Evangelho
e Pregação
Tasso
Porciúncula
/ (Indalício
Mendes)
Reformador
(FEB) Agosto 1976
Nada é mais fácil do que a leitura dos
Evangelhos, do que dizer-se que todos devemos ser assim e assim, para que a
reforma individual contribua, a pouco e pouco, para a melhoria das
coletividades. Escrever-se sobre os princípios de ordem moral, subir-se a uma
tribuna e exaltar a beleza e a utilidade das lições de Jesus, tudo muito fácil.
Aconselhar-se a exemplificação diária desses princípios e dessas lições, muito
acertado e conveniente. Todavia, o principal é que aqueles que escrevem bonito
ou falam bonito sobre essas coisas tão importantes sejam os primeiros a dar o
exemplo em seu comportamento cotidiano; do contrário, é bem de ver, não
passarão de infelizes enganadores de si mesmos, como os escribas e fariseus de
que nos falam as Escrituras. Não há dúvida de que, mesmo assim, conseguirão que alguém se resolva a praticar as lições evangélicas, pelo
menos enquanto não souber que ele é “guia de cego”, mas cego também, porque não
está em condições de demonstrar a sinceridade de suas palavras na prática
diária, exemplificando o que aconselha aos outros.
Para cumprir o que determinam os Evangelhos
é preciso coragem. Sim, coragem e força de vontade. Nós, que não temos sequer a
semelhança das virtudes de Jesus, lutamos com a inferioridade moral que nos
impôs as provas da reencarnação, precisamos ter muito ânimo, muita coragem,
muita determinação para vencer a barreira que está em nosso íntimo. Não é
fácil. Nem é trabalho para poucas horas ou poucos dias, porque muita vez as nossas mazelas surpreendem-nos quando já nos parece que estamos progredindo um
pouco...
A responsabilidade dos que escrevem e
pregam o Evangelho é gigantesca. Podem comprometer-se seriamente, se não se preocupam
em pregar pelo exemplo, renunciando à vaidade que os aplausos estimulam, se não
rejeitam de fato a idéia do “prestígio” que pode surgir aqui e ali. Alguns, no
entanto, não se preocupam com o dia de amanhã. Fazem questão de figurar entre
os maiores oradores ou os melhores articulistas, por vezes usando expressões inadequadas, que o ouvinte comum desconhece.
Alguns, “cegos, guias de cegos”, ainda não
tiveram a necessária coragem de respeitar os Evangelhos, de tentar, com
disposição, a árdua tarefa da exemplificação. Não souberam ainda aprender com
os oradores que realizam com fé e superioridade a sua função na tribuna
religiosa, e com o jornalista que, em vez de pensar em si mesmo, analisa com
firmeza e devoção os pontos evangélicos que mais necessários se fazem a
determinados auditórios.
É
preceito doutrinário: “...não vos isenteis dos deveres que os vossos cultos
impõem, porquanto ainda agora, como ao tempo dos Hebreus e até que estejais
bastante adiantados moral e intelectualmente, bastante purificados para não
mais adorardes o Pai no monte ou em Jerusalém, para serdes adoradores do Pai em
espírito e verdade, é necessário que tenhais um freio. Fazei, porém, de modo
que o cumprimento de tais deveres seja uma homenagem sincera, sinceramente prestada
ao grande Ser que reina sobre o Universo e não a marcha monótona e regular da
máquina que funciona porque tem que funcionar. Não vos limiteis às práticas
exteriores dos vossos cultos, omitindo, negligenciando a adoração verdadeira e
a caridade do coração e dos atos, as quais, quando praticadas, constituem o
amor a Deus, a justiça, a misericórdia e a fé” (“Os Quatro Evangelhos”, J.-B. Roustaing).
Há verdades que devem ser veiculadas, menos
com o objetivo exclusivo de crítica destrutiva do que com a intenção de viver-lhes
a mensagem com os companheiros que nem sempre se lembram de que colheremos
amanhã o que semearmos hoje.
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