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sexta-feira, 12 de abril de 2019

A Bíblia



A Bíblia
por Amaral Ornellas
Reformador (FEB) Julho 1919

            A Bíblia é um livro primoroso, que, atravessando séculos, se tem imposto à literatura de todos os tempos.

            Esse admirável conjunto de belezas enfeixado no livro dos livros, poemas esparsos pela multidão que os repetia de boca em boca, como os rapsodos (é o nome dado a um artista popular ou cantor que, na antiga Grécia, ia de cidade em cidade recitando poemas (principalmente epopeias de Homero) os versos de Homero, constitui um manancial de virtudes e de poesia, onde todas as literaturas têm ido haurir o Belo, onde todas as religiões se têm abeberado da Verdade.    

            Encontram-se na Bíblia os fastos históricos, narrados segundo os costumes da época, obedecendo a crença e nos hábitos daqueles povos ainda na infância, episódios que ora aumentados pela imaginação ora desvirtuados pelo paganismo reinante, envoltos naquela misteriosa poesia do Oriente, se reuniram para formar esse códice precioso, onde a parte celeste, vestindo a túnica da lenda, se promiscui com os fatos terrenos, muitas vezes despidos de eloquência na sua simplicidade ingênua, e várias outras cobertos pelos andrajos humanos.

            Da Bíblia devemos separar as leis onde se acha impresso o sinete divino dos preceitos firmados pelos homens para servirem de norma à conduta de um povo escravizado e inculto como era o de Israel.

            A parte humana foi apagada pelo surto luminoso do progresso; a divina ficou a
irradiar-se pelas épocas em fora.

            Se podemos olhar com os olhos do espírito para as ordenações que embalaram os primeiros vagidos da humanidade do passado, devemos fazê-lo para que nós possamos embrenhar na história dos nossos ancestrais e dela tirarmos o suco da fé que nos alimenta a vida.

            Mas, se para essas páginas santas olharmos com os olhos da carne, não procuremos jamais interpretá-las, pois conduzidos seremos aos mesmos desatinos que afastaram a Igreja de Roma do Redentor da Humanidade.

            À sombra do Velho Testamento armaram-se fogueiras, em cujo fogo ainda nos abrasamos. São de ontem e bem de ontem os soluços das vítimas.

            Não lentemos ressuscitar esse pretérito lúgubre.

            A Bíblia, nos tempos presentes, deve ser estudada e lida pelos olhos da espiritualidade.

            Ela é um livro de símbolos, e como tal deve ser aberta à luz do século que nos ilumina.

            Aferrados à letra da Bíblia, alheios aos prejuízos oriundos das suas interpretações errôneas, os inimigos da luz fazem dela um espantalho com que procuram apavorar aqueles que, trôpegos ainda, procuram palmilhar a estrada da Verdade.

            Torcem e retorcem a seu modo os velhos símbolos colecionados nos livros santos, cheios de entusiasmo pelas asperezas da forma que os reveste e de manifestos rancores pela essência que dos mesmos se desprende.

            Moisés é a cada momento lembrado para esmagar os seus inimigos. Não meditam sobre o caráter da sua missão em face da humanidade endurecida daquela época.

            Eles bem sabem que na Bíblia há decretos de caráter transitório e preceitos imutáveis como as leis da natureza. Preferem, porém, simular ignorância, apontando aos neófitos os textos bíblicos interpretados a seu talante, onde a alma sedenta de luz, encontra o vácuo e a treva.

            Mas, à frente das suas investidas perniciosas encontrarão eles os denodados apóstolos da Fé Nova, abrindo aos olhos dos incautos as páginas da história criminosamente deslembradas.

            Jesus, - o espírito máximo em relação ao nosso planeta -, veio dar exato cumprimento à pura lei emanada do Alto e sempre lembrada pelos profetas, como registra a Bíblia. No entretanto, os decretos de caráter transitório, suscetíveis de modificação como todas as constituições políticas dos povos, quando não mais satisfazem as suas condições de vida, envolveram-no nas suas malhas de ferro, conduzindo-o ao mais execrando dos suplícios.

            Dizia Moisés ao povo para o qual legislava: “Se se levantar no meio de ti um profeta e predisser algum sinal ou prodígio e suceder assim como ele falou, e te disser: Vamos, sigamos os deuses estranhos que não conheces, não ouvirás as palavras do tal profeta que será entregue à morte. Não estejas pelo que ele te diz, mas logo o matarás”.

            Jesus aos olhos pasmos de toda a Judeia operava prodígios. Jesus vinha pregar um Deus estranho. Eles conheciam o deus do extermínio; Jesus falava em nome de um Deus de Doçura. Era um falso profeta!

            E se os doutores de outrora conduziram o Mestre dos mestres ao cimo do Gólgota sob o patrocínio da letra da lei, não é de estranhar que os teólogos de agora procurem esmagar o Consolador por ele prometido à humanidade escrava das suas impurezas, sob a autoridade desses mesmos decretos.

            Mas outros são os tempos. Vinte séculos de progresso trazem a experiência e o amadurecimento da razão.

            Podem eles erguer a Bíblia como um grande espantalho no meio dos simples.
Os simples terão olhos para ver, a luz que da mesma se irradia.

            Os próprios versículos bíblicos dirão com sabedoria e eloquência: Esses crucificariam de novo o Cristo, se Ele descesse dos píncaros da sua glória ao inferno paul (pantanoso) das nossas misérias.

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