Comunicação é uma das palavras
mágicas do nosso tempo. Outra expressão de uso e abuso corrente é diálogo. É
fato que os homens buscam entendimento, por meio da comunicação e do diálogo.
Há também os que se desentendem empregando esses mesmos recursos e métodos.
Isto significa que a comunicação em si mesma é neutra e tanto pode ser
utilizada para harmonizar as pessoas como para semear a discórdia.
Também os espíritos se interessam
muito pelo problema da comunicação, pois a comunicabilidade entre seres
encarnados e desencarnados é um dos fundamentos da doutrina que professamos.
Na seara do trabalho espírita, a
comunicação se desdobra nos dois planos em que a própria vida se manifesta.
Procuramos entendimento e diálogo com os nossos companheiros desencarnados,
habitantes do mundo espiritual, ao mesmo tempo em que nos empenhamos em
transmitir aos nossos companheiros encarnados o conhecimento que vamos adquirindo
no estudo da doutrina e no intercâmbio com aqueles que já passaram adiante,
através da experiência renovadora da morte.
Esse diálogo, entre os dois mundos
paralelos em que vivemos, se realiza através do mecanismo da mediunidade, ainda
tão pouco estudado.
Dentre as contribuições sérias
existentes hoje sobre a mediunidade, encontram-se na literatura espírita as
principais, sendo de destacar-se, em primeiro lugar, o tratado básico escrito
por Allan Kardec sob o título de "O Livro dos Médiuns". Há outras
obras como "Recherches sur Ia Mediumnité", do cientista francês
Gabriel Delanne, e os magníficos estudos do eminente Prof. Ernesto Bozzano.
De modo geral, no entanto, a ciência
oficial foge do assunto por inúmeras razões, compreensíveis umas, outras
inteiramente inaceitáveis.
Na verdade, o fenômeno psíquico
oferece dificuldades à pesquisa científica, particularmente à experimentação em
laboratório. Caracteriza-se aí um circulo vicioso: os cientistas não
experimentam porque não confiam nos métodos, e não criam uma nova metodologia
porque não se dispõem à pesquisa. É claro que as dificuldades não são intransponíveis
para a ciência moderna. Mas a expansão do conhecimento acerca das faculdades do
espírito humano está, em primeiro lugar, condicionada a certa timidez ou
excesso de cautela dos cientistas que desprezam esse campo de estudo tão cheio
de potencialidades, ou o temem, pelo receio do ridículo e do desprestígio
profissional. Em segundo lugar, há as dificuldades intrínsecas do processo. A
mediunidade é de si mesma uma faculdade delicada e complexa. O Espírito
manifestante, por sua vez, nem sempre está disposto a submeter-se docilmente a
toda e qualquer exigência do experimentador, pois muitos destes, embora bem equipados
intelectualmente, continuam presos aos seus preconceitos e aos seus dogmas
científicos.
E por isso, continuamos a ignorar
aspectos interessantíssimos da vida que nos cerca. Como funciona, por exemplo,
o fenômeno da chamada escrita direta? Muito pouco se sabe, porque há cerca de
um século não se estuda o problema de maneira ordenada e conclusiva. No
entanto, antes mesmo do advento do Espiritismo codificado por Allan Kardec, o
insuspeitíssimo Barão de Guldenstubbé, um nobre francês, realizou trabalho
notável nesse sentido,
colhendo inúmeros autógrafos espirituais, alguns dos quais continham, em
línguas mortas, mensagens coerentes e de variada extensão. As experiências do
Barão - adversário declarado da doutrina de Kardec -- estão resumidas num livro
hoje raro e esgotado, a que foi dado o título inequívoco de "La Réalité
des Esprits", admitindo positivamente a realidade dos Espíritos, a reencarnação
e a faculdade de se comunicarem com os "vivos" através de várias
maneiras.
Em suma, não tem faltado aos Espíritos
a iniciativa do diálogo através de inúmeras formas de comunicação; os
preconceitos humanos é que impediram até aqui a universalização do conhecimento
de uma gritante realidade espiritual.
(Ext. do "Diário de Noticiais”
de 30-11-69.)
Comunicação
e Diálogo
por Hermínio
C. Miranda
Reformador (FEB) Junho 1970
Nenhum comentário:
Postar um comentário