1 - A destruição da
lnquisição na Espanha por Napoleão I
por Oscar D'Argonnel
Reformador (FEB) Dezembro 1925
Dou
agora a palavra ao coronel polaco Lumanousk, encarregado pelo Marechal Soult de
destruir a Inquisição de Madri.
“Estando
eu em 1809 em Madri, a minha atenção se fixou sobre a casa da Inquisição. Napoleão já tinha publicado
um decreto para a supressão dessa instituição por toda a parte onde as suas
armas vitoriosas se estendiam.
“Lembrei
ao marechal Soult, então governador, pelo que ele me instruiu que destruísse a
Inquisição.
"Fiz-lhe
observar que o meu regimento, o 9º de lanceiros polacos, era insuficiente para
tal serviço; mas disse-lhe que, se ele lhe ajuntasse mais dois regimentos, eu o
empreenderia. Acedeu o meu pedido.
"Um desses regimentos, o 117°, estava debaixo das ordens
do coronel de Lille. Com estas tropas, pus-me a caminho para a Inquisição. O edifício
estava rodeado por uma muralha muito forte, guardada por 400 soldados pouco
mais ou menos. Logo que cheguei debaixo da muralha, dirigi-me a uma das sentinelas e ordenei que os padres se rendessem
ao exército imperial e abrissem as portas da Inquisição.
“A sentinela, que estava em pé sobre a muralha, pareceu
conversar alguns instantes com alguém que estava do lado interior, depois do
que fez fogo sobre nós, matando um dos meus homens.
“Foi este o sinal de ataque. Ordenei às minhas tropas que
fizessem fogo sobre aqueles que aparecessem na muralha. Bem depressa se tornou
evidente que o combate era desigual.
“As muralhas da Inquisição estavam cobertas de soldados do
Santo Ofício; havia também um parapeito na muralha por detrás do qual eles se
escondiam, não saindo dali senão para se exporem em parte, enquanto
descarregavam as suas espingardas. As nossas tropas estavam numa planície
descoberta e expostas a um fogo assassino; não tínhamos nenhuma peça de artilharia;
não podíamos também escalar as muralhas, e as portas resistiam com êxito a todos
os nossos esforços para as arrombar.
“Vi que era necessário mudar a forma do ataque e mandei
cortar e aparar as árvores que, conduzidas àquele ponto, deveriam servir de aríetes.
"Duas dessas máquinas foram postas entre as mãos de
tantos homens quantos eram necessários para trabalhar com vantagem, e estes começaram
logo a atirar grandes pancadas contra as muralhas, sem se importarem com o
granizo de balas que chovia sobre eles.
“Bem depressa as muralhas começaram a tremer; e debaixo
dos esforços perseverantes e bem dirigidos do aríete, apareceu uma brecha por
onde as tropas imperiais entraram na Inquisição.
“Aqui tivemos nós uma amostra do quanto é capaz o
descaramento jesuítico. O inquisidor geral e os padres confessores, com suas vestimentas sacerdotais, saíram todos dos seus abrigos,
quando estávamos para entrar na Inquisição, com os pescoços estendidos, os braços
cruzados no peito e os dedos descansando nos ombros, como se não tendo, ouvido
o ruído causado pelo ataque e pela defesa acabassem de saber o que se passava e
dirigindo-se em tom de reproche aos seus soldados, disseram: Por que combateis os
nossos amigos franceses?
“Parece
que a sua intenção era fazer-nos acreditar que de nenhum modo haviam autorizado
a defesa, esperando, com o nos darem a crer que eram nossos amigos, poder
aproveitar mais facilmente a confusão e o saque da Inquisição para fugirem.
“O
artifício era, contudo, muito mal imaginado e de nada serviu. Mandei-os guardar
a vista, e todos os soldados da Inquisição foram feitos prisioneiros.
Começamos, então, a examinar esta prisão do inferno.
2 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I
Reformador (FEB) Janeiro
1926
“Atravessamos
quarto sobre quartos; encontramos altares, crucifixos e tochas em abundância
mas não pudemos descobrir nenhum da iniquidade que devia exercer-se neste lugar,
nenhuma daquelas coisas extraordinárias que esperávamos encontrar numa casa da
Inquisição.
“Via-se
ali a formosura, o esplendor, a ordem mais perfeita: a arquitetura,
as proporções, tudo era admirável; os
tetos e os sobrados eram de um brilhante polido; os assoalhos de mármore
estavam arranjados com um gosto esquisito. Havia ali tudo quanto pode agradar à vista e a
um espírito cultivado; mas onde estariam os instrumentos de que tanto nos
tinham falado? Onde estavam essas torres nas quais se dizia que entes humanos estavam
sepultados em vida! Os santos padres asseguravam-nos que os haviam caluniado, que
tínhamos visto tudo. Preparava-me para abandonar as minhas
pesquisas, deixando-me persuadir que esta Inquisição era diferente daquelas
de que nos tinham falado; porém o Coronel de Lille, não podendo renunciar tão
facilmente à busca, disse-me:
“Coronel,
vós sois hoje o comandante, e o que ordenardes se deve fazer;
Mas, se quereis seguir o meu conselho, mandai
examinar mais este assoalho de
mármore; ordenai que lhe deitem água por
cima e veremos se não haverá por
onde ela escoe mais facilmente.”
Respondi-lhe:
“Coronel, fazei o que quiserdes”, e ordenei que trouxessem água.
As lajes
de mármore eram grandes e de um magnífico polido, Logo que a água foi derramada
no assoalho, com grande descontentamento dos inquisidores, nós examinamos
cuidadosamente todas as fendas para ver se a água se infiltrava por elas.
Pouco
depois, o Coronel de Lille exclamou que tinha encontrado o que buscava. Ao lado
de um destas chapas de mármore, a água corria muito depressa, como se por baixo houvesse um vácuo.
Todos os
braços se puseram então à obra para mais amplas descobertas; os
oficiais com as suas espadas' e os
soldados com as suas baionetas procuravam levantar a laje. Outros bateram fortemente
com as coronhas das suas espingardas procurando quebra-la, enquanto os sacerdotes
se revoltavam contra a profanação da sua bela e santa casa.
De
repente, um soldado bateu numa mola e a laje levantou-se, então os
rostos dos inquisidores se tornaram pálidos
e, como Baltasar, quando um braço apareceu escrevendo na muralha, estes homens
de Belias começaram a tremer como varas verdes.
Olhamos
para debaixo da laje fatal, que se tinha um pouco levantado, e vimos uma escada.
Aproximei-me da mesa e tirei de um dos candelabros uma vela que estava acesa, a fim de explorar
a nossa descoberta.
Quando
apoderava dela, fui estorvado por um dos inquisidores que,
assentando devagar a sua mão no meu braço
me disse com ar devoto: “Meu filho, não deveis
tocar nisso com as vossas mãos ensanguentadas, porque é um círio bento.
"Bem,
respondi eu, preciso de uma luz benta para sondar a iniquidade.
Tomo a responsabilidade sobre mim.
3 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I
Reformador (FEB) Fevereiro
1926
Peguei na vela, desci e descobri então o motivo por que a
água nos havia
revelado esta
passagem. Debaixo deste assoalho, estava um teto muito unido,
exceto naquele sítio
onde se achava o alçapão; daqui procedia o êxito do expediente do
Coronel de Lille.
Logo que descemos a escada, entramos numa grande sala
quadrada, chamada a sala do julgamento.
No meio dela estava um grande marco, onde se achava presa uma cadeira; era ali que
eles tinham por costume colocar o acusado, ligado à cadeira. Do outro lado da sala
estava um outro assento elevado, chamado o trono do juízo; este era ocupado
pelo inquisidor geral. Havia ali também em redor, assentos menos elevados para
os padres, quando se tratava de negócios da Santa Inquisição.
Desta sala passamos à direita e encontramos pequenas celas
que se estendiam em todo o comprimento do edifício; mas aqui, que espetáculo se
ofereceu à nossa vista! Como a religião benfazeja do Salvador tinha sido representada
por homens que faziam profissão dela! Estas celas serviam de cárceres solitários
onde as infelizes vítimas do ódio inquisitorial ficavam encerradas até que a
morte as livrasse de seus algozes. Ali deixavam os seus corpos até se
decomporem, e os cárceres eram ocupados por outros indivíduos... A fim de que isto
não incomodasse os inquisidores havia tubos muito grandes para evacuar o fétido
dos cadáveres.
Em certas celas encontramos os restos de alguns homens
que tinham expirado recentemente ao passo que, em outras, só se achavam
esqueletos acorrentados ao assoalho. Em algumas encontramos vítimas vivas de
todas as idades e de todos os sexos desde o mancebo a donzela, até velhos de setenta anos todos eles despojados
do seu vestuário como na hora do seu nascimento!"
4 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I
Reformador (FEB) Março
1926
“Os nossos soldados trataram imediatamente de livrar estes
cativos das suas correntes e tiraram uma
parte dos seus vestuários para cobrir com eles estas infelizes criaturas, desejavam vivamente leva-la
à luz do dia; mas, reconhecendo o perigo que haveria em fazê-lo, opus-me a isso
e insisti para que lhes eles dessem primeiramente tudo de quanto houvessem
precisão e para que não lhe fizessem ver a claridade senão de um modo muito
gradual.
Tendo visitado todas estas celas e aberto as portas das
prisões em que ainda as vítimas viviam, fomos visitar outra ala à esquerda. Ali
encontramos todos os instrumentos de tortura que o gênio dos homens ou dos demônios
pode inventar.
À sua vista o furor dos nossos soldados não pode conter-se;
exclamaram que cada um dos inquisidores, frades e soldado do estabelecimento
merecia ser torturado. Não nos opusemos a isso. Começaram imediatamente a obra
da tortura na pessoa dos padres.
Vi pôr em pratica quatro espécies diferentes de tortura,
e depois retirei-me
desta horrível cena,
que durou enquanto existia um único indivíduo desta antecâmara do inferno, na
qual os soldados pudessem saciar a sua vingança.
Logo que as pobres vítimas saídas das celas da Inquisição,
puderam, sem
Perigo, sair da
prisão para se esporem à luz do dia (tinha-se espalhado a notícia que inúmeros
infelizes haviam sido salvos da Inquisição), logo acorreram todos aqueles aos quais
o Santo Ofício arrancara amigos; vinham ver se havia alguma esperança de os
achar vivos.
Oh! Que encontro esse!
Cem pessoas, mais ou menos, que tinham estado sepultadas
durante muitos anos, eram agora entregues à sociedade dos seus semelhantes;
muitos encontraram aqui um filho, ali uma filha, aqui uma irmã e ali um irmão. Alguns,
porém, não reconheceram amigos. Que cena triste! Não é possível descrevê-la!
Depois de ter sido testemunha disto, querendo terminar a
obra que tinha começado, dirigi-me a Madrid e obtive uma grande quantidade de
pólvora que coloquei debaixo do edifício e nos seus subterrâneos. Milhares de
espectadores
atentos nos viram
deitar-lhe o fogo. As muralhar e as torres maciças do orgulhoso edifício se
elevaram em despojos para os céus.
A Inquisição de Madrid já não existia. "
Napoleão I, ainda jovem
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