Falsos Profetas
F. Salústio (indalício Mendes)
Reformador (FEB)
Janeiro 1956
Observa-se nos
setores espíritas, da parte da grande maioria, perfeita concordância com os princípios
doutrinários do Espiritismo e uma elogiável fidelidade às instituições mais
representativas do nosso movimento. Entretanto, uma minoria, tocada pela mais irrequieta
volubilidade, dá solidariedade a tudo quanto aparece com sabor de novidade,
deixando-se levar pela palavra sedutora de pretensos profetas, que não criam
nada, verdadeiramente, mas apenas promovem a dissociação das coletividades
existentes, enfraquecendo-as ou tentando enfraquecê-las, a fim de melhor
alcançarem seus objetivos. Ora, em todos os tempos, nas épocas de maiores crises
morais e espirituais, surgem e se multiplicam os "salvadores" da
Humanidade, que predicam em nome de Deus, citam a cada passo o Evangelho de Jesus, e, sem verdadeira formação
doutrinária, atraem os ingênuos, os superficiais, afastando-os do caminho em
que se encontravam para levá-los por outros rumos aparentemente com a mesma
finalidade redentora.
Este é o quadro que
se observa atualmente no mundo e principalmente no Brasil. Os "missionários"
pululam e avançam, dizendo-se portadores de elevada missão, quando outros, bem
menos altos, devem ser os seus legítimos objetivos. São os "camelots"
da religião, que não desejam nada senão a sinceridade dos homens, mas pretendem
tudo através de petitórios inesgotáveis. Precisam os homens de excessiva
credulidade atentar para esta passagem do Evangelho de Jesus: "Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos
profetas, que farão grandes prodígios e coisas de espantar, a ponto de seduzir
os próprios escolhidos."
Dentro do
Espiritismo, o espírita digno deste nome tem tudo quanto é possível almejar
para a realização dos ideais evangélicos.
Nossa Doutrina não
é utilitarista, mas ensina os homens a reconstruírem sua personalidade para uma
vida melhor no mundo terreno e no mundo espiritual. O Espiritismo procura
reformar o homem para que o homem possa, reformado, operar a modificação da sociedade para melhor. Sem
que o indivíduo se aperfeiçoe, impossível será o aperfeiçoamento da Terra. Mas
é mister que os espíritas de verdade não se distraiam do trabalho que aceitaram
em nossa Seara. Abandoná-lo para ouvir arengas de falsos profetas ou para
perder tempo inutilmente, negligenciando o compromisso assumido, é renunciar à
sua própria felicidade.
Os "falsos profetas"
trazem sempre um plano de interesse imediato. Basta que lhes observemos
cuidadosamente as palavras para que se desnudem suas reais intenções. Que
devem, então, fazer os espíritas ainda inseguros e presas da volubilidade?
Resistir à tentação de ouvi-los e acompanhá-los, porque o que eles prometem, já
o Espiritismo realiza amplamente. O que eles desejam é dividir, porque,
dividindo o ambiente espírita, encontrarão campo mais fácil para se
desenvolverem. Justamente isso é que os espíritas devem evitar, permanecendo
fiéis aos seus pontos de vista, aos seus centros, às suas instituições, que
trabalham sem espalhafato nem propaganda; que realizam suas obras de
assistência social sem trombetearem os benefícios que propagam; que pregam,
ensinam e buscam exemplificar o Evangelho, com o único objetivo de servir ao
próximo, conforme o têm provado através de anos e anos de atividade benemérita.
Os espíritas devem
meditar acerca do momento em que vivemos, não olvidando as palavras de Jesus,
acima reproduzidas, a respeito dos falsos profetas. Precisam dar o testemunho
de união e fidelidade inabalável ao Espiritismo, não se deixando seduzir por
falsos apóstolos. Os que tão depressa se empolgam por novidades, é porque ainda
não sabem o que querem, ignoram o que na verdade necessitam, e contraem, assim,
enorme responsabilidade para com o futuro, pois terão muito mais a perder do
que supõem. São cegos que querem ser conduzidos por cegos. Os espíritas legítimos
não se deixam tão facilmente abalar por sensações novas, porque não são
espíritas por artifício, mas pelo coração. A eles não se aplica, portanto, o
que disse Jesus, aludindo à profecia de Isaías: "Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração".
Nenhum comentário:
Postar um comentário