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sexta-feira, 12 de abril de 2019

Apóstolos e Apóstolos



Apóstolos e Apóstolos
A Redação 
Reformador (FEB) Maio 1919
-E Jesus lhes disse: adverti, e acautelai-vos do fermento do Fariseus e Saduceus .
(Mateus, Cap. XVI, v. 6).
           
            Um grande e alvoroçado movimento de hostilidade à nossa doutrina se faz sentir nos arraiais católicos.

            Não há jornalzinho sectário, não há revistinha de santuários quaisquer, não há púlpito do qual se não bolsem contra o Espiritismo os mais polpudos anátemas recheados de muita retórica capciosa e não menos inócua, aliás, para quem conhece os tradicionais processos da política clerical.

            A nós, pelo que mais de perto nos toca, não atemoriza nem melindra a sistematizada ofensiva, velha como tema e renovada periodicamente em variações mais ou menos displicentes de velho realejo, que hão de afinal caducar também, diante do bom senso vulgar.

            Porque a verdade inconcussa, a verdade meridiana é que, doutrina de ontem sem o prestígio das liturgias pomposas, sem o apoio das convenções oficiais, sem o ascendente das organizações seculares, o Espiritismo vai ganhando terreno e conquistando prosélitos em todas as camadas sociais.

            A princípio, tratado com ironia e desprezo, diziam-no o predicativo de simplórias criaturas avassaladas pela sedução do misterioso.

            Mais tarde, vendo que os homens de cultura e até sábios de reputação universal não desdenhavam o seu trato, averbaram-no de perigoso e daninho.

            Que fazia loucos, que era diabólico e quejandos conceitos que só se explicam na sanha energúmena e sectarista dos acomodados às prerrogativas de uma religião regalista, inçada de privilégios e hierarquias que começam na terra e acabam no céu.

            Tudo isso o povo vê e sente, acabando por convencer-se que Deus, O Criador incriado, essa Entidade que lhe fala e borbulha nos áditos  (o que soma a algo para torna-lo mais complexo) da consciência não é, não pode ser privilégio de criaturas falidas e falíveis, a inculcarem-se depositárias exclusivas da Verdade, corno se esta só existisse para elas.

            Essas e outras presunções ridículas, nem sempre escoimadas de má fé, infelizmente, poderiam justificar-se em tempo idos, mas nunca em fase de franca evolução filosófica como a que o mundo experimenta e na qual o homem quer crer com o seu próprio raciocínio e ver com os próprios olhos.

            Isto a igreja romana não quer, ou antes, finge não compreender e daí o seu apego a recursos francamente negativos e ilusórios.

            Negativos dizemos, porque os homens sensatos diante dos seus libelos, para julgar em consciência, buscando conhecer o Réu, hão de reconhecer a parcialidade, o absurdo, a improcedência das acusações e ilusórios porque, aos tímidos, aos fracos e recalcitrantes, a verdade lhes chega por outras vias mais positivas e concludentes, quais as dos fatos imprevistos, e na medida exata de suas necessidades intelectivas e afetivas, tão certo é que, a Providência se não subordina a convenções humanas, partam de onde partirem.

            Esta é a história de todos nós, espíritas convencidos de hoje, filhos de uma geração de católicos militantes, abrolhados (com gérmen) para os esplendores de um novo credo e triunfantes das puerilidades do dogma e do Syllabus. (Índice do que foi condenado pelo papa Pio IX na Encíclica de 8 de Dezembro de 1864.)

            Não foi a propaganda literária, foi a consciência ferida; não foram as catequeses  casuísticas, foram os factos consumados que nos trouxeram à liça em prol desta causa, que é a mais humana e oportuna das causas, porque corresponde as necessidades morais e intelectuais do nosso tempo.

            O grande erro da igreja, a menos que não seja conscienciosa patranha (mentira), está em supor que ainda lhe sobra autoridade para asfixiar consciências que chegaram ao ponto de maturação para mais elevados descortinos do Universo, de Deus e de si mesmas.

            A igreja romana não quer conceder que a manifestação dos Espíritos, velha quanto o mundo e ilustrativa da própria Bíblia Sagrada se dá à revelia das suas bulas e excomunhões, insídias e contumélias (ofensas humilhantes), porque -dizem os mensageiros de Jesus - chegados são os tempos da humanidade assimilar o Cristianismo d'O Cristo em espírito e verdade, ou seja, tirar da letra que mata o espírito que vivifica. Ela, a igreja dos Papas, detentora do Património Divino, não quis, não pode ou não soube honrar o legado precioso, fazendo-o render conforme as vistas do seu Patrono, e transformando-o de instituição evangélica em força temporal, vê fugir-lhe a autoridade e ainda uma vez se revolta contra os homens, mentindo aos seus próprios destinos.

            Nós não a malsinamos (condenamos), que lícito não nos é pagar ódio com ódio.
Lastimamo-la, porém, no seu vesânico (louco) furor de semeadora de tempestades e com tanto maior piedade quanto, em consciência, sabemos que ela não procede de boa fé.

            Dizendo de começo que de perto nos não afetava essa desabrida (desagradável)  campanha dos nossos irmãos católicos, queríamos justamente chamar a atenção dos nossos confrades para os perigos que ela nos acarreta, se perdendo a serenidade ânimo coerente com os princípios básicos da nossa crença - a Lei de Amor - nos deixarmos desvairar pelo sentimento de revide, pois assim chegaríamos ao cúmulo do absurdo, qual o de negar o Cristo por amor ao Cristo!

            Não.

            Cada qual deve esgrimir as armas que possui e aos espíritas, estudantes do Evangelho, neste como em quaisquer prélios (combates), só uma arma pode convir-  o amor.

            Pagar o mal com o bem é o nosso mais comezinho (básico) dever.

            Amai aos vossos inimigos, dizia o Divino Modelo.

            Perdoando aos inimigos, embora procurando convencê-los da parcela maior de Verdade que por misericórdia nos chega, edificaremos maior número de corações do que restilando (infiltrando) o fermento do seu ódio.

            Jesus, O Cristo e Senhor Nosso expulsou certo, os vendilhões do Templo: mas Jesus era o Messias de Deus, tinha a investidura divina, a autoridade da sua linhagem de Espírito sem mácula.

            E nós? Mal despertos para o banquete de Caridade que se nos oferece em resgate das próprias faltas, estamos bem certos de que não mercadejamos mais - ou pelo menos de
que não mercadejaremos mais – no templo augusto ela consciência?

            É preciso, portanto, muita vigilância para não levantarmos a luva em justa de sentimentos que não correspondem ao Evangelho, única tábua de salvação neste pélago (abismo) de paixões desordenadas neste fervedouro de ódios latentes e mal contidos.

            Consideremos que, entre o apóstolo que odeia e calunia em nome do Cristo e o que ama e perdoa em nome do mesmo Cristo, o mundo não tardará a discernir de que lado se perfila o demônio.


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