Apóstolos
e Apóstolos
A Redação
Reformador (FEB) Maio 1919
Reformador (FEB) Maio 1919
-E Jesus lhes disse: adverti, e
acautelai-vos do fermento do Fariseus e Saduceus .
(Mateus, Cap. XVI, v. 6).
Um grande e alvoroçado movimento de
hostilidade à nossa doutrina se faz sentir nos arraiais católicos.
Não há jornalzinho sectário, não há
revistinha de santuários quaisquer, não há púlpito do qual se não bolsem contra
o Espiritismo os mais polpudos anátemas recheados de muita retórica capciosa e
não menos inócua, aliás, para quem conhece os tradicionais processos da
política clerical.
A nós, pelo que mais de perto nos
toca, não atemoriza nem melindra a sistematizada ofensiva, velha como tema e
renovada periodicamente em variações mais ou menos displicentes de velho
realejo, que hão de afinal caducar também, diante do bom senso vulgar.
Porque a verdade inconcussa, a verdade
meridiana é que, doutrina de ontem sem o prestígio das liturgias pomposas, sem
o apoio das convenções oficiais, sem o ascendente das organizações seculares, o
Espiritismo vai ganhando terreno e conquistando prosélitos em todas as camadas
sociais.
A princípio, tratado com ironia e
desprezo, diziam-no o predicativo de simplórias criaturas avassaladas pela
sedução do misterioso.
Mais tarde, vendo que os homens de
cultura e até sábios de reputação universal não desdenhavam o seu trato,
averbaram-no de perigoso e daninho.
Que fazia loucos, que era diabólico
e quejandos conceitos que só se explicam na sanha energúmena e sectarista dos
acomodados às prerrogativas de uma religião regalista, inçada de privilégios e
hierarquias que começam na terra e acabam no céu.
Tudo isso o povo vê e sente, acabando
por convencer-se que Deus, O Criador incriado, essa Entidade que lhe fala e
borbulha nos áditos
(o que soma a algo para torna-lo mais
complexo) da
consciência não é, não pode ser privilégio de criaturas falidas e falíveis, a
inculcarem-se depositárias exclusivas da Verdade, corno se esta só existisse
para elas.
Essas e outras presunções ridículas,
nem sempre escoimadas de má fé, infelizmente, poderiam justificar-se em tempo
idos, mas nunca em fase de franca evolução filosófica como a que o mundo experimenta
e na qual o homem quer crer com o seu próprio raciocínio e ver com os próprios
olhos.
Isto a igreja romana não quer, ou
antes, finge não compreender e daí o seu apego a recursos francamente negativos
e ilusórios.
Negativos dizemos, porque os homens
sensatos diante dos seus libelos, para julgar em consciência, buscando conhecer
o Réu, hão de reconhecer a parcialidade, o absurdo, a improcedência das
acusações e ilusórios porque, aos tímidos, aos fracos e recalcitrantes, a verdade
lhes chega por outras vias mais positivas e concludentes, quais as dos fatos
imprevistos, e na medida exata de suas necessidades intelectivas e afetivas,
tão certo é
que, a Providência se não subordina a convenções humanas, partam de onde partirem.
Esta é a história de todos nós, espíritas
convencidos de hoje, filhos de uma geração de católicos militantes, abrolhados (com gérmen) para os
esplendores de um novo credo e triunfantes das puerilidades do dogma e do Syllabus.
(Índice
do que foi condenado pelo papa Pio IX na Encíclica de 8 de Dezembro de 1864.)
Não foi a propaganda literária, foi
a consciência ferida; não foram as catequeses casuísticas, foram os factos consumados que
nos trouxeram à liça em prol desta causa, que
é a mais humana e oportuna das causas, porque corresponde as necessidades morais
e intelectuais do nosso tempo.
O grande erro da igreja, a menos que
não seja conscienciosa patranha (mentira), está em supor que ainda lhe sobra
autoridade para asfixiar consciências que chegaram ao ponto de maturação para
mais elevados descortinos do Universo, de Deus e de si mesmas.
A igreja romana não quer conceder
que a manifestação dos Espíritos, velha quanto o mundo e ilustrativa da própria
Bíblia Sagrada se dá à revelia das suas bulas e excomunhões, insídias e contumélias
(ofensas
humilhantes),
porque -dizem os mensageiros de Jesus - chegados são os tempos da humanidade
assimilar o Cristianismo d'O Cristo em espírito e verdade, ou seja, tirar da letra
que mata o espírito que vivifica. Ela, a igreja dos Papas, detentora do
Património Divino, não quis, não pode ou não soube honrar o legado precioso,
fazendo-o render conforme as vistas do seu Patrono, e transformando-o de
instituição evangélica em força temporal, vê fugir-lhe a autoridade e ainda uma
vez se revolta contra os homens, mentindo aos seus próprios destinos.
Nós não a malsinamos (condenamos), que lícito não
nos é pagar ódio com ódio.
Lastimamo-la,
porém, no seu vesânico (louco) furor de semeadora
de tempestades e com tanto maior piedade quanto, em consciência, sabemos que ela
não procede de boa fé.
Dizendo de começo que de perto nos
não afetava essa desabrida (desagradável) campanha
dos nossos irmãos católicos, queríamos justamente chamar a atenção dos nossos
confrades para os perigos que ela nos acarreta, se perdendo a serenidade ânimo
coerente com os princípios básicos da nossa crença - a Lei de Amor - nos
deixarmos desvairar pelo sentimento de revide, pois assim chegaríamos ao cúmulo
do absurdo, qual o de negar o Cristo por amor ao Cristo!
Não.
Cada qual deve esgrimir as armas que
possui e aos espíritas, estudantes do Evangelho, neste como em quaisquer prélios
(combates), só uma arma pode
convir- o amor.
Pagar o mal com o bem é o nosso mais
comezinho (básico) dever.
Amai aos vossos inimigos, dizia o
Divino Modelo.
Perdoando aos inimigos, embora procurando
convencê-los da parcela maior de Verdade que por misericórdia nos chega,
edificaremos maior número de corações do que restilando
(infiltrando) o fermento do seu ódio.
Jesus, O Cristo e Senhor Nosso expulsou
certo, os vendilhões do Templo: mas Jesus era o Messias de Deus, tinha a
investidura divina, a autoridade da sua linhagem de Espírito
sem mácula.
E nós? Mal despertos para o banquete
de Caridade que se nos oferece em resgate das próprias faltas, estamos bem
certos de que não mercadejamos mais - ou pelo menos de
que
não mercadejaremos mais – no templo augusto ela consciência?
É preciso, portanto, muita vigilância
para não levantarmos a luva em justa de sentimentos que não correspondem ao
Evangelho, única tábua de salvação neste pélago (abismo) de paixões
desordenadas neste fervedouro de ódios latentes e mal contidos.
Consideremos que, entre o apóstolo
que odeia e calunia em nome do Cristo e o que ama e perdoa em nome do mesmo Cristo,
o mundo não tardará a discernir de que lado se perfila o demônio.
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