Mediunidade
Mercenária
Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Janeiro 1952
É estranha a moral seguida por
alguns médiuns que advogam a remuneração do trabalho mediúnico. Atribuem-se um
direito falso, ilógico e ao mesmo tempo perigoso. Regra geral são Indivíduos
sem orientação evangélica e doutrinária, expostos a desagradáveis surpresas da parte
de espíritos de evolução retardada. Por seu turno, expõem também aqueles que se
valem do seu serviço mediúnico a desapontamentos e riscos. Vale a pena insistir
neste ponto: "Os médiuns atuais - pois que também os apóstolos tinham
mediunidade - igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes
dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los
à fé, não para lhes vender palavras que não são frutos de suas concepções, nem
de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a
todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: Não tenho fé
porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos
de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão por que a mediunidade
não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria,
pois, desviá-la do seu providencial
objetivo." (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo)
*
Por vício de educação moral ou doutrinária,
os médiuns que procuram compensação material pelo desempenho do trabalho mediúnico,
semelham-se aos traficantes de coisas santas, aos simoníacos que realizam atos
parecidos com a troca de santos por dinheiro, como se a simples omissão do
vocábulo "vender" expungisse de pecado a ação lamentável. Querem
contundir a ação profissional do magnetizador ou do hipnotizador, com a ação
realmente mediúnica. É sofisma. “O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes
até a sua saúde. Pode por-lhe preço. O médium curador transmite o fluido
salutar dos bons Espíritos: não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os
apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam
pelas curas que operavam" (ob. cit.). “A mediunidade séria não pode ser e
não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente,
identificada para logo com a dos ledores da boa sorte, como também porque um
obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel,
fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar" (ob.
cit.).
*
Exemplos inúmeros de médiuns que
realizaram curas sensacionais temos tido neste país. Não importam nomes, porquanto
os fatos estão na memória
de todos, muitos dos quais recentíssimos. Centenas de pessoas buscaram cura para
os seus males, desde as mais .humildes às mais abastadas, No começo, os médiuns
cumpriram razoavelmente sua tarefa; depois, solicitados de todas as partes,
cederam alguns à tentação da recompensa material, e não tardaram a ficar desmoralizados.
Um deles, após um período de êxito sensacional, passou a mistificar, na ânsia
de recolher dinheiro, mais dinheiro. Para justificar tal ação, alegava que eram
muitos os consulentes, de modo que não tinha sequer tempo para tratar da
própria subsistência. Assim, para atender os que necessitavam da “sua”
proteção, sacrificava as horas que antes dedicava ao trabalho e levava da manhã
à noite “mediunizado”, recolhendo moedas e distribuindo “milagres”. Tempos
depois, coitado, andava por ai, ao léu, carpindo a provação decorrente dos
erros praticados...
*
Jesus condenou até as “preces pagas”.
Lá está no Evangelho: "Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os
mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. “DAI GRATUITAMENTE O QUE
GRATUITAMENTE HAVEIS RECEBlDO”. Disse em seguida a seus discípulos, diante de
todo o povo que o escutava: "Precatai-vos dos escribas que se exibem a
passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de
ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins:
que, A PRETEXTO DE EXTENSAS PRECES, DEVORAM AS CASAS DAS VIÚVAS. Essas pessoas
receberão condenação mais rigorosa”. Daí se depreende que as preces pagas são
uma forma de simonia (compra ou venda
ilícita de coisas espirituais (como indulgências e sacramentos) ou temporais
ligadas às espirituais (como os benefícios eclesiásticos). Que devemos fazer, portanto,
nós, espíritas? - Evitar a deturpação dos nossos princípios doutrinários por
hábito ou práticas originárias de outros credos, que se desprestigiaram
justamente por haverem fugido dos preceitos estabelecidos por Jesus.
Espiritismo é Espiritismo, apenas
Espiritismo, Tem Doutrina, tem normas de trabalho, tem
orientação definida. Há inovadores sem formação doutrinária, sem critério
evangélico, que desejam granjear aplausos de pessoas ainda não esclarecidas.
Eis porque se torna indispensável, em todos os conglomerados espíritas, a
cultura evangélica, o estudo metódico e raciocinado do Evangelho, a par de um
conhecimento cada vez mais profundo e inteligente dos ensinos básicos da Doutrina
dos Espíritos.
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