Palmas
Orvile Derby A. Dutra
Reformador
(FEB) Novembro 1940
Deve constituir preocupação de todo
espírita o aperfeiçoamento constante de si mesmo, do meio em que vive e, quiçá,
do seu próximo.
Tudo, portanto, em que haja ocasião
de estudo e aperfeiçoamento deve merecer-lhe carinho, dedicação e respeito.
Assim, um assunto que reclama estudo
acurado de nossos irmãos em crença é o de aplaudirem-se
com palmas os oradores, nas reuniões espíritas.
Num ambiente neutro ou profano, onde
as coisas materiais mais ou menos predominam no espírito dos assistentes, é
natural que se preste aos oradores homenagem de cunho também mais ou menos
material.
Dentro, porém, de um Centro
espírita, de uma casa de caridade, onde a espiritualidade deve preponderar,
onde os assistentes se reúnem em nome do Senhor, para expansão de sentimentos
elevados, não vemos tenham cabimento demonstrações de natureza material, para
aplausos e palmas que, ao demais, oferecem o risco de inutilizar o orador, pelo
fato muito simples de que nem sempre ele está preparado para receber homenagens
tão diretas e pessoais.
Nessas ocasiões, se um irmão nosso,
num ambiente espírita, embora possuído de muito boa vontade, sobe à tribuna
para uma palestra ou dissertação doutrinárias e, ao terminar, recebe uma salva
de palmas, não raro acontece que esses aplausos se transformam em degraus para a
sua ascensão ao trono da vaidade, filha primogênita do orgulho, e a consequência
é necessariamente funesta, triste, dolorosa.
Se o mesmo orador, numa tribuna idêntica,
por qualquer circunstância, não agrada à assistência e esta lhe dá mostra do
seu desagrado, dispensando-lhe fracos aplausos, algumas palmas apenas, isoladas
e esparsas, recebe ele a pública e amarga demonstração do seu fracasso e,
ferido no íntimo, em seu amor próprio, desgosta-se e se afasta. É um
trabalhador perdido.
O mesmo já não acontece com uma assistência
compenetrada da possibilidade desse mal. Se a peça oratória lhe agrada, em vez
de dar palmas, ela, vibrando intimamente, dirige o pensamento ao Criador,
agradecendo-lhe a magnífica dádiva, e o orador sente o benefício grande
desses aplausos de outra espécie e mais sinceros, partidos que são do fundo de
corações bem formados. Experimentando íntimo júbilo, dispõe-se a aprofundar
seus estudos da Verdade divina, para mais e melhor ainda produzir.
Se, entretanto, a sua oratória não
agradou, a assistência, sempre compenetrada do seu dever, se porta como se o
orador lhe houvesse agradado: vibra do sentimento de piedade para com este e,
como no outro caso, dirige o pensamento a Jesus, numa súplica pelo irmão mal sucedido,
exemplificando assim um dos grandes ensinamentos evangélicos: o da tolerância. Suplica
forças para o trabalhador de boa vontade que, então, sentindo o influxo
daquelas vibrações generosas, longe de desanimar, cuida de orar com mais
fervor, de estudar e meditar com mais afinco, certo de que, na próxima ocasião,
produzirá mais e melhor.
Poderíamos citar muitas consequências
desastrosas desse gênero, decepções amargas e ilusões nefastas, devidas às
palmas e aplausos. Mas, não entramos nesse terreno, por ser o da crítica. Por
satisfeitos nos teremos, se os nossos irmãos quiserem dar-se o trabalho de
observar e analisar o que se passa nesse terreno. Se o fizerem, não se deixarão
arrastar para sendas que não são as do aperfeiçoamento por que todos devemos
esforçar-nos.
Nota da Redação - Irrestritos
"aplausos" deferimos ao que se acaba de ler. Subscrevemos in totum os conceitos acima externados,
pelo corresponderem integralmente à nossa maneira de ver e de entender a
questão ventilada, correspondendo às boas normas da Doutrina Espirita e a uma
elevada compreensão do espírito de seus ensinamentos.
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