A Graça da Mediunidade
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Outubro 1955
Grandes devem ser as preocupações do médium
verdadeiramente compenetrado de seu papel no Espiritismo. Sua responsabilidade
é realmente extraordinária, tanto quanto à parte que lhe diz respeito, porque
está ligada ao seu futuro espiritual, como a que se relaciona ao serviço que
dele espera o Espiritismo, para atender às necessidades
daqueles que sofrem e buscam em nosso ambiente lenitivo para suas aflições.
Ser médium é uma graça do Alto, mas é, ao mesmo
tempo, um compromisso muito grave, do qual ninguém se esquiva impunemente.
Temos dito, porque essa é uma verdade universalmente consagrada, que a mediunidade
constitui sempre, sejam quais forem as circunstâncias, uma oportunidade
concedida ao espírito encarnado. Portanto, o exercício normal das faculdades
mediúnicas, sob orientação evangélica, representa benefício incomum para o
médium e para os que são favorecidos por sua mediunidade. Nem todos,
infelizmente, assim compreendem a nobre missão que lhes cabe e não raro dão
pouco valor ao prêmio recebido, malbaratando-o numa indiferença lamentável ou mercantilizando-o,
sem a mais mínima noção das lutuosas consequências que poderão desabar sobre
si.
*
Os ensinamentos dos Espíritos insistem em
recomendar o cultivo da humildade, porque esta é a primeira condição do homem
que realmente compreende as palavras do Cristo: “...todo aquele que se eleva
será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado". Todavia, é
preciso interpretarmos no bom sentido as palavras do Mestre. Positivamente, Ele
não deseja que nos abaixemos servilmente, mas que saibamos ser sempre e sempre,
invariavelmente humildes; que nos abaixemos do orgulho comum, despindo-nos do
sentimento ególatra e apresentando nossa alma nua de preconceitos, mas coberta
de simplicidade.
O médium tem o dever de cultivar a
humildade em todos os sentidos. Jesus não recomenda que sejamos servis, mas que
sejamos humildes. A humildade é gloriosa, porque não afronta nem escandaliza.
Ela é simples, porque não se esconde na simulação, mas vive imersa na
sinceridade. Uma das mais belas lições que os médiuns devem recordar a todos os
instantes, está neste trecho de "O Livro dos Espíritos":
"Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a
ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e humildade de espírito; que o ignorante
possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que
em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das
virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que d'Ele afastam a
criatura e isso por uma razão muito natural; a de ser a humildade um ato de
submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale,
pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre em espírito, conforme o entende o mundo, e rico em
qualidades morais."
*
A humildade deve ser atributo de todo ser
humano. A criatura que sabe ser humilde possui força moral invencível. Vê mais
longe as coisas e sua visão não se deturpa na miragem que o orgulho desenvolve.
O médium precisa estar sempre atento em defesa de suas prerrogativas de
escolhido para as tarefas espíritas. Deve
fugir
da vaidade, que é irmã germana do orgulho. Tem de se precatar contra a auto suficiência,
para que os obsessores não encontrem em sua personalidade qualquer ponto
vulnerável por onde possam realizar obra daninha. Deixando-se guiar pelo Evangelho segundo o Espiritismo, o Livro
Mestre do Cristianismo Redivivo, poderá
estar
tranquilo quanto ao seu trabalho e quanto ao seu futuro. Todavia, é mister não
esquecer que mediunidade pode também ser sacrifício. Quem diz sacrifício, diz
dedicação, compreensão e renúncia. Nossa vida atual está intimamente ligada às
vidas que nosso espírito exerceu em encarnações anteriores. Não há elo solto na
vida
cósmica,
como não há elo perdido no mundo espiritual nem elo abandonado na peregrinação
terrena. Somos elos de uma imensa corrente, que é a Humanidade, porque nossos
pensamentos, nossos atos, nossa vida, enfim, está mais ligada do que pensamos
aos pensamentos, aos atos e à vida dos nossos semelhantes. Em virtude do olvido
a que a encarnação obriga todos os espíritos, desconhecemos, geralmente, o grau
de ligação que nos mantém ao lado das outras criaturas humanas. E isto deve
levar-nos a meditar sobre a necessidade de ser bom para com todos,
indistintamente, servindo sempre aos que necessitam de ajuda, esclarecendo os
que se debatem nas trevas da ignorância, amparando os que se mostram trôpegos
na caminhada para a melhoria moral. Dizer-se que somos todos irmãos não é
simples jogo de palavras, mas uma verdade grandiosa.
*
Na vida universal tudo se acha relacionado
entre si. Somos como que pequenas entidades moleculares no grande todo
universal. Não temos em que nos apoiar firmemente para justificar o orgulho e o
egoísmo, os quais contradizem a harmonia cósmica. O médium, mais do que
qualquer outra criatura humana, constitui elemento aglutinante nos
conglomerados humanos. Está servido de meios para realizar grande tarefa de
fraternidade. Essa tarefa é bem mais ampla do que se supõe, Ela ultrapassa,
deve, pelo menos, ultrapassar a esfera humana, propriamente dita, e alcançar o
reino animal, o reino vegetal, onde quer que o bem possa ser exercido. Em
"Os Quatro Evangelhos", uma das obras magistrais do Espiritismo, o
médium encontra igualmente inesgotável manancial de conhecimentos, muito úteis à
sua peregrinação terrena. Se tivéssemos alguma autoridade para indicar leituras
úteis aos médiuns em geral, apontar-lhes-íamos o seguinte rumo:
I
"O
Evangelho segundo o Espiritismo"
II "O Livro dos
Espíritos"
III
"O Livro dos
Médiuns"
IV
"Os Quatro
Evangelhos"
O estudo, a assimilação do que contêm essas
obras magistrais, e o esforço cotidiano para exemplificar os ensinamentos que
nelas podem ser colhidos, mostram o rumo seguro e abençoado de todos aqueles,
médiuns ou não, que desejam encontrar a rota luminosa traçada por Jesus e
adotada pelo Espiritismo. Nessas obras
encontramos
todo um curso de Espiritismo destinado ao esclarecimento dos médiuns. Outras,
muitas outras, dezenas, centenas até, de grandes obras, há para a formação
cultural espírita, mas não suplantam as que acabamos de citar. "0 Evangelho
segundo o Espiritismo" é obra de leitura diária, de meditação cotidiana.
Deve
acompanhar-nos
a vida inteira, não para a decoração de estantes, mas como ração certa de pão
espiritual de todos os dias. Os comentários feitos após os textos do Evangelho
de Jesus constituem também lições edificantes, que servem a qualquer cristão,
tão elevados são os conceitos ali emitidos, tão profundo seu alcance moral.
Um médium consciente de seus deveres estuda
sempre e procura tenazmente exemplificar as lições estudadas, Mas, repetimos,
seu primeiro passo deve ser no terreno da humildade esclarecida, que compreende
a vida em face do Espiritismo e sabe desculpar os excessos alheios, evitando
cometê-los também. A grandeza moral
do
Espiritismo decorre da sua estrutura evangélica. Ele está no Evangelho, porque
está nas lições do Cristo e só ele pode explicar, sem o mistério impenetrável
dos "milagres", a verdade dos atos de Jesus e o alcance de suas
palavras parabólicas.
Ser médium é uma graça do Alto, mas é
igualmente uma enorme responsabilidade em face de Deus!
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