À Allan Kardec
por Dias da Cruz (Dr.)
Reformador
(FEB) Março 1889
Mestre
- Mergulhar nas negruras da incredibilidade que asfixia, ou entregar-se cego
aos absurdos da crendice, que nada explica, tal o estado do espírito humano,
antes que tu o esclarecesses com os lampejos da doutrina, que, por assim dizer,
do nada fizestes surgir.
Tal
também o mar irrequieto e brumoso em que desnorteava meu pobre espírito, só
afeito a excogitar na organização as origens da vida.
Mas
eu li as tuas obras, e alma que naufragava encontrou a boia salvadora. Mas eu
li as tuas obras, e as trevas se tomaram claridade, e à noite sucedeu o dia.
Mas eu li as tuas obras, e o oceano encapelado se transformou na planície firme
e cheia de segurança!
Hoje,
Mestre, posso afirmar, com tuas crenças, que Deus é a Verdade; hoje, Mestre,
posso proclamar através da buzina da convicção enraigada que a alma é vida, que
a vida é evolução, que a evolução não tem fim; posso
gritar, com as veras de entusiasmo que a convicção produz, que o espírito sobrevive
ao corpo, o qual, por ser para ele apenas um instrumento de aperfeiçoamento, pode ser-lhe dado
tantas vezes quantas as necessárias para que atinja aquele fim; hoje, Mestre,
graças a ti, posso afirmar que entram em relação Espíritos providos e desprovidos de corpo
material.
Vê,
portanto, oh! Mestre, que horizontes sem limites descortinastes aos olhos de um
infeliz cego pela filosofia dominante. Por isso é que com maior desembaraço já
posso enfrentar com o terrível problema: o destino do
homem e a sua origem; por isso é que, em outra ordem de ideias no terreno da
biologia, já posso explicar alguns fenômenos vitais que me eram letra morte.
Que
te devo, portanto, Mestre? -Devo-te as minhas crenças; mais do que isto, a
minha alma; mais ainda a feição atual do meu ser.
Mas
que te poderei dar em troca do tudo que me deste?
Nem
mesmo a gratidão será bastante.
Entretanto,
como afirmação de que te sou grato, de que te devo mais do que a vida material,
porque te devo o meu espírito, venho, hoje, que uma parte da Humanidade esclarecida por tuas luzes se rejubila por teres
libertado os liames desta vida-cadeia, venho fazer-te a oferenda pública de
minhas crenças, oferenda que só pode ter valor pelo desprestígio em que voluntariamente caio para a
multidão daqueles infelizes cegos entre os quais vivo, e dos quais tiro a minha
subsistência; venho proclamar bem alto: eu sou espírita, sou discípulo de
Kardec!
Possa
eu ter forças para ser um dos soldados que te auxiliam na cruzada bendita em
que te afanas ainda: a transformação do planeta pela regeneração da Humanidade!
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