Respondendo
Irmão
X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1956
Meu
caro M ... (1)
Indagando como
interpretam os Espíritos o problema da guerra atômica, em síntese você pergunta
como apreciamos nós, os desencarnados que tanto nos agarramos ao Evangelho de
Jesus, a evolução da técnica científica no plano dos homens, e, sem pestanejar,
devo dizer-lhe que o progresso da inteligência, na Terra de hoje, é realmente
enorme.
Quem diria, no
limiar deste século, que o mundo seria conduzido às facilidades que atualmente
lhe favorecem a vida?
Poderosas
embarcações aéreas cruzam o espaço, com velocidade supersônica, e
transatlânticos, figurando cidades, flutuam no mar, eliminando as distâncias.
O turista viaja de
um polo a outro mais facilmente que um de nossos antepassados quando se
locomovia de sua taba para a maloca vizinha. Pela onda radiofônica, um repórter
instalado no Rio ouve uma informação de Tóquio com mais segurança que uma
resposta verbal que lhe desfechemos no ouvido entre quatro paredes, e, pelos
prodígios da televisão, a família não precisa ausentar-se do conforto mais íntimo,
para seguir, com atenção, os grandes eventos públicos.
No campo da
Medicina, o avanço é surpreendente. Até o coração já foi abordado com êxito por
instrumentos operatórios.
Entretanto, meu
amigo, punge-nos observar o atraso do sentimento quando comparado ao raciocínio.
Quase sempre, o
engenheiro que constrói pontes admiráveis, solucionando aflitivos problemas do
trânsito, não sabe caminhar pacificamente dentro de casa. Há cirurgiões exímios
que subtraem a úlcera duodenal e extirpam o câncer, ignorando como fazer a
oclusão de um desgosto doméstico. Temos estudiosos que analisam a posição de
galáxias remotas de acordo com os últimos apontamentos de Palomar e
não conseguem ver a necessidade de amor na
residência que lhes é própria, não conseguem ver a necessidade de amor na residência
que lhes é própria. Encontramos viajantes que excursionam pela Terra inteira,
despendendo milhões e desconhecendo como viver em paz no domicílio em que
nasceram.
Vocês dispõem de
especialistas de todos os gêneros.
Há quem idealize
arranha-céus, edificando-os sem dificuldade, há quem invente máquinas, as mais
diversas, desde o trator pesado que derruba montanhas ao pequenino aparelho de
cortar ovos, e há quem conduza a eletricidade aos menores recantos da vida,
oferecendo repouso aos braços; contudo, não se sabe ainda como resolver as
desarmonias da parentela, os enigmas das paixões animalizantes, as aflições do tédio, as predisposições ao suicídio e
as aberrações da vaidade.
As rixas de marido
e mulher, as bocas maldizentes, a desilusão com os amigos, a ingratidão de
muitos jovens e a rabugice de muitos velhos são chagas morais, tão deprimentes
no século XX como na época recuada dos faraós.
E penso, então,
como seria importante a criação de máquinas que nos dessem juízo e equilíbrio,
honestidade e paciência, discernimento e vergonha.
Entretanto, meu
caro, semelhantes valores não são adquiríveis com alumínio ou aço, ouro ou
ferro, soro de macaco ou terramicina. Constituem talentos do Espírito que é
preciso conquistar ao preço de nosso próprio esforço. Assim sendo, não vale
subir à estratosfera e descer ao abismo oceânico, alardeando o orgulho vão de
quem domina por fora, derrotado por dentro.
É por isso que nós,
os Espíritos desencarnados, conscientes dos próprios débitos e das próprias
fraquezas, nos apegamos com tanto ardor ao Cristo vivo, o doador da
imortalidade vitoriosa, porque para nós, antes de tudo, importa melhorar o
coração e aprender a viver.
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