A
observância dos princípios da Doutrina dos Espíritos é garantia segura para que
alguém possa aferir da sua condição moral em relação ao Cristo de Deus. Quanto
mais fiel, mais perto do Mestre, evidentemente. A nossa Doutrina não foi de
concepção puramente humana, nem revelada a um só homem.
"Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido
caminho e mais autêntico.
Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um polo a outro, manifestando-se,
por toda parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um
homem pode ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim,
quando milhões de criaturas veem e ouvem a mesma coisa. Constitui isto sim a
garantia para cada um e para todos. Ao
demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se pode fazer que desapareçam as
coletividades; podem queimar-se os livros, mas não se podem queimar os
Espíritos. Ora, queimassem a todos os livros, e a fonte da doutrina não deixaria
de conservar-se inexaurível, pela razão mesma
de ela não estar na Terra, de surgir em todos os lugares e de
poderem todos eles dessedentar-se nela. Faltem os homens para difundi-la:
haverá sempre os Espíritos, cuja atuação
a todos atinge e aos quais ninguém pode atingir.
“São,
pois, os próprios Espíritos que fazem a
propaganda, com o auxílio dos inúmeros médiuns
que, também eles, os Espíritos, vão suscitando de todos os lados. Se tivesse havido
unicamente um intérprete, por mais favorecido
que fosse, o Espiritismo mal seria conhecido. Qualquer que fosse a classe a que
pertencesse, tal intérprete houvera sido objeto das prevenções de muita gente e
nem todas as nações o teriam aceitado, ao passo que os Espíritos se comunicam,
em todos os pontos da Terra, a todo os povos, a, todas as seitas, a todos os
partidos todos os aceitam. O Espiritismo não tem nacionalidade e não parte de nenhum
culto existente; nenhuma classe social o impõe, visto que qualquer pessoa pode
receber instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo. Cumpre seja assim,
para que ele possa conduzir todos os homens à fraternidade. Se não se
mantivessem em terreno neutro, alimentaria as dissensões, em vez de apaziguá-las.
"Nessa
universalidade dos Espíritos reside a força do Espiritismo e, também, a causa
de sua tão rápida propagação. Enquanto que a palavra de um só homem, mesmo com
o concurso da imprensa, levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos,
milhares de vozes se fazem sentir simultaneamente em todo os recanto do planeta,
proclamando os mesmos princípios e transmitindo-os aos mais ignorantes, como
aos mais doutos, a fim de que não haja deserdados. É uma verdade, ,não teme o
malquerer dos homens, nem as revoluções morais, nem, as subversões físicas do
globo, porque nada disso pode atingir o Espírito.'"
Aí está um trecho da Introdução a
"O Evangelho segundo o Espiritismo". que permite ao leitor conhecer,
se já não a conhece, a origem espiritual do Espiritismo. Era necessário que a
repetíssemos aqui, para chamar a atenção dos espíritas para a conveniência de
tudo fazerem a fim de resguardar de influências prejudiciais a pureza da
Doutrina dos Espíritos, que Allan Kardec, por delegação dos próprios Espíritos
Superiores, coordenou e, finalmente, codificou, seguindo as instruções que eles
lhe davam, sempre que se tornavam precisos maiores esclarecimentos.
Mas, será que todos nós, espíritas,
respeitamos e procuramos conservar a pureza da Doutrina
que nos foi transmitida do Alto? Temos progredido muito, graças a Deus, mas ainda
persistem, em alguns núcleos, certas ideias que não espalham com fidelidade a Doutrina
Espírita. Idôneos e experimentados correligionários nossos, que frequentemente visitam
o interior do Brasil, têm observado ainda, muitas disparidades lamentáveis, relativamente
à Doutrina e também quanto à maneira de transmitir aos frequentadores dos
"centros” os ensinamentos doutrinários e evangélicos, mesclados com ideias
e práticas que
não são identificadas com aquelas preconizadas no Pacto Áureo, Isso nos faz
recordar a mensagem de Bezerra de Menezes, publicada no "Reformador"
de julho de 1942, páginas 145 e 146, que se apresenta bastante atual. Vamos
reproduzir alguns trechos apenas.
...
"Se um, se alguns, ( ... ) querem levar o estudo até ao âmago, descem à
observação dos trabalhos dos
espiritas professos, vão aos grupos, que veem? Veem: "cada qual fazendo
doutrina a seu modo”, sem ordem, sem disciplina,
sem união, produzindo sem proveito, esterilizando a melhor vontade. Veem,
portanto, em vez de um trabalho uniforme, sujeito a regras invariáveis,
tendendo ao mesmo fim: o alto fim posto pela doutrina, um trabalho disforme,
disparatado sem nexo e, às
vezes, felizmente raras, em diametral oposição às regras da Doutrina. Compreende-se que isto
é um mal para os que o fazem e um mal para os que veem observá-lo, para se orientarem.
Compreende-se que já é tempo de se ligarem todos os esforços dos espíritas para
que se cumpra nesta parte do planeta a tarefa que lhe foi distribuída. Compreende-se,
finalmente, que é pela união dos espíritas
que se pode dar a ligação, a harmonia de seus esforços, sem a qual, diz o Mestre,
cada um “cavará sulco por onde hão de correr as lágrimas do seu arrependimento.”
Ora, foi de Bezerra de Menezes que
partiu, a nosso ver, a ideia da unificação que se concretizou
com o Pacto Áureo. Todavia, para que se mantenha incólume a aspiração dos espíritas,
direta ou indiretamente ligados à Casa de Ismael, é preciso que as entidades adesas,
cuja dedicação e cujo amor ao Espiritismo Cristão são notórios, redobrem sua vigilância,
multipliquem os seus já elogiáveis trabalhos de colaboração em prol da
unificação, cujos frutos já se apresentam magníficos e fecundos. Bezerra de Menezes
encerra a sua importante mensagem com esta recomendação, que não deixava de ser
a ideia do Pacto Áureo, que tantos benefícios vem causando ao Espiritismo do
"Coração do Mundo”:
“Os espíritas brasileiros têm uma missão,
disse o Mestre, e para desempenhá-la é essencial
que comecemos por nos organizar-nos, organização baseada na união, na essência
e na forma.
Essa missão foi iniciada e continua
com o mesmo entusiasmo inicial, com resultados progressivo
. Entretanto, como em tudo que ocorre na vida humana, há os que se retardam e
custam a alcançar o mesmo nível de outros, havendo necessidade de esclarecê-los
e ajudá-los,
não só para que se libertem de hábitos velhos e se unam aos que se situam na vanguarda
do movimento dinamizador do Pacto Áureo. Dizemo-lo porque o Espiritismo cristão
não sanciona práticas incompatíveis com os seus preceitos. Já Leopoldo Cirne, o
insigne espirita que presidiu eficientemente à Federação Espírita Brasileira,
se referiu a isso, quando percebeu a introdução de inovações nas sessões. Veja-se
sua obra "Doutrina e Prática do Espiritismo", segundo volume, edição
de 1921, sobre “casamentos" e "batizados”
espíritas. assim como a respeito do uso de símbolos. Diz ele, com a sua enorme autoridade
moral de conhecedor profundo da nossa Doutrina: "O Espiritismo - insistiremos nisso - não comporta símbolos” A tolerância
com o arremedos de "casamentos" e "batizados"
são também práticas que adeptos não identificados com os pontos essenciais da
Doutrina consideram cabíveis em nosso ambiente, pois não conseguiram ainda
esquecer totalmente
certos rituais de religiões a que pertenceram, achando, por isto, natural que elas
se manifestem no Espiritismo.
Socorramo-nos ainda de Leopoldo
Cirne:
..."alguns adeptos já tem procurado instituir, promovendo, em seguida ao ato
civil do matrimônio, uma
sessão espírita, para obtenção da bênção dos guias espirituais, acompanhada de
prédica e ditado por um médium. É, como se vê, uma cerimônia simples, por enquanto
- as de que temos tido conhecimento pelo menos - circunscrita ao lar doméstico, onde cada um tem indubitavelmente a mais completa
liberdade de praticar o que a sua consciência de crente lhe inspirar. Mas não deixa
de ser uma cerimônia reveladora de tendências formalísticas, respeitável no
ponto de vista individual, inofensiva, portanto, nesse caso, à consciência dos
demais, contanto que, porém, pela generalização que possa adquirir, não venha a
passar da esfera das intimidades domésticas para as agremiações espíritas, revestindo-se aí do caráter
de um sacramento e complicando-se de acessórios e formalidades rituais. Contra esse perigo de oficialização
de exterioridades é que convém premunir-se
os crentes, começando por individualmente emancipar-se de tais
retrógradas preocupações e porfiando-se, em seguida, apoiados na autoridade moral
que dá o exemplo, em manter nas agremiações a singeleza das práticas, de que, fora
dos exercícios puramente espirituais de que temos falado, deve ser banido tudo
o que possa, lisonjeando os sentidos, embaraçar os surtos interiores, silenciosos
e profundos das consciências recolhidas.”
Nos "Preceitos Gerais Pró-Unificação
do Espiritismo Nacional”, aceitos "como
bases mínimas para a
concretização do grande ideal consubstanciado na Ata de 5 de outubro de 1949", que todos
conhecemos como "Pacto Áureo", os centros ou grupos espíritas não deverão
ter em, sua sala de sessões públicas "retratos,
imagens, símbolos ou coisa semelhante”.
Do mesmo modo, as sociedades,
cujas denominações apresentem o qualificativo de "santo", deverão suprimir dela esse qualificativo, assim
como "abster-se da prática de qualquer rito, inclusive o que se compreendem
sob a denominação de “batizados e casamentos espíritas” por serem todas essas práticas
contrárias à índole e ao espírito da Doutrina;
isto não impede, porém, que dentro dos lares se regozijem e profiram uma
prece".
Em defesa do "Pacto Áureo”,
convirá que sejam recordados, de quando
em quando, os
"Preceitos Gerais". Relativamente à preparação do ambiente espiritual
para as sessões públicas
de estudo, a norma deve ser esta: “Leitura
e comentário breve, à luz da Doutrina Espírita, de uma das comunicações psicográficas
recebidas na sessão anterior ou, leitura e comentário breve de uma página
doutrinária extraída de uma obra mediúnica ou não, ou, ainda, dissertação feita
pelo presidente sobre a finalidade de ali estarem reunidos. Preparado o
ambiente, será proferida a prece inicial, preferencialmente de improviso e curta, mas de coração,
tendo por escopo principal obter a assistência e o concurso dos bons Espíritos a fim de
que a reunião se efetue, na realidade, em nome de Jesus” "Essas reuniões
deverão durar, em regra; hora e meia, ou, no máximo uma hora e três quartos." Tal recomendação,
aparentemente sem importância, é necessária, porque nós mesmos já temos
comparecido a sessões fatigantes, por excessivamente longas. Acontece que
certos assistentes acabam por sentir-se cansados e seu estado de ânimo se
altera, podendo influir e perturbar a harmonia de vibrações Indispensáveis ao
êxito das reuniões. Evidentemente, todas sessões devem ser encerradas com uma
prece, igualmente curta, objetiva e feita com sentimento.
Podemos apontar, corroborando as
considerações feitas acima, relativamente aos "casamentos "e
"batizados", o que já se tem visto em aniversários natalícios,
formaturas de estudantes, falecimentos (desencarnações) , etc. Devemos aplicar
a tais casos as palavras de Leopoldo Cirne, em perfeita consonância com os
"Preceitos Gerais".
Há dois livros muito úteis, que
poderão orientar com segurança aqueles que pretendam organizar sessões
espíritas: "As Sessões Práticas do Espiritismo", de Spartaco Banal e "Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo",
de Aurélio Valente. A todos, em geral, desejosos de serem fiéis às normas
recomendadas pela Federação Espírita Brasileira, aconselhamos
"Preceitos Gerais", acima referidos.
O Espiritismo é assunto muito sério
e somente deve ser praticado com seguro senso de
responsabilidade, para que sejam alcançados os benefícios decorrentes da
comunhão espiritual
com Jesus e seus devotados mandatários. Nada se deseja impor, entretanto,
porque a obra do Espiritismo é feita por todos por isso devem todos estar interessados em
valorizá-la.
A
base da pureza doutrinária
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1972
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