quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Libertação pelo Evangelho


Libertação pelo Evangelho
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Março 1954

É nas horas de pungente provação que o homem se aproxima de Deus, porque o sofrimento lhe desperta o espírito adormecido pelas vibrações negativas da matéria, chamando-o para a realidade da vida verdadeira, que é a espiritual. Eis o motivo por que, nos transes dolorosos da humanidade, os indiferentes tremem e procuram, num sentimento que não sabem definir, alivio para os sobressaltos que lhes roubam a -tranquilidade costumeira. A dor é a chave mágica que abre ao espírito as portas da redenção. Ela aproxima a criatura de Deus e fá-la compreender a grandeza do homem que se escuda no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, enfrentando corajosamente os altibaixos da vida terrena.

Os conflitos que lançam nações contra nações, em nome de princípios que se não conciliam com a estrutura do Evangelho, são oriundos da materialidade dos homens. Os pensamentos impuros impregnam o ambiente de fluidos pesados, perturbando a paz dos espíritos e levando a desarmonia aos lares e às pátrias, desviando os homens do caminho reto do dever máximo traçado por Jesus em Seu código de amor e caridade: "amai-vos uns aos outros".

Já o disse Paulo, na Epístola aos Romanos: "A mente da carne é morte, mas a mente do Espírito é vida e paz. Pois a mente da carne é inimizade contra Deus; visto que não é sujeita à lei de Deus, nem o pode ser; os que estão sujeitos à carne, não podem agradar a Deus". Penetremos o sentido dessas palavras do grande Apóstolo dos Gentios e iremos interpretá-las como a afirmativa irrefragável de que os interesses materiais exacerbados conduzem o homem ao pecado, enquanto que a espiritualização de sua conduta terrena lhe oferece como prêmio inelutável o conforto moral, a paz, essa paz bendita que o divino Mestre nos dá a todos os instantes, por misericórdia de acréscimo, mas que nem todos se preparam convenientemente para recebê-la e frui-la em comunhão com os seus semelhantes.

A "mente da carne é inimizade contra Deus" porque viola os mais elementares princípios de fraternidade, atentando contra a majestade do espírito, num desviamento de trajetória que o livre-arbítrio permite para que se cumpra a santa palavra do Evangelho.

O homem não se pertence: é patrimônio divino. Está destinado à felicidade, mas tem de aprender por si mesmo a criar e defender essa felicidade, que é de natureza espiritual tão somente. As guerras retratam o verdadeiro aspecto moral do nosso mundo. Mostram que há falta de Evangelho no coração dos homens. Por isto, a felicidade, que é a aspiração máxima do espírito, só poderá ser alcançada por meio da cristianização dos lares.

Estamos no alvor do terceiro milênio e, consoante Emmanuel, "é chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos "ais" do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-o para o bem de toda a humanidade.

O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua história; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos. No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam sobre o seu império perecível".

A dor avassala o mundo. Flectida ao peso do sofrimento, a humanidade se engolfa na contemplação da própria desventura. Esta poderá ser o seu banho lustraI de reabilitação ante Jesus, induzindo-a ao entendimento do Evangelho, que encerra a vontade de Deus, tanto que o divino Mestre o afirmou: "O meu ensino não é meu, mas daquele que me enviou". Portanto, sem o Evangelho não pode haver salvação. "Aí vem a hora da colheita e antes que a noite do túmulo desça sobre vós com essas surpresas que fazem o desespero da alma, cumpre que aproveiteis as horas do dia. Aproveitai-as para cavar a dura terra dos vossos erros e imperfeições, preparando-vos, assim, para o vosso ressurgir de um dia, no seio doce e amantíssimo do Redentor do mundo! - diz Bittencourt Sampaio.

Estudai o Evangelho à luz do Espiritismo, levantando o edifício, da vossa crença sobre a rocha e não sobre a areia movediça, pois que nisso se encerra o critério da vossa fé, a base da vossa salvação; e, assim, tereis obtido a sonhada escada de Jacó, para a ascensão do vosso espírito aos páramos da luz e da verdade. Construí o edifício da vossa crença sobre a rocha, isto é, compreendei e praticai a Doutrina e Jesus dilatando os seios da vossa alma aos eflúvios desses sentimentos puros que santificam os anjos.

Se, porém, vos limitardes a ler o Evangelho, a compreendê-lo, sem o praticardes; se permanecerdes firmes e coerentes com as Ieis do passado, amando os vossos amigos e aborre- cendo os vossos inimigos, tereis edificado sobre a areia movediça, satisfazendo as necessidades da vossa alma com esses preceitos, com essas fórmulas que nada valem - tesouros que são corroídos pela traça - bens que se corrompem,
deixando os vossos espíritos na nudez das verdadeiras riquezas - as riquezas do céu!"

Sejamos os garimpeiros da fé, enriquecendo o nosso espírito nos veios do ouro do Evangelho, desfazendo-nos dos ouropéis, do pecado e iluminando-nos, a pouco e pouco, com as virtudes que identificam o verdadeiro discípulo de Jesus, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida". Mas tenhamos sempre vivo em nosso pensamento o episódio de Getsêmani, onde Ele convidou os discípulos a orar, conservando o espírito vigilante para não ceder às vertigens do pecado.

Todos somos filhos pródigos, mas teremos a oportunidade de atingir a bem-aventurança espiritual, se porfiarmos na luta contra os nossos Impulsos subalternos, contra as solicitações recalcitrantes da nossa natureza material.

Aproximam-se os tempos preditos pelo Evangelho, em que os espíritos rebeldes serão chamados a prestar contas de suas tarefas, como aqueles servos de que fala a parábola do Mestre. Somente pelo Evangelho o homem poderá libertar-se da dor, à proporção que for evolvendo no sentido de Deus. As trevas que o circundam nascem da sua própria inferioridade espiritual, do seu alheamento das coisas do espírito, do seu afastamento de Jesus. À medida, entretanto, que se vai aproximando do Cristo, o negrume que o envolve cede progressivamente à luz difusa que promana dos ensinos do
manso Cordeiro.     


A libertação espiritual do homem depende de sua cristianização desde o lar, cristianização que se fará por meio do Evangelho, explicado em espírito e verdade, e vivido em todos os atos e pensamentos.

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