A Prece
por Orvile Derby A. Dutra
Reformador
(FEB) Novem 1941
Uma vez sob o influxo dos
sentimentos cristãos, esforça-se o espírita por seguir todos os ensinamentos do
Evangelho, jamais perdendo qualquer oportunidade para aplica-los, quer sejam
parabólicos, quer não, segundo o espírito, que não segundo a letra.
Estuda constantemente esse código
divino e procura exemplificar os seus sábios preceitos, sempre com o propósito
firme de seguir as pegadas do Mestre excelso. Assim fazendo, logo de início se
lhe evidencia que a prece, a prece íntima, sentida e fervorosa é meio seguro de
pôr-se em ligação estreita com o seu Criador e Pai.
De pronto reconhece que, se do
Evangelho nem um só til ficará apagado ou será suprimido sem aplicação, não foi
certamente para encher de vãs palavras tantos textos do livro da vida, que o
divino Mestre tão multiplicadamente encareceu a necessidade da oração.
Com efeito, pondo por obras a
doutrina que pregava, Ele, o Cristo, além de recomendá-la, praticou a prece,
ensinando como deve orar a criatura para entrar em comunhão com o céu.
Ensinou-a mediante o “Pai Nosso”;
exemplificou-a orando quando expelia dos possessos os Espíritos malfazejos; bem
como quando aconselhou a seus discípulos que pedissem a seus discípulos que
pedissem ao Pai trabalhadores para a sua Seara e quando operou a multiplicação
dos cinco pães e dos dois peixes. Exemplificou-a, sobretudo, na hora suprema e
angustiosa de Getsemani.
Nunca, pois, deve, nem pode o
espiritista esquecer-se da prece, a menos que resolva lançar fora a única chave
que lhe permite encontrar solução para os problemas sérios com que à miúde se
defronta e que, não raro, imensamente o angustia. Aliás, se assim fizer, já não
será espírita, na verdadeira significação do termo.
Em todas as suas reuniões, mesmo que
se destinem a simples palestras ou conferências doutrinárias, ou ainda, a
tratar que quaisquer assuntos sérios e elevados, a prece é de necessidade
imperiosa, porque é ela que saneia o ambiente, tornando-o harmonioso e sereno,
de maneira a não comportar dissídios ou dissenções graves.
Da mesma forma, por ocasião de um
nascimento ou de uma desencarnação, junto de um aflito ou desesperado, nas
horas angustiosas da vida, nos momentos críticos ou difíceis, é na prece que se
depara a fonte de energias de que ele necessita, ou de que precisa o seu irmão
para vencer a prova, compreendendo-lhe a razão e capacitando-o para dizer, com
sinceridade e humildade: cumpra-se no servo a vontade do Senhor, palavras que, ditas
de coração, trazem inexprimível reconforto à alma atribulada.
Não é, porém, somente na prova, no
sofrimento que o crente espírita deve lembrar-se do Pai Celestial, para lhe
dirigir a sua prece. Também nas horas de alegria, de satisfação, de gozo interior,
em que a alma lhe transborda de contentamento, deve ele orar com o mesmo fervor
e a mesma humildade que revele noutras ocasiões, agradecendo a esmola de alguns
momentos de alívio, para recobramento das energias que lhe são necessárias a
transpor sem desfalecimentos este vale de lágrimas, que é a Terra.
Ainda grandes oportunidades lhe
oferecem, para bendizer de Deus numa prece sentida, as horas das refeições, em
que lhe cumpre agradecer o “pão de cada dia”, que lhe é dado para sustento do
corpo, suplicá-lo para todos os que, amigos ou inimigos, vivem mal podendo alimentar-se
parcamente; e implorar, para si e para todos os seus irmãos, o pão espiritual,
o pão do espírito, que alimenta a alma, dando-lhe força para, escalando a
montanha da evolução, conquistar a vida eterna.
Nesse ato, igualmente, o cristão
imitará o seu glorioso Mestre, que jamais partia o pão para distribui-lo com os
que o cercavam, sem primeiro elevar o pensamento aos céus, numa prece de ação de
graças ao Pai de infinito amor.
A oração, porém, cumpre não o
esquecer, é sentimento, é um como perfume santificador que se evola do coração.
Não necessita, portanto, de fórmulas, de ritos, nem de exterioridades, como não
reclama tal ou qual atitude, desde que o Espírito, dentro da sua prisão carnal,
se encontre em atitude respeitosa, consciente da sublimidade do ato de orar, e
isso quer em reuniões públicas quer na intimidade da criatura consigo mesma.
O Cristo, que de contínuo preceituava
a oração e a vigilância, nunca nenhuma forma de orar prescreveu, Antes,
proscrevendo toda ritualística para esse ato de comunhão com os mais elevados planos
da espiritualidade e com o Criador, recomendou aos seus discípulos: “quando
orardes não useis de repetições desnecessárias, como fazem os gentios,
que pensam que pelo muito falarem é que serão ouvidos.” (Mateus, 6: 7)
A prece, não o esqueçamos, para que
com efeito o seja, tem que ser, acima de tudo, uma demonstração de humildade
real, virtude que resume toda a grandeza espiritual. Sejamos, pois, verdadeiramente
humildes, ao menos quando orarmos, para que, perdoados da falta dessa virtude em
quase todas as outras circunstâncias da nossa vida, possamos, como discípulos
do seu Evangelho, aproximar-nos cada vez mais do meigo Rabi da Galileia.
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