Corações Vazios
por Misael
Gomes
Reformador
(FEB) Julho 1944
O Espiritismo encontra seus negadores, do
mesmo modo que o encontrava o Cristianismo nascente, nas inteligências
desenvolvidas, mas em sentimentos atrofiados. Quando o coração permanece vazio,
o progresso da compreensão se degrada para o sofisma, para as negações.
Vemos grandes inteligências consagradas a
profundos raciocínios negativos. Os mesmos fatos, que inspiram atos de sublime
heroísmo a um bom coração, deixam indiferente e frio o coração seco do
misantropo ou do pessimista.
Os mais profundos conhecedores da Lei de
Moisés, não só ficaram indiferentes à pregação de Jesus, como até se
enfureceram orgulhosamente, negando-lhe direitos a ensinar. Transformaram-se em
perseguidores do mais sublime dos seres vindos à Terra. Eram corações vazios e
tudo queriam resolver somente com o cérebro.
Ignoravam que inteligência sem amor é fogo
fátuo, é luz externa e sem vida.
Um pouco mais tarde, tornado oficial o
Cristianismo, essas mesmas inteligências de corações sem amor aceitaram
exteriormente o Cristianismo para po-lo a serviço de seus interesses inferiores
na política e na economia. Passaram a praticar, em nome do Cristo, tudo quanto
faziam antes, tudo que o Mestre Divino proibia se fizesse.
A Terceira Revelação não poderia evitar a
mesma sorte. Os fenômenos mais convincentes não acharam eco nos corações
vazios. Houve a grande oposição, a negação furiosa. Depois, entraram a formular
hipóteses negativas as mais extravagantes, desde que evitassem a doutrina de
amor ensinada pelos Enviados de Jesus.
Ainda agora, se bem mais timidamente, aparecem
essas hipóteses com o nome pomposo, de hipóteses metapsíquicas. Aceitam-se as
explicações mais absurdas, desde que se evite a verdade cristã repetida pelos
Espíritos, porque esta nos ensina acima de tudo o amor a todos os seres e isso
repugna aos corações vazios. O mais triste,
porém, é quando os corações vazios se proclamam espíritas e até se julgam
espíritas e passam a atacar de dentro de nossos próprios arraiais. A nossa
defesa torna-se quase impossível, porque a negação e a dúvida surgem em nome do
Espiritismo mesmo e não em nome dos inimigos do Espiritismo. Se estivéssemos
entregues unicamente às nossas forças, seríamos fatalmente vencidos e o
Espiritismo teria que desaparecer diante de tais trabalhos de sapa que tentam
minar nossas próprias bases.
Vemos pessoas que se proclamam espíritas e
perdem anos e anos na inglória tarefa de negar de público o valor das grandes
obras mediúnicas, como Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing, ou em fazer
oposição sistemática às instituições que mais trabalham pela divulgação da
doutrina.
São corações vazios que se deixam empolgar
pela inveja, pelo ciúme, pela sede de exibição, e não hesitam em tudo
sacrificar às suas paixões egoísticas, porque realmente não amam à doutrina,
não amam aos homens, e nada podem compreender
nem aprender fora de suas pessoas.
É penoso assistirmos a essa obra do espírito
negativo; mas é instrutivo, porque todos nós somos imperfeitos e temos
tendência de esquecer que o fundamento da vida é o amor incondicional. Tendemos
a descurar o cultivo do sentimento em benefício somente da compreensão, Sem
percebermos que a inteligência é apenas uma força
e pode ser igualmente empregada para o bem ou para o mal, como todas as outras
forças. O pensamento sem o controle rigoroso do sentimento, é talvez a mais
perigosa de todas as forças da Natureza, porque é uma força indomável que está
sempre criando ou sempre demolindo, sem nunca poder parar.
O Inferno ou o Céu são produtos inconscientes
do pensamento criador do homem. Quando essa força é governada e dirigida pelo
amor, ela é capaz de maravilhas divinas. Quando, porém, se envereda pelo abismo
negro do ódio e
das
negações cria monstruosidades diabólicas.
Por mercê de Deus, o Espiritismo não está
entregue exclusivamente aos homens e não será possível aos corações vazios
anulá-lo com seus sofismas. Temos prova disso na orientação superior que os
Espíritos vão dando à nova literatura mediúnica. Em vez de obras sujeitas à
crítica demolidora dos corações vazios, enveredam-se os nossos maiores pelos
domínios da arte e nos dão, com aparência externa de obras de ficção, os mais
sublimes ensinamentos em poemas, contos, novelas, romances, biografias.
Tornam-se assim inacessíveis às ondas do pessimismo. Ninguém deixa de ler um
belo romance, porque Fulano ou Sicrano ataca as obras mediúnicas e procura
desmoralizar a mediunidade; não; não nos interessa saber a identidade do
Espírito que escreveu "Renúncia"; podemos até atribuí-la ao médium,
se quisermos, porque o nosso interesse está na obra mesma e não em seu autor.
Assim também os outros romances, os poemas, os sonetos. Como vai ser bela a
nova edição
de "Parnaso do Além Túmulo"! Já lhe vimos as provas tipográficas e
vamos revelar aqui ao estudioso um segredo.
O mais íntimo dos nossos amigos, um dos
melhores espíritas que conhecemos e com o qual tivemos relações diárias durante
mais de trinta anos, era um fervoroso amigo de "Parnaso do Além
Túmulo". Poeta também, grande conhecedor da poesia do Brasil e de
Portugal, aquela Academia de poetas mortos a conviverem com seu apaixonado
coração através das páginas do "Parnaso", era sua grande alegria, sua
prova palpável e viva da eternidade do ser. Nunca, porém, teria ele pensado, é
evidente, que entraria também para aquela galeria de artistas, de almas irmãs
da sua, como nunca pensou em apresentar-se candidato a uma cadeira na Academia
Brasileira de Letras. Pois bem, esse grande amigo do "Parnaso", na
próxima edição, será
o primeiro poeta que aparecerá, graças às primeiras letras de seu nome AB.
Chama-se Abel Gomes e os nomes vêm em ordem alfabética.
Abel Gomes escreveu depois de morto algumas
poesias despretensiosas, e dentre elas apareceu um soneto que agradou ao Editor
do livro e foi Incluído na 4ª edição.
Pois bem, não há coração vazio com sua crítica
negativa que nos prive de interesse pelas obras de arte como já é agora e mais
será no futuro essa coleção de poemas reunidos com o título de "Parnaso do
Além Túmulo".
E essas obras de arte irão preparando nosso
sentimento para uma vida melhor na Terra ou no Espaço.
Os corações hoje vazios, igualmente, um dia
sentirão a ventura de amar e tornarem-se poetas, deixando no esquecimento seus
sofismas negativos e passando a viver a vida real. Perderão o personalismo que
os escraviza; romperão o círculo de ferro que os isola; perceberão que uma
simples menina analfabeta, mas cheia de amor,
é infinitamente maior do que Artur Schopenhauer, Frederico Nietzsche, Tomaz
Torquemada, René Sudre e todos os outros negativos da História.
Não há corações eternamente vazios, porque Jesus
não deixará perder-se nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou. Mais cedo ou
mais tarde, todos compreenderão a sublimidade do amor e começarão a viver de
novo.
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