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terça-feira, 21 de novembro de 2017

Arma de dois Gumes


Arma de dois Gumes
Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Fevereiro de 1956

O pensamento é uma força criadora, sempre ativa, capaz de realizar milagres, quando exercitada com perseverança e intensidade.

Essa poderosa força não é, quase nunca, acionada pela lógica, com finalidade superior. É movida pelo sentimento, bom ou mau, e pode tornar-se arma muito perigosa, criando tormentos para o agente e para outrem quando mal dirigida.

Quando movida pelo medo, essa força engendra coisas pavorosas como a guerra, a tirania, o despotismo, as doenças graves, a loucura, o suicídio etc.

Pensando medrosamente que estamos ameaçados de um perigo, praticamos as maiores loucuras.

Quando dirigida pelo amor, essa força cria um paraíso para o pensador: retira-o de todas as realidades penosas e fá-lo viver em seu próprio mundo mental, povoado de alegrias que podem ser ilusórias, passageiras, mas de qualquer modo são deliciosas. É esta a situação do verdadeiro idealista que já goza os encantos de um futuro belíssimo, ainda inexistente no mundo objetivo mas para ele já real e vivo.

             Entre esses dois extremos, do bem e do mal, há um campo muito vasto de banalidades no qual o pensamento está sempre criando coisas de pouco valor, muitas vezes inspiradas pela sede de gozos pelas vaidades fúteis, por egoísmos infantis, pelo desejo de salientar-se. Poderíamos dar-lhe o nome de “campo de passatempo” ou “campo do tempo perdido”, porque nele realmente ficamos estacionados durante tempo incalculável, até que a dor caridosamente nos venha despertar da ociosidade.

As doutrinas que nos amedrontam com ameaças de sofrimentos eternos no Além-Túmulo, como as das igrejas, engendrando em nossa alma sentimentos negativos e desânimo, acionam nosso pensamento para a criação de doenças, privações, desespero, profundas tristezas, insucesso em todos os empreendimentos. Tais doutrinas, enquanto foram realmente aceitas, causaram tremendos males à Humanidade. O último mal que criaram, e que não foi o menor, foi a descrença generalizada em qualquer forma de sobrevivência à morte do corpo, a negação pura e simples da vida espiritual e de Deus, e, consequentemente, o desprezo pelo homem e pela vida. A Humanidade passa hoje pela fase penosa dessa descrença que se originou do pessimismo religioso das igrejas que criaram o Inferno para a quase totalidade dos homens e negaram qualquer princípio espiritual aos animais.

As doutrinas sublimes que ensinam a Salvação universa!, como o Espiritismo, a Teosofia, o Budismo, criam pensamentos de fé que remove montanhas, engendram ideais para realização, a longo prazo ou sem prazo, dentro da eternidade e do infinito. Transformam tudo tais doutrinas de otimismo, e nos dão força de criarmos desde já o mundo ideal que ambicionamos e que sabemos com absoluta certeza que virá a existir, porque todos os seres são progressivos, quer queiram quer não, e rumam para a perfeição moral que há de santificá-los e levá-los a organizações harmoniosas e belas.

Com a posse de tais doutrinas que ensinam e provam a reencarnação e o aperfeiçoamento espiritual, o pensamento deixa de ser uma força perigosa e passa a funcionar como a mais construtiva das ferramentas.

Sabemos que uma grande parte dos terrícolas não se acha com evolução bastante para assimilar as doutrinas idealistas como a do Espiritismo, porque conservam os velhos hábitos da maledicência, da descrença, e passam superficialmente pelos grandes princípios que nos são revelados. Fazem do Espiritismo novo campo de batalha contra os adversários ou até contra companheiros, São espíritos que em tudo encontram motivo para se aborrecerem; mas esta situação é passageira, terá que ser substituída pelo otimismo sadio dos que já sabem criar seu mundo feliz e nele habitar, ao abrigo de todos os perigos.

No movimento espírita brasileiro, que já vem realizando obras maravilhosas em relação ao número percentual da população, sentimos a força do pensamento canalizado para grandes transformações, para uma verdadeira revolução do mundo. É dentro do movimento espírita brasileiro que surgem os esperantistas mais ardorosos, crentes fervorosos na vitória do ideal esperantista. A fé dos espíritas esperantistas remove todas as montanhas na criação de um mundo melhor; firma a segurança da vitória de todos os grandes ideais.

Para o espírita esperantista consciente, não existe a força perigosa do pensamento; só existe a força criadora invencível do pensamento. E como salário antecipado ele já vive desde hoje no mundo ideal que seu pensamento sabe criar; já leva o seu céu no coração, quer esteja na masmorra da carne ou nas luzes da Espiritualidade.

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