Libertação pelo Evangelho
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Março 1954
É nas horas de pungente provação que o homem se aproxima de
Deus, porque o sofrimento lhe desperta o espírito adormecido pelas vibrações
negativas da matéria, chamando-o para a realidade da vida verdadeira, que é a
espiritual. Eis o motivo por que, nos transes dolorosos da humanidade, os
indiferentes tremem e procuram, num sentimento que não sabem definir, alivio
para os sobressaltos que lhes roubam a -tranquilidade costumeira. A dor é a
chave mágica que abre ao espírito as portas da redenção. Ela aproxima a
criatura de Deus e fá-la compreender a grandeza do homem que se escuda no
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, enfrentando corajosamente os altibaixos
da vida terrena.
Os conflitos que lançam nações contra nações, em nome de
princípios que se não conciliam com a estrutura do Evangelho, são oriundos da
materialidade dos homens. Os pensamentos impuros impregnam o ambiente de fluidos
pesados, perturbando a paz dos espíritos e levando a desarmonia aos lares e às
pátrias, desviando os homens do caminho reto do dever máximo traçado por Jesus
em Seu código de amor e caridade: "amai-vos
uns aos outros".
Já o disse Paulo, na Epístola aos Romanos: "A mente da carne é morte, mas a mente do
Espírito é vida e paz. Pois a mente da carne é inimizade contra Deus; visto que
não é sujeita à lei de Deus, nem o pode ser; os que estão sujeitos à carne, não
podem agradar a Deus". Penetremos o sentido dessas palavras do grande
Apóstolo dos Gentios e iremos interpretá-las como a afirmativa irrefragável de
que os interesses materiais exacerbados conduzem o homem ao pecado, enquanto
que a espiritualização de sua conduta terrena lhe oferece como prêmio
inelutável o conforto moral, a paz, essa paz bendita que o divino Mestre nos dá
a todos os instantes, por misericórdia de acréscimo, mas que nem todos se
preparam convenientemente para recebê-la e frui-la em comunhão com os seus
semelhantes.
A "mente da carne
é inimizade contra Deus" porque viola os mais elementares princípios
de fraternidade, atentando contra a majestade do espírito, num desviamento de
trajetória que o livre-arbítrio permite para que se cumpra a santa palavra do
Evangelho.
O homem não se pertence: é patrimônio divino. Está destinado
à felicidade, mas tem de aprender por si mesmo a criar e defender essa
felicidade, que é de natureza espiritual tão somente. As guerras retratam o
verdadeiro aspecto moral do nosso mundo. Mostram que há falta de Evangelho no
coração dos homens. Por isto, a felicidade, que é a aspiração máxima do
espírito, só poderá ser alcançada por meio da cristianização
dos lares.
Estamos no alvor do terceiro milênio e, consoante Emmanuel,
"é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as
dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos "ais" do
Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico,
conduzindo-o para o bem de toda a humanidade.
O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do
mundo neste século de declives da sua história; só ele pode, na sua feição de
Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força
e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros
caminhos. No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa
cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova
era. São chegados os tempos em que as forças do mal
serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos
ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação
temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam
sobre o seu império perecível".
A dor avassala o mundo. Flectida ao peso do sofrimento, a
humanidade se engolfa na contemplação da própria desventura. Esta poderá ser o
seu banho lustraI de reabilitação ante Jesus, induzindo-a ao entendimento do
Evangelho, que encerra a vontade de Deus, tanto que o divino Mestre o afirmou:
"O meu ensino não é meu, mas daquele
que me enviou". Portanto, sem o Evangelho não pode haver salvação.
"Aí vem a hora da colheita e antes que a noite do túmulo desça sobre vós
com essas surpresas que
fazem o desespero da alma, cumpre que aproveiteis as horas do dia.
Aproveitai-as para cavar a dura terra dos vossos erros e imperfeições,
preparando-vos, assim, para o vosso ressurgir de um dia, no seio doce e amantíssimo
do Redentor do mundo! - diz Bittencourt Sampaio.
Estudai o Evangelho à luz do Espiritismo, levantando o
edifício, da vossa crença sobre a rocha e não sobre a areia movediça, pois que
nisso se encerra o critério da vossa fé, a base da vossa salvação; e, assim,
tereis obtido a sonhada escada de Jacó, para a ascensão do vosso espírito aos
páramos da luz e da verdade. Construí o edifício da vossa crença sobre a rocha,
isto é, compreendei e praticai a Doutrina e Jesus dilatando os seios da vossa
alma aos eflúvios desses sentimentos puros que santificam os anjos.
Se, porém, vos limitardes a ler o Evangelho, a
compreendê-lo, sem o praticardes; se permanecerdes firmes e coerentes com as Ieis
do passado, amando os vossos amigos e aborre- cendo os vossos inimigos, tereis
edificado sobre a areia movediça, satisfazendo as necessidades da vossa alma
com esses preceitos, com essas fórmulas que nada valem - tesouros que são
corroídos pela traça - bens que se corrompem,
deixando
os vossos espíritos na nudez das verdadeiras riquezas - as riquezas do
céu!"
Sejamos os garimpeiros da fé, enriquecendo o nosso espírito
nos veios do ouro do Evangelho, desfazendo-nos dos ouropéis, do pecado e
iluminando-nos, a pouco e pouco, com as virtudes que identificam o verdadeiro
discípulo de Jesus, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida". Mas
tenhamos sempre vivo em nosso pensamento o episódio de Getsêmani, onde Ele
convidou os discípulos a orar, conservando o espírito vigilante para não ceder
às vertigens do pecado.
Todos somos filhos pródigos, mas teremos a oportunidade de
atingir a bem-aventurança espiritual, se porfiarmos na luta contra os nossos
Impulsos subalternos, contra as solicitações recalcitrantes da nossa natureza
material.
Aproximam-se os tempos preditos pelo Evangelho, em que os
espíritos rebeldes serão chamados a prestar contas de suas tarefas, como aqueles
servos de que fala a parábola do Mestre. Somente pelo Evangelho o homem poderá
libertar-se da dor, à proporção que for evolvendo no sentido de Deus. As trevas
que o circundam nascem da sua própria inferioridade espiritual, do seu
alheamento das coisas do espírito, do seu afastamento de Jesus. À medida,
entretanto, que se vai aproximando do Cristo, o negrume que o envolve cede
progressivamente à luz difusa que promana dos ensinos do
manso
Cordeiro.
A libertação espiritual do homem depende de sua cristianização
desde o lar, cristianização que se fará por meio do Evangelho, explicado em
espírito e verdade, e vivido em todos os atos e pensamentos.
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