Idolatria
Editorial
Reformador
(FEB) Julho 1972
Ao
Recordar os fastos da história religiosa da humanidade, em particular aqueles
que antecederam o advento do Cristianismo, alguns há que causam, hoje,
verdadeiros arrepios, tal a crueza com que retratam o grau de infidelidade e de
embrutecimento dos homens diante do Criador.
Moisés,
que vinha conduzindo o “povo de Israel” no rumo da Terra Prometida,
sustentava-o na penosa marcha mediante as mais exuberantes demonstrações do
desvelo e da proteção de Jeová, conseguindo, com isso, manter aquelas criaturas
coesas em torno da fé em um Deus único e transcendente. Um dia, aquele condutor
seguro e severo teve de abandonar, por algum tempo, o comando imediato de sua
gente, a fim de atender ao chamado de seu Senhor, para, no alto do Sinai,
receber as tábuas da Lei. Bastou que demorasse mais do que se esperava para que
o povo, concentrado na planície, perdesse breve a noção do amparo celestial que
o bafejava, descendo célere para as mais primitivas e grosseiras formas de
idolatria. O bezerro de ouro foi erigido como objeto de adoração e reverência, ocupando nos corações e nas
mentes o lugar reservado ao Pai e Criador.
A
energia com que Moisés destruiu o ídolo e objurgou o povo afigura-se, hoje, até
pequena diante da enormidade do sacrilégio cometido. Mas, tal entendimento só é
possível, agora, graças às noções espíritas, que tornaram inadmissível a
aberrante transferência dos atributos da Divindade para objetos fabricados pelo
próprio homem.
Contudo,
nem todos conseguem banir da mente a inclinação para a idolatria... Já não se
adoram objetos, é verdade, mas não faltam os que se entregam, insensivelmente,
ao culto de personalidades. Mesmo nos arraiais do Espiritismo, onde são
recebidas enxurradas de lições convocando o adepto à adoração exclusiva do Pai,
há sempre quem dê guarida a devoções particulares, que já ameaçam transformar
os vultos visados em disfarçados “santos”.
Um
exame isento de quaisquer entraves mostrará que bem poucas instituições não se
afanam a “comemorar” as datas referentes à reencarnação e desencarnação de
algumas figuras preeminentes da Doutrina. Nada falta para que passem a constar
dum calendário litúrgico. Bezerra de Menezes, por exemplo, já é alvo de uma
devoção muito disseminada. Em qualquer recanto se encontram fotografias ou
efígies do grande trabalhador, entronizadas e veneradas com requintes ritualísticos.
A admiração a ele tributada vai assumindo o caráter de um “bezerrismo”
destoante dos princípios da Doutrina Espírita. Não tenhamos dúvida de que ele é o primeiro a
incomodar-se com a coisa ...
Alguns
centros já se condicionaram ao cúmulo de florirem o retrato de seus patronos.
Há quem vá mais longe, colocando uma luzinha embaixo e, até, lamparina em
azeite. Ora, o Espiritismo veio exatamente para refugar essas frivolidades que,
sem serem denunciadas a tempo, transformarão a Terceira Revelação em mais uma
religião formal e exterior. E era esse, aliás, o maior temor de Kardec.
Impõe-se, pois, redobrado cuidado.
O
bezerro de ouro é um fantasma que a história guarda à guisa de advertência
permanente. Faça-se, portanto, a cirurgia inadiável, antes que o mal infeste
todo o organismo. Para os espíritas, seguindo os exemplos de Kardec e Bezerra,
somente um deve ser reverenciado e, mesmo assim, exclusivamente em sentido
espiritual: Jesus, o Mestre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário