nossos dias, o mais terrível flagelo com que se vê a braços a
Humanidade...
Espocando em condições próprias,
quais cogumelos bravos e venenosos, multiplica-se assustadoramente,
conclamando-nos todos à terapêutica imediata, cuidadosa, e a medidas
preventivas, inadiáveis, antes que os palcos do mundo se convertam em cenários nefandos
de horror e desastre.
DESENVOLVIMENTO. - A História é
testemunha de obsessões cruéis.
Atormentados de todo porte
desfilaram através dos tempos, vestindo indumentárias masculinas e femininas,
em macabros festivais, desde as guerras sanguissedentas a que se entregavam às
dominações mefíticas, cuja evocação produz estupor nas mentes desacostumadas à
barbárie.
Não somente, todavia, nos recuados
tempos do passado.
Não há muito, a Humanidade foi vítima
da fúria obsessiva dos apaniguados do racismo hediondo, que nos campos de
concentração de diversas nações modernas, praticaram os mais selvagens e frios
crimes contra o homem e a sociedade, consequentemente, contra Deus.
Isto porque a obsessão não se
desenvolve somente nos chamados meios vis, em que imperam a ignorância, o
primitivismo, o analfabetismo, os sofrimentos cruciais. Medra, também, e mui
facilmente, entre os que são fátuos, os calculistas e imediatistas, neles desdobrando,
em virtude das condições favoráveis da própria constituição espiritual, os
sémens da perturbação que já conduzem interiormente.
Estigma a pesar sobre cabeças
coroadas, a medrar em berços de ouro e nácar, a fustigar conquistadores, a
conduzir perversos, esteve nos fastos históricos aureolada de poder e
ovacionada pela febre da loucura, condecorando homicidas e destruindo-os depois,
homenageando bárbaros e destroçando-os em voragens nas quais se consumiam, em
espetáculos inesquecíveis pela aberração de que davam mostras.
Ferrete cravado em todos aqueles que
um dia se mancomunaram com o crime, aparece nas mentes e corpos estio lados,
arrebentando-se em expressões teratológicas dolorosas, exibindo as feridas da incúria
e da alucinação.
Não apenas no campo psíquico a
obsessão desarticulou, no passado, heróis e príncipes, dominadores e dominados,
mas, também, nas execrações físicas de que não se podiam furtar os criminosos,
jugulando-os às jaulas em que se fazia necessário padecerem, para resgatar.
Hoje, em pleno século da tecnologia,
em que os valores éticos sofrem desprestígio, a benefício dos valores sem
valor, irrompe a obsessão caudalosa, arrastadora, arrancando o homem das
estrelas para onde procura fugir, a fim de fixá-lo ao solo que pensa deixar e
que se encontra juncado de cadáveres, maculado de sangue, em decomposição,
apodrecido pelo escárnio, face às suas múltiplas e incessantes desídias.
OBSESSÃO E JESUS. - Ensinando
mansuetude e renúncia, quando o mundo se empolgava nas luzes de Augusto;
precedido pelos arregimentadores da paz e da concórdia, que mergulharam na
carne para lhe prepararem o advento, Jesus viveu, todavia, os dias em que
a força estabelecia as bases do direito e o homem era lacaio das paixões
Infrenes, vitimado pelas loucas ambições da prepotência e das guerras.
Embora as luzes do pensamento
filosófico de então, a espocarem em vários rincões, o ser transitava, ainda,
das expressões da selvageria à civilidade, acobertado por vernizes tênues de
cultura, em que o orgulho vão mantinha supremacia, dividindo as criaturas em
castas e sub castas, a expensas de preconceitos mui enganosos.
A sua mensagem de amor, no entanto,
sobrepairou além e acima de todas as conceituações que chegaram então, e a
força do seu verbo, na exemplificação tranquila quão eloquente de que se fez
expoente, abalou a pouco e pouco os falsos alicerces da Terra, injetando
estrutura salutar e poderosa sobre a qual ergue, há vinte séculos, o Reino da
Plenitude.
Nunca se escutara voz que se lhe
semelhasse. Jamais se ouviu canção que transfundisse tal esperança.
Outra vez não voltaria o murmúrio
sublime de tão comovedora musicalidade.
Ninguém que fizesse o que ele faz.
Nenhuma dádiva que suplantasse a que
ele distribuiu.
Pelo tanto que é, tornou-se também o
Senhor dos Espíritos, penetrando os meandros das mentes obsidiadas e arrancando
de lá as matrizes fixas, por meio das quais os Espíritos impuros se impunham
àqueles que lhes estavam jugulados pelos débitos pesados do pretérito.
Não libertou, no entanto, os obsidiados
sem lhes impor a necessidade de renovação e paz, por meio das quais
encontrariam o lenitivo da reparação da consciência maculada pelas infrações
cometidas. Nem expulsou, desapiedadamente, os cobradores inconscientes. Antes,
entregou-os ao Pai, a Quem sempre exorava proteção, em inigualável atitude de
humildade total.
Apesar disso, os que o cercavam
fizeram-se, por diversas vezes, instrumento de obsessões temporárias, a fim de
que pudéssemos compreender, mais tarde, a nossa própria fragilidade, afastando
assim pretensões a regimes de exceção.
Enérgico ou meigo, austero ou
gentil, cônscio da sua missão, ensinou que a terapêutica mais poderosa contra
obsessões e desgraças é a do amor, pela vivência da caridade, da renúncia e da
auto sublimação.
Prevendo o futuro de dores que
chegaria mais tarde, facultou-nos o Consolador, para que todos que "nele
cressem não perecessem, mas tivessem a vida eterna."
Enquanto as luzes da cultura parecem
esmaecidas pelo sexo em desconcerto, de que se utilizam os Espíritos Infelizes
para maior comércio com os homens; pelos estupefacientes e alucinógenos em
báratro assustador, que facultam mais amplas possibilidades ao conúbio entre os
Espíritos dos dois lados da vida; pela aflição na conquista da posse, que estimula o
exercício exagerado de paixões de vário porte; pela fuga espetacular à
responsabilidade, que engendra o desrespeito e acumplicia o homem às torpes
vantagens da carne ligeira; pela desesperação do gozo de qualquer matiz, que
abre as comportas do vampirismo destruidor - o Consolador chega lucilando ao
mundo e acenando com novos métodos de paz para os que sofrem, e esses
sofredores somos quase todos nós.
Obsidiados, obsessões, obsessores!
Ei-los em toda parte, para quem os
pode identificar.
Em arremedos de gozadores, padecem
ultrizes exulcerações íntimas.
Sorrindo, têm a face em esgares.
Dominando, se revelam vencidos por
Incontáveis mazelas que brotam de dentro e se exteriorizam, mais tarde, em
feridas purulentas, nauseantes.
Mais do que nunca, a oração do
silêncio e a voz da meditação, no rumo da edificação moral, se fazem tão
necessárias!
Abrir a mente à luz e o coração ao
amor, albergando a família padecente dos homens, de que fazemos parte, é o impositivo
do Cristo para todos os que creem e, especialmente, para os espiritistas, que
possuímos os antídotos eficazes contra obsessões e obsessores, com o socorro
aos obsidiados e seus perseguidores, sob a égide de Jesus.
Obsessão
Joanna de Ângelis
por Divaldo Franco
Reformador (FEB) Outubro 1972
Nenhum comentário:
Postar um comentário