Uma personalidade inconfundível
Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Junho 1954
Frequentemente os
que ainda não lograram vislumbrar as luzes do caminho cometem equívocos ao
pretenderem julgar a personalidade de Jesus. Os materialistas costumam insistir
no ponto de vista falso de que os princípios do Cristianismo enfraquecem o
caráter humano, roubando-lhe a virilidade, porquanto ensinam o homem a ser
simples e humilde. Não compreendem que a simplicidade não é sinal de fraqueza e
que a humildade não revela, de modo algum, carência de energia moral. Pelo
contrário, o homem simples é um homem forte, desde que saiba situar na devida
posição a sua simplicidade. O homem humilde é poderoso, porque se revela senhor
de si mesmo, dominador de seus instintos, pois sabe jugular seus impulsos e
agir consoante as determinações de uma vontade esclarecida. Por conseguinte, o
homem humilde, antes de ser um fraco, é uma criatura possuidora de grande poder
volitivo.
Ensinando os homens
a conduzirem sua vida na simplicidade, o Cristianismo tem por fim formar caracteres
pobres e limpos; apontando-lhes o rumo da humildade, procura engrandecer o
espírito humano, predispondo-o à tolerância consciente e ao perdão construtivo.
Os simples não se envilecem ante as tentações do mundo. Os humildes não se
amesquinham jamais, porque conservam o coração fechado ao orgulho e sussurram
suavemente, ainda quando poderiam gritar. A humildade não envergonha: enaltece.
O orgulho e a vaidade não redimem; destroem o que de melhor o homem pode
possuir no coração. Jesus é grande porque a sua simplicidade é imensa e é
imenso porque a sua humildade é infinita. Entretanto, quanta expressão na sua
meiguice quanta força na sua conduta serena e-imperturbável! A sua aparente
fragilidade tem resistido aos séculos e prevalecerá por todos os tempos
vindouros. Deixando-se supliciar e levar à cruz, sem um protesto, sem um
queixume, espantou a Humanidade com a força incoercível dessa fragilidade que
os materialistas interpretam tão mal. Pregando o amor, sofrendo o ódio cego dos
homens empolgados pela maldade, rasgou com o próprio sangue o itinerário
luminoso que há de propiciar à Humanidade a felicidade ansiada!
Fraco não é o
Cristianismo, mas são fracos aqueles que não puderam ainda abrir os olhos para
as verdades que estão nos Evangelhos. Jesus foi de urna bravura inigualável, ao
opor sua doutrina amorosa aos princípios duros do judaísmo. Com a cordura sem
par do seu sentimento fraterno, cresceu de tal maneira que as sinagogas tremeram
e o poder romano se abalou, vindo, mais tarde, a desmoronar ruidosamente.
Enquanto isto, o Mestre se expandia, levando aos homens, a todos os homens, sua
mensagem de paz e amor, mesmo àqueles que o sacrificaram, mas que, através das reencarnações
sucessivas, encontrarão um dia a redenção almejada, porque Jesus não fecha
jamais as portas do perdão a ninguém!
Onde a fraqueza de
quem opôs a fé esclarecida ao poder violento e homicida de criaturas animalizadas
pelo egoísmo e pela ambição? Onde a fraqueza de quem, sabendo os riscos que
corria, enfrentou-os com admirável tranquilidade, escudado na fé e escorado na
certeza de que sua missão messiânica teria de ser cumprida? Foi Jesus o fraco
ou fracos foram aqueles que, temerosos da sua humildade, se juntaram para
sacrificá-la, ainda que muitos, como Pilatos, se acovardassem diante das
conveniências humanas, permitindo fosse imolado um justo para que a maldade se
aplacasse transitoriamente? De quem o maior poder: de Jesus, amparado por Deus
em sua gloriosa peregrinação terrena, ou dos potentados da Terra, que lhe
venceram o corpo, mas não lhe dominaram o espírito maravilhoso? De quem o poder
maior: de Jesus, que adquiriu maior vida ao sofrer o insulto da cruz ou dos
homens transitoriamente poderosos, de existência limitada por exigências
biológicas? Jesus ainda hoje vive no coração das criaturas de boa-vontade,
cujas palavras não desmentem os sentimentos agasalhados no coração. Ele reina
cada vez mais na Terra e os poderosos de um dia se confundiram já no volutabro (devassidão imunda) e para lá ainda se
encaminham os espíritos trevosos do passado e do presente. Mas, tão grande é a
misericórdia do Mestre, que a sua bondade penetra a lama dos charcos e oferece
aos infelizes desviados da verdade repetidos ensejos para a conquista da
reabilitação.
Jesus, o simples;
Jesus, o humilde. Digamo-lo com alegria, porque Jesus é, sem dúvida, a
personificação da simplicidade e da humildade. Mas Jesus é forte pelo seu
infinito amor à Humanidade; é poderoso, pela Sua desmedida misericórdia, na
obra de tornar os bons ainda melhores e fazer dos maus figuras exemplares de
bondade.
Está nos
Evangelhos, que Jesus é o caminho, a verdade, a vida. Está no Espiritismo que
não há condenações irremissíveis e que para todos os pecadores há possibilidade
de salvação, através dos testemunhos que as reencarnações sucessivas propiciam.
O inferno e o purgatório estão dentro daqueles que renunciaram à companhia do
Mestre. São figuras simbólicas que definem os sofrimentos a que o homem se subordina
por sua inferioridade moral. Uma vez que cada criatura comece a lutar pela
renovação de suas condições morais, poderá ir paulatinamente destruindo o
inferno e o purgatório que criou para si mesma, porquanto Deus jamais castigou,
jamais lançou seus filhos a sofrimentos eternos.
Sua infinita
sabedoria, sua infinita misericórdia, sua infinita bondade se refletem na
personalidade encantadora de Jesus-Cristo, que resume, em suas virtudes, a
perfeição a que poderão chegar um dia todas as criaturas que se disponham a
identificar-se com Deus.
Ao dizê-lo não nos
abismamos na beatice que frustra o raciocínio livre. Longe de nós a escravidão
beata, porque, reconhecendo os incontestável realidade de Deus e a evidência de
Jesus, nos tomaremos livres na proporção em que se dilatar esse reconhecimento.
Deus e Jesus apenas podem ser reconhecidos através do sentimento. À medida que
avançamos e ampliamos a nossa compreensão das verdades espírito evangélicas,
diminuímos a distância que nos separa de Deus e de Jesus. Todavia, não basta compreender,
porque é imprescindível demonstrar essa compreensão através do exemplo
cotidiano.
Compreender e
exemplificar são, nesse caso, como que sinônimos. Daí a grandiosidade do sacrifício
de Jesus, porque ele foi o coroamento da mais soberba exemplificação das
verdades divinas. E o foi porque, exemplificando, o Mestre revelou a sua
profunda compreensão de Deus.
A meditação diária
facilita a comunhão da nossa alma com os invisíveis trabalhadores da Seara do
Cristo. Ela nos leva a oportunidade de experimentar o grau de sensibilidade
psíquica que possuímos, pela sensação de alívio e bem-estar que nos traz. E é
necessária à preparação do espírito para o aprendizado evangélico de todos os
dias. O estudo da Doutrina Espírita, compilado com o dos Evangelhos, arma-nos
para a defesa de que necessitamos nas surpresas mais sutis da vida de relação.
Todavia, é meditando que poderemos tornar o nosso espírito mais dócil às lições
do Evangelho, porque nos ofereceremos melhor à influência benéfica dos nossos
irmãos desencarnados. E à proporção que o meditar se for tornando um hábito
para o nosso espírito, iremos encontrando menos dificuldade para sentir a
grandeza moral de Jesus e os encantos da sua personalidade realmente forte e irresistível.
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