sábado, 24 de agosto de 2013

'O Caminho do Céu'



O Caminho do Céu
Martins Peralva


            Não depende do que ternos, mas do que somos e do que fazemos.

            Estava Jesus sentado no Templo, junto à arca do tesouro, quando uma pobre viúva se aproximou e, humildemente, colocou, duas pequenas moedas no gazofilácio.

            O episódio teria passado despercebido, se o Mestre não tivesse despertado a curiosidade dos discípulos com a afirmativa de que aquela dádiva fora bem maior do que a de todos quantos, afortunados do mundo, ali haviam deixado moedas de grande valor.

            A surpresa dos amados companheiros do Mestre foi, sem dúvida, muito grande.

            Que estranha aritmética era aquela do Senhor?

            Num átimo raciocinavam e, mentalmente, confabulavam entre si: Como era possível que as grandes somas e caríssimas joias depositadas por comerciantes opulentos valessem menos do que duas insignificantes moedas deixadas por aquela mulher anônima, mal vestida, trazendo nos ombros um xale desbotado e roto?

            Olhos arregalados, como ocorria toda vez que Jesus ministrava ensinamento oculto no simbolismo das imagens, os discípulos esperavam...

            Jesus não compareceu ao mundo para discutir, nem para impor suas ideias.

            O seu amoroso Espírito desceu à sombria paisagem terrestre para levantar o ânimo dos necessitados e oprimidos, fazendo-os sentir e compreender que a conquista dos bens celestes, dos bens do Infinito, não se condicionará, jamais, à posse de tesouros e bens perecíveis.

            Se é verdade que os bens da Terra, aplicados a benefício de todos, asseguram créditos espirituais aos que deles se despojam, generosa e fraternalmente, é imprescindível, contudo, que a referência do Cristo, contida no episódio do óbolo da viúva pobre, seja colocada em seus justos termos.

            Toda dádiva que procede do coração tem mérito espiritual.

            O rico bondoso que veste o necessitado e alimenta o faminto equipara-se, sem dúvida, ao pobre que estende a misericórdia da palavra e do estímulo, da fé e da esperança, aos companheiros de jornada.

            Quem dá o que pode merece o salário da paz - asseguram, com sabedoria, os Instrutores Espirituais.

            A viúva da anotação evangélica não possuía tesouros materiais, porém tinha a riqueza da fé e da sinceridade.

            As duas moedas colocadas no gazofilácio não desceram sozinhas ao cofre do tradicional Templo da velha Jerusalém: com elas foram o coração e a renúncia da pobre mulher...

            Foi uma dádiva que, efetivamente, saiu do coração.

            Jesus assim a viu, assim a sentiu, através da vibração amorosa, do agradável magnetismo de que se aureolava sua fronte enrugada de mulher possivelmente sofredora.

            Não devemos nem podemos aguardar as moedas de ouro do mundo para que possamos ajudar aos desafortunados. De bolsos vazios e trajes humildes, podemos socorrer em nome da fraternidade cristã.

            Quem contestará esta afirmativa?

            O episódio do Templo é mensagem de consolação, cântico de esperança, poema de amor fraterno, desvelando concepções estranhamente sublimes.

            A lição do óbolo da viúva revela, para os que tiverem olhos de ver, que o caminho do céu não depende do que temos, mas do que somos e do que fazemos.

            Recordar esta magnífica lição é manter acesa, em nossa alma, a convicção de que só o Bem nos elevará, um dia, aos planos gloriosos da Imortalidade.


Reformador (FEB) Março 1959

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