O capítulo
verde de “O Livro de Galaor"
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto 1951
Retirei-me
silenciosamente para o interior da cabana situada no cimo do monte Gahrnaz,
quando as estrelas começaram a pintalgar o céu de pequeninos focos luminosos. Sozinho,
mal sentindo o vento débil que balançava os galhos das árvores esguias,
predispunha-me ao sono. Vi, entretanto, sobre a tosca mesa, aberto, "O
Livro de Galaor". Pus-me a ler, então, o Capítulo Verde, pois cada um
deles apresenta cor diferente.
*
"Não sejas como o viajante imprevidente, que se aventura pela
estrada em noite escura, sem premunir-se da lanterna orientadora. Há homens que
pretendem desvendar os segredos da existência humana sem percorrer os
ensinamentos preliminares. Querem alcançar o cume da montanha sem as
dificuldades da encosta rude. Almejam conhecer o fim, sem se deterem nos esclarecimentos
do princípio. Verdadeiramente são movidos apenas por simples curiosidade.”
*
"Pensa, amigo, no dia de amanhã, Dispõe as tuas ferramentas
em ordem, depois de limpá-las convenientemente, para que, ao amanhecer, possas
demandar o campo e recomeçar a faina que te espera. Não te esqueças, todavia,
de que a hora perdida jamais será recuperada.
Não te descuides da terra generosa e sensível, Quando lhe rasgares
as entranhas, para fecundá-la, meu amigo, ela sufocará as dores e te abençoará
a semeadura, porquanto, assim, terá nova oportunidade de satisfazer os
imperativos divinos. Dá-lhe a assistência indispensável, cerca-a do carinho é
da solicitude com que um pai extremoso atende ao filho querido."
*
"À noite, o corpo cansado, mas o espírito contente pela consciência
do dever cumprido, não te acostes ao travesseiro sem render graças ao Senhor por
te haver dado força, coragem e fé. Longe do arado com que lavras a terra, deves
lembrar-te do arado com que deves lavrar o espírito: O Evangelho. Ele precisa
estar sempre em ação no trabalho de aprimoramento moral. Abre na tua
inteligência a, sobretudo, no teu sentimento, os sulcos que receberão as
sementes da tua evolução espiritual. Isto feito, o Grande Semeador aproveitará
o resultado do teu esforço para fazer a concessão do prêmio que mereceres.”
*
"Põe a mão na charrua e retoma o trabalho. Não te deixes
perturbar por coisa alguma. Mãos firmes e decisão inquebrantável. Ao cabo da
lida fatigante, sentirás a vida mais amável e mais bela, a despeito das
tempestades e das dores que marcam o itinerário humano. Vai, amigo. Vai. O
Evangelho deve ser o teu arado no trabalho do espírito. Segue a trilha do bem e
não abandones a charrua bendita enquanto o trabalho de cada dia não estiver
concluído. Sentirás, no fim, a alegria glorificadora da colheita abundante."
*
Depois da leitura do Capítulo Verde de “O Livro de Galaor",
minha alma parecia em festas. Busquei o repouso que o cansaço aconselhava e
encontrei a bênção do Senhor no sono tranquilo que dormi.
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