40a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob
os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Inocêncio II, papa
O médium vê um homem
de cabelos brancos, penteados para cima
e caídos em cachos sobre os ombros;
cerca-o uma luz
azulada, brilhante, tendendo para o branco,
contornada de focos verdes e solferinos.
O espirito, que
traja vestes escuras,
tem sobre os ombros uma pelerine de pelúcia
branca e na
cabeça a tiara.
Sou agora mais feliz que outrora.
Tenho hoje mais lucidez e
esclarecimentos sobre as verdades eternas, sublimes, que só aos espíritos que
alcançam o perdão e a misericórdia divinos podem ser reveladas e só a ele, é
permitido revelar homens de boa vontade.
Aqui estou, diante de Deus, e ao
lado dos homens para lhes dar a conhecer um bocado dessas grandes verdades,
que, graças aos sacrifícios que venho fazendo através dos tempos, me foram
também reveladas.
De todas as verdades até hoje
patenteadas aos homens, nenhuma possui o fulgor e a grandeza daquela que saiu
dos lábios, de Jesus – o maior e o único revelador que até agora não sofreu
contestação que pudesse abalar os profundos alicerces da sua sublime doutrina.
Jesus semeou, lançou na Terra o gérmen
dessa grande árvore, que mais tarde havia de crescer, florir e frutificar. Ele
lançou e regou com o seu sangue a semente cujo desenvolvimento no seio da Terra
outros incumbir-se-iam de apressar, cujo desabrochar em nova
planta seria acompanhado pelos seus discípulos, que velariam dia e noite,
cercando o novo vegetal de carinhos e cuidados, vigiando-o para que os raios do
sol não crestassem a planta e os ventos e as rajadas, não a derrubassem. A
esses discípulos deu o Mestre inteligência lúcida, espírito atilado e energia
moral, derramando sobre muitos deles os eflúvios da Divina Graça; a alguns
dispensou o Mestre cuidados especiais revestindo-os dos atributos da
santidade.
Muitos desses discípulos cumpriram
as ordens do Mestre, velando com interesse e amor junto da nova planta que ele
lançara na Terra ainda em semente, e chegaram a influir no seu crescimento,
conduzindo-a ao ponto em que se acha - simples arbusto. Outros, porém, e
na maior parte, daqueles a cuja guarda tinha ela sido entregue, foram pouco zelosos,
conservaram-se desatentos no cumprimento do dever, levando alguns a desídia ao
ponto de abandona-la, deixando-a exposta aos rigores dos verões, à inclemência
das geadas, à mercê dos furacões, à fúria das tempestades. E assim, a planta,
que devia crescer, robustecer o caule, copar, florir, produzir belos e doces
frutos - estiolou, atrofiou-se, irrompeu do seio da Terra raquítica, mirrada e
de simples arbusto até hoje não passou.
A culpa desse estiolamento, dessa
falta de viço que a planta apresenta, é daqueles que foram chamados a cultiva-la;
cabe inteira responsabilidade aos maus cultivadores, aos imprevidentes
agricultores, que não compreendendo a necessidade do novo vegetal, se
esqueceram de que o que brota da terra precisa dos cuidados e da assistência
constante do homem, da vigilância e atenção daquele que trabalha na seara e que
jamais deverá abandona-la, afastar-se do que foi confiado à sua guarda,
entregue aos seus cuidados.
Esqueceram-se muitos dos discípulos
das palavras do Mestre "Deveis orar e vigiar", não se lembraram os
cultivadores da Seara Bendita que as seduções e os encantos da vida material, cheia
de atrativos e promessas vãs, haviam de persegui-los, a eles de preferencia, por
se acharem incumbidos de santa e elevada missão, e que os espíritos das trevas
haviam de tenta-los, procurando desviar-lhes a atenção daquilo que devia
constituir o objeto da sua única preocupação na vida - velar pelo crescimento,
vigor e pujança da árvore plantada por Jesus. Olvidaram-se os continuadores da
obra de Jesus Cristo de orar e vigiar, como recomendara o Mestre, e dai o quase
aniquilamento dessa formosa planta, a falta de vigor e o enfraquecimento do que
viera para crescer e ramificar-se, estender-se, alastrar-se pelo mundo inteiro.
É devido a esse descuido, a essa
falta de zelo e cuidado da parte dos grandes pastores. que hoje a doutrina de
Jesus está em grande parte esquecida, aviltada, adulterada, profanada,
desmoralizada.
São os papas os causadores dessa desordem
moral, da invasão da impiedade e do ceticismo nas consciências cristãs, desse
quase eclipse em que se acha o Cristianismo. E quando digo que são os papas os
culpados, os responsáveis pela balburdia religiosa e filosófica que
reina na Terra, incluo-me em primeiro lugar, proclamando-me como um dos mais
culpados, por haver descurado, relaxado o cumprimento do meu dever sacerdotal.
Não fujo às responsabilidades que pesam sobre o meu pontificado; não recuarei
em denunciar-me perante Deus, que me ouve e os cristãos, que me leem - criminoso
e responsável pelos desmandos, pela anarquia moral que avassala, neste momento,
o mundo cristão.
Fui papa desidioso, pouco
escrupuloso no que diz respeito à fé, pouco zeloso no cumprimento dos seus
deveres espirituais e na defesa dos interesses de ordem moral que constituíam o
grande patrimônio que fora legado à cristandade pelos protomártires da fé
cristã. Esqueci os deveres sagrados para ocupar-me das coisas mundanas, transitórias,
fugazes, efêmeras e pueris. Preocupei-me com a política, disputei fama de
politico notável, sacrificando, por isso, interesses religiosos a interesses de
ordem política, subalternos e até inconfessáveis. Não compreendi bem o valor e
a grandeza da minha missão como chefe da Igreja Cristã na Terra, não medi a
extensão das consequências dos erros que pratiquei, dos abusos que cometi, das
fraquezas de que dei provas públicas.
Fui um pontífice sem a devida
compostura moral, que deve ser o principal atributo de que precisa ornar-se
todo o sacerdote compenetrado do seu papel entre os homens, cônscio da
delicadeza e importância da sua espinhosa missão de pastor de almas. Não tive
escrúpulos em aceitar adesões de elementos malsãos, que me vinham hipotecar a
sua fidelidade e o seu incondicional apoio, contando com a minha proverbial
tolerância para tudo que dizia respeito a interesses políticos, ainda mesmo
quando esses interesses vinham preterir outros de ordem moral,
elevada e divina. Jamais fiz seleção dos elementos que congregava em torno da Cúria
Romana, jamais atendi aos interesses superiores da religião e da fé cristã, que
mais de uma vez foram sacrificadas à política e às ambições profanas, à cobiça
e às paixões heréticas.
Sacrifiquei o meu nome e a honra do
meu pontificado, consentindo profanações e violações do direito canônico, o
abastardamento e adulteração dos textos sagrados, para servir a amigos, que
mais tarde se valeram desses atos de fraqueza praticados pelo papa, para feri-lo
de morte, denunciando-o como falsário e desnaturador das coisas sagradas.
Abusei algumas vezes do meu prestígio político para usurpar direitos, confiscar
bens, violar o sossego e a integridade do lar dos adversários, lançando anátemas
e maldições sobre os que não se conformavam as minhas ideias e atos de pura tirania
moral. Cassei honras que haviam sido conferidas a velhos servidores, por terem
eles se manifestado contrárias à minha ação, quer politica, quer pontifical.
Aproveitei-me das dedicações ele que dispunha, para comprometer amigos
abnegados defensores da fé e da honra da religião de Jesus Cristo. Já vos disse
bastante, o suficiente para dar-vos uma ideia da minha culpabilidade, das
enormes responsabilidades que pesam sobre o meu reinado pontifical. Podeis já,
diante da confissão que acabo, de fazer, condenar-me ou absolver-me no tribunal
da vossa consciência, para o qual
apelo neste momento, esperando da vossa bondade, amor e caridade, o perdão para
as minhas faltas, para os erros que cometi e que, em parte, são a causa de
muitos dos erros que praticais também aqui na Terra.
-continua-
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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo –
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Inocêncio II, papa
Deus me concedeu a graça de reparar
essas faltas encarnando-me sucessivamente, a fim de expurgar o meu espirito das
imperfeições e impurezas de que se achava contaminado. Já voltei à Terra quatro
vezes, depois de haver reinado sobre a cristandade. Nessas existências, das quais
três foram humilíssimas, consegui depurar, em grande parte, o meu espírito, e
hoje gozo já de alguma graça, tenho um pouco de luz e, por isso, posso falar em
nome de Deus, dizendo-vos, o seguinte:
- Deus não é o que ensinam aqui, a
Sua misericórdia nada se parece com a que vos pintam constantemente nos
templos, do alto dos púlpitos e das catedrais, os pastores de todos os credos
religiosos. Os ensinos que vos estão sendo dados são falsos, são muitos deles
pura invenção dos homens, que assim procedem para poder gozar a vida material,
dominando e escravizando as consciências puras dos povos. Viveis iludidos no
que diz respeito à matéria religiosa, à fé cristã, aos deveres e obrigações das
criaturas para com o seu Criador, às penas e
recompensas eternas, ao que se passa na vida espiritual, que é completa e
absolutamente diverso do que vos ensinam na Terra. A ideia que fazeis do
destino da alma, após a morte, é a mais errônea e absurda que se pode imaginar!
A concepção que tendes da justiça de
Deus é a mais imperfeita e inverossímil possível! Acreditais no inferno, no
diabo e no céu, segundo a crença católica! Cometeis um grande e gravíssimo erro
aceitando essa crença; ofendeis e insultais a infinita bondade de Deus,
admitindo a existência de tais coisas, ensinando essas monstruosidades aos
vossos filhos. Deus é um pai infinitamente bom, infinitamente misericordioso,
infinitamente justo, e a prova de que ele possui esses extraordinários
predicados, esses sublimes atributos, é a minha presença entre vós - eu, o mais
culpado dos papas, aqui estou, feliz, radiante, alegre, exultando de prazer, no
momento em que me comunico convosco. Se Deus fosse o que dizem aqui no vosso mundo,
a estas horas, o espírito do papa Inocêncio II, estaria suportando os horrores
do inferno, de onde jamais sairia, onde ficaria para toda a eternidade! Mas,
isso seria a negação da infinita bondade de Deus e da Sua infinita misericórdia,
da Sua infinita sabedoria e do Seu infinito amor!
Sofri, é verdade; padeci, ora no
espaço, ora na Terra, mas o inferno estava na minha própria consciência: eram
os remorsos, as tristes recordações, as lúgubres reminiscências, as tétricas aparições
daqueles aos quais eu fizera sofrer, era a representação constante dos meus
erros a desfilarem diante de mim; era a voz da minha consciência a acusar-me a
todo instante, chamando-me de falsário, prevaricador, mal sacerdote, falso
crente, impiedoso papa, desidioso pontífice. Ai tendes o inferno onde esteve o
papa Inocêncio II. O céu, onde ele hoje desfruta a paz e a felicidade eternas,
é essa mesma consciência aliviada, expurgada, limpa, iluminada pela Graça
Divina; é a razão esclarecida, a lucidez da inteligência, a preocupação
constante do bem, da verdade, da moral e da caridade pura, desinteressada,
inspirada nos ensinamentos de Jesus; é a paz da consciência e a satisfação de haver
cumprido o seu dever, pagando o que devia, sofrendo o que sofrer aos outros, passando
pela prova - "Quem com ferro ferir, com ferro será ferido". Eis, meus
amigos e meus irmãos, o meu céu, eis a minha glória e a minha felicidade!
Que vós outros possais vos conduzir
de modo a evitar essas duras provações por que passou o espirito do papa Inocêncio
II - são os desejos e os ardentes anelos ele quem se confessa, desde já, agradecido
pelo perdão que ides conceder-lhe, e que carinhosamente se despede de vós,
repetindo as sábias palavras de Jesus: "Deveis orar e vigiar.”
Adeus!
Inocêncio II, papa
Março de I915
Informações Complementares
Foi
papa de 14 de fevereiro de 1130 até 24 de Setembro de 1143.
Estabeleceu
um cânon relativo ao que viviam de emprestar dinheiro a juros como se segue:
"Cânon 18 - Condenamos, ademais, aquela detestável e
ignominiosa rapacidade insaciável dos prestamistas - (usurários, emprestadores)
- repudiada pelas leis humanas e divinas, por meio das Escrituras no Antigo e
no Novo Testamento, e separamos de todo consolo da Igreja, mandando que nenhum
Arcebispo, nenhum Bispo, ou Abade de qualquer ordem, quem quer que seja na
ordem ou no clero, se atreva a receber aos usurários, senão com suma cautela,
antes bem, em toda a sua vida sejam estes considerados como infames, e se não
se arrependem, sejam privados de sepultura eclesiástica"
(Inocêncio II, II Concílio de
Latrão, Ano: 1139. Cânon 18, Denzinger, 365).
Fonte: Wikipedia.
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