Christiano
Agarido (Ismael Gomes Braga)
Reformador
(FEB) Maio 1951
Se nos resta dívida de gratidão aos Espíritos livres que voluntariamente
se submetem ao sacrifício de mergulhar na atmosfera penosa e espessa da Terra
para nos erguer, temos que gravar indelevelmente nos corações a lembrança de
uma dama que viveu aproximadamente
de 1640 a 1663, nos tempos mais agitados da História da Inglaterra e que se
chamou, entre seus contemporâneos, Annie Owen Morgan mas entrou para a História
do Espiritismo com o pseudônimo de Katie King, cerca de duzentos anos depois
dessa encarnação aventurosa do século XVII.
Não resgatou a história do século XVII a sua existência: o pouco
que sabemos a seu respeito nos foi revelado por ela mesmo, 200 anos mais tarde,
numa série de sessões de materializações realizadas em Londres, com o máximo rigor
de fiscalização e relatadas por uma
dezena de pessoas da máxima responsabilidade social, científica e moral. Neste artiguete
mencionamos apenas alguns dados colhidos nos depoimentos das testemunhas, dignas de
toda a fé.
Nasceu na última fase do reinado de Carlos I, viveu ao tempo da
República e desencarnou aos 23 anos de idade no reinado de Carlos II daí
fixarmos aproximadamente o período de 1640 a 1663, acima, que não pode conter
erro grande, Talvez seja um pouco antes ou depois, o que pouco importa.
Foi infeliz no casamento e não gosta que se refira à sua vida
conjugal, mas tem novamente marido no mundo espiritual e é feliz nesta união
post-mortem.
É de estatura alta, esbelta, rosto longo, rica cabeleira castanha
dourada que lhe cai encaracolada
pelos ombros e vai até quase à cintura. Olhos vivos e maliciosos, tez muito alva,
movimentos fáceis e rápidos. É uma jovem de beleza fascinante e de maneiras
desenvoltas que, por vezes, tocam as raias da violência. Certa feita um assistente
lhe dirigiu uma pergunta inconveniente; a resposta foi um soco violento que ela
aplicou ao peito do indelicado e que lhe doeu muito, até depois da sessão.
Em via de regra, porém, é muito gentil, conversa muito, responde a
todas as perguntas que lhe fazem os assistentes, com exceção única quando a interrogam
pela sua vida conjugal na Terra, porque então
se enfada.
Atende a todos os pedidos, dá pedaços do vestido branco que sempre
usa a quantos lhe pedem e permite lhe cortem madeixa dos cabelos. Numa sessão
permitiu a uma dama que lhe cortasse toda a rica cabeleira, mas a reconstituiu
imediatamente, e os cachos de cabelos, caídos ao solo, desapareceram logo.
Certa noite em que sua materialização estava muito perfeita,
reclamou que a aplaudissem o que todos fizeram com uma salva de palmas e ela se
mostrou contente com a manifestação.
Permitia as mais penosas experiências. Certa vez lhe pediram
permissão para abrir todas as luzes sobre o seu corpo materializado, de modo a
fazê-lo fundir-se diante de todos. Apesar de penosa a experiência, ela
consentiu: com os braços abertos, junto a uma parede, deixou que acendessem
todas as luzes e vissem seu lindo corpo fundir-se diante de todos como se fosse
uma boneca de neve sob os raios do Sol.
A quantos lhe pediam autógrafos, escrevia longas cartas diante de
todos e as entregava.
Na intimidade, em casa de William Crookes, assentava-se ao chão com
as crianças e lhes contava interessantes histórias de suas aventuras nas Índias,
com a mais encantadora simplicidade de uma jovem do nosso mundo.
Certa vez um assistente apalpou-lhe um braço e fê-la notar que o
braço não tinha ossos.
Imediatamente corrigiu ela o defeito de materialização e lhe apresentou um
braço humano normal, com todos os ossos.
Essas manifestações se estenderam por um período de três anos e
Annie Owen Morgan, ou Katie King, explicou que sua vinda à Terra era uma penosa
missão, finda a qual seria ela promovida a uma esfera espiritual mais elevado e
não teria que submeter-se mais àquele
sacrifício.
Em 21 de Maio de 1874 terminou ela a missão e, numa sessão
patética de lágrimas de despedida, escreveu estas linhas:
"Annie Owen Morgan (conhecida por Katie King) à sua amiga
Florence Marryat Rose Cross oferece esta lembrança. Pensai em mim, 21 de Maio
de 1874.”
Entregou um ramalhete de flores com essa breve mensagem, dirigiu-se
ao gabinete para despertar a médium, Florence Cook, para quem implorou as
bênçãos de Deus e despediu-se para não mais voltar.
As notas breves deste artiguete foram colhidas no opúsculo
História das aparições de Katie King conforme os documentos ingleses forma a
segunda parte do livro Um caso de
desmaterialização parcial do corpo de um médium, edição de 1961, onde o
estudioso poderá ler com todos os pormenores essa história que marca um dos
pontos culminantes da Terceira Revelação.
Como tais fatos tem encontrado confirmações um pouco por toda a
parte, nos oitenta anos decorridos, sua força probante é inconcussa.
Vemos pelos relatos que esse espírito cumpriu uma grande missão,
prestou os mais relevantes serviços à Humanidade, se bem que não seja ele
próprio de esfera muito afastada da Terra.
Recorda-nos a vida em Nosso Lar e noutras colônias espirituais próximas
à Terra, nos belos livros de André Luiz.
A todos os admiradores de André Luiz, sugerimos um estudo atento
das oitenta e poucas páginas que nos conservam essa preciosa documentação do
século passado, e a todos os corações lembramos a gratidão que devemos a Annie
Owen Morgan.
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