As razões do Movimento
Sayão (Espírito) por Gilberto Campista Guarino
Psicografada na FEB, em reunião pública de 7-6-1974
Quando
o consolador foi derramado sobre a humanidade, sintetizado pela breve palavra
de Allan Kardec, ninguém no mundo poderia suspeitar do que de magistral envolviam seus princípios.
Houve,
na época, ainda mesmo de parte de alguns dos que militavam no pioneirismo
espiritista, uma imperfeita noção da amplitude da Revelação.
Cada
qual, sendo uma individualidade autônoma, pintava com as cores em que vivia as
tendências e os postulados do Espiritismo. Alguns chegaram até mesmo a enxergar
dogmatismo e ortodoxia. Não é estranhável que tal se passasse: nem sempre o
homem esteve vinculado ao plano superior.
Allan
Kardec, no entanto, junto com a equipe que lhe secundava os esforços indizíveis,
permanecia sereno e seguro, o leme à mão, dominado, embora as ondas tentassem
destroçar lhe a embarcação. Agia Kardec conforme lúcido comandante, em cada
porto revistando a tribulação, colocando o óleo na maquinaria, examinando a
bússola e levando em consideração as necessidades de cada
passageiro, como legítimas e respeitáveis. O navio, contudo, precisava
prosseguir intacto, em meio aos ventos que a abominação da treva soprava pelos
condutos da vaidade e do orgulho.
O
comandante - Kardec - permanecia no posto de máximo zelador da integridade da
obra deposta em suas mãos. Cada um, no entanto, conservava sua liberdade,
liberdade essa a que não eram permitidas quaisquer ingerências na sala de
máquinas, na utilização das bússola e nas decisões do comandante. Respeitava-se
a liberdade alheia, mas a liberdade alheia deveria sempre respeitar a inteireza
do conjunto.
Assim
agia Kardec, consciente do papel que lhe cumpria desempenhar, ainda sob a
tormenta de pedras, que lhe fustigava a alma. Comandante, no entanto, não lhe
cabia estabelecer privilégios ou concessões. Todos
contribuíam com seus pontos de vista, mas Allan Kardec - com ordens que compreendiam os conceitos pessoais e
mesquinhos - continuava a focalizar o desenvolvimento do que lhe havia sido
confiado.
Assim
foi que entregou ao mundo o arcabouço firmado da Doutrina Espírita, junto a
toda a equipe, onde trabalhava Roustaing, Léon Denis, Gabriel Delanne e Camille Flammarion, os imediatos pressurosos, prontos a
atender ao superior, a qualquer momento.
No
entanto, passado o tempo terreno, o homem se encontra mergulhado num mar de
confusões intensas. O navio, na Terra, não mais tem Kardec ao leme. Foi, porém, criada a instituição que leva o navio à frente,
ainda que em mares revoltos.
Eis
a edificação de Ismael, incólume, com o qual todo o movimento, repetimos, tem
ligação, ainda a mais distante e imperceptível. A Casa de Ismael, sempre nos
mares da Terra, tem o seu comandante, com seus imediatos, com seus
colaboradores diretos e indiretos, com seus auxiliares, com sua maquinaria, sua
bússola e seu leme. Neste, no timão de seu proceder, está - no plano do
espírito - Ismael por delegação do Comandante Supremo; e, na Terra, na parte mais
grosseira da manifestação divina do Universo toda a equipe que detém, em confiança, as diretrizes do
movimento.
O
navio, todo ele, é o movimento espírita.
As
vontades e os desejos - a liberdade -, todos merecem o respeito máximo, sendo
honoráveis ao extremo.
No
entanto, a voz que fala mais alto não deve e não pode, decerto, permitir
ingerências quaisquer na rota traçada pelo Senhor.
Atualmente,
ainda Kardec dirige a parte ampla que lhe toca na caminhada dos discípulos da
Doutrina que codificou, da qual é, ele mesmo, um discípulo, porque o Espiritismo é doutrina de Cristo.
Cada
um, portanto, investigando sinceramente a própria consciência, presta favor
imenso a todo o movimento porque, se todos estiverem compenetrados do dever a cumprir, o navio - que já ancorou em centenas de
portos, no qual já embarcaram milhares de novos integrantes - singrará, em meio
a cânticos de louvor, os mares agitados que por certo virão. Mas, se bem poucos
apenas desejarem contribuir para a paz que precisa ser instalada, os mares se
encapelarão mais e os homens criarão vagalhões destruidores que, embora jamais
logrem levar o barco ao naufrágio, exigirão mais dores e sacrifícios do
timoneiro e de toda a equipe, porque, para produzir o máximo, nada como a paz
criada na bigorna, onde vivem flores, onde
cantam as vozes dos anjos, auxiliando a vencer os obstáculos criados pela
vaidade extrema, que grita, que mata com a letra, cegando os indivíduos, suas vitimas impenitentes, e
impedindo-os de perceber o que é o Espírito.
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