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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Idolatria


Idolatria
Editorial
Reformador (FEB)  Julho 1972

            Ao Recordar os fastos da história religiosa da humanidade, em particular aqueles que antecederam o advento do Cristianismo, alguns há que causam, hoje, verdadeiros arrepios, tal a crueza com que retratam o grau de infidelidade e de embrutecimento dos homens diante do Criador.

            Moisés, que vinha conduzindo o “povo de Israel” no rumo da Terra Prometida, sustentava-o na penosa marcha mediante as mais exuberantes demonstrações do desvelo e da proteção de Jeová, conseguindo, com isso, manter aquelas criaturas coesas em torno da fé em um Deus único e transcendente. Um dia, aquele condutor seguro e severo teve de abandonar, por algum tempo, o comando imediato de sua gente, a fim de atender ao chamado de seu Senhor, para, no alto do Sinai, receber as tábuas da Lei. Bastou que demorasse mais do que se esperava para que o povo, concentrado na planície, perdesse breve a noção do amparo celestial que o bafejava, descendo célere para as mais primitivas e grosseiras formas de idolatria. O bezerro de ouro foi erigido como objeto de adoração e reverência, ocupando nos corações e nas mentes o lugar reservado ao Pai e Criador.

            A energia com que Moisés destruiu o ídolo e objurgou o povo afigura-se, hoje, até pequena diante da enormidade do sacrilégio cometido. Mas, tal entendimento só é possível, agora, graças às noções espíritas, que tornaram inadmissível a aberrante transferência dos atributos da Divindade para objetos fabricados pelo próprio homem.

            Contudo, nem todos conseguem banir da mente a inclinação para a idolatria... Já não se adoram objetos, é verdade, mas não faltam os que se entregam, insensivelmente, ao culto de personalidades. Mesmo nos arraiais do Espiritismo, onde são recebidas enxurradas de lições convocando o adepto à adoração exclusiva do Pai, há sempre quem dê guarida a devoções particulares, que já ameaçam transformar os vultos visados em disfarçados “santos”.

            Um exame isento de quaisquer entraves mostrará que bem poucas instituições não se afanam a “comemorar” as datas referentes à reencarnação e desencarnação de algumas figuras preeminentes da Doutrina. Nada falta para que passem a constar dum calendário litúrgico. Bezerra de Menezes, por exemplo, já é alvo de uma devoção muito disseminada. Em qualquer recanto se encontram fotografias ou efígies do grande trabalhador, entronizadas e veneradas com requintes ritualísticos. A admiração a ele tributada vai assumindo o caráter de um “bezerrismo” destoante dos princípios da Doutrina Espírita. Não tenhamos dúvida de que ele é o primeiro a incomodar-se com a coisa ...

            Alguns centros já se condicionaram ao cúmulo de florirem o retrato de seus patronos. Há quem vá mais longe, colocando uma luzinha embaixo e, até, lamparina em azeite. Ora, o Espiritismo veio exatamente para refugar essas frivolidades que, sem serem denunciadas a tempo, transformarão a Terceira Revelação em mais uma religião formal e exterior. E era esse, aliás, o maior temor de Kardec. Impõe-se, pois, redobrado cuidado.

            O bezerro de ouro é um fantasma que a história guarda à guisa de advertência permanente. Faça-se, portanto, a cirurgia inadiável, antes que o mal infeste todo o organismo. Para os espíritas, seguindo os exemplos de Kardec e Bezerra, somente um deve ser reverenciado e, mesmo assim, exclusivamente em sentido espiritual: Jesus, o Mestre.



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