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segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A Prece


A Prece  
por Orvile Derby A. Dutra
Reformador (FEB) Novem 1941

            Uma vez sob o influxo dos sentimentos cristãos, esforça-se o espírita por seguir todos os ensinamentos do Evangelho, jamais perdendo qualquer oportunidade para aplica-los, quer sejam parabólicos, quer não, segundo o espírito, que não segundo a letra.

            Estuda constantemente esse código divino e procura exemplificar os seus sábios preceitos, sempre com o propósito firme de seguir as pegadas do Mestre excelso. Assim fazendo, logo de início se lhe evidencia que a prece, a prece íntima, sentida e fervorosa é meio seguro de pôr-se em ligação estreita com o seu Criador e Pai.

            De pronto reconhece que, se do Evangelho nem um só til ficará apagado ou será suprimido sem aplicação, não foi certamente para encher de vãs palavras tantos textos do livro da vida, que o divino Mestre tão multiplicadamente encareceu a necessidade da oração.

            Com efeito, pondo por obras a doutrina que pregava, Ele, o Cristo, além de recomendá-la, praticou a prece, ensinando como deve orar a criatura para entrar em comunhão com o céu.

            Ensinou-a mediante o “Pai Nosso”; exemplificou-a orando quando expelia dos possessos os Espíritos malfazejos; bem como quando aconselhou a seus discípulos que pedissem a seus discípulos que pedissem ao Pai trabalhadores para a sua Seara e quando operou a multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes. Exemplificou-a, sobretudo, na hora suprema e angustiosa de Getsemani.

            Nunca, pois, deve, nem pode o espiritista esquecer-se da prece, a menos que resolva lançar fora a única chave que lhe permite encontrar solução para os problemas sérios com que à miúde se defronta e que, não raro, imensamente o angustia. Aliás, se assim fizer, já não será espírita, na verdadeira significação do termo.

            Em todas as suas reuniões, mesmo que se destinem a simples palestras ou conferências doutrinárias, ou ainda, a tratar que quaisquer assuntos sérios e elevados, a prece é de necessidade imperiosa, porque é ela que saneia o ambiente, tornando-o harmonioso e sereno, de maneira a não comportar dissídios ou dissenções graves.

            Da mesma forma, por ocasião de um nascimento ou de uma desencarnação, junto de um aflito ou desesperado, nas horas angustiosas da vida, nos momentos críticos ou difíceis, é na prece que se depara a fonte de energias de que ele necessita, ou de que precisa o seu irmão para vencer a prova, compreendendo-lhe a razão e capacitando-o para dizer, com sinceridade e humildade: cumpra-se no servo a vontade do Senhor, palavras que, ditas de coração, trazem inexprimível reconforto à alma atribulada.  

            Não é, porém, somente na prova, no sofrimento que o crente espírita deve lembrar-se do Pai Celestial, para lhe dirigir a sua prece. Também nas horas de alegria, de satisfação, de gozo interior, em que a alma lhe transborda de contentamento, deve ele orar com o mesmo fervor e a mesma humildade que revele noutras ocasiões, agradecendo a esmola de alguns momentos de alívio, para recobramento das energias que lhe são necessárias a transpor sem desfalecimentos este vale de lágrimas, que é a Terra.

            Ainda grandes oportunidades lhe oferecem, para bendizer de Deus numa prece sentida, as horas das refeições, em que lhe cumpre agradecer o “pão de cada dia”, que lhe é dado para sustento do corpo, suplicá-lo para todos os que, amigos ou inimigos, vivem mal podendo alimentar-se parcamente; e implorar, para si e para todos os seus irmãos, o pão espiritual, o pão do espírito, que alimenta a alma, dando-lhe força para, escalando a montanha da evolução, conquistar a vida eterna.

            Nesse ato, igualmente, o cristão imitará o seu glorioso Mestre, que jamais partia o pão para distribui-lo com os que o cercavam, sem primeiro elevar o pensamento aos céus, numa prece de ação de graças ao Pai de infinito amor.

            A oração, porém, cumpre não o esquecer, é sentimento, é um como perfume santificador que se evola do coração. Não necessita, portanto, de fórmulas, de ritos, nem de exterioridades, como não reclama tal ou qual atitude, desde que o Espírito, dentro da sua prisão carnal, se encontre em atitude respeitosa, consciente da sublimidade do ato de orar, e isso quer em reuniões públicas quer na intimidade da criatura consigo mesma.

            O Cristo, que de contínuo preceituava a oração e a vigilância, nunca nenhuma forma de orar prescreveu, Antes, proscrevendo toda ritualística para esse ato de comunhão com os mais elevados planos da espiritualidade e com o Criador, recomendou aos seus discípulos: “quando orardes não useis de repetições desnecessárias, como fazem os gentios, que pensam que pelo muito falarem é que serão ouvidos.” (Mateus, 6: 7)

            A prece, não o esqueçamos, para que com efeito o seja, tem que ser, acima de tudo, uma demonstração de humildade real, virtude que resume toda a grandeza espiritual. Sejamos, pois, verdadeiramente humildes, ao menos quando orarmos, para que, perdoados da falta dessa virtude em quase todas as outras circunstâncias da nossa vida, possamos, como discípulos do seu Evangelho, aproximar-nos cada vez mais do meigo Rabi da Galileia.

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