É preciso não confundir instrução
com educação. A educação abrange a instrução,
mas
pode haver instrução desacompanhada de educação.
A instrução relaciona-se com o
intelecto; a educação com o caráter. Instruir é ilustrar
a mente com certa soma de conhecimentos sobre um ou vários ramos científicos.
Educar é desenvolver os poderes do espírito, não só na aquisição do saber,
porém especialmente na formação e consolidação do caráter.
O intelectualismo não supre o cultivo
dos sentimentos. “Não basta ter coração, é
preciso ter bom coração", disse Hilário Ribeiro, o educador emérito cuja
extraordinária competência pedagógica estava na altura da modéstia e da
simplicidade que exornavam seu formoso espírito.
Razão e coração devem marchar unidos
na obra do aperfeiçoamento do espírito, pois
em tal importa o senso da vida. Descurar a aprendizagem da virtude deixando-se
levar pelos deslumbramentos da inteligência é erro de funestas consequências.
Convém acentuar aqui que a consciência
religiosa corresponde, neste particular, ao
fator principal na formação dos caracteres. Já de propósito usamos a expressão -
consciência religiosa - ao invés de religião para que se não confundam ideias
distintas entre si. Religiões há muitas mas a consciência religiosa é uma só.
Por tal designação entendemos o império interior da moral pura, universal e imutável
conforme foi ensinada e exemplificada por Jesus Cristo. A consciência religiosa
importa em um modo de ser, e não em um modo de crer.
É possível que nos objetem: mas, a
moral cristã é tão velha, e nada tem produzido de eficiente na reforma dos
costumes. Retrucaremos: não pode ser velho aquilo que não foi usado. A moral
cristã é em sua pureza e em sua essência, desconhecida da humanidade. Sua
atuação ainda não se fez sentir ostensivamente. O que as religiões tem
espalhado como sendo o Cristianismo é a sua contrafação. Da sanção dessa moral
é que está dependendo a felicidade humana sob todos os aspectos.
O intelectualismo, repetimos, não resolve
os grandes problemas sociais que estão convulsionando o mundo. O fracasso da
Liga das Nações é um exemplo frisante; e, como esse, muitos outros estão
patentes para os que tem olhos de ver.
O que veio fazer no mundo a
Sabedoria divina encarnada em Jesus-Cristo? pergunta o grande Vieira. Em
seguida responde magistralmente: “A Sabedoria divina, descendo do céu à Terra a
ser Mestre dos homens, a nova cadeira que instituiu nesta grande universidade
do mundo e a ciência que professou foi só ensinar a ser bom e nenhuma outra. A
retórica deixou-a aos Túlios e aos Demóstenes; a filosofia aos Platões e aos
Aristóteles; as matemáticas aos Ptolomeus e aos Euclides; a medicina, aos
Apolos e aos Esculápios; a jurisprudência, aos Solões e aos Licurgos; e para si
tomou só a ciência de formar caracteres impolutos e corações amoráveis.
"Em
todas as ciências é certo que há muitos erros dos quais nasce a diferença de opiniões; em
todas as ciências há muitas ignorâncias, as quais confessam todos os maiores
letrados que não compreendem nem alcançam. Pois se veio a Sabedoria divina ao mundo,
por que não alumiou estes erros, por que não tirou estas ignorâncias? Porque
errar ou acertar em todas as matérias, sabê-las ou não as saber, pouca coisa
importa; o que só importa é saber salvar, o que só importa é acertar a ser bom:
e isto é o que nos veio ensinar o Filho de Deus. Nem ensinou aos filósofos a
composição dos contínuos nem aos geômetras a quadratura do círculo, nem aos mareantes
a altura de leste a oeste, nem aos químicos o descobrimento da pedra filosofal,
nem aos médicos as virtudes das ervas, das plantas e dos mesmos elementos; nem
aos astrólogos e astrônomos o curso, a grandeza, o número e as influências dos astros: só nos ensinou
a ser humildes, só nos ensinou a ser castos, só nos ensinou a fugir da
avareza, só nos ensinou a perdoar as injúrias, só nos ensinou a sofrer
perseguições pela causa da justiça, só nos ensinou a chorar e aborrecer o
pecado e armar e exercitar a virtude; porque estas são as regras e as conclusões,
estes os preceitos e os teoremas por onde se aprende a ser bom, a ser justo,
que é a ciência que professou e veio ensinar o Filho de Deus."
É de semelhante espécie de ensino
que precisam os homens de nossos dias. Todos os
problemas do momento atual resumem-se em uma questão de caráter: só pela educação
podem ser solucionados.
Demasiada importância se liga às
várias modalidades do saber, descurando-se o principal,
que é a ciência do bem.
Os pais geralmente preocupam-se com
a carreira que os filhos deverão seguir,
deixando-se
impressionar pelo brilho e pelo resultado utilitário que de tais carreiras possam
advir. No entanto, deixam de atentar para a questão fundamental da vida que se
resolve em criar e consolidar o caráter. Antes de tudo, e acima de tudo os pais
devem curar da educação moral dos filhos, relegando às inclinações e vocações
de cada um a escolha da profissão, como acessório.
É oportuno fechar estes comentos
recordando as sábias palavras que Jesus dirigiu à Marta: “Marta, Marta, estás muito ansiosa e te preocupas com muitas coisas;
entretanto poucas são necessárias, ou antes uma só; pois Maria escolheu a boa
parte, que lhe não será tirada."
(Ext. do "Reformador" de 10-12-1927, páginas
227-228-229.)
Instrução e Educação
Vinicius
Reformador (FEB) Setembro 1972
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