O Desenvolvimento da Mediunidade
Aurélio A. Valente
Reformador
(FEB) Março 1944
O desenvolvimento da mediunidade é uma das tarefas mais
árduas dos que se dedicam à prática do Espiritismo. Além da experiência do
mundo, precisam ter em elevado grau o senso da observação, para bem analisarem
as comunicações, os Espíritos e os médiuns, a fim de tirarem dos fenômenos as
mais proveitosas lições.
Quase todos, presidentes, médiuns e assistentes, tem pelos
fenômenos, uma impaciência doentia, desejando resultados imediatos, sem levarem
em conta que "a pressa é inimiga da perfeição".
As árvores frondosas, que dão a melhor sombra e os melhores frutos,
levam anos para atingir o seu completo crescimento.
Muitos confrades não ligam ao desenvolvimento da mediunidade
todo carinho que deve merecer esse abençoado trabalho, alegando que os Espíritos
é que se encarregam de escolher os seus médiuns e produzir os fenômenos que
desejam, e para corroborar suas afirmativas citam casos de pessoas que nunca se
assentaram em mesas de sessões terem recebido manifestações. Ninguém contesta;
porém, esses casos são em número reduzido. Esses médiuns, classificados por
Allan Kardec, de espontâneos ou naturais, nem por isso dispensam a assistência
de espíritas esclarecidos para poderem fazer bom uso da sua faculdade.
Não há ninguém capaz de dizer que Pedro, Sancho ou Paulo
sejam médiuns, pois, nenhum sinal notável se observa no indivíduo. Só a
experimentação o prova. E isso também é difícil, porque se há pessoas que
recebem comunicações logo da primeira vez que comparecem a uma sessão, outras
há que só o conseguem depois de meses, havendo ainda outras que só mesmo depois
de anos de assiduidade e perseverança logram-no conseguir.
Pelo que acabamos de dizer, é o bastante para se verificar a
necessidade de cuidarmos do desenvolvimento gradual e metódico dos médiuns,
porque só pela instrução em geral, da parte moral e doutrinária do Espiritismo,
poderão eles servir de instrumentos
dóceis aos Espíritos comunicantes.
Em nosso trabalho anterior, fizemos referências às vibrações
dos Espíritos e dos médiuns, e dos esforços que os primeiros fazem para
estabelecer o equilíbrio a fim de se produzir o fenômeno. Assim, não podemos
deixar de fazer um reparo no que se passa em grande número de Centros. É frequente
vermos médiuns já desenvolvidos, segundo afirmam, a dar passes desordenados,
sem a menor orientação, sobre os outros que se acham em desenvolvimento. A
nosso ver, isso longe de favorecer dificulta seriamente.
Se a experiência nos diz que não há dois médiuns iguais,
logicamente nem todos os médiuns desenvolvidos servem para dar passes, e muito
menos para auxiliar o desenvolvimento da mediunidade.
Se, para a combinação de duas vibrações, como dissemos, há
dificuldades, maiores serão elas para a harmonia de quatro: do médium
desenvolvido e seu guia, e do médium em desenvolvimento e do Espírito que se
quer manifestar.
Como se originou essa prática? Não o sabemos. O certo é que,
no O Livro dos Médiuns, Allan Kardec
diz que estava dando bom resultado o colocar um médium psicográfico,
desenvolvido, a mão sobre a do médium em desenvolvimento, ou, mesmo, no ombro deste;
porém, isso não é passe, na pura acepção do termo, e sim aposição da mão, do
mesmo modo que faziam os Apóstolos conforme se lê nos Atos dos Apóstolos.
Os passes desordenados são prejudiciais. Não se pode dar
passes sem preparo prévio, pois eles variam segundo a sua finalidade. Há passes
horizontais, verticais, concêntricos, rotativos e dispersivos e, assim, o seu
emprego não pode ser indistinto.
É preciso notar-se, também que nem sempre há afinidade entre
o médium em desenvolvimento e o que lhe fica atrás. Deste modo, como se operar
o fenômeno com facilidade?
Em muitos grupos, os confrades se envaidecem ao mencionarem
o elevado número de médiuns desenvolvidos em seu meio, entretanto, quando se
deseja uma receita, uma consulta, um estudo interessante, não aparece um só
médium que sirva.
O desenvolvimento da mediunidade deve ser objeto de
escrupuloso cuidado de todos os que se dedicam ao Espiritismo prático, pois não
necessitamos de muitos médiuns sofríveis ou medíocres, bastando-nos poucos,
mas, bons e seguros. Em Espiritismo, é preciso observar, não fazemos questão de
quantidade, mas, sim, de qualidade.
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