O
Caminho do Céu
Martins Peralva
Não depende do que ternos, mas do que somos e do que fazemos.
Estava
Jesus sentado no Templo, junto à arca do tesouro, quando uma pobre viúva se aproximou e, humildemente, colocou, duas
pequenas moedas no gazofilácio.
O
episódio teria passado despercebido, se o Mestre não tivesse despertado a
curiosidade dos discípulos com a afirmativa de que aquela dádiva fora bem maior
do que a de todos quantos, afortunados do mundo, ali haviam deixado moedas de
grande valor.
A
surpresa dos amados companheiros do Mestre foi, sem dúvida, muito grande.
Que
estranha aritmética era aquela do Senhor?
Num
átimo raciocinavam e, mentalmente, confabulavam entre si: Como era possível que
as grandes somas e caríssimas joias depositadas por comerciantes opulentos
valessem menos do que duas insignificantes moedas deixadas por aquela mulher
anônima, mal vestida, trazendo nos ombros um xale desbotado e roto?
Olhos
arregalados, como ocorria toda vez que Jesus ministrava ensinamento oculto no
simbolismo das imagens, os discípulos esperavam...
Jesus
não compareceu ao mundo para discutir, nem para impor suas ideias.
O
seu amoroso Espírito desceu à sombria paisagem terrestre para levantar o ânimo
dos necessitados e oprimidos, fazendo-os sentir e compreender que a conquista
dos bens celestes, dos bens do Infinito, não se condicionará, jamais, à posse de
tesouros e bens perecíveis.
Se
é verdade que os bens da Terra, aplicados a benefício de todos, asseguram
créditos espirituais aos que deles se despojam, generosa e fraternalmente, é
imprescindível, contudo, que a referência do Cristo, contida no episódio do
óbolo da viúva pobre, seja colocada em seus justos
termos.
Toda
dádiva que procede do coração tem mérito espiritual.
O
rico bondoso que veste o necessitado e alimenta o faminto equipara-se, sem
dúvida, ao pobre que estende a misericórdia da palavra e do estímulo, da fé e
da esperança, aos companheiros de jornada.
Quem
dá o que pode merece o salário da paz - asseguram, com sabedoria, os
Instrutores Espirituais.
A
viúva da anotação evangélica não possuía tesouros materiais, porém tinha a riqueza
da fé e da sinceridade.
As
duas moedas colocadas no gazofilácio não desceram sozinhas ao cofre do
tradicional Templo da velha Jerusalém: com elas foram o coração e a renúncia da
pobre mulher...
Foi
uma dádiva que, efetivamente, saiu do coração.
Jesus
assim a viu, assim a sentiu, através da vibração amorosa, do agradável
magnetismo de que se aureolava sua fronte enrugada de mulher possivelmente
sofredora.
Não
devemos nem podemos aguardar as moedas de ouro do mundo para que possamos
ajudar aos desafortunados. De bolsos vazios e trajes humildes, podemos socorrer
em nome da fraternidade cristã.
Quem
contestará esta afirmativa?
O
episódio do Templo é mensagem de consolação, cântico de esperança, poema de
amor fraterno, desvelando concepções estranhamente sublimes.
A
lição do óbolo da viúva revela, para os que tiverem olhos de ver, que o caminho
do céu não depende do que temos, mas do que somos e do que fazemos.
Recordar
esta magnífica lição é manter acesa, em nossa alma, a convicção de que só o Bem
nos elevará, um dia, aos planos gloriosos da Imortalidade.
Reformador
(FEB) Março 1959
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