Idolatria
Martins
Peralva
Reformador (FEB)
Dezembro 1956
"Varões,
por que fazeis essas coisas? - ATOS.
Encontravam-se
Barnabé e Paulo em Listra, pregando o Evangelho nascente e curando os enfermos,
quando os habitantes da cidade, impressionados com os prodígios por eles
operados em nome do Cristo, iniciaram estranho movimento de idolatria visando
os servidores da Boa Nova.
A Barnabé chamavam
Júpiter e a Paulo, Mercúrio, retribuindo-lhes, assim, a elevada condição de
deuses.
Um sacerdote do
Templo de Júpiter tentou até sacrificar animais ali mesmo, no local das pregações,
ante os bandeirantes do Evangelho e em sua honra.
A perigosa e sutil
iniciativa dos listrenses, embora inspirada na simplicidade, encontrou, contudo,
imediata e enérgica repulsa da parte dos pregadores.
E não podia deixar
de ser assim, uma vez que ambos, especialmente o sincero Apóstolo da
Gentilidade, detestavam, qualquer tipo de idolatria.
Convencido das
próprias limitações, que ainda lhes assinalavam o procedimento, realizavam a
pregação em nome de Jesus-Cristo e para Jesus-Cristo faziam convergir o amor
das populações que, através dos discursos e das curas, eram acordadas para o
Evangelho do Reino.
Repelindo, energicamente,
o leviano endeusamento, e possuídos de santa indignação rasgaram os vestidos e
gritaram: "Varões, porque fazeis essas coisas? Nós também somos homens
como vós, sujeitos às mesmas paixões."
Na censura dos
pregadores, registrada por Lucas em Atos, identificamos uma mistura de revolta
e tristeza, exteriorizando o indescritível mal-estar causado pela conduta dos
habitantes de Listra.
O exemplo de
Barnabé e Paulo deve servir de roteiro para os servidores de todas as épocas,
especialmente da atualidade, quando o Cristianismo se restaura, gradativamente,
sob as renovadoras claridades do Espiritismo, e quando o vírus do elogio
indiscriminado se propaga, violentamente, em todos os setores.
Devemos cultivar -
e difundir de modo incessante - a ideia de que Jesus é o motivo central do nosso
esforço e o supremo objetivo de nossas humildes realizações.
Na caminhada ascensional,
neste imenso educandário que é a Terra, o aprendizado é comum a todos, embora
cada discípulo ocupe, realmente, diferente degrau na escala evolutiva.
Guardamos ainda, no
dizer de Humberto de Campos, "suaves infantilidades no coração", o
que significa dizer: porta aberta a equívocos geralmente lastimáveis.
Por que aceitar,
pois, o operário do Bem, títulos de educação indevidos, se amanhã, nas bifurcações
do caminho, no difícil momento dos testemunhos, reconheceremos a nossa condição
deficitária de criaturas falíveis, sujeitas, como acentuaram Barnabé e Paulo, "às mesmas
paixões”?
Deus é o vértice da
nossa marcha.
E Jesus, Seu Dileto
Filho, o ponto de convergência das nossas aspirações.
Glorificarmos a
Deus e a Jesus através do serviço incessante no Bem, neste ou naquele setor, a
fim de que o futuro nos dê, em bênçãos de amor e sabedoria, a Celeste Resposta
ao nosso esforço - este sim, deve ser o supremo escopo das vidas que a Eles
desejam consagrar-se.
Se nos é impossível,
por agora, dar à nossa vida o sentido apostólico que assinalou a trajetória de
Barnabé e Paulo, sigamos, pelo menos, o exemplo daqueles abnegados pregadores,
levando aos incensadores de todos os tempos a linguagem, muita vez silenciosa,
do nosso constrangimento:
"Varões,
por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às
mesmas paixões...”
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