O Padre Germano, Amália D. Sóler e um grande livro
Tobias Mirco (Indalício
Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1976
Não foi ele uma sombra impelida pelo
vento. Não foi ele um mero executor de dogmas gélidos e sem vida. Quem o visse passar, prisioneiro de uma sotaina negra, mal poderia examinar que ali estava, um sacerdote verdadeiramente cristão, que não se deixara envolver e dominar pelas seduções
do mundo temporal. Ele
semelhava o lírio que redime o paul feito de podridões. Ele era um farol que alertava os viandantes perdidos na escuridão dos erros e dos crimes, iluminando-lhes o caminho incerto.
Sua alma, sensível, delicada, porejava religiosidade. Mas não ficara paralisada pelo hipnotismo das aparências. Pelo contrário, emergira do convencionalismo que restringe a vida humana e preferiu andar com Jesus, ferindo os pés nas urzes das estradas, do que embelezar-se com os ouropéis da gloríola que alimenta a
vaidade, mas intoxica o sentimento.
Sua presença constituía um cântico de promessas redentoras,
porque ele vivia o Evangelho, buscando os rastros do Mestre nos roteiros do mundo, para não perder de vista os ensinamentos maravilhosos do Nazareno amado.
Era um padre que amava o sacerdócio, como os apóstolos do Cristo amaram os deveres que lhes foram cometidos, deveres que teriam de ser cumpridos, e o foram, à custa de lágrimas, humilhações, fadigas e sangue.
Por isso, quando se falava no Padre Germano, os corações exultavam. Era como que um
estafeta do Senhor, peregrinando
pela Terra para levar ao aflito o alívio da sua palavra e da sua ajuda; ao enfermo, o bálsamo da sua prece; ao necessitado a solidariedade frutificante. Sua espórtula, em toda a sua lide pelo mundo, era o amor que recebia daqueles
a quem dava amor. E dava amor sempre, mesmo quando a sua solicitude suscitava a ingratidão dos corações frios e empedernidos. Mesmo assim, levava consigo o insulto, a agressão, a incompreensão e a rudeza, mas não saía sem deixar com os que
o maltratavam o amor da sua humildade, a humildade do seu perdão, o perdão ungido de confiança em Deus e desesperança de que os maus de hoje acabarão sendo, um dia, os bons que engrossarão as
legiões do Cristo, educados pela dor, através do peneiramento abençoado das reencarnações educativas.
Para todos os que amam
o belo e o bom, a nova edição do livro de Amália Domingo Sóler, lançada pelo Departamento Editorial da Federação Espírita Brasileira, é uma dádiva celestial. A autora, médium espanhola, nascida em Sevilha, em 1835, nome consagrado na literatura cristã espírita, teve uma grande atividade doutrinária. Nascida de pais pobres, enfrentou sérios problemas em
sua vida atribulada. Ficou quase cega, passou privações tremendas, até que, um dia,
conheceu uma publicação espírita. Com esforço, conseguiu ler alguma coisa e ficou muito interessada em conhecer uma religião que lhe parecia diferente de
muitas outras, porque seus adeptos procuravam
exemplificar a caridade e o amor, vivendo o Cristo, sem fazer de Jesus mero chamariz de prosélitos.
Enquanto tentava o
tratamento dos olhos, pretendendo melhoras, ela aumentava seu cabedal de conhecimentos do Espiritismo. Deram-lhe alguns livros de Kardec, passou a frequentar sessões de doutrina, numa
prestigiosa instituição espírita, em Madrid. Parecia-lhe que o mundo, finalmente, lhe daria uma
oportunidade para esquecer suas próprias dores, à medida que se entregava
ao serviço da caridade, inclusive através da
pena.
Duma feita, sentiu-se tonta, perdeu totalmente a visão, ao mesmo tempo que uma voz lhe dizia, com suave, mas firme entonação: "Luz, luz!" Ao ouvir essas palavras, percebeu que estava recuperando a visão. Cessara a tontura que sentia e desaparecem a dor de
cabeça que lhe acometera. Emergira a sua mediunidade, que até então não fora revelada. Sentiu necessidade de
escrever e escreveu. O tema era a Doutrina Espírita. Satisfeita, enviou o trabalho para
um jornal espírita, que o publicou. Estava, assim, iniciada na tarefa de elucidação, porque, ao mesmo
tempo que levava aos leitores esclarecimentos sobre o Espiritismo, ia avolumando os seus conhecimentos. Tornara-se colaboradora permanente de diversos periódicos espíritas. Seu
nome ganhara simpatia e sua vida mudara, porque, já agora, sabia que não estava
só, sabia que é preciso ter coragem e
espírito de luta e fé para superar as dificuldades naturais da existência.
Recusou convite para escrever sobre Espiritismo
em troca de uma remuneração. Não admitia sequer a hipótese de discutir tal
proposta. Assim, continuou a trabalhar
durante o dia, costurando para fora, apesar da quase cegueira, e todo o
resto do tempo empregava na obra espírita.
Depois de ter estado em Micante e Múrcia, onde
se detivera
por motivo de doença, regressou em 1876 a
Madrid. Em
Barcelona, para onde se transferira, a convite do Círculo
Ia Buena Nueva, entregou-se ao antigo
trabalho de costurar, mas lhe foi predito por Luís Llach,
que se tornou seu grande amigo, que perderia
a visão em três meses, mas poderia enxergar o pouco
que enxergava, até o fim de sua permanência
neste planeta, se continuasse a trabalhar
ativamente pela difusão da doutrina.
Após intensa atividade,
Amália Domingo Sóler empenhou-se em contestar artigos contra o Espiritismo,
partidos principalmente do clero, demonstrando quanto
estava integrada na obra inspirada por Allan Kardec.
Transformara-se numa
figura de grande relevo, ao lado de dedicados e famosos espíritas, como
Colavida, Llach, Torrents, Vives e outros. Foi a 9 de maio de 1879 que, pela primeira vez, se manifestou seu guia espiritual, o Padre Germano. Entrava Amália numa fase nova do seu apostolado, apesar de acicatada por sofrimentos constantes, cruz que ela carregava com grande
resignação e coragem, aceitando as dores como o tributo que sua alma tinha de pagar, resgate de erros pretéritos. Veio a desencarnar aos 73 anos, a 9 de abril de 1909.
Em 29 de abril de 1880
começou ela a publicar, no jornal espírita "La luz del Porvenir" (A luz do porvir), as "Memórias do Padre Germano", nas quais esse seu extremoso guia relatava episódios da última reencarnação que tivera. O Padre Germano consagrara-se, na Terra, à consolação de humildes e oprimidos, ao mesmo tempo que desmascarava os hipócritas e falsos religiosos que infestavam a Igreja Romana. "Tal
proceder, como era natural, lhe
acarretou inúmeros
dissabores, perseguições sem tréguas, cruéis insultos e
ameaças de morte, ameaças
que, por mais de uma
vez, e por pouco, se não
converteram em amaríssima realidade" - diz Amália, prefaciando a obra.
Pelo que ela relata nesse prefácio, seu papel não foi de médium, mas de escrevente das mensagens transmitidas por um médium psicofônico. Conhecedora profunda da doutrina espírita, já com uma satisfatória folha de serviços ao Espiritismo Cristão, Amália Domingo Sóler era, igualmente, médium, mas não possuía mediunidade psicográfica ou escrevente. Além disso, queria que seu Espírito-guia pudesse contar com um médium mecânico, em condições de apresentar um trabalho absolutamente fiel ao ditado transmitido.
Nessas condições, aguardava uma oportunidade que favorecesse a tal ponto de vista. É ela mesma quem o diz, em seu prefácio acima citado: "A missão desse Padre em sua última encarnação foi, de fato, a mais bela que porventura possa ter o homem na Terra; e visto como, ao deixar o invólucro carnal, o Espírito prossegue no espaço com os mesmos sentimentos humanos, pode ele sentir, liberto dos seus inimigos, a mesma necessidade de amar e instruir o próximo,
buscando todos os meios
de completar tão nobilíssimos desejos.
“À espera de propícia ocasião, encontrou, finalmente, um médium falante puramente
mecânico, ao qual dedicava,
contudo, esse achado: - importava que tal médium tivesse um escrevente capaz de sentir, compreender e apreciar o que o
médium por si dissesse. A isso me prestei eu, de boa-vontade, e no veementíssimo intuito de propagar o Espiritismo, trabalhamos os três na redação destas "Memórias", até 10 de janeiro de 1884."
É essa obra, das melhores da bibliografia mediúnica, que o Departamento Editorial da FEB oferece aos espíritas em geral. Pelos exemplos e ensinamentos que contém, constitui valioso recurso para as almas sequiosas de consolação e de paz, de encantamento e refrigério. Por isto, escrevemos estas linhas, exultantes com a nova edição de "Memórias do Padre Germano".
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Nota do Blog: "Memórias do Padre Germano": Mais um livro de leitura indispensável.
Esse livro é maravilhoso!!!!
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